O FUTEBOL COMO ELE É
por Wesley Machado

– É nossa! – grita o torcedor do Fluminense focado pela tv no estádio com uma camisa retrô branca e cinza.
O árbitro apita a posse de bola para o time “das três cores que traduzem tradição”. Mas não era branco e cinza?
O Tricolor das Laranjeiras fez a melhor partida de um time brasileiro na primeira rodada da Copa do Mundo de Clubes da FIFA 2025.
A estreia foi contra um temido europeu, o Borussia Doutromundo, que por sua vez fez frente ao poderoso Real Madrid na final da Champions League 2024.
Mas quem ditou o ritmo do jogo desta terça-feira foi o meia, atacante, ponta, lateral, o incomensurável colombiano Arias, que se multiplicou e flutuou em campo.
Porém Arias não poderia cobrar um escanteio e ele mesmo fazer o gol, como fez Didi Mocó no filme “Os Trapalhões e o Rei do Futebol”.
O tricolor Nelson Rodrigues deve estar orgulhoso onde estiver.
Faltou o Sobrenatural de Almeida para a bola do Flu entrar.
Ah, se Everaldo tivesse chutado e não passado aquela bola?
O narrador xará destacou a então falta de confiança do questionado centroavante do “clube tantas vezes campeão”.
Quem sabe mais para a frente o vilão vire herói e suspenda por ora o “complexo de vira latas” dos brasileiros ante os boleiros do Velho Mundo.
Assim é o futebol!
GELSON BARESI – UM ITALIANO BRASILEIRO
por Ricardo Alves (Rico)

Mais uma cria de Cascadura, bairro que sempre foi berço de grandes jogadores, Gelson Baresi começou cedo na bola pesada, dando seus primeiros chutes na escolinha do Tio Julinho.
Foi lá que aprendeu a lidar com o peso da bola e a leveza do talento, moldando o jogador técnico e elegante que logo se destacaria. Desde menino, sua categoria em quadra chamava atenção. Com naturalidade, ele unia técnica e visão de jogo — qualidades que não demoraram a levá-lo aos campos de grama.
No Flamengo, brilhou nas categorias de base até chegar ao profissional, mostrando o mesmo talento que encantava desde Cascadura. Pela sua classe e postura de zagueiro, logo ganhou o apelido de Baresi, em referência ao lendário defensor italiano, ídolo de gerações.
E, como o original, Gelson Baresi conquistou respeito por onde passou, seja vestindo a camisa do Cruzeiro ou de outros clubes, sempre deixando a sua marca.
Hoje, Gelson Baresi é mais do que um ex-jogador: é empresário e mentor, cuidando da carreira de diversos atletas que buscam seus sonhos, assim como ele buscou os dele.
Baresi é prova viva de que muitos craques nasceram da bola pesada, do saudoso futebol de salão — um esporte que moldou não só jogadores, mas também homens de fibra e coração.
Por isso, não poderia ficar de fora da nossa homenagem às grandes lendas do nosso esporte.

JOGOS INESQUECÍVEIS – FLAMENGO 1 X 0 VASCO DA GAMA, EM 1978
por Luis Filipe Chateaubriand

