A TAÇA RIO DO AMERICA, 40 ANOS DEPOIS
por Paulo-Roberto Andel

Entre setembro e novembro de 1982, aconteceu a primeira edição do segundo turno do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro com nova nomenclatura, batizado como Taça Rio. Começava uma nova era de charme que duraria vários anos, em contrapartida à consagrada Taça Guanabara, criada em 1965.
O futebol do Rio fervilhava. Os times possuíam muitos jogadores de qualidade, os clássicos eram sinônimo de Maracanã lotado. Apesar da natural disparidade de forças entre as grandes equipes e as de menor investimento, é correto dizer que todos os times da Primeira Divisão do Rio em 1982 tinham valor. Além dos chamados quatro grandes, brigavam America e Bangu, além do Campo Grande (campeão da Série B do Brasileirão naquele ano), o atrevido Bonsucesso e os sempre incômodos Americano e Volta Redonda. Até mesmo a Portuguesa, que fez uma campanha ruim, aprontou contra Fluminense e Flamengo, vencendo os dois clubes respectivamente por 2 a 1 e 3 a 2 – este, num jogo épico na Ilha do Governador.
Já consagrado na temporada pelo título do Torneio dos Campeões, que tem o peso de uma competição nacional, o America conseguiu apenas o sexto lugar na Taça Guanabara. Entretanto, reagiu no returno e marcou seu nome na história da Taça Rio como seu primeiro campeão, apesar de começar a jornada com uma derrota.
A campanha rubra na Taça Rio 1982:
America 1 x 3 Botafogo (Maracanã)
America 4 x 1 Volta Redonda (Wolney Braune)
Americano 0 x 1 America (Godofredo Cruz)
Bonsucesso 0 x 0 America (Moça Bonita)
America 2 x 0 Campo Grande (Wolney Braune)
Vasco 0 x 2 America (Maracanã)
Bangu 2 x 2 America (Maracanã)
Flamengo 0 x 2 America (Maracanã)
Portuguesa 1 x 3 America (Caio Martins)
America 5 x 0 Madureira (Wolney Braune)
Fluminense 2 x 4 America (Maracanã)
A Taça Rio deu ao America a oportunidade de disputar o título estadual de 1982 contra Flamengo (campeão da Taça Guanabara) e Vasco (time com a maior soma de pontos nos dois turnos do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro), num triangular final. Duas derrotas por 1 a 0 alijaram o time do título esperado desde 1960, mas a bela campanha da Taça Rio é uma doce lembrança dos tempos em que o America era protagonista e admirado.
A vitoriosa campanha americana na Taça Rio contou com nomes como os de Gasperin, Chiquinho, Everaldo, Zedílson, Aírton, Pires, João Luís, Moreno, Gilberto, Luisinho Tombo, César, Serginho, Gilson, Donato, Jorginho, Adilson, Duílio e Elói, mais os treinadores Dudu e Edu.
UMA VOADORA QUE PODE ROUBAR UM SONHO
por Zé Roberto Padilha

O que leva um atleta rodado, como Carlos Eduardo, do Bragantino, dar uma voadora sobre Guilherme Arana, aos 44 minutos do segundo tempo, em uma jogada na intermediária que não levava perigo a gol algum?
Ao atingir no joelho o lateral esquerdo, único titular da seleção brasileira que joga no país, ameaça levar para o Departamento Médico o sonho maior de todo jogador: disputar uma Copa do Mundo.
Tão imbecil a jogada, que ela conseguiu imbecializar a comentarista de arbitragem do Canal Premiére, que por nunca ter disputado uma jogada, declarou que o cartão amarelo “estava de bom tamanho”.
Guilherme Arana se arrastou nos minutos finais de Atlético-MG 1×1 Bragantino. Vai realizar exames e tomara que seu joelho, que é quem dita a expectativa de vida de um atleta profissional, não tenha sofrido uma grave lesão nos meniscos ou nos ligamentos cruzados.
Se Zico realizou obras-primas durante sua ascensão, imagine o que faria se o Márcio, do Bangu, não lhe desferisse uma voadora parecida que lhe roubou parte dos movimentos?
Na hora, doeu aqui em casa. Operei o meu diante de uma imbecialidade parecida, talvez pior, pois fui atingido num treino recreativo. E o meu futebol perdeu a graça. Deixou de ser um prazer para se tornar um sofrer em outras três cirurgias corretivas.
Boa sorte, Arana.
TEM QUE CONVERSAR COM O TÉCNICO
por Elso Venâncio

