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O CRAQUE QUE NÃO JOGOU COPA

por Elso Venâncio

Dirceu Lopes foi um dos maiores craques da sua geração. Nasceu em Pedro Leopoldo, região metropolitana de Belo Horizonte, terra de outro mineiro inesquecível, o imortal médium Chico Xavier.

O esquadrão do Cruzeiro que surgiu na metade da década de 60 é, até hoje, o maior time da História do clube. Destaque para uma dupla genial, que dava espetáculos com futebol-arte e conquistava títulos em série.

Tostão era o ‘Rei Branco’, apelido dado pelos ingleses após a Copa de 70. ‘O Príncipe’ chamava-se Dirceu Lopes. Baixo – media 1,62 m –, o meia tinha dribles curtos, era rápido no toque de bola e ainda armava e chegava com tudo para concluir de forma letal.

A equipe celeste entrou para a História ao vencer o Santos de Pelé por duas vezes consecutivas. No Mineirão, goleada: 6 a 2. No Pacaembu, em São Paulo, 3 a 2 de virada, para conquistar a Copa Brasil de 1966, o Campeonato Brasileiro da época. Foi o primeiro título nacional do futebol mineiro.

Raul, Pedro Paulo, Willian, Procópio e Neco; Piazza e Dirceu Lopes; Natal, Evaldo, Tostão e Hilton Oliveira. Que timaço!

Esta conquista foi um marco. Antes dela, as joias que surgiam seguiam direto para o futebol carioca ou paulista. Além disso, eram convocados para a seleção somente quem jogava no eixo Rio-São Paulo. Tostão foi o primeiro chamado que atuava em seu estado natal. Disputou a Copa de 1966 e ainda marcou um gol, contra a Hungria, na derrota por 3 a 1, jogo que marcou a despedida de Mané Garrincha da seleção brasileira em partidas oficiais.

Dirceu Lopes, mesmo sendo meia, é o segundo maior artilheiro da Raposa, com 223 gols. Só é superado por Tostão, autor de 245.

No dia em que João Saldanha teve seu primeiro contato com a imprensa na antiga CBD, localizada na Rua da Alfândega, no Rio de Janeiro, perguntaram se ele, como novo técnico da seleção, já tinha em mente quem convocaria.

– Como? – retrucou, sério, o João ‘Sem Medo’.

Calmamente, tirou um papel do bolso e anunciou os titulares.

– São 11 feras!

Dirceu Lopes foi uma dessas feras nas Eliminatórias. O Brasil não empatou um jogo sequer em 1969.

Saldanha anunciou o time que mandaria a campo: Félix, Carlos Alberto Torres, Brito, Djalma Dias e Rildo; Piazza, Gerson e Dirceu Lopes; Jairzinho, Pelé e Tostão. Rivellino, o ídolo de Diego Maradona, era reserva.

Dirceu Lopes seguramente seria uma das atrações na Copa do México. Porém, o comunista Saldanha acabou sendo demitido após tanto criticar os generais em tempos de ditadura militar. Zagallo assumiu e surpreendeu ao cortar de cara o ídolo do Cruzeiro.

Definitivamente, Dirceu Lopes não ter jogado uma Copa é uma das maiores injustiças da História do futebol.

O MEU LATERAL-ESQUERDO

por André Felipe de Lima

Marco Antonio Feliciano foi daqueles laterais esquerdos fora da curva. Foi campeão com a seleção brasileira na Copa de 70 e conquistou títulos pelo Fluminense e o Vasco. Minha relação com Marco Antonio é especial porque foi ele o lateral esquerdo, também, do meu time de botão quando eu tinha uns nove anos de idade. Era o Orlando Lelé na direita e ele na canhota. Não abria mão de ambos. E esta reverência ao Marco Antonio é ainda maior porque o jogador esteve na final do campeonato carioca de 1977. Vibrei feito um doido, um menino maluquinho, encantado com aquela escalação campeã que sei de cor e salteado. Nunca a esqueci: Mazzaropi, Orlando, Abel, Geraldo e Marco Antônio. Zé Mário (estupendo! O craque do jogo), Zanata (depois entrou o Helinho) e Dirceu. Wilsinho (depois o Zandonaide), Roberto Dinamite e Paulinho (que jogou no lugar do Ramon, o titular). O treinador era o “Titio” Orlando Fantoni. Marco Antonio esteve soberbo naquele jogo sem dar mole para as avançadas do Ramirez (depois as do Tita) e do Toninho, um lateral desesperadamente improvisado na ponta direita. Fomos campeões, e isso é que importa. Dona Agripina tinha muito orgulho do filho Marco Antonio. Afinal, era um garoto ajuizado que a ajudava entregar quentinhas e que um dia quis ser detetive, mas foi como jogador que Marco Antonio brilhou à beça e enchia de lágrimas os olhos da mãe extremosa. O cara foi cinco vezes campeão carioca. Quatro pelo Fluminense e uma pelo Vasco. Isso é para poucos. Lembro até o hoje o dia em que abri uma embalagem do chiclete Ping Pong com alguns cartões da coleção Futebol Cards. Deparei-me com o do Marco Antonio. Foi uma felicidade indescritível. Hoje, dia 6, é aniversário dele. Parabéns, Marco Antonio, o meu lateral-esquerdo.

