QUE SAUDADES DOS PELADEIROS
por Zé Roberto Padilha

Tudo bem que com tantos desfalques e diante um futebol coletivo impecável, como o do Palmeiras, só restava ao Botafogo ir buscar recursos na sua história.
De preferência, através dos pontas inesquecíveis que teve e realizaram misérias coletivas. Como Rogério, Zequinha, Paulo César Lima e Jairzinho.
E, nesta noite, fria e chuvosa, com meu filho alvinegro sofrendo em Rio das Ostras, coisas da Tia Vera, poderia estar em terceiro lugar, se ouvisse o pai, agradeci a ele pelo seu time ressuscitar dois autênticos peladeiros: Junior Santos e Jefinho.
No bom sentido, claro. Do improviso, da coragem, do nosso futebol raiz, de várzea, que permitia ousadias indivíduais até que a “maldita” Laranja Mecânica tornou coletiva.
Tomei a liberdade de escrever no intervalo e com o Palmeiras vencendo por 2×1. Independente do resultado final, torci muito para que os dois peladeiros arrebentassem no segundo tempo.
Isso tudo porque os dois me deram saudades, de lembrar Maurício e ter saudades do futebol-arte!
FINAL ESVAZIADA
:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::

Neste fim de semana, o São Paulo enfrentou o Independiente del Valle (EQU) pela final da Copa Sul-Americana e, antes de falar do jogo em si, tenho algumas considerações. Já estive dentro de campo e posso afirmar com todas as letras que é decepcionante para um jogador entrar em campo com o estádio vazio, ainda mais em uma decisão. Final é final e até na várzea a galera se mobiliza para assistir à pelada, mesmo que não torça para nenhum dos dois times. O problema é que a Conmebol quer ser a UEFA e implantou nos últimos anos uma final decidida em jogo único e em um lugar aleatório.
Se fosse na minha época, com certeza eu colocaria a boca no trombone e seria o primeiro a criticar tal decisão. Até porque, quem proporciona o espetáculo, no mundo inteiro, são os jogadores, certo? Acontece que os craques de hoje em dia não dão mais nenhuma opinião e só acatam as decisões dos dirigentes, que sempre visam o lucro.
Se não bastasse a logística em si para viajar, os torcedores precisam desembolsar uma grana para acompanhar o time e o resultado foi o fiasco que vocês viram: 15 mil pessoas em um estádio com capacidade para 57 mil. Sabe qual é o pior? Mesmo os torcedores que não viajaram, tiveram dificuldade para assistir em casa, porque o jogo só foi transmitido pela Conmebol TV. Ou seja, parece que fazem de tudo para distanciar o torcedor do time e estão conseguindo.
Sobre o duelo, vi muita gente falando que o Del Valle surpreendeu o São Paulo, que foi uma zebra, mas na minha última coluna já havia alertado sobre a qualidade do time equatoriano. Aliás, elogio a evolução deles faz tempo, com um toque de bola de pé em pé e um futebol coletivo. Merecidíssimo!
Partindo para o futebol europeu, Haaland segue deitando e rolando no futebol inglês, e marcou três contra o United. Se o norueguês já era uma promessa, agora trabalhando com Guardiola tem tudo para virar o jogador que todos imaginam, em um time que joga coletivo e sempre visando o gol! Para se ter noção, enquanto Messi e Cristiano Ronaldo ainda não tinham nem 100 gols antes dos 23 anos, o atacante do City já tem 173! Vai longe!!
Pérolas da Semana:
“Para acionar os alas (ala da escola de samba? Dos compositores? Da velha guarda? Kkkk), o volante pitbull dá uma cravada na segunda bola do X1 e eleva o patamar da consistência por dentro, proporcionando intensidade e e leitura de jogo”.
“Antes de dar um tapa na orelha da bola e penetrar na linha de cinco, com três zagueiros, o jogador de beirinha faz a ligação direta no último terço do campo”.
CASCA DE BANANA
por Claudio Lovato Filho

Quem joga casca de banana quer ver tombo.
Quer rir do infortúnio alheio, a queda.
Quem joga casca de banana quer sabotar.
Quer atrapalhar a caminhada do outro, seja concorrente ou apenas desafeto.
Quem joga casca de banana quer ridicularizar.
Quer ver a vítima em situação de cômico constrangimento, desconcerto.
Quem joga casca de banana quer humilhar.
É o ignorante, o profundamente ignorante, tentando aplicar no agredido o carimbo de “inferior”, de “irracional”, de “sem valor”.
Quem joga casca de banana quer matar.
É, matar.
Quer matar a dignidade do outro.
Quer matar a autoconfiança do outro.
A honradez do outro.
Quer calar (matar) a voz do outro.
É covarde, é cafajeste, é canalha.
É cruel, é mau, tem doença que se trata com medicamentos e/ou com cadeia (ou talvez só nascendo de novo).
Quem joga casca de banana é, portanto, assassino.
De um jeito ou de outro.
Com ou sem metáfora.
São escrotos, excrescências, pústulas – dos quais, ao que tudo indica, o mundo nunca vai se ver livre.
E é por isso que a luta nunca vai acabar.
Não pode acabar.
Por isso será sempre preciso lutar, com vigilância, rigor e inteligência.
Lutar.
ENFIM, UMA BOA IDEIA
por Zé Roberto Padilha