Ricardo Teixeira avisava de cara ao treinador da seleção:
– Sou o primeiro a ver a relação dos convocados e tenho poder de veto.
Eurico Miranda era informado de tudo, em tempo real. Na véspera dos jogos, sabia de antemão a escalação.
O presidente do Flamengo campeão do mundo em 1981 chamava o treinador e lhe perguntava qual a estratégia para o jogo. Antônio Augusto Dunshee de Abranches não pretendia escalar o time. Mas, sim, evitar erros primários. Nada mais saudável do que a troca de ideias entre um chefe e seu subordinado.
Dorival Júnior precisava vencer o Ceará e, de forma surpreendente, escalou o meio campo com Pulgar, Diego Ribas e Vitor Hugo? Todos reservas. Na época de ouro do clube, o time vinha no meio com Andrade, Adílio e Zico; e na frente, Tita, Nunes e Lico. Será que algum destes gostaria de ser poupado? Pergunta ao Zico…
A entrada de Matheuzinho no lugar de Varela, no intervalo, me lembrou as observações feitas em coletivos. O problema é que o jogo era à vera! Nelson Rodrigues diria sobre Rodinei:
– Tem saúde de vaca premiada.
João Saldanha já falava:
– Futebol é momento.
Hoje Rodinei é o melhor lateral do país. Ainda assim, mesmo no auge e com toda sua disposição, saiu para que testes fossem feitos no setor.
Muricy Ramalho disse certa vez, durante uma preleção:
– Galera, quando estiver ruim, toca pro negão.
Rodinei, sabendo que o técnico se referia a ele, perguntou, com um ar provocativo e sorrindo:
– Que negão é esse, professor?
– Não fode… cala a boca e ouve!
Será que alguém conversava com Paulo Souza, que tinha incrível vocação para o erro?
Um inédito tetracampeonato carioca lhe escorreu pelas mãos e a sucessão de equívocos absurdos no Campeonato Brasileiro reflete até hoje, visto a distância do clube para o Palmeiras.
Na Libertadores de 2008, o supervisor Isaías Tinoco avisou no hotel ao vice de futebol Kleber Leite, já bem tarde da noite, que Joel Santana escalaria os reservas no dia seguinte, contra o América, no México.
– Chama o Joel aqui agora! – foi firme o dirigente.
– Ele está dormindo…
– Acorde-o, então!!!
‘Papai Joel’ apareceu explicando que no domingo teria decisão do Carioca, contra o Botafogo.
– A posição é institucional. Titulares amanhã e domingo. Vamos com os melhores! – sentenciou Kleber.
No jogo, América 2 x 4 Flamengo. Na sequência, o Mais Querido conquistou o título metendo 3 a 1 no Botafogo.
Na semifinal da Libertadores, no Maracanã, porém, veio a improvável e fatídica derrota por 3 a 0 para o mesmo América de Cabañas, em pleno Maracanã.
Mas isso, bem, só os deuses do futebol são capazes de explicar…
O Vélez Sarsfield é o primeiro time argentino da história que perdeu de quatro em casa e não partiu para a violência, para a briga, nem em Buenos Aires nem no Rio. Verdade que a galinha já estava morta no jogo da volta, ontem. Só Dorival Júnior que não admitiu o erro cometido contra Ceará.
Com todo respeito, time misto era para ter sido ontem.
CLAUDIO ADÃO, O CIGANO DA BOLA
por Luis Filipe Chateaubriand

Lembrando de minha infância, afirmo que Claudio Adão foi um injustiçado, porque não vestiu a camisa da Seleção Brasileira.
O cara era “fera”.
Tão “fera” que, certa vez, perguntaram a Zico quem tinha sido o melhor companheiro de ataque com quem havia jogado.
O “Galinho de Quintino” não titubeou: “Foi o Cláudio Adão!”.
Facilidade imensa no cabeceio.
Chute de classe, sempre tirando a “pelota” do alcance dos goleiros.
Domínio de bola perfeito.
Esse era Claudio Adão, que jogou em mais de 20 clubes e, por isso, era chamado de Cigano da Bola.
Ave, Adão!
Você jogou muita bola!
VALORES ESTRATOSFÉRICOS
:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::

Com um final de semana chuvoso no Rio, passei os dias vendo os jogos na televisão e posso afirmar que vi de tudo! Vibrei com meu Botafogo ganhando do Fortaleza fora de casa, mesmo sabendo que essa vitória não significa nada ainda. Sofri com o jogo horrível do Vasco contra o Brusque e mais ainda com o empate do Flamengo diante do Ceará em um dos jogos mais chatos do campeonato!
Já falei algumas vezes, mas parece que, quanto mais eu falo, a situação só piora: é impressionante o desrespeito e a falta de educação dos jogadores. No Maracanã, Jô foi expulso por mandar o juiz para aquele lugar e Gabigol também foi para o chuveiro mais cedo por malcriação. Foram nove minutos de acréscimo no segundo tempo, mas não seria exagero se ele desse 15!
Sabe qual é o pior? Também assisti as mesas redondas depois das partidas e fiquei impressionado com as análises rasas dos analistas de computadores. Além das “pérolas da semana”, que vocês já estão cansados de ouvir, descobri também que eles são ótimos professores de matemática, pois não analisam mais a qualidade do futebol, apenas os números! Kkkkkk! Não se vê mais a coletividade do time ou a qualidade do domínio, por exemplo, agora são só números para lá e para cá! Não importa se as finalizações foram bem feitas, o que conta é a quantidade delas para as estatísticas!
Na minha época, além da galera que cornetava na Geral, ainda tinha que ouvir João Saldanha, Oduvaldo Cozzi, Rui Porto, Luiz Mendes, Sandro Moreyra, Oldemário Touguinhó, Sebastião Pereira e cia. analisando o meu desempenho! Fico imaginando o que eles falariam do futebol atual… kkkkkk!
Na minha maratona de jogos do fim de semana, assisti também a estreia de Antony no Manchester United e, assim como Cristiano Ronaldo no banco, vibrei com o gol garoto! Gosto do futebol dele e deve estar no grupo que disputará a Copa do Mundo daqui a três meses, mas fiquei impressionado quando me falaram que ele foi o terceiro brasileiro mais caro da história! Com todo respeito, nossa história é muito rica para que ele esteja nessa colocação! E aí pergunto a vocês: quanto valeria o meu passe, o do Jairzinho, do Afonsinho, Ademir da Guia, Rivellino, Dirceu Lopes, Carlos Alberto Torres, Eduzinho, Tostão, Gerson, Nei Conceição, Garrincha, Nilton Santos, Djalma Santos e por aí vai…
Pérolas da semana:
“Com Intensidade, consistência e força alta no contato, o time ativou a partida para sentar em cima da vantagem e desmarcar a linha com 4, com encaixamento por dentro”.
“Dando tapa na orelha da bola viva, o marcador congelou o time para queimar a gordura e encaixar o atacante agudo que aumenta a intensidade e fecha as linhas no último terço do campo”.