a uma partida do paraíso

por Zé Roberto Padilha

Faltavam dois jogos para terminar o Brasileirão de 1975. E a revista Placar, a Bíblia da bola, colocava meu nome na liderança para ganhar a Bola de Prata de melhor ponta-esquerda. Não tinha criança disputando a posição.

Lula, Mário Sergio, Paulo Cézar Caju, Joãozinho, Sérgio Américo, Ziza…

A Bola de Prata era o nosso Oscar. Levou pra casa, nunca mais ficaria desempregado. Nem precisava de empresário, era só colocar debaixo do braço e assinar um outro contrato no clube a escolher..

Recebi uma carta da Editora Abril nos informando, em caso de confirmada minha liderança, que seria entregue em São Paulo, durante o Programa Clube dos Artistas, na TV Tupi. De Airton Rodrigues e Lolita.

E lá fui eu comprar um terno novo na Windsor.

Daí perdemos nas semifinais para o Internacional, por 2×0, no Maracanã, e ficamos de fora das finais. Pelo menos para mim e para o Marco Antonio, da Máquina Tricolor que tinha atropelado todo mundo, restava o consolo do troféu. E quando fui buscar a revista dia seguinte no jornaleiro, meu nome sumira da lista.

Sabe aquele contrato que você assina e não lê? Pois é, no regulamento, que nenhum jogador presta atenção, só na sua colocação, estava escrito: quem não completou 14 jogos , ou não terá chances de fazê-los, já esta de fora da VI Bola de Prata.

Liguei para o Fluminense, sempre bom no tapetão, e solicitei o número de partidas que atuara. Valia ter entrado no segundo tempo. A resposta foi cruel: 13. Disputara 13 partidas.

Será que o regulamento não dava um desconto porque nenhum jogador, por melhor fase que estivesse passando, conseguiria ser titular absoluto, jogar tantas partidas, disputando a posição com Mário Sergio e Paulo Cézar?

Enfim, os dias mais tristes que tive no futebol: no domingo, perder em casa as chances de disputar uma final. Na segunda, perder o mais cobiçado troféu por uma partida.

Família forte, unida, caso contrário, beira do mar, cervejinha, caipirinha..

VALDOMIRO, O SR. COLORADO

por Eduardo Lamas

Jogador com o maior número de jogos pelo Internacional, 803 partidas, ainda o maior artilheiro do Beira Rio, com 105 gols, e quarto goleador da História colorada, com 191 tentos, Valdomiro é certamente o mais importante atleta do clube gaúcho. Não só por esses números, inevitavelmente sempre frios, por mais calor que queiramos emprestar, mas pelo que representou – e representa – e pelo grande amor que tem pelo Inter.

Além disso tudo, teve participação direta em vários títulos gaúchos e nos 3 brasileiros conquistados pelo Colorado nos anos 70. A destacar que, em 75, fez o cruzamento para o gol de Figueroa contra o Cruzeiro, e, no ano seguinte, marcou de falta o segundo da vitória sobre o Corinthians que garantiu o bi. Até quando não atuou, na primeira partida da final de 79, seu substituto, Chico Spina, fez os dois gols da vitória de 2 a 0 sobre o Vasco, no Maracanã, que deram grande vantagem ao Inter para o jogo da volta, no Beira-Rio, aí sim, com a presença de Valdomiro.

