ALEGRIA DO POVO
por Elso Venâncio, o repórter Elso

Há mais de 20 anos não conquistamos Copa do Mundo e o futebol brasileiro perdeu o protagonismo, a alegria de jogar e o bom humor fora de campo. Onde estão os dribles, a criatividade e o lado ofensivo, sempre presente nas grandes conquistas?
Não se pode arriscar, ousar, provocar, que vem a reação forte do adversário, da torcida e da imprensa. Fernando Diniz surge como esperança de resgatar nossas raízes, mas a CBF insiste no italiano Carlo Ancellotti. Dizem que Tite vai acertar a defesa do Flamengo. O Santos de Pelé e o Botafogo de Garrincha se preocupavam não com isso, mas em fazer gols.
Imagina Mané Garrincha hoje… Seus dribles, sua magia, seu show não seria possível. Receberia cartão amarelo ou vermelho, por provocação, ou sofreria agressões sem bola e, nisso, o jogo tenderia a acabar antes do apito final.
E Ronaldinho Gaúcho, nosso último grande artista? Seria a todo momento advertido e talvez até ameaçado pelo árbitro conterrâneo, o parrudo Anderson Daronco.
Maradona dando caneta, chapéu, fintando adversários em série… O VAR permitiria? Os bandeiras passaram a ser figuras decorativas, após a ‘invenção’ do VAR.
Soteldo não deve desculpas, por ter subido na bola, abrindo os braços para se equilibrar. O venezuelano, merecia jogar com Romário, Edmundo, Túlio Maravilha, Júnior Baiano, Renato Gaúcho e outros… O habilidoso venezuelano Soteldo seria bem recebido na disputa do ‘Rei do Rio’, nos anos 90, onde até ‘Papai’ Joel Santana foi coroado. Romário pedia aos vascaínos para levarem lenços, porque iriam chorar no Maracanã. Edmundo rebolava de frente para o zagueiro Gonçalves. Túlio anunciava que artilheiro era ele, mais ninguém. Renato Gaúcho marcou de barriga no Fla-Flu e ainda se vestiu de ‘Rei’.
Hoje há um abismo entre o jogador e quem torce por ele. Os Centros de Treinamento, que surgiram simbolizando progresso e sinalizando o business no futebol, ajudaram a aumentar a distância entre os artistas da bola e sua legião de fãs. Ridículo ver um repórter, na porta do local do treino, sem poder entrar e nem saber o que dizer. Os pais levavam os filhos para baterem fotos com seus ídolos.
É importante, manter acesa a tradição de torcer para o time do coração do pai, do avô, da família. Quando os treinos eram abertos, sexta-feira à tarde vinha gente de todo o país para acompanhar o coletivo.
Ficamos menores assim que passamos a imitar a Conmebol, que é submissa à FIFA, e copiar os europeus. Um absurdo essa moda dos técnicos do Velho Mundo. As ‘joias’ que surgem são vendidas com pressa, mesmo cientes de que haverá revendas que lhe quintuplicarão o valor.
O dinheiro entra e é fácil repatriar um veterano de graça e sem mercado lá fora. Não por acaso, o endinheirado Flamengo está sendo chamado de clube europeu da América Latina.
O CAMPEÃO VOLTOU
por Zé Roberto Padilha

Depois de 16 anos, o título máximo da Copa Rio Sul de Futsal Dente de Leite volta para Três Rios. E de forma invicta.
Foram 5 jogos e 5 vitórias, atropelando equipes fortes como Angra dos Reis, Volta Redonda e quem mais ousasse cruzar o seu caminho.
Foram 24 equipes vencedoras das concorridas etapas disputada em cada cidade. Esse resultado reforça nossa tese que a Escolinha de Futsal do Caer, coordenada pelos professores CidClay e Calixto, está para o Futsal como Xerém está para o Futebol.
Uma inesgotável fábrica de craques que vão abastecendo as categorias Mirim, Infantil, Juvenil até revelar para a equipe adulta talentos que tornam Três Rios lider absoluto do Ranking da TV Rio Sul após tantas edições.
Muito orgulho de vocês, Comissão Técnica e jogadores.
Três Rios, a Meca do Futsal do Estado do Rio de Janeiro
COMANDANTE NÃO ABANDONA O BARCO
por Marcos Eduardo Neves

