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COPIAR E COLAR

por Idel Halfen

Ao fim de toda Copa do Mundo costumam surgir as teses que determinam as razões das conquistas e dos fracassos. Após o título da Alemanha em 2014, o modelo de futebol no país campeão foi exaltado como a fórmula ideal para o sucesso, curiosamente, nas temporadas seguintes, a seleção alemã nem conseguiu passar da primeira fase. Na Copa de 2018, o modelo francês era o exemplo a ser seguido, mas ainda que tenha chegado à final em 2022, seu time foi derrotado pela Argentina que, por enquanto, vem sendo enaltecida por seus jogadores, todavia, não faltaram elogios ao modelo adotado por Marrocos.

Interessante pensar que um eventual resultado diferente, o que era bastante factível em algumas partidas que foram decididas por detalhes, os discursos dos defensores de alguns modelos estruturados mudariam o foco a favor dos vencedores, mesmo sem uma detalhada análise sobre eles.

Mas estariam errados os que defendem a elaboração e implantação de modelos estruturados no esporte? Óbvio que não! O erro consiste em considerar apenas uma razão tanto para o sucesso quanto para o insucesso, até porque não basta apenas ter um bom desempenho, é preciso superar os adversários, os quais não são impedidos de adotarem os mesmos modelos.

Algo similar acontece no ambiente corporativo, onde surgem frequentemente técnicas “revolucionárias” de gestão, as quais trazem no embalo consultores para auxiliarem a adoção, além, é claro, de cursos, palestras e livros a respeito.

Assim como citado no parágrafo referente ao futebol, não se discute aqui a importância de processos estruturados para se atingir objetivos, a tônica da reflexão tem a ver com as conclusões definitivas acerca do que é o mais certo. Nessa busca, desprezam que tão importante quanto os processos são as pessoas, ou seja, se não houver recursos humanos talentosos, os processos não atingem todo seu potencial, sendo a recíproca verdadeira.
Também não se coloca em questão a evolução do esporte e do mercado corporativo de forma geral, o que demanda constante atualização dos processos e requer tempo para se chegar a bons formatos.

Reparem que não fizemos referência ao “melhor formato”, por entendermos que a customização diante dos recursos disponíveis é necessária e, como cada equipe tem características e potenciais diferentes, o melhor para um não significa que seja o melhor para todos.

Diante do exposto, cabem às organizações usarem os cases de sucesso como benchmark, adaptando-os, porém, às próprias características. Constitui-se um enorme erro simplesmente copiar algo que aparentemente dê resultados sem considerar a conjuntura em que se está inserido, seja interna ou externamente.

Não há como negar que é muito mais fácil copiar algo pronto e responsabilizar o acaso, o árbitro, a economia, no caso de empresas, ou qualquer terceiro pelo insucesso, afinal adotaram, em tese, um modelo comprovadamente de sucesso. O problema é que tais modelos não existem, eles são, na melhor das hipóteses, roteiros que auxiliam na reflexão sobre os pontos a serem focados para, a partir daí, avaliar se fazem sentido diante dos recursos disponíveis e cenários.

SEM ESPERANÇA

:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::

Fim de ano é sempre uma época de muita reflexão, balanços e promessas para o futuro. Juro que ia aproveitar a última coluna de 2022 para renovar as minhas esperanças – que estão cada vez mais baixas – com o futebol brasileiro, mas foi tudo por água abaixo quando abri o jornal para ler as notícias.

Nos áureos tempos, a essa altura, as manchetes seriam sobre os preparativos para os campeonatos estaduais, contratações de peso e a expectativa para o ano seguinte, certo? Pois é, agora só se fala de futebol inglês, do tal “Boxing Day” e não sei mais o quê. Esse é o problema! Estamos tão desvalorizados que nem os nossos próprios jornalistas se preocupam com as novidades daqui. Queremos imitar o futebol inglês, mas esqueceram de dizer que a Inglaterra só ganhou uma Copa do Mundo, em 1966, e, para quem não se lembra, foi com a ajuda da arbitragem! Geoff Hurst chutou a bola, que bateu no travessão, quicou nitidamente fora e o juiz deu gol.

Sei que não é um trabalho do dia para a noite, mas não consigo entender como nada foi feito desde os 10 x 1 (7 da Alemanha e 3 da Holanda). Perdi as contas de quantas vezes bati na tecla de que precisávamos enfrentar seleções da Europa durante a preparação para a Copa do Mundo e não deu outra: fomos eliminados por uma de lá. É preciso investir na base, trabalhar os fundamentos básicos dos garotos ou ficaremos mais 20 anos sem conquistar uma Copa do Mundo. Além disso, ao invés de contratarem professores de educação física, seria importante buscarem os craques do passado para trabalharem no base do clube, como Telê Santana, Pinheiro, Neca, Carlinhos e tantos outros.

