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FALANDO COM A IMPRENSA

por Idel Halfen

Falar com a imprensa, ainda mais numa sociedade em que as redes sociais são utilizadas por muitos para divulgar a parte que interessa -, tirando do contexto a essência da declaração – se tornou uma atividade de alto risco.

Evitar que os cortes existam é impossível, resta confiar na integridade dos disseminadores e torcer para que o judiciário faça sua parte.

Mesmo ciente dessa realidade, cabe aos “entrevistados” cuidado com o que será dito. Nem vou descer à esfera política, pois ali, talvez, inebriados pela sensação de poder, o festival de declarações inadequadas beira o absurdo, independentemente de ideologia, partido ou qualquer outra segmentação que se queira adotar para alimentar a polarização.

Prefiro focar o esporte, mais precisamente o futebol, em função de duas entrevistas relativamente recentes que renderam contundentes comentários.

Uma com o ex-técnico do Botafogo que, após um mau resultado, enumerou os títulos que já tinha conquistado em outros times, mesmo sem ter sido perguntado a respeito, supostamente querendo provar sua capacidade em função do histórico escolhido.  Além de feio pela demonstração de insegurança, fez subentender que, sendo ele tão bom, o problema era causado por outros, o que certamente azeda o clima. 

Não satisfeito com essa pérola, ainda colocou o cargo à disposição como se essa decisão pertencesse a ele. Será que não consegue entender que o cargo é da organização, sendo ele um mero ocupante que pode sair a qualquer momento a despeito da própria vontade.

A outra entrevista polêmica aconteceu com a presidente do Palmeiras que, revoltada com os protestos, desandou a se vangloriar usando as conquistas da sua gestão e explicitando que o Palmeiras devia ser grato a ela.

Em relação à gratidão, podemos até concordar, afinal, trabalhar de graça para alcançar a felicidade de muitos é algo elogiável. Só faltou entender que gratidão não se cobra.

Mas não parou por aí. Reclamou que pessoas sem capacidade e que não têm condições de avaliar uma gestão lhes teciam severas críticas. De fato, incomoda ler e ouvir manifestações contundentes, aditivadas pela paixão e pelo desconhecimento dos meandros de um clube. Todavia, uma coisa é se incomodar, direito de todos, outra é explicitar essa insatisfação desqualificando os críticos.

No festival de ataques, houve uma fala que deve ser exaltada, ainda que fuja do objetivo do texto: o questionamento a um jornalista que citou as receitas de um clube rival como parâmetro de avaliação.

Baseado em “factóides” plantados pela gestão do adversário, o jornalista “esqueceu” de apurar a veracidade dos valores e foi confrontado pela presidente. Importante que se registre que a prática de majorar números é usual no segmento esportivo. Há contratos de fornecimento de material esportivo, cuja divulgação, aliás proibida, leva em consideração números que, além de contrariarem técnicas contábeis, ainda incluem ganhos com premiações como se o clube fosse vencer todas as competições que disputar.

Feito o desabafo, voltemos à falta de habilidade daqueles que falam com a imprensa. Quais seriam as causas de tamanha inépcia? Falta de um bom assessor de imprensa?

Ainda que seja uma possibilidade, não creio que isso ocorra na maioria dos casos, principalmente em relação aos citados no texto. Na minha opinião, tal fenômeno tem como causa principal a prepotência de se achar acima do bem e do mal, temperado, evidentemente, por inseguranças que habitam o subconsciente.

Como evitar?  Embora não seja fácil, principalmente em situações nas quais as emoções afloram, um bom treinamento e uma preparação na qual se debatam com entes “confiáveis” as mensagens a serem passadas certamente ajudam no processo.

AMARADONA

por Marcos Eduardo Neves

Ao final da Copa de 86, Armando Nogueira teceu um texto tão brilhante quanto o homenageado em questão:

“Amar a Deus sobre todas as coisas.

Amar a bola, amar o passe, amar o drible, amar o gol…

À Maradona.”

