COPA DESVALORIZADA
::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::::

Depois do jogo do Brasil, fui dar um passeio pelo Leblon e vi a galera em festa, os bares lotados e um clima de otimismo no ar! É claro que estariam todos assim depois de uma goleada dessa, mas é importante ressaltar que ainda não enfrentamos nenhuma seleção à altura.
Diferente de Sérvia e Suíça, que se fecharam na zaga e tentaram surpreender o Brasil no contra-ataque, os coreanos partiram para tudo ou nada, deram espaço para os nossos atacantes e o resultado foi logo uma goleada de 4 a 0 no primeiro tempo. Na outra decisão, a Croácia sofreu para eliminar o Japão, nos pênaltis, e apesar de ter chegado à final na última edição, também não acho que esteja no mesmo nível da seleção canarinho.
A verdade é que demos muita sorte tanto no sorteio quanto no decorrer da Copa do Mundo e só vamos enfrentar adversários complicados na semifinal e na grande decisão! Se passarmos da Croácia, por exemplo, teremos pela frente a Argentina, comandada por Messi, ou a Holanda, que vem se destacando pelo coletivo. Vale lembrar que a Holanda nos eliminou em 2010, venceu a gente na decisão de terceiro lugar em 2014 e fomos vice da Argentina na final da Copa América.
Na final, apostaria na chegada da França, que, mesmo desfalcada de Kanté, Pogbá, Benzema e cia., tem sobrado na competição. Ainda sobre a França, gostaria de ressaltar o poder de decisão da Mbappé! Aos 23 anos, o atacante já tem um Mundial no currículo e soma nove gols no maior torneio do mundo. Se mantiver o nível, será de longe o maior artilheiro de todos os tempos da competição nas próximas edições. Difícil será superar Just Fontaine, que marcou incríveis 13 gols em 1958, quando ainda eram seis jogos, e é até hoje o maior artilheiro de uma única edição. Também tenho gostado do futebol apresentado pela Inglaterra, que está com confiança e se classificou sem dificuldades para as quartas!
No mais, sinto que essa Copa do Mundo tem apresentado um baixíssimo nível técnico, com muitas zebras e totalmente nivelada por baixo. Torço muito para que os últimos jogos me surpreendam!
Pérolas da semana:
“Com consistência e intensidade, o jogador de beirinha apresenta uma leitura de jogo versátil para fazer a transição no corredor, atacar o espaço e superar as duas linhas de quatro no último terço do campo”.
“Para zerar a bola viva, o cão-de-guarda faz ligação direta dando tapa na orelha da bola por dentro, acionando os alas verticais pela diagonal e balançando para compensar o desnível da última linha”.
O FUTEBOL É SIMPLES
por Serginho 5Bocas

PC Caju está constantemente criticando em suas crônicas no “museudapelada” e eu assino embaixo que o negócio é chato demais. É um tal de tentar falar difícil e criar novas formas de se comunicar com o telespectador, que complicam mais do que esclarecem a cabeça do torcedor. Aonde isso vai parar?
João Saldanha deve estar se revirando no túmulo com essa turma iluminada, Luiz Mendes, então, nem se fala, o comentarista da palavra fácil deve se retorcer. Ah que saudades de Mario Vianna com expressões simples e soltas, que diziam mais do que frases pomposas:
“Errrrrou”, “banheeeira” e a melhor de todas: “Gol legalllll”.
O que dizer dos comentários de Washington Rodrigues, o “Apolinho”, que ainda se comunica aos 86 anos, com extrema facilidade, fazendo o torcedor comum entender sem esforço o que aconteceu no campo de jogo.
Suas expressões caíram facilmente no gosto do povo: “Chocolate” significa goleada, “Estopa” é bola na rede, gol. Além delas, podemos citar “Geraldinos e Arquibaldos”, “Mais feliz do que pinto no lixo”, “Briga de cachorro grande”, “Tá tão quente que urubu voa com uma asa e se abana com a outra”, entre tantas outras eternizadas e adoradas pela galera.
Engraçado que eu nunca pensei que fosse chegar no futebol da TV, o que a gente vê amiúde no mundo corporativo. Essa enxurrada de palavras pomposas, escolhidas criteriosamente para causar impacto, um show de neologismo dos mestres do ilusionismo, que deixam a gente se achando burros pra caramba!