É triste dizer isso, mas precisamos ter a humildade de reconhecer que já não somos mais aquela seleção que faz os adversários tremerem. Antigamente, os rivais já entravam derrotados no túnel ao se depararem com Pelé, Gerson, PC, Brito, Didi, Clodoaldo, Félix, Garrincha, Vavá, Zagallo, Nilton Santos, Djalma Santos, Tostão, Carlos Alberto Torres, Rivellino, Jairzinho, Zico, Leandro, Eder, Sócrates e por aí vai! E hoje? É capaz de nem conhecerem os que vestem a amarelinha! Inclusive, não sei como ocupamos o primeiro lugar no ranking de seleções da FIFA, superando Argentina e França, respectivamente. Sinceramente, não consigo ver uma luz no fim do túnel.

No futebol carioca, Fluminense e Vasco contrataram diversos jogadores e aposto que, assim como eu, a maioria não sabe quem são. Por que não investir essa grana na garotada, no centro de treinamento?

Pérolas da semana:

“Com uma ligação direta e marcação alta, o jogador faz a transição com uma leitura de como armar um jogo tendo uma rotação qualificada para chapar a bola explodida como pedra e gerar consistência para o time encorpado, com ideia de jogo por dentro, sobre as linhas”.

“Intensidade e jogo vertical para replicar dinâmica e viés de contenção dos pilares de gravidade do gramado. Dessa forma, encaixa o tapa pelas beiradas com a bola viva para que o atacante do 4-3-2-1 na cratera reativa vertical da diagonal centralizada possa receber a assistência no último terço do campo”.

TOSTÃO, O PELÉ BRANCO

por Elso Venâncio, “o Repórter Elso”

Rei Pelé sempre o considerou um gênio. Para Gerson, Tostão foi o grande nome do tricampeonato mundial que o Brasil conquistou na Copa de 1970. Seus maiores fãs estão na Europa, especialmente na Grã-Bretanha, onde o meia cruzeirense recebeu o apelido de ‘Pelé Branco’.

Tostão foi o primeiro jogador fora do eixo Rio-São Paulo a ser convocado para a seleção. Tinha 19 anos em maio de 1966, quando Vicente Feola o relacionou declarando que o garoto ia longe no futebol.

Ele realizou o sonho de seu pai, que era conhecer Pelé. Em Caxambu, o pai do craque chorou ao receber um abraço e o autógrafo do Rei, que já era tetracampeão do mundo. Duas vezes com o Brasil, outras duas com seu Santos.

A Copa da Inglaterra deu experiência a Tostão, Gerson, Brito, Jairzinho, atletas que seriam campeões quatro anos depois, numa conquista absolutamente indiscutível. Diferente da Argentina no Catar, que foi derrotada na estreia e venceu nos pênaltis uma França desfalcada de meio time.

A final antecipada, no Mundial de 1970, foi diante dos prepotentes ingleses. Eles chegaram ao México de navio, levando sua própria alimentação e até mesmo a água que beberiam.

Na entrada de campo, com as seleções lado a lado, Pelé tratou de dar uma sonora bronca nos companheiros:

– Parem de olhar para esses branquelos de merda. Eles não jogam nada!

O adversário era forte. A base havia sido campeã em 1966: Gordon Bancks, Bobby Moore, Bobby Charlton, todos sob comando do mesmo técnico, Alf Ramsey. Vimos os últimos momentos do futebol-arte, como na jogada do gol marcado por Jairzinho. Mérito para Tostão, que tabelou com Paulo Cézar Caju, passou por três adversários e, mesmo desequilibrado, cruzou de direita para Pelé precisar apenas rolar com açúcar para o Furacão explodir as redes.

Tostão, já era um atleta consagrado. Desde a Copa do Brasil de 1966, competição que, na época, representava o Campeonato Brasileiro. O Santos de Pelé e Cia. foi ao Mineirão e, ao fim do primeiro tempo, o Cruzeiro já os vencia por 5 a 0. Fim de jogo, 6 a 2.

Na partida de volta, Santos 2 a 0 no tempo inicial no Pacaembu. No segundo tempo, o Cruzeiro virou para 3 a 2, derrotando mais uma vez o maior esquadrão do mundo para chegar ao até então inédito título.

Sem dúvidas, foi o maior time da história celeste: Raul, Pedro Paulo, Willian, Procópio e Neco; Piazza e Dirceu Lopes; Natal, Evaldo, Tostão e Hilton Oliveira.

Alguns empolgados jornalistas, para nossa surpresa, declararam terem torcido pela Argentina por causa de Lionel Messi. Mais que isso: disseram que, com o título, ele teria superado Pelé e Maradona.

Pergunto: será que eles viram Pelé? Não, não viram. Muito menos Tostão!

AINDA SOBRE PELÉ

por Paulo-Roberto Andel

Para os que insistem no terraplanismo futebolístico de reduzir os feitos numéricos de Pelé como Atleta do Século XX, proponho um simplório exercício de Estatística Documentária.

Vejamos os dez maiores artilheiros da história do Santos, excetuando-se o próprio Pelé, mais Feitiço (artilheiro nas décadas de 1920-30) e Araken Patuska (artilheiro nos anos 1920). Assim, são sete os maiores artilheiros santistas que jogaram ao lado do Rei.

