ATÉ QUANDO?
::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::

Depois do lamentável episódio de racismo na semana passada, a CBF se mobilizou para fazer campanhas de conscientização em todos os jogos da rodada. Não poderia deixar de parabenizar, mas confesso que ainda acho muito pouco. Vi que gravaram um vídeo com grandes atores, mas senti falta de muita gente que foi importante para o futebol brasileiro e mundial! Não só acho pouco, como vejo apenas uma ação pontual. Na minha visão, tem que ser algo permanente, visto que o preconceito tem sido cada vez mais comum nos estádios pelo mundo. Vamos ver como será daqui pra frente!
O que não dá mais para esperar é a indefinição da CBF para anunciar o novo treinador! Já estamos na metade do ano e nenhum indício de como será a preparação para a próxima Copa do Mundo! Enquanto isso, Ramon Menezes segue tentando manter um equilíbrio e convocando de forma coerente.
Estive ontem no Nilton Santos com Carlos Roberto e, mais uma vez, gostei do que vi. Há muito tempo não vejo um Botafogo tão organizado e confiante. Volto a dizer que ainda é muito cedo e tem muito campeonato pela frente, mas dá para enxergar a construção das jogadas e um time bem treinado, muito seguro na defesa. Não lembrava a última vez que fiz isso, só que ontem vibrei como uma criança com o primeiro gol marcado pelo Botafogo. Se a vitória já não fosse o bastante, Atlético-MG e Palmeiras empataram e agora o alvinegro abriu cinco pontos de vantagem para o segundo colocado.
Por falar em Palmeiras, Abel Ferreira deu mais um vexame em relação a seu comportamento. Dessa vez, tomou, de forma grosseira, o celular de um jornalista que filmava a discussão do diretor do Palmeiras com o árbitro. Quero saber aonde isso vai parar!
Sobre os outros jogos da rodada, o Flamengo deu sorte de sair do Maracanã com um ponto contra o Cruzeiro, o Vasco perdeu para o Fortaleza e a situação é preocupante demais, assim como América-MG s Bahia. O Corinthians, de Luxemburgo, finalmente voltou a vencer. Acho que pouca gente acreditava na vitória contra o Fluminense, mas o futebol é apaixonante por isso. Com muito menos posse de bola, o Timão soube aproveitar os contra-ataques e conseguiu um bom triunfo conta os comandados de Fernando Diniz.
Pérolas da semana:
“Linha de três zagueiros, com alas pelas beiradas entrando na diagonal ou pela contramão para proporcionar uma ligação direta aguda e conseguir as segundas bolas”.
“Precisou trocar o pneu do carro andando para qualificar o alinhamento e tracionar o jogador agudo com GPS nos dados e leitura de jogo aguçada”.
SAUDOSO GAÚCHO
por Elso Venâncio, o repórter Elso

O centroavante Gaúcho não precisava do futebol para viver. Nasceu em Canoas, na Grande Porto Alegre, e investia seu dinheiro na criação de gado, nas fazendas da família localizadas em Campo Grande-MS e Goiás.
Nas divisões de base, na Gávea, tentou ser ponta-direita. O problema é que não se firmava. Passou por alguns clubes, mas teve razoável destaque apenas no Palmeiras, entre 1988 e 1989. Logo, voltou para o Flamengo. Para se consagrar e conquistar os principais títulos da sua carreira.
No Maracanã, em 1988, foi para o gol do Palmeiras, contra o Flamengo, no momento em que Zetti fraturou a tíbia ao se chocar com o atacante Bebeto. Sairia como herói ao defender dois pênaltis, um de Aldair, outro de Zinho. No regulamento daquele Brasileiro, se houvesse empate no tempo normal cada time somaria um ponto, mas quem ganhasse nos pênaltis levaria outro.
O centroavante chegou a defender o Boca Juniors, da Argentina, assim como o Atlético Mineiro, numa malfadada ‘Sele-Galo’, em 1994. Defendeu, ainda, o Lecce, da Itália, a Ponte Preta e até mesmo o Fluminense, mas ídolo mesmo só conseguiu ser no Flamengo.