Nas empresas em que trabalhei, apesar de clichê, sempre foi relevante para se sentir incluído, saber o significado de termos estrangeiros: “follow-up” para acompanhar um processo; “feed-back” para dar um retorno de alguma solução ou problema; “networking” para saber com quem podemos contar em nossa rede de relacionamentos profissionais, entre outras, mas no futebol, nunca achei que esses modismos iriam emplacar, me enganei, tá na moda.
O futebol atual está surfando esta mesma onda e hoje é comum escutarmos termos, que a gente tem que traduzir para acompanhar o jogo. Uma tragédia ou seria comédia?
Agredir ou quebrar a bola é simplesmente ir de encontro a bola, chutando ou cabeceando a pelota. Aqueles pontas endiabrados que tanto alegraram nossas tardes partindo pra cima dos laterais rumo à linha de fundo, agora são jogadores de beirada do campo. O time que joga com as linhas altas veio substituir o que chamávamos de marcação pressão no campo do adversário e a famosa segunda bola, caso não esteja enganado é o antigo rebote, que o cabeça de área marcava na meia-lua de um córner, quando seu time atacava.
Hoje temos visto vários ex-jogadores, que não foram tão bons em campo, mas são muito bons de relacionamento fora dele, se empregando com bons salários nas redes de TVs, porque se adaptaram rapidamente a esta realidade. Nem precisa saber interpretar ou antever algum movimento das equipes, basta gravar algumas pérolas dessas e falar na hora certa dentro de um contexto, que está tudo bem, uma savana, um deserto de pensamentos e ideias.
O conteúdo de suas respectivas análises é verborrágico, precário, repetitivo e sempre agradando o narrador manda chuva, que manda mais do que o diretor, mas ninguém que assiste liga mesmo, pois está todo mundo entretido com as estatísticas, que também não servem para nada, mas que causam muito impacto, ou alguém não acha importante saber que a Suiça não vence Senegal há 50 anos, sem nunca ter jogado contra? Vai vendo…
Nesta seara da fala rebuscada, talvez o grande mestre atual seja o técnico da seleção brasileira Tite, que faria o ex-treinador Sebastião Lazaroni, mestre dos mestres desta técnica oratória do passado, se sentir pequeno. Recentemente ouvi coisas que peço ajuda para entender: “extremo desequilibrador”, “treinabilidade”, “Rec 5”, “sinapses no último terço”, “performar com resultado”, entre tantas outras, que me deixou na dúvida. Por que será? Chupa que é de uva!
Prefiro ter o trabalho de pensar por mim mesmo, ver o futebol de forma simples e curtir a máxima do grande ex-jogador, hoje grande escritor e comentarista de futebol Tostão, que sempre foi simples no campo e na pena, mas que cunhou: “Humildade não é o conhecimento do que somos, mas o reconhecimento do que não somos”, frase de extremo bom gosto que resume a personalidade da fera.
Outra fera do futebol que admirava o simples foi Cruyjff. Certa vez tentando explicar sua visão do futebol, deixou esta pérola: “O futebol é muito simples, mas jogar um futebol simples é a parte mais difícil do jogo”
A música “Parabéns pra você” é simples e antiga, mas nunca mudou a letra, porque agrada e atende o propósito plenamente sem complicar. O simples não é fácil de ser feito, apesar de parecer que é. O futebol é simples, mas porque não complicar se a maioria que ouve gosta disso, não muda de canal e o retorno compensa?
Forte abraço
Serginho 5Bocas
A ESPANHA É CHATA
por Serginho 5Bocas

Um amigo meu, logo após a goleada da Espanha de 7×0 sobre a Costa Rica, nesta Copa de 2022 no Catar, ficou maravilhado e fez juras de amor a escola “Roja”:
– Olha que coisa linda! – disse ele empolgado.
Eu, com a minha mania chata de questionador, mesmo sabendo que vou ser execrado, que vão me criticar “a rodo”, mas mostrando a minha opinião mais sincera, disse que a Espanha é chata com esse “Tik Taka” sem fim. Quase apanhei na esquina por ele e pelos comentaristas de boteco, que se aglomeravam na resenha.
A Espanha é aquela seleção que deixou de ser lembrada com a famosa frase “nada, nada e morre na praia”, para ser candidata a título em todas as Copas do Mundo. Essa escola espanhola que teve um crescimento de prateleira e tanto, para quem só participava e não ganhava nada, agora tem jeito próprio de jogar e virou queridinha da imprensa. Melhorou muito, mas não me convence.