Uma lenda viva, que não por acaso tem uma estátuia no estádio do Inter, porém de uma simplicidade ímpar. Ele e sua esposa, Natália, a quem sempre dedica uma palavra de carinho e que, segundo diz, é a responsável por todo acervo sobre a sua brilhante carreira que possui em casa. Ambos nos receberam, eu e o cinegrafista Fernando Gustav, com simpatia e tudo preparado, mesmo tendo se mudado pouco tempo antes para o apartamento atual, em Criciúma, cidade-natal do ex-ponta-direita.Com tanta história, que ainda passa pelo Comerciário, atual Criciúma, a seleção brasileira na Copa do Mundo de 1974 e o Millonarios, da Colômbia, a conversa fluiu sem que percebêssemos o tempo passar. E ouvindo Valdomiro contar tudo, com tantos detalhes que a excelente memória lhe traz, foi mesmo como voltar no tempo.

ENGAJAR NÃO É TORCER

por Idel Halfen

Num cenário cada vez mais polarizado, há uma convicção que provavelmente une todos aqueles que acompanham o futebol brasileiro: a importância de se formar uma liga, a qual tenha condições de gerar mais receitas para os clubes.

Todavia, não há unanimidade acerca do modelo a ser adotado, fato que tem a forma de divisão das receitas advindas dos direitos de transmissão como um dos pontos de discórdia, o que deriva para uma reflexão interessante no que tange ao marketing: como medir o engajamento de grupos?

Mas antes de passarmos para os questionamentos sobre “engajamento”, vale contextualizar que um dos grupos interessados na compra dos direitos da futura liga preconiza uma distribuição de receita onde 40% dela seriam divididos igualmente entre todos os clubes, 30% conforme a classificação no campeonato e 30% de acordo com o engajamento das torcidas, enquanto o outro propõe a divisão na base de 50%, 25% e 25% respectivamente

Deve ainda ficar claro que para uma competição ser atrativa para o público, investidores e parceiros, é fundamental que exista uma relação de  equilíbrio entre as equipes, permitindo assim levar emoção e suspense para o maior número possível de jogos.

Evidentemente que a meritocracia não pode ser desprezada, sendo importante também premiar os que conseguem fazer melhores administrações, incluem-se aqui contratações, formação de jogadores, organização, controle financeiro e gestão de marketing, no entanto, esse fator já está considerado, visto influenciar o desempenho esportivo, o qual é contemplado nos modelos apresentados.

Mas e o engajamento? 

Abaixo exploramos as possíveis formas sugeridas para mensurá-lo:

 Assinantes via streaming – esse índice parece justo, embora incorra na necessidade de cadastros higienizados e fidedignos, além de  ser sensível ao momento de cada time.

 Média de público no estádio – esse critério nos deixa diante de dois problemas: (i) os diferentes tamanhos de estádios fazem com que um time que mande seus jogos em arenas maiores seja privilegiado e, caso se decida usar a taxa percentual de ocupação, os que possuem menores capacidades se beneficiam; (ii) assim como o critério relativo aos assinantes dos canais streaming, o momento do time, muitas vezes influenciado pelo maior poder de investimento, estimula a presença de público nos jogos.

Número de seguidores nas redes sociais – tal parametrização beira o absurdo quando tomamos ciência de que é possível “comprar seguidores”, que seguidor não significa engajamento e que seguir não significa torcer.

 Audiência dos jogos em TV aberta – ainda que tenha algum grau de coerência por supostamente medir a atratividade do evento, o índice não consegue expurgar o componente “fase do campeonato”, isto é, clubes que estejam disputando algo nas rodadas finais – inclusive a permanência na divisão principal – e respectivos adversários tendem a ser beneficiados com a audiência. Soma-se a isso, o fato de que os clubes não possuem ingerência sobre a definição da grade de programação, a qual também afeta a audiência.

– Tamanho da torcida – conforme já foi abordado em outros textos desse blog, as pesquisas referentes à apuração do tamanho das torcidas costumam apresentar falhas de metodologia e de segmentação. Em vista desta condição, seria mais justo que esse componente não fosse considerado, até porque, ele já atua nas vendas de produtos licenciados e, na maioria das vezes, na decisão das empresas quanto ao patrocínio.

Partindo dessa análise, podemos inferir que qualquer proposta que dê menos peso ao engajamento é a que mais preserva o equilíbrio da competição, até porque os critérios sugeridos para se calcular o engajamento, como visto acima, apresentam falhas tanto no que diz respeito à eficácia como também por propiciar benefícios cruzados e duplicados.