Valente em campo, movimentava-se bem, mesmo com o porte físico avantajado. Consagrou-se como artilheiro do time nas conquistas do pentacampeonato brasileiro de 1992, na primeira Copa do Brasil que o clube levantou na História, em 1990, e nos Cariocas de 1991 e 1993.
Seus gols de cabeça eram marcantes. Lembrava Dionísio, o ‘Bode Atômico’. Testava como poucos. A cabeça grande e o enorme pescoço facilitavam-lhe o cabeceio.
Renato Gaúcho foi o seu grande amigo no futebol. Após ser campeão mundial com o Grêmio, tornando-se para sempre o maior ídolo da história do tricolor gaúcho, acabou sendo contratado a peso de ouro pelo Flamengo em 1987, clube pelo qual conquistou a Copa União, no mesmo ano, sendo eleito, inclusive, o craque da competição. Vendido para a Roma no ano seguinte, retornou em 1989 declarando ter se arrependido de sair para a Europa. No Carioca de 1990, formou com Gaúcho a dupla de ataque do ‘Mais Querido’, o que o levou à Copa do Mundo da Itália.
Ambos infernizavam os zagueiros adversários e, sempre juntos, agitavam a noite carioca. Renato chamava a atenção por onde passava e se intitulava o ‘Rei do Rio’. Gaúcho se casou com Inês Galvão, que trocou a carreira de atriz para cuidar dele e da família.
Morava no condomínio ‘Selva de Pedra’, no Leblon. A pé, atravessava a Rua Gilberto Cardoso para treinar. Era dos primeiros a chegar. Sempre extrovertido, provocava os adversários, sobretudo os antigos fãs palmeirenses:
“Vou encher de gols esses italianos!”
Em 1991, Renato foi seduzido pela mala cheia e o iate do bicheiro Emil Pinheiro, em Angra dos Reis. Transferiu-se para o Botafogo, disputando dois Brasileiros com a camisa alvinegra. No primeiro jogo da final de 1992, o Flamengo fez 3 a 0 no rival, com o ‘Maestro’ Júnior brilhando, mesmo aos 38 anos de idade. No dia seguinte, uma crise explodiu em Marechal Hermes (a sede de General Severiano só foi devolvida ao alvinegro três anos mais tarde). Após um churrasco em sua casa, na Barra da Tijuca, o repórter Tino Marcos, da TV Globo, mostrou a principal estrela botafoguense brincando com Gaúcho, ao lhe servir churrasco na boca. Irada, a torcida alvinegra exigiu o afastamento de Renato, mesmo com o técnico Gil e os companheiros apoiando o camisa 7, até então carro-chefe da brilhante campanha que o clube fez ao longo de toda a competição.
Luís Carlos Toffolli, o Gaúcho, faleceu aos 52 anos, em 2016, na capital paulista, vítima de câncer de próstata. Viajou ao Paraguai para se tratar com um médico que prometia ‘curas milagrosas’. Renato Gaúcho foi contra, anteviu o charlatanismo. Chegou a se aborrecer com o amigo.
Após pendurar as chuteiras, Gaúcho resolveu morar em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Gostava de pescar e a vida pacata do Pantanal lhe fazia bem. Chegou a fundar o Cuiabá Esporte Clube e se orgulhava de seus quase 500 alunos na ‘Gaúcho – Escola de Futebol’, sediada na capital Cuiabá.
GAÚCHO, um goleador e ídolo que marcou intensamente durante sua breve mas vitoriosa passagem pelo Flamengo.
MAURO GALVÃO, CLASSE EM FORMA DE JOGADOR DE FUTEBOL
por Luis Filipe Chateuabriand

Mauro Galvão foi um zagueiro de extrema categoria que, no Brasil, defendeu Internacional de Porto Alegre, Grêmio, Bangu, Botafogo e Vasco da Gama.
Além destes, jogou no exterior, no futebol suíço.
Inteligente, sabia se posicionar na área de tal forma que os ataques adversários eram contidos com assiduidade.
Líder, também orientava o posicionamento dos demais defensores, contribuindo para que os times que defendia dificilmente fossem vazados.
Técnico, era capaz de fazer o desarme dos atacantes adversários com extrema facilidade, e ainda sair jogando.
Essas qualidades fizeram com que Mauro Galvão fosse o líbero da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1990, na Itália.
Eis o caso de um zagueiro que jogava muita bola!