Não há dúvidas de que o jeito “Tik Taka” de jogar, que começou com o título do treinador Luis Aragonés, na Eurocopa de 2008, mas foi fazer fama mesmo, com o Barcelona de Guardiola, com Messi no comando, foi uma revolução, um resgate as belas origens do futebol, isso foi. Mas temos que reconhecer que a Espanha, diferentemente do Barcelona, que tinha o Messi, era chata de doer.
O time de Vicente del Bosque da Copa de 2010, tocava a bola infinitamente, às vezes mais de 800 vezes numa partida, sem pudor e de um jeito repetitivo que cansava ver, venceram uma Copa do Mundo, perdendo para a Suíça na estreia e fazendo apenas 8 gols em 7 jogos, uma pobreza, um show de 1×0, mas tem quem goste.
O lado bom é que mostraram para o mundo, principalmente para os ingleses, que a bola podia e devia, ser tocada rente a grama, de pé em pé com calma e qualidade, isso eles aprenderam vendo quem sabe, como bons alunos e souberam demonstrar, novamente, para o mundo.
Essa Espanha de agora, que parece ser uma evolução da espécie, venceu a primeira partida da Copa, tocando mais de 1.000 vezes na bola e marcando 7 gols, somando ao empate em 1×1 com a Alemanha e a derrota imprevista no script por 2×1 para os japoneses, já são 9 gols em três partidas. Já fizeram mais gols do que o time de 2010, mas está dando pinta de que entrou água nas velas do motor, tá rateando muito, sei não…
Hoje em dia, todo mundo toca a bola em todas as ligas, uma globalização em “gastar a bola”, às vezes retornando do ataque até o goleiro, um exagero, só para fazer de novo e tentar acertar o que estava errado. Expurgando os excessos, até que fez bem para o futebol, cada vez fica mais difícil para os “brucutus” jogarem nas grandes ligas, os torcedores agradecem.
Agora, voltando a chatice, tenho que ser sincero: a Espanha, esses anos todos, nunca foi capaz de produzir grandes artilheiros e grandes dribladores, o toque de pé em pé, é feito de forma robotizada, técnica de repetição treinada à exaustão, parece uma orquestra mecânica, em que cada componente, sabe exatamente onde tem que estar e não podem sair do lugar, aquela “parada” do jogo posicional.
Falta o improviso, a arte espontânea, a clarividência e genialidade dos grandes craques, que infelizmente eles ainda não são capazes de produzir, pelo menos na seleção.
No passado recente vão dizer que teve Xavi e Iniesta, mas não eram grandes improvisadores da finta e do drible. Iniesta até arriscava alguma coisa, mas longe do que faziam e ainda fazem alguns brasileiros. Tá no sangue, é coisa de DNA.
Com os clubes é diferente, porque com a riqueza deles, conseguem importar meninos talentosos, joias, jovens promessas de várias partes do mundo, que vão se juntando aos meninos espanhóis e talvez, quem sabe estes, de tanto olharem, uma hora dessas, consigam produzir em espanhol “original”, jogadas e dribles que nos ejete do assento e nos faça bater palmas de pé, um sonho.
Agora que começou de verdade a Copa do Mundo de 2022, a maioria daquele monte de babas já deu adeus, A Espanha pode arrebentar, vencê-la e queimar a minha língua. Tomara que sim, pois quem vai agradecer é o futebol, mas por hora, tá até sobrevivendo, mas tá chato.
A conferir…
Forte abraço
Serginho 5Bocas
ALADIM E SUA CARREIRA MARAVILHOSA
por Eduardo Lamas
Entrevistar Aladim se tornou uma obsessão que Sérgio Pugliese me passou. Desde o fim de 2019, quando entrei em contato com ele pela primeira vez, que estávamos tentando ir a Curitiba para gravar um papo sua longa e extraordinária carreira. E finalmente conseguimos em outubro passado. O papo na padaria que lhe pertence, no bairro Bacacheri (pronuncia-se “Bacachéri”, peço desculpas pelo erro na gravação), você vai poder confirmar o que digo sem titubear: uma coleção de histórias maravilhosas.
Para começar, Aladim foi campeão carioca pelo Bangu no ano em que nasci, em 1966, na histórica final com o Flamengo, jogo encerrado com 3 a 0 no placar para os banguenses muito antes de chegar aos 45 minutos do segundo tempo. Almir estragou tudo, com uma briga monumental, e Aladim conta com detalhes não só daquela partida, em que ele fez um dos gols da vitória alvirrubra, como de outra entre as duas equipes na qual o Pernambuquinho decidiu com a cara na lama e a surpreendente amizade que ele tinha com os adversários. Outros tempos, outros tempos.