Hoje, do trono do Olimpo do Esporte, ele celebra 63 anos. Astro-rei argentino, ‘El Pibe d’Oro’ foi o Diego que passou a vida Armando Maradona. Há quase três anos nos deixou o amando. A mando de seu gênio.

Sim, gênio. Talentosíssimo, irascível e indomável. Anjo que, em vez de imaculado, desviou-se do caminho. Caiu do céu ao preferir montar seu próprio reino. Insubordinado, desafiou Deus ao escolher tentações. Vícios, drogas, más companhias. Declarações insensatas, estilo de vida imprudente. Negligenciou seu lugar no paraíso ao acelerar a vida rumo ao abismo do iminente umbral.

Se Pelé é o Deus do Futebol, Maradona foi o próprio Diabo. Sedutor, incendiário, rebelde. Ganhou um dom divino, fez louvarem o Criador dentro dos campos, mas fora estragou-se, chocou, buscou se implodir e explodiu. Buscou acabar com a vida aos olhos do mundo. Um dia conseguiu.

Tentou sujar sua imagem. Lembra como terminou sua primeira Copa? Ou como deixou Barcelona? Como chegou ao fim seu romance com o Napoli? De que forma saiu de cena em seu último Mundial jogando? Incrível… Tal qual Vera Fischer, quando parecia acabado, das cinzas ressurgia pleno, mágico, seduzindo os amantes da bola.

Como Michelangelo ou Da Vinci, o Picasso da bola foi um artista completo cujo legado sobreviverá enquanto houver existência humana. Mas seu ‘way of life’ é exemplo vivo de como não se deve desafiar a morte. Um dia a conta chegaria. A lenda também.

O mito ficou, mas o mundo chora. Amar a Deus sobre todas as coisas, graças a seu talento, Dom Diego nos fez acreditar em milagres. Amar a bola, quem o viu se apaixonou, mais por ele que por ela, durante o tempo em que se pegaram.

Em 1989, aos 14 anos, fiquei oito horas na porta do Hotel Nacional à espera de um autógrafo que, junto a essa bola histórica, jamais deixarão minha casa enquanto vivo eu estiver. A quem me fez passar por isso, deixo meus parabéns. E meu muito obrigado.

CANO É DECISIVO

por Elso Venâncio

O Fluminense se prepara para o jogo mais importante da sua História. A busca do título inédito da Libertadores, título que escapou por um triz em 2008, diante da LDU, ao perder fora de casa por 4 a 2 e enfrentar a pressão de precisar reverter em casa o Placar. Mesmo vencendo no Rio de Janeiro por 3 a 1, acabou vice, nos pênaltis. No último sábado, novo título dos equatorianos: o bi da Sul-Americana, após empate em 1 a 1 com o Fortaleza e vitória novamente nos penais. Desta vez brilhou o goleiro Alexander Domingues, tal qual seu companheiro de posição Cevallos há 15 anos, no Maracanã.

O time de Fernando Diniz é agressivo, busca o gol a todo instante. O futebol do tricolor carioca reflete o espírito do treinador. Uma equipe que une ousadia, garra e coragem de campeão. E, de quebra, ainda tem como artilheiro um argentino, Gérman Cano.

O adversário é o tradicional Boca Juniors, igualmente portenho. Detentor de seis Libertadores, é superado apenas pelo conterrâneo Independiente, dono de uma taça a mais na principal competição do continente. Certamente, o Boca vai catimbar, amarrando o jogo e buscando contra-ataques. Colocar juntos Felipe Melo, Marcelo e Ganso soaria imprudente? Nesse jogo, não. A experiência será fundamental para enfrentar os famosos milongueiros.

Na véspera de uma decisão é normal o jogador, mesmo experiente, dormir pensando no jogo. Às vezes, sonha marcar o gol da vitória. Afinal, gols que decidem títulos entram para a História. Lembra do Flávio, o ‘Minuano’ que fez o do triunfo final por 3 a 2 naquele Fla-Flu consagrado por Nelson Rodrigues como o maior de todos os tempos, em 1969? E o de Mickey, no ano seguinte, valendo o título brasileiro?