Naquela tarde de domingo de 1978, o Vasco da Gama jogava pelo empate para conquistar o segundo turno do Campeonato Carioca de Futebol.
No entanto, se o Flamengo vencesse, seria campeão do estado, pois já havia vencido o primeiro turno e, assim, conquistaria também o segundo turno.
O jogo começou como seria previsível: o Flamengo, atacando; o Vasco da Gama, se defendendo e tentando jogar nos contra-ataques.
O rubro-negro, do técnico Cláudio Coutinho, foi criando chance atrás de chance. Mas todas elas paravam nas mãos do goleiraço Emerson Leão, que fazia uma partida de altíssimo nível.
E, assim, o Vasco da Gama, do técnico Orlando Fantoni, parecia que conquistaria o segundo turno. Parecia…
Inclusive, no único contra-ataque vascaíno que merece ser citado, já no final do jogo, Paulinho Piracicaba saiu na cara do gol, mas chutou bisonhamente!
O jogo se encaminhava para o seu encerramento.
Mas eis que, em uma pressão do “Mais Querido”, o lateral cruz-maltino Marco Antônio, sem necessidade, colocou a bola para escanteio.
Para a surpresa de muitos — dir-se-ia mesmo de todos — Zico foi bater o corner. Eram 43 minutos do segundo tempo.
Ao fazer a cobrança, este escriba suspeitou que Zico fez um leve aceno com a mão, para que Rondinelli fosse para a área. Seja como for, Rondinelli foi.
Roberto Dinamite, que devia acompanhar Rondinelli, ficou estático na meia-lua.
O cruzamento saiu alto, preciso, e alcançou Rondinelli na entrada da pequena área, enquanto o zagueiro vascaíno Abel ficou preso ao chão, observando.
Rondinelli testou com força, com violência, com precisão — no alto e no canto direito do goleiraço Leão — que, desta vez, não pôde fazer nada.
Flamengo 1 x 0 Vasco da Gama.
Ainda houve tempo, no jogo, para Zico e Guina se desentenderem e ambos serem expulsos.
Mas a meia dúzia de defesas espetaculares de Leão não serviram para nada…
O Flamengo venceu o jogo, sagrou-se campeão e, nos seis anos seguintes, ganharia tudo que é possível no futebol, tornando-se o maior protagonista do “Esporte Bretão” do país!
MINHA VIDA E BRASIL X ITÁLIA
por Rubens Lemos

Está marcada para o dia 5 de julho a cirurgia que farei para extirpar um câncer de próstata. Quem me conhece, minimamente, sabe o quanto estou nervoso e tenso apesar da qualidade do responsável pelo procedimento, o médico urologista Verdi Dantas Júnior.
A data coincide com o 43o aniversário da derrota da magnífica seleção brasileira de futebol para a Itália por 3×2, uma tragédia segundo milhares (eu me incluo) de contemporâneos que testemunharam a frustração e, de forma fidedigna, conservam o sentimento de fracasso ou de quase-vitória passe o tempo que for.
Desde aquela tarde de um dia de semana inglesa, proferi palavrões em português claro e assumi o meu medo de fantasmas. Paolo Rossi, o autor dos três gols italianos, elegi um Nosferatu impeditivo de um carnaval em meio de ano num país em Ditadura em capítulo derradeiro.
Tenho medo de sofrer outra vez a agonia daquele 5 de julho. Era apenas um menino cheio de sonhos a desafiar quem achava o timaço de 1970 impossível de ser superado. Era uma criança intrometida em conversas de adultos e convicta como são as crianças de que sairíamos da Espanha com a Taça de excesso de bagagem.
Se bem que um grupo de 11 jogadores com Serginho Chulapa de centroavante desce, em alguns degraus de fantasia, a história de pensamentos deliciosos que o Brasil conseguiu repetir a cada um dos quatro primeiros jogos. Serginho Chulapa foi a antítese da virtude, o contrário do orgasmo, o centauro derrotado.
A perda de um simples jogo, como disseram alguns que nunca gastaram os fundilhos da calça ou chuparam laranja pura em arquibancada imunda, não seriam suficientes para tornar cada um amante do futebol, expulso do impulso de ser pátria, a pátria de ninguém do livro do gênio François Silvestre, meu amigo França exilado em Martins, a 300 km de Natal.
Costumo buscar nos cemitérios, por onde ando sem medo, contradição do meu trauma de almas penadas, a paz que encontro no silêncio ausente das ruas de uma cidade transfigurada. De uma Natal cada vez maior e espremida no seu próprio aspecto de miniatura deliciosa quando era uma aldeia.
Caminhar por túmulos é conhecer a igualdade entre os humanos defuntos, falecidos e finados, nenhum maior que o outro, mesmo que mausoléus se atrevam a contrariar a regra estabelecida sabe-se lá por quem ou pelo Deus que, católico, acredito que decida na prorrogação final.
Aquela derrota de 5 de julho foi fatal para uma geração inteira de pretensos adolescentes humilhados pela interrupção do querer ser tetracampeão e acima de tudo, ser tetracampeão jogando melhor do que os vencedores de 1958, 1962 e 1970.
Não havia Pelé, mas existiam Zico, Sócrates, Falcão, Leandro, Júnior, Eder, Paulo Isidoro, Oscar e Luisinho, o meia que atuava como quarto-zagueiro.
Tínhamos uma equipe a bailar em qualquer cenário com um coreógrafo teimoso a comandá-la. Telê Santana pagou por não escalar, pelo menos uma vez, Edinho, Batista e Roberto Dinamite, o artilheiro de sorriso triste, humilhado ao não ser relacionado sequer para o banco em nenhuma das quatro pelejas.
Brasil 2×3 Itália foi a maior desgraça futebolística nacional, semelhante apenas ao Maracanazo de 1950, quando os uruguaios vieram aqui, carregando chuteiras no ombro e nos venceram, sepultando, em metáfora doída , um estádio com 200 mil pessoas.
Quem sofre como eu os 3×2 perdidos esquece que a Itália era um timaço, com o quarentão Dino Zoff no gol, o líbero Scírea comandando o time na saída da defesa para o meio onde estavam dois solistas, Tardelli e Antognioni. E, no ataque, Paolo Rossi, Bruno Conti e Graziani. Eles eram bons, mas foram os intrusos de uma comoção coletiva que se encaminhava para a decisão do Mundial da Espanha.
Se aproxima o momento de minha cirurgia. Já recebi sugestões de não falar sobre o maior trauma de minha vida na coluna. Minha diferença é não ser cópia. Minha vontade é ser verdadeiro o tempo todo. Assim, dia 5 de julho, Doutor Verdi me fará vingar 1982, arrancando o Paolo Rossi que carrego da cintura para baixo e me deixando ser o Quixote de cada dia.
O COMEÇO DO FIM DO MUNDIAL DE SELEÇÕES
por Reinaldo Sá