COM A HIPÓCRITA CONIVÊNCIA DE TODOS
por Zé Roberto Padilha

O que Ramon Menezes fez para merecer estar à frente, interino que seja, da Seleção Brasileira de Futebol?
Sua experiência como treinador nada o credencia. Ganhou o que a não ser a amizade e simpatia do presidente da CBF?
Não são apenas os jogadores que sonham em defender a seleção. Eles sabem que para isso devem alcançar os grandes clubes e estarem acima da média entre todos que atuam na sua posição.
Do mesmo jeito, os treinadores brasileiros, entre eles Renato Gaúcho, Dorival Jr. e Fernando Diniz ocupam, hoje, um estágio profissional acima dos seus concorrentes. Era natural que tivessem direitos a esse oportunidade. Interina que seja.
Infelizmente o clientelismo, que se juntou ao nepotismo, e esse se aliou a rede de relacionamentos e parentes importantes, são os valores que continuam valendo no país desde seus primórdios para encaixar os Ramon Menezes em cargos importantes.
Pior que isso só a conivência e a omissão da imprensa esportiva, que acata em silêncio aberrações como essa.
Ramon Menezes, como treinador da nossa seleção, ostentando seu modesto e atual currículo, é uma piada. E um desrespeito a todos nós que amamos o futebol.
UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 11
por Eduardo Lamas Neiva

Após a ovação a Carmen Miranda e Lamartine Babo, João Sem Medo reinicia o papo.
João Sem Medo: – Meus amigos, em 34, a delegação brasileira viajou 15 dias de navio para a Itália e, em 90 minutos, a vaca foi pro brejo. Isso, apesar de os quase 30 mil presentes no estádio Luigi Ferraris, em Gênova, fora os que subiram morros e telhados próximos, terem torcido pro Brasil.
Idiota da Objetividade: – O Brasil saiu perdendo de 3 a 0 pra Espanha no primeiro tempo e quando tentou reagir na etapa final ficou difícil. Houve um gol anulado, marcado pelo Luizinho, depois Waldemar de Brito perdeu um pênalti, defendido pelo grande goleiro Zamora, e a seleção brasileira foi derrotada pela espanhola por 3 a 1 e foi eliminada da Copa do Mundo logo na estreia.
João Sem Medo: – O gol do Brasil foi de um tal de Leônidas. Conhecem, né?
Ceguinho Torcedor: – Evidentemente. Ele foi a nossa grande figura em 38. Saímos daqui muito otimistas, houve uma longa preparação, a delegação chegou à França quase um mês antes do início da Copa e lá fizemos nossa primeira boa apresentação num Mundial. Ficamos em terceiro lugar, e Leônidas da Silva, o Diamante Negro, pôde assombrar o mundo com seu futebol de outro mundo.
Sobrenatural de Almeida: – Futebol assombroso!
Garçom: – E pra abrilhantar ainda mais este grande encontro e homenagear Leônidas da Silva, os Vocalistas Tropicais estão aqui pra cantar “Diamante Negro”, de David Nasser e Marino Pinto.
Todos aplaudem.
Nilo Xavier da Mota: – Obrigado, obrigado. É uma honra pros Vocalistas Tropicais estarmos aqui neste palco pra participar desta tabelinha entre futebol, muito bem representados por estes craques aqui na mesa principal, e música, a música brasileira. Vamos então a essa homenagem musical ao grande Leônidas da Silva.
São, mais uma vez, muito aplaudidos.
Garçom: – Muito obrigado, Nilo Xavier da Mota, Raimundo Evandro Jataí de Sousa, Artur Oliveira, Danúbio Barbosa Lima e Arlindo Borges.
Após a apresentação dos Vocalistas Tropicais, Leônidas da Silva passa a ser o centro da conversa no Além da Imaginação. Pairou até uma expectativa no ar se o Diamante Negro apareceria de surpresa…
Idiota da Objetividade: – Leônidas foi o primeiro brasileiro a ser artilheiro de uma Copa do Mundo, com 7 gols. A campeã, ou melhor, bicampeã, foi a Itália, que venceu o Brasil na semifinal por 2 a 1. Leônidas não jogou contra os italianos, porque, segundo o técnico Ademar Pimenta, estava machucado. Aquela Copa foi disputada em sistema eliminatório.