Uma das mais sensatas intervenções dos nossos zagueiros é quando chegam antes dos atacantes e aliviam o perigo pelas laterais. E não pela linha de fundo.
Um corner é 78% mais perigoso que o mais venonoso dos laterais, o cobrado por Marcos Rocha, segundo o Ipec. Com nossos goleiros receosos de sair, com as chuteiras fixas na linha da pequena área, os atacantes e os defensores possuem, segundo o Datafolha, os mesmos 50% de possibilidade de marcarem o gol ou afastarem o perigo.
Agora, o Vasco anuncia a contratação de um inglês, da terra das bolas alçadas sobre a grande área, para ser o treinador de bolas paradas. Que grande inovação!
Ao estudar a postura adversária e de posse da qualidade de impulsão, cabeceio e antecipação dos seus jogadores, Alex Clapham, o nome da fera, poderá surpreender os adversários.
Essa inovação cairia muito bem no Grêmio, por exemplo, treinado por Renato Gaúcho. Conhecido por priorizar a liberdade de criação, de não cercear a capacidade inovadora e ilimitada dos nossos jogadores, ele detesta suprimir o talento de cada um com jogadas ensaiadas.
Como jogador, gostava do Didi e do Evaristo de Macedo, que também pensavam assim. Nada é mais chato do que repetir jogadas à exaustão sem combinar com os adversários.
Porém, Geromel agradeceria se, na volta do Diego Souza para ajudar a marcação num escanteio contra, ele soubesse onde Manoel, zagueiro artilheiro do Fluminense, se posicionaria.
Parabéns ao Vasco. Depois da introdução do treinador de goleiros, no final dos anos 70, por Raul Carlesso, essa foi outra grande inovação que só trará benefícios às nossas equipes.
Não será mais um cargo criado para aumentar a folha salarial da Comissão Técnica. Esse será para aumentar a renda com os resultados obtidos.
VIDA DE BIÓGRAFO
por Marcos Eduardo Neves