2) Pepe, 405 gols em 750 jogos (1954-1969). Jogou 13 anos ao lado de Pelé.

3) Coutinho – 370 gols em 457 jogos (1958-1970). Jogou 12 anos ao lado de Pelé.

4) Toninho Guerreiro – 283 gols em 373 jogos (1963-1969). Jogou seis anos ao lado de Pelé.

6) Dorval – 198 gols em 612 jogos (1956-1967). Jogou 11 anos ao lado de Pelé.

7) Edu – 183 gols em 584 jogos (1966-1976). Oito anos ao lado de Pelé.

9) Pagão – 159 gols em 612 jogos (1955-1963). Sete anos ao lado do Rei.

10) Tite – 151 gols em 475 jogos (1951-1963). Sete anos ao lado de Pelé.

Nenhum dos nomes desta lista jogou menos de seis anos com Pelé de camisa 10, fazendo tabelas e recebendo passes. Somados, eles chegam à impressionante marca de 1.749 gols. Não é nenhum absurdo imaginar que Pelé tenha sido o principal responsável por municiar todos esses artilheiros. Que tenha sido por baixo em 40% das jogadas de gol (sabemos que foi mais): falamos de 700 gols pra começar a conversa. É claro que a lista contém vários dos maiores jogadores da história do Peixe, mas é impossível negar a participação direta de Pelé nas estatísticas de gol de seus companheiros.

Obs: apenas a título de curiosidade, dos dez maiores artilheiros da história do Barcelona, o espetacular Messi jogou apenas com Luisito Suárez (198 gols, o terceiro maior, seis anos jogando com Messi) e Samuel Eto’o (131 gols, o oitavo maior, cinco anos ao lado de Messi). Somados, dão 329 gols. Provavelmente Messi também teve expressiva participação em assistências para os colegas de equipe.

(Números sujeitos a retificações mínimas)

@pauloandel

POUPADOS DE UM VEXAME MAIOR

por Rubens Lemos

O Brasil deve gratidão a Nosso Senhor pela campanha. O erro do contra-ataque contra a Croácia, que resultou no gol que terminou na eliminação nos pênaltis, significou o limite do futebol decadente.

O time de Tite teria sido esquartejado pela Argentina e perdido o quarto lugar para os marroquinos. O futebol brasileiro não está apenas no resultado em campo. Está no comportamento, no penteado dos seus farsantes, no linguajar vergonhoso de seus treinadores. E na dancinha. E no cinismo de quem finge sofrer.

Jornalista tem mania de contextualizar para que a notícia não escape por completo. Tem de mapear cada frase, intermediar construções por completo, para a casa verbal não cair, porque a de chuteiras já pôs o país em seu secundário lugar. Daí escrever que o Brasil não ganharia do Marrocos pela indigência solidária de Tite e dos seus pupilos.

O futebol brasileiro rodaria no olé dos marroquinos, imaginemos enfrentando Argentina ou França. Seria eliminado tomando baile, porque, afinal, brasileiros não são de coração, mas de recibo ou certidão.

O Brasil não faz um bom papel numa Copa do Mundo desde 2002, quando Lula foi eleito para o seu primeiro mandato a presidente e o baixinho Romário – sacaneado por Felipão, poderia ter sido pentacampeão porque jogava mais, aos 36 anos, do que todos os 22 convocados.

Escolher o técnico nem é o mais importante porque treinador não junta o polegar no indicador, esfrega e, do gesto, sai um supercraque.

O Brasil está abaixo do nível dos maiores times. Faz tempo, mas 2022 cravou a sentença igual a estaca no coração dos dráculas da CBF e dos treinadores ridículos.

O Brasil não tem segredo, ao contrário do que espalha a mídia pacheca. O Brasil é fraco. Começa nas divisões de base formando lutadores de tatame, passa pelos dirigentes de cobiça vampiresca e se autodestrói na insensibilidade dos boleiros que vão embora.

Eles vestem a camisa amarela com menos tara do que incorporam à do clube que lhe paga euros em milhões engasgando nos treinadores sem o básico: conhecimento da força de improvisação e da classe que nos deram cinco canecos.

Enquanto a Argentina passará anos festejando – os quatro – o tricampeonato, o Brasil tentará montar uma nova estrutura, apelando à horrenda comunicação mentirosa do país, que enxerga craques em bagres e diante, como numa disputa dos pênaltis, com a verdade: sem um Deus a guiar a seleção, esta não será abençoada.

Será o Brasil classe média, contra Colômbia, Chile, Paraguai, Peru, Venezuela, a lixeira da pobreza Sudamérica, onde não se encaixa a Argentina, que Messi entrega como a melhor do mundo e, sem ele, com a natural soberba, vai liderar o maltratado continente.

Melhor que acabou, se o bom senso der um chutão, o tempo de Neymar como estandarte, símbolo, salvação, jogador que nunca será mais do que antecessores razoáveis, ribeirinhos. Neymar encerrou, tomara, na seleção, sua carreira de, no máximo, mumificação de Robinho.