Antes da disputa por pênaltis, Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, virou as costas para o time e foi para o vestiário. Não quis assistir à eliminação alviverde ou foi comprar com antecedência ímpar as passagens para o Rio, a fim de assistir à final entre Fluminense e Boca, no Maracanã?
Nem uma coisa, nem outra. Simplesmente, entregou-se à superstição.
Perguntado sobre religião, João Saldanha costumava dizer:
‘Se macumba ganhasse jogo, Campeonato Baiano terminaria sempre empatado.’
Para superstição, digo a mesma coisa.
A meu ver, não é postura de um líder abandonar o grupo numa hora como aquela. Sampaoli já tinha aberto precedentes, fazendo o mesmo no intervalo de um jogo do Flamengo. Capitão não abandona o barco antes do naufrágio, aguarda até o fim o salvamento.
Talvez se estivesse junto à equipe, à beira do gramado, seus jogadores retomariam a confiança após a perda do pênalti de Raphael Veiga. A presença da ausência do comandante foi mais do que sentida pelos atletas da equipe paulista.
Entendo que Abel possa ter dito:
‘Agora é com vocês. Confio em cada um. Vocês treinaram a semana toda, agora batam onde obtiveram melhor aproveitamento. Quanto a ti, goleiro, não salte antes, deixe cobrar primeiro!”
Acontece que tem que ser todos juntos nas vitórias e todos juntos nas derrotas. Para coletiva Abel foi, mas só depois de ver as penalidades pelo celular.
O português lançou recentemente um livro sobre o seu sucesso no nosso país. Mas após duas eliminações de Libertadores nas semifinais, e outra na mesma fase da Copa do Brasil, fico com o mestre Ruy Castro:
‘Biografado bom é o biografado morto.’
Porque a história tem começo, meio e fim.
Afinal, quem compra hoje um livro de vencedor que só tem perdido?
A VINGANÇA TARDA, MAS NÃO FALHA
por Zé Roberto Padilha

Fluminense x Internacional disputavam, no Maracanã, quem iria às finais do Campeonato Brasileiro de 1975. A Máquina Tricolor, da qual era o ponta esquerda, tinha vencido o Flamengo (3×0), o Sport Recife (3×0) e o Palmeiras (4×2).
Jogando em casa, éramos favoritos, mas o Inter também era uma máquina de jogar futebol. E com gols de Lula e Carpegiani, Falcão, Batista e Caçapava impedindo Rivelino e Paulo Cézar de jogar, perdemos o direito de ir às finais.
Só não sabia que era o meu último jogo com a camisa tricolor. Foram sete anos defendendo o meu clube de coração, desde os infanto-juvenis. E quando estava de férias, em Iguabinha, Francisco Horta nos trocou pelo Doval.
E nunca mais vesti a camisa que era antes a minha bandeira. Jamais pensei em vingança, mas na última quarta-feira, quando o Inter entrou literalmente pelo Cano, lembrei que foram eles que impediram que continuasse a sonhar.
No Flamengo, definitivamente, me tornei um atleta profissional de futebol que honra o o clube que paga o seu salário. Daqueles que compram ingressos para torcer por você.
A partir daí, o amor à camisa ficou no coração. As pernas, pulmões e raciocínio passaram a dar as ordens. Mas que tinha saudades de correr para o lado dos que torciam pelo meu time, isso tinha.
A final, de 1975, foi entre Inter X Cruzeiro. Jamais lembrei de quem venceu. Sempre soube de quem mais perdeu. Eu.
UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 30
por Eduardo Lamas Neiva