O ponta esquerda Lula marcou contra a Sele-Fogo, na final do Carioca de 1971. Doval fez a Máquina ser bi em 1976, frente ao Vasco de Dinamite. Assis, o eterno carrasco do Flamengo, em 1983 eternizou um lançamento do meia Deley. Romerito jamais será esquecido pelo que fez diante do Vasco de Dinamite, em 1984, assim como o ponteiro Paulinho, no ano seguinte, cobrou com perfeição aquela falta que rendeu o tri sobre o Bangu de Castor de Andrade.

E o gol de barriga de Renato Gaúcho, em 1995? O lateral Roger fez sobre o Figueirense o gol do título da Copa do Brasil de 2007, lembra? E Emerson Sheik decidiu o Brasileirão de 2010, contra o Guarani, no Engenhão.

Citei alguns gols históricos. Cada qual tem sua importância, de acordo com a época. Mas até quem não fez gol do título vira História, basta dar a volta olímpica com a taça nas mãos. O goleiro Castilho, titular por duas décadas, sempre é o primeiro nome a ser lembrado. Pinheiro, Rivellino, Conca, Deco, Fred também.

Uma decisão eterniza um ídolo. Imagine Gérman Cano marcando o gol da vitória e vibrando em campo fazendo o ‘L’ com os dedos.

A bola rola neste sábado, às 17h, com arbitragem do colombiano Wilmar Roldan, de 43 anos e experiente em competições continentais.

A sorte está lançada!

PELÉ VIVO

por Rubens Lemos

A morte vem buscar os humanos, os bichos, a alegria, a tristeza, a compaixão, o tédio, a solidão, o ostracismo e a fé. A morte só não leva Pelé que, equivocadamente, foi tratado como aniversariante ausente no último dia 23 de outubro.

Pelé, incrédulos ou teimosos, é extraterreno, paranormal, fantasmagórico. Está a qualquer tempo, em qualquer campo. Sua energia é natural, exclusiva e infinita.

A morte matou Pinheiro Machado, o senador, Tancredo Neves, o presidente que não foi, Getúlio Vargas, por decisão sábia, Juscelino Kubitscheck, sabe-se lá se por acidente ou conspiração, Carlos Lacerda em condições suspeitíssimas, João Goulart, de misteriosa injeção, a morte matou de saudade de Natal, o prefeito Djalma Maranhão. Todos notáveis, sem a magnitude de Pelé.

Considero Pelé, quatro letras que significam vida, em seus aspectos lúdicos, travessos, espetaculares e superiores a tudo. Há uma diferença entre Pelé e Garrincha, seu imediato: Pelé deixava multidões boquiabertas por seus lances sem direito a plágios.

Pelé – e ele está aí nos vídeos de internet, criava o gol impossível paralisando a todos, do goleiro ao gandula, do fanático à dondoca elegantérrima na Tribuna de Honra, comentando com a amiga, a etiqueta modesta dos estádios do tempo do Rei.

Garrincha deixava a massa encantada, como se estivesse em um grande teatro de concreto. Garrincha, como um dia disse Carlos Heitor Cony, humilhava os colegas profissionais, zombava deles. Foi rigoroso o maior cronista brasileiro igualado a Antônio Maria.

O drible é o salto de trapézio dos gramados e com ele, Garrincha mostrava e repetia, rindo, sua superioridade sobre marcadores vencidos e resignados. Mas Garrincha foi falível, derrotado pelo alcoolismo, morreu antes dos 50 anos.

Foram finitos, além de Garrincha, nomes históricos e geniais: Domingos da Guia, Leônidas da Silva, Danilo Alvim, Ademir Menezes, Zizinho, Jair Rosa Pinto, Didi, Nilton Santos, Zito, Julinho, Vavá, Carlos Alberto Torres, Djalma Santos, , Heleno de Freitas, Sócrates, Roberto Dinamite, Marinho Chagas, Jorge Mendonça, Dirceu, e tantos de futebol esplêndido. Eram de carne e osso, certidão de nascimento passada e de óbito com registro em cartório.