Sobrenatural de Almeida: – É o sistema que eu mais gosto: o mata-mata. hahahaha
Idiota da Objetividade: – O Brasil estreou na França com uma vitória de 6 a 5 sobre a Polônia, na prorrogação. Leônidas fez três gols.
Ceguinho Torcedor: – Espetacular Leônidas! Sensacional também Domingos da Guia. Nosso guardião da zaga começou o jogo com 38 graus de febre, que só piorou com a chuva que começou a cair pouco antes do jogo.
Sobrenatural de Almeida: – Com a minha intervenção ele salvou milagrosamente um gol na prorrogação, quando o Brasil vencia por 5 a 4. Batatais já estava fora do gol. No rebote, Willimonski ia fazer o gol, mas dei uma desviadinha e a bola acertou a trave
Ceguinho Torcedor: – Domingos da Guia foi outro grande herói do nosso scratch.
João Sem Medo: – No fim da partida, ele e Leônidas, que andavam meio brigados, se abraçaram emocionados.
Idiota da Objetividade: – Este foi o primeiro jogo de uma Copa do Mundo transmitido por uma rádio brasileira, a Rádio Clube do Brasil, do Rio de Janeiro. A narração foi de Gagliano Neto.
Ceguinho Torcedor: – O povo pôde ouvir o jogo na voz do grande “speaker”, como se falava na época.
Sobrenatural de Almeida: – O presidente Getúlio Vargas mandou instalar alto-falantes nas praças e outros locais públicos pra que todo mundo pudesse ouvir.
Idiota da Objetividade: – O pernambucano Leonardo Gagliano Neto já havia sido o pioneiro na narração de um jogo da seleção brasileira, um ano antes, durante o Campeonato Sul-Americano disputado na Argentina, pela Rádio Cruzeiro do Sul.
João Sem Medo: – O Getúlio, simpatizante do regime fascista de Mussolini, mandou três telegramas pro Gagliano pedindo que ele maneirasse nas emoções durante a semifinal contra a Itália. Getúlio depois elogiou o locutor, mas muita gente disse na época que Gagliano criticou muito o árbitro pelo pênalti, no mínimo duvidoso, de Domingos da Guia em Piola.
Ceguinho Torcedor: – O rádio é meu veículo predileto, por motivos óbvios. E aquele jogo contra a Polônia foi de matar um do coração. Saímos com 3 a 1 do primeiro tempo, mas os poloneses cresceram na segunda etapa e empataram. Fizemos o quarto, mas faltando um minuto pro fim, eles igualaram o marcador novamente: 4 a 4. Na prorrogação, Leônidas meteu dois, um com a chuteira rasgada, gol de meião e, quando a Polônia fez o quinto, já era tarde. Chorei lágrimas de esguicho, mas de alegria.
Idiota da Objetividade: – Nas quartas-de-final, contra a Tchecoslováquia, foram necessários dois jogos, pois o primeiro terminara empatado em 1 a 1, e não havia disputa de pênaltis naquela época. Dois dias depois, os times voltaram a se enfrentar muito desfalcados, mas o Brasil tinha Leônidas e ganhou por 2 a 1, com um gol do Diamante Negro, que já havia marcado no primeiro embate contra os tchecoslovacos. Mais dois dias, o time brasileiro estava extenuado, com Leônidas fora, e a Itália venceu a semifinal por 2 a 1. Na disputa do terceiro lugar, Leônidas marcou dois e o Brasil derrotou a Suécia por 4 a 2.
Ceguinho Torcedor: – Dizem que na Copa de 38 ele teria feito um gol de bicicleta que espantou o público e foi anulado pelo árbitro por não conhecer a jogada. Eu não vi, não posso falar. Você viu, João? (João finge que não escutou)
João Sem Medo: – Música, maestro!
Jorge Goulart (já no palco): – Às suas ordens, mestre João Sem Medo! Vamos com a Marcha do Bonsucesso, que destaca Leônidas como o maioral.
Jorge Goulart (muito aplaudido): – Esta marcha, do Lamartine Babo, que aqui nos dá a honra de sua presença, acabou sendo oficializada posteriormente como hino do Bonsucesso. Obrigado, minha gente.