O povo dá uma rápida dispersada após a música, mas o Cruzeiro de 1966 continua sendo lembrado pelos nossos debatedores.
João Sem Medo: – Tostão e Dirceu Lopes foram os grandes nomes daquele time do Cruzeiro. Os dois, mais o Piazza, foram titulares do time que escalei logo quando assumi a seleção, três anos depois.
Ceguinho Torcedor: – As feras do Saldanha!
Idiota da Objetividade: – Félix, Carlos Alberto, Brito, Djalma Dias e Rildo; Piazza, Dirceu Lopes e Gérson; Jairzinho, Pelé e Tostão.
Ceguinho Torcedor: – Aquele time do Cruzeiro e as Feras do Saldanha merecem todas as nossas homenagens.
Idiota da Objetividade: – Em especial Tostão, craque daquele time do Cruzeiro e o artilheiro da seleção nas eliminatórias para a Copa de 70.
Garçom: – Então, vamos ouvir “Tema de Tostão”, de Milton Nascimento?
Zé Ary vai ao aparelho e põe a música-homenagem para ressoar nas caixas de som do Além da Imaginação.
Músico: – Esta música foi composta por Milton Nascimento para o documentário “Tostão, a fera de ouro”, de 1970. O filme teve roteiro do escritor mineiro Roberto Drummond, autor entre outros de “Hilda Furacão”, e direção de Paulo Laender e Ricardo Gomes Leite.
João Sem Medo: – A vitória do Cruzeiro em 66 fez finalmente a CBD ver que o futebol não se restringia a Rio e São Paulo.
Idiota da Objetividade: – É verdade. Para as Copas do Mundo, por exemplo, apenas cinco jogadores de clubes fora do eixo Rio-São Paulo haviam sido convocados até 66: o zagueiro Luz, do Grêmio, para a Copa de 34; o zagueiro Nena e o atacante Adãozinho, ambos do Internacional, para a Copa de 50, e os atacantes Alcindo, do Grêmio, e Tostão, do Cruzeiro, para 66. Já para o México, em 70, Zagallo teve o mesmo número de jogadores que não eram de clubes do Rio ou São Paulo: Piazza, Fontana e Tostão, do Cruzeiro; Everaldo, do Grêmio, e Dario, do Atlético Mineiro.
Garçom: – Caramba, fomos bicampeões mundiais só com jogadores de times do Rio e de São Paulo, então. Não se dava muita atenção ao futebol de outros estados?
João Sem Medo: – Na verdade, os clubes de Rio e São Paulo eram mais fortes economicamente e traziam muitos atletas de outros estados. Jogando nos dois principais estados do país eles se destacavam mais e acabavam convocados.
Garçom: – Ah sim, como o Almir Pernambuquinho, o Zagallo, que é alagoano…
Ceguinho Torcedor: – Vavá, também pernambucano.
João Sem Medo: – Aquele título do Cruzeiro em 66 também fez nascer o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, que era o Rio-São Paulo mais clubes de Minas, Rio Grande do Sul e de outros estados.
Ceguinho Torcedor: – O Robertão, como era chamado, é que deu origem ao Campeonato Brasileiro.
João Sem Medo: – Muitos anos depois a CBF numa decisão estapafúrdia misturou os campeões da Taça Brasil e do Robertão com os do Campeonato Brasileiro.
Ceguinho Torcedor: – Mas o Robertão foi o Big Bang do Brasileirão!
João Sem Medo: – A Taça Brasil era um torneio eliminatório, parecido com a atual Copa do Brasil. A CBF misturou alhos com bugalhos e o Palmeiras acabou virando bicampeão brasileiro no mesmo ano, porque ganhou duas competições diferentes em 1967, a Taça Brasil e o Roberto Gomes Pedrosa.
Idiota da Objetividade: – Em 1971, após forte campanha da imprensa esportiva, a CBD instituiu o Campeonato Brasileiro. A criação do campeonato nacional, no entanto, mereceu críticas dos mesmos veículos que reivindicavam a competição, pois viam pouca diferença em relação ao Robertão e uma ingerência política muito grande para a escolha dos times.
João em Medo: – A Arena, partido da ditadura, se aproveitou do futebol para angariar simpatias. E o lema foi criado: “Onde a Arena vai mal, mais um time no Nacional. E onde a Arena vai bem, mais um time também”.
Garçom: – Teve campeonato com quase cem times!
Idiota da Objetividade: – Foi em 1979, quando o Internacional de Porto Alegre conquistou o seu terceiro e último Campeonato Brasileiro. Venceu de forma invicta a competição que teve 94 clubes.
Sobrenatural de Almeida: – Assombroso.
João Sem Medo: – E seriam mais, se alguns grandes de São Paulo não tivessem ficado de fora.
Idiota da Objetividade: – Os times de São Paulo queriam entrar apenas na terceira fase da competição. A CBD, que naquele mesmo ano por exigência da Fifa passaria a cuidar apenas do futebol e se tornaria CBF, não aceitou. Com isso, Corinthians, Portuguesa, Santos e São Paulo ficaram fora do Campeonato Brasileiro de 1979.
Garçom: – Caramba, seriam então 98 clubes!
João Sem Medo: – Confusão no tapetão e politicagem nunca faltaram no futebol brasileiro. Os cartolas atuais são elitistas e praticamente expulsaram o povão dos estádios.
Ceguinho Torcedor: – A alma dos estádios estava na geral com seus personagens magníficos. Dizem os idiotas da objetividade que torcida não ganha jogo. Pois ganha!
Idiota da Objetividade: – Pra mim futebol é onze contra onze, decidido no campo de jogo.
João Sem Medo: – Os cartolas sempre atrapalharam o futebol brasileiro e tentaram ganhar alguns jogos na mão grande. Naquela época, do Brasil gigante, do ame-o ou deixe-o, com o campeonato inchando de clubes a cada ano, muito mais preocupados com seus interesses do que com os dos próprios clubes que dirigiam, eles faziam as maiores lambanças, elaboravam regulamentos confusos, mudavam tudo no meio do campeonato, jogos sem atrativos e ainda queriam que o povão fosse aos estádios com seu suado dinheirinho e pegasse sol a pino na cabeça sem saber se o jogo seria resolvido em campo ou no tapetão.
Garçom: – Fui a muito jogo com o estádio praticamente às moscas.
Músico: – Ah, João, Zé Ary, Ceguinho. Temos um grande artista presente na casa que pode cantar uma música que tem tudo a ver com isso que vocês estão falando. Eu estou falando do grande Taiguara!
Taiguara se levanta, todos aplaudem muito e o artista agradece.
Garçom: – Taiguara, por favor, venha ao palco!
Taiguara: – Obrigado, muito obrigado. É uma satisfação enorme estar aqui pra assistir a esta verdadeira aula de futebol, da História do nosso futebol, da nossa História, e ainda ouvir lindas músicas que falam do futebol brasileiro. E sem se esquecer do olhar crítico, como foi ressaltado aqui há pouco, especialmente pelo João Sem Medo. Então, pra tocar a bola em frente, vou apresentar “Público”, que gravei no meu disco “Imyra, Tayra, Ipy”, em 1976.
Músico: – Este disco é uma obra-prima!
Taiguara: – Obrigado, parceiro. Vamos lá!