Prestes a completar um século de existência, a FIFA aposta todas as suas fichas em um torneio mundial que reúne os principais vencedores dos seis continentes do planeta. Com uma jogada de marketing de alto nível, essa primeira edição com 32 clubes nos leva a uma nova realidade — e a um questionamento: o que vale mais hoje em dia, jogar pelo clube ou pela seleção do seu país?
As pátrias estão interligadas em um intercâmbio sem fim, que leva muitos atletas a buscarem uma dupla nacionalidade para alcançar a principal vitrine do futebol mundial: o continente europeu. Afinal, é lá que estão os maiores investimentos, concentrados nos clubes de primeira linha.
As mudanças começaram em 2000, com um torneio realizado no verão brasileiro, sediado em São Paulo e no Rio de Janeiro. Na época, o Brasil era tetracampeão mundial de seleções, e os títulos continentais e intercontinentais eram dominados por argentinos e uruguaios. Os confrontos entre sul-americanos e europeus aconteciam, inicialmente, em duas partidas. Depois, a partir de 1980, a Toyota adquiriu os direitos exclusivos para realizar a decisão em jogo único.
Essa metamorfose no contexto futebolístico faz com que as pátrias se tornem apenas o local onde o clube está sediado — e não mais as seleções como base de formação dos atletas, como um dia já foi. Que o diga o Brasil.
Enquanto isso, a Copa do Mundo de seleções, agora com três sedes e 48 participantes, começa a sofrer um processo de esvaziamento nos bastidores. Resta-nos aguardar as cenas dos próximos capítulos até o centenário do mais importante torneio de seleções. Nessa queda de braço, afinal, quem será o verdadeiro campeão mundial: os clubes ou as seleções?