Aladim é ídolo no Coritiba, onde conquistou vários títulos, e respeitadíssimo por todos que o enfrentaram e jogaram com ele no mesmo clube, fosse o Bangu; o Corinthians, para onde foi pouco tempo depois que o seu companheiro no time carioca Paulo Borges; o Vitória e até o maior rival do Coxa, o Athletico. Já em fim de carreira, participou da formação da equipe que seria campeã brasileira de 1985. Por pouco não participou daquela conquista, que lhe escapara cinco anos antes, nas semifinais.

Tive a felicidade de vê-lo jogar das arquibancadas do velho Maracanã, contra o meu time, por duas vezes. Para minha felicidade, ele fez gol em ambas, mas apesar da imensa dificuldade, o Flamengo saiu vencedor. Numa delas foi a mais sensacional partida que vi como torcedor: Flamengo 4 x 3 Coritiba, resultado que classificou o Rubro-Negro pela primeira vez para a final do Campeonato Brasileiro. Isso foi em 1980 e eu tinha 13 para 14 anos. Nunca me esqueci, da grande vitória do meu time, nem mesmo dos gols adversários, especialmente o do Aladim, um golaço de voleio que Raul nem viu direito por onde a bola passou. Um ano depois, Flamengo 2 x 1 Colorado.Para demonstrar que guarda ótimas memórias, mesmo em dias de derrota, Aladim revela que a partida de 1980 foi uma das mais espetaculares que jogou e ainda me deu a honra de autografar os ingressos que ainda tenho dessas duas partidas. Só tenho a agradecer a Aladim e a Sérgio Pugliese pelo privilégio de fazer esta inesquecível entrevista.
ALBENEIR, OS GOLS DA SUPERAÇÃO
por Eduardo Lamas
Do topo ao chão, do chão ao topo. Confesso que quando sugeri ao Sérgio Pugliese a entrevista com o Albeneir estava atraído muito mais pelo fato de ele ser o terceiro maior goleador da História do Figueirense do que qualquer outro motivo, até porque me recordava pouco dele. Mas, o que é a vida de jornalista, principalmente daquele que se acostumou a ouvir os conselhos dos mais velhos. Aprendi lá atrás que, até por respeito ao entrevistado, é preciso saber o máximo sobre ele. Enfim, fui vasculhar a vida do Albeneir e vi que mais importante até do que os muitos gols que fez em campo, foram os que vem fazendo ainda na vida.
Bena, como é chamado pelos mais íntimos, viveu o auge como artilheiro do Campeonato Gaúcho de 1986, quando atuava pelo Grêmio, ou quando passeava como rei pelas avenidas de Florianópolis sendo ídolo do Figueirense. E, mais ainda, quando foi convocado em 1984 para a seleção brasileira olímpica que ganharia a medalha de prata em Los Angeles. Porém, depois de dois amistosos vitoriosos e um gol dos três que a equipe brasileira marcou, acabou cortado pelo técnico Jair Picerni, que preferiu levar uma base formada por jogadores do Internacional. Viveu o topo da carreira também em outros clubes, sempre com muitos gols, mas já havia, no Grêmio, passado por uma prova de fogo, quando uma lesão gravíssima no joelho direito quase interrompeu prematuramente a sua carreira. Passou na prova com louvor e continuou jogando por muitos anos ainda.
Ao pendurar as chuteiras, porém, caiu na ilusão de que tudo poderia, que a vida boa seria eterna. Perdeu o controle sobre o álcool e foi parar na rua da amargura. Literalmente. Foi morador de rua. No entanto, com a mesma garra irrefreável com que enfrentava os zagueiros adversários, enganando-os com sua agilidade de guepardo, decidiu que venceria aquele rival implacável. Mas sabia que sozinho nada conseguiria. Então, pediu ajuda a um policial e a um sacerdote, recebeu o auxílio de que tanto necessitava e não hesitou. Passada a tormenta, levantado do chão, continuou a fazer seus golaços na vida e ainda hoje ajuda voluntariamente quem passa pelo mesmo problema que com tanta dificuldade superou, alguns ex-jogadores de futebol, inclusive, ele revela.

Conhecê-lo pessoalmente e poder conversar com ele por cerca de duas horas serviu de inspiração. Não só para este texto, claro. É lição de casa para todos os dias. Sem dúvida, Bena doa-se de corpo e alma nos campos da vida e conquista a cada dia mais uma vitória, mais um título particular, sem manchetes na mídia ou qualquer badalação.