Existiu na história do futebol internacional um jogador que por sua seleção chegou até a ser campeão do mundo. Talento incomensurável, brilhou pelos mais variados campos e os mais notórios estádios do planeta. Passou por muitos problemas não digo nem na infância, mas antes mesmo de nascer. Encarou muita barbaridade, muita covardia, mas vingou no esporte. Virou celebridade, e não apenas no seu meio, mas também no universo artístico. A nível mundial, claro.
Você vê como é a vida de um biógrafo… Biógrafo é daqueles seres humanos que, investigando tal qual detetive, descobre o que quer. Queiram ou não. A diferença é que tem “alvará” do STF para explanar publicamente. Tem liberdade de expressão, mas não direito à invasão de privacidades, tanto que pode ser condenado caso erre uma vírgula que porventura se torne dúbia. Já o detetive, não. É pago por ou para alguém. Biógrafo ganha, não apenas dinheiro como visibilidade. E essa palavra destrói a carreira de qualquer detetive profissional, aparecer estraga estratosfericamente a tranquilidade no exercício do seu ofício, onde precisa meio que ser invisível.
Biógrafos, não. Dão as caras, e não raro enfrentam turbulências. Ainda mais quando mira um alvo peixe graúdo em riqueza de conteúdo biográfico. Se o ser mirado, além de cobiçado, tiver receio de ver sua verdade exposta, foge de um biógrafo como o diabo da cruz. Conheci um biógrafo assim. De nível também internacional.
Por experiências próprias, posso dizer que o biógrafo passa por situações das mais excitantes às mais decepcionantes. Como a que meu amigo, um escritor respeitado, passou recentemente.
Ao saber que era mira do biógrafo, alvo rico literariamente por suas histórias, suas vivências, polêmicas, seu poder inconsequente de autodestruição em permuta com os prazeres da estrelar vida mundana de celebridade, personalidade, ídolo, bem, o jogador em questão ignorou este biógrafo que conheço ao vê-lo em um evento fechado em que sentaram à mesma mesa.
Noutra ocasião, fingiu não conhecer o literato, passou direto, calado e visivelmente contrariado por desfrutar do desprazer novamente em uma mesma solenidade em que ambos foram convidados. Ainda assim, o biógrafo se manteve humilde: reverencio-o mas foi tratado de forma seca e ríspido, quando o jornalista – ora que petulância! –o questionou, naturalmente, se tem visto um amigo em comum. Para finalizar, no mesmo evento, ao ser abordado durante o aniversário de alguém que – que coincidência! – fora biografado pelo mesmo jornalista, soube que apenas com o intuito de reverenciar o verdadeiro dono da festa, falar sobre quem completava anos à ocasião, negou-se de forma grosseira, diante da filha, namorada, neta, o que for, a concedê-lo uma breve entrevista sobre o aniversariante, que foi e deve continuar sendo até hoje, muito importante para a sua vida.
Biógrafo que é biógrafo passa por esse tipo de coisas. E até outras, piores. Afinal, sabemos às vezes mais do que suas próprias esposas ou maridos, seus pais, filhos, a família toda, chefes, empregados e amigos, por mais íntimos que sejam. E o mais grave: sabemos mais até mesmo do que ele, o próprio. Porque sabemos o que nos disseram em off, o que jamais diriam a ele, o que sabem, por outros, que ele fez. Enfim, sabemos demais. Pecamos por isso. Aliás, “pescamos” por isso.
Nesse caso mencionado, no entanto, a coisa descambou. E agora, a isca saiu do anzol. O pescador a recolheu e jogou a âncora, não vai mais fazer a biografia que tanto lhe pedem e que, no fundo, ele sabe que um dia fará.
Como assim?
Não vai fazer ou fará?
Fará.
Mas, como diz o mestre Ruy Castro, só por cima do seu cadáver. Ou seja, tipo eu, quando fiz Heleno. Somente assim todos os prós e todos os podres poderão construir a lenda de forma verdadeira, sem ser livro de fã-clube tampouco dossiê de inimigo político. Será feita com total isenção, imparcialidade. Até porque biógrafo que se preza vive da sua credibilidade.
Pelo que soube, o biografado deste meu colega – c’est la vie – torrou feito “Meu nome não é Johnny” todo o patrimônio construído à custa de seu suor e talento, ao encerrar a carreira. Hoje, enlouquecido com a hipótese de ser esquecido, sobrevive do passado. Não disse vive. Disse sobrevive.
Falei com meu colega, “Amigo, você está certíssimo. Meu mestre me disse uma vez que biografado bom é biografado morto”. Tipo Elvis, Maradona, Michael Jackson, Amy Winehouse, Kurt Cobain, Cazuza, Tim Maia, Cássia Eller.
E prossegui: “Porque a história tem início, meio e fim.”
Por sinal, fim é uma palavra estranha. Um biografado um dia terá seu fim. O biógrafo também. Todos nós, humanos ou animais. Contudo, o biógrafo terá deixado um legado para a humanidade. O biografado, convenhamos, também já deixou, dependendo da sua relevância. Todavia, as futuras gerações que ainda estão por nascer, estes sim poderão se esquecer de seus (grandes) feitos. A não ser que o biografado tenha deixado um livro. Escrito por quem? Um biógrafo.
“Pois é, Marcos”, esse amigo me sussurrou, “Ele me teme por não querer que eu faça esse livro. Mas ele, no fundo, sabe que esse livro há de nascer, é questão de tempo, seja por mim ou por qualquer outro. E, quer saber, agora tomei a decisão: serei eu quem escreverei!”.
Que coragem! Assim como na natureza nada se cria nem se destrói, tudo se transforma, senti que será desta forma que a história um dia será contada: a morte de um ressuscitará, em toda sua plenitude, seu vigor, seu talento, seus acertos e defeitos, seus muitos erros, a vida de alguém cuja história jamais deverá ser esquecida ou engavetada. Merece servir de exemplo para muitos. Para o bem e para o mal. Como alerta.
Fico com certa pena do biografado do cara. Personalidade conturbada, que hoje desperta ódios e frustrações em muitos, e alegria e saudosismo em outros, até mesmo sua inconstância emocional se atenuará. Graças a um livro. Um reles livro. Um puta livro.
Conheço a história desse ex-atleta, até eu escreveria hoje se me fosse possível, sei que ele realmente sofreu muito, mas muito mesmo, nessa vida. A ponto de não perceber que hoje repete o ciclo só que da pior forma: ao demonstrar falta de empatia, por não se colocar no lugar do outro, trata alguém como nunca gostou de ser tratado.
Afinal, esse outro não é um admirador ou um ser humano qualquer.
É um biógrafo.