Pelé sobrevoa o sistema solar. É dispensável saber onde puseram sua manjedoura, se em Marte, Saturno ou Plutão. Na Terra é que não foi. Quem faz aqueles gols contra País de Gales e Suécia em 1958, joga o que jogou em 1970 e dá dois títulos mundiais ao Santos, chegou de nave espacial para ocupar o corpo tomado do cidadão Edson Arantes do Nascimento, que lhe emprestou corpo, nome e sobrenome.

Em Natal, Pelé jogou três vezes. Nas três, cinco gols. A primeira, no ancestral Estádio Juvenal Lamartine em 1971, acertando no ângulo do goleiro Jairo uma falta cobrada aos 44 minutos do segundo tempo, enquanto o lacrimoso lateral-direito Batata lamentava a derrota por 2×1 e chamava o camisa 10 do Mundo de “desumano”.

Um ano depois, no moderno Castelão, Pelé, entediado, tanto foi perguntado sobre um improvável duelo com Alberi, o Deus Banto local, que ganhou a dividida com o zagueiro Edson Capitão e superou o goleiro Tião. Edu marcou o segundo.

Em 1973, depois se despedir da seleção brasileira, voltou ao Rio Grande do Norte para marcar três vezes contra o América em goleada de 6×1 para o Santos. Pelé entrou mordido porque a torcida rubra o chamou de míope e os puxa-sacos não o deixaram em paz.

Quando tenho a chance de entrar no velho Juvenal Lamartine, faço a caminhada em silêncio do gol de entrada até o bico da grande área da trave voltada para o morro de Mãe Luíza.

Me concentro onde me indicaram que ele amaciou a bola e, frio, colocou como uma cesta de basquete concretizada com o pé direito. Pelé está lá. Como na Vila Belmiro, no Maracanã, no Morumbi, no Pacaembu, no Rasunda(Suécia) e no Azteca do México.

Ele nos vê, nós não o enxergamos. O morto é Edson. A matéria. Daqui a um século, quando não sobrará um grão de minhas cinzas, não sei se haverá redator escrevendo sobre Pelé.

A mediocridade atual e futura reduzirá o maior esportista de todos os tempos a registros opacos de rabiscos digitais. Chamando-o de influencer. Eu, sigo firme no título do mágico filme de Aníbal Massaini: Pelé Eterno.

RIVALDO E A FAÇANHA

por Luis Filipe Chateaubriand

Prezado leitor:

Você conhece alguma situação em que o mesmo jogador da Seleção Brasileira tenha sido seu melhor jogador em duas Copas do Mundo?

Pois saiba que esse jogador existe.

Chama-se Rivaldo.

Na Copa do Mundo de 1998, na França, Rivaldo foi um meio campista ofensivo, que municiava a dupla de ataque Ronaldo / Bebeto, além dele próprio ir à frente para fazer gols.

Foi o melhor jogador brasileiro na Copa do Mundo.

Na Copa do Mundo de 2002, na Coréia do Sul / Japão, Rivaldo jogou de atacante, fazendo dupla com Ronaldo e sendo municiado, a partir do meio de campo, por Ronaldinho Gaúcho.

Não foi apenas o melhor jogador brasileiro na Copa, mas foi o melhor jogador de toda Copa!

Assim, Rivaldo é um caso único de jogador brasileiro que foi o melhor da Seleção em duas Copas do Mundo.

E, por curiosidade: Pelé, o melhor jogador de futebol de todos os tempos, não foi o melhor jogador brasileiro em nenhuma das Copas do Mundo que disputou; em 1958, foi Didi; em 1962, foi Garrincha; em 1966, não houve um melhor jogador; em 1970, foi Jairzinho, o “Furacão da Copa”.

Conclusão? A de sempre: Rivaldo foi um jogador fora de série, que não é valorizado na medida do que jogou.