QUAL É MESMO A NOSSA ATUAL DUPLA DE ÁREA?
por Zé Roberto Padilha

Pelé e Coutinho começaram tudo. Um craque na criação, um artilheiro ao seu lado para a definição. Os clubes adotaram o modelo, a safra era promissora e as duplas foram escrevendo seu nome na história e nos ajudando a alcançar a hegemonia mundial.
Zico e Nunes; Washington e Assis; Roberto Dinamite e Ramon; Eduzinho e Luizinho; Edmundo e Romário. Luisão e Djalminha; Roberto e Jairzinho; Silas e Muller até nossa dupla de três que nos conduziu ao Hexa: Ronaldinho, Ronaldo e Rivaldo.
Terça-feira, contra o Uruguai, o Brasil entrou com seu último camisa 10, Neymar, ao lado de um dos representantes da pior safra de homens gol que o país já viu atuar: Gabriel Jesus, Firmino, Richarlison…
A explicação? Compraram nossas promessas muito cedo. E no lugar de crescerem jogando num país tropical, abençoado por Deus e que valoriza tanto os artilheiros que criou “Os Gols do Fantástico”, “Gol, o grande momento do futebol!”, foram jogar em lugares frios, de retrancas italianas, ferrolhos suíços onde foram perdendo a sintonia com as redes.
Sabe o filho do Don Juan sendo despachado para uma temporada num Mosteiro? Pois é…
Quando são convocados, exaustivamente treinados no Tic Tac, na volta pra compor a marcação, são capazes de não dar um só chute a gol durante os noventa minutos. E acharem normal.
Anormais eram mesmo Pelé e Coutinho. Quem viu, viu… quem não viu se contenta com a beleza e plasticidade de ver seu time, e agora a seleção, sair tabelando em cima da linha do seu próprio gol.
TITE É A ESPERANÇA NO HORIZONTE RUBRO-NEGRO
por Marcos Vinicius Cabral

A Era Tite, oficialmente, começou no Flamengo na tarde dessa segunda-feira, 16 de outubro. Na apresentação do novo treinador, uma frase do comandante rubro-negro me chamou atenção: “O técnico tem que se adaptar aos jogadores e à equipe, e não o contrário”, contou para os jornalistas na coletiva de imprensa no Ninho do Urubu.
Mas para falar de novo técnico do Flamengo, que estreia contra o Cruzeiro nesta quinta-feira (19), às 19h, no Mineirão, partida válida pela 27ª rodada do Campeonato Brasileiro, há a premência de se voltar no tempo. Não em um passado tão distante, mas fazer um paralelo do Tite de antes que, por este fato, motivou-me a digressionar textualmente sobre o treinador que dirigiu o Brasil em duas Copas do Mundo.
Embora assistir jogos oficiais da Seleção Brasileira e Copa do Mundo fossem promessas feitas ao apreciador do bom futebol que sempre fui, o torneio mais importante do planeta reuniu, em 2022, 32 equipes no Catar. Tite, treinador do Brasil, esteve lá no continente asiático e, mais uma vez, não trouxe o troféu da Copa do Mundo FIFA.
Desacreditada, pelo menos para mim, o que se viu do futebol apresentado pelos brasileiros nos estádios Lusail Stadium, 974 Stadium, e Cidade da Educação não convenceu. Em um Mundial no qual a Argentina voltou a ser campeã depois de 36 anos, Messi descortinou no palco da consagração o talento de maior do mundo, e o Brasil, sob o comando de Tite, conquistou um sétimo lugar, bem atrás de Croácia e Marrocos, terceiro e quarto colocados respectivamente.
Diante do fato, levei 103 dias para escrever um artigo e publicá-lo em meu blog pessoal com o seguinte título: A diferença entre técnico e líder (clique aqui e leia), no qual critiquei a postura do comandante brasileiro. Sim, achei inaceitável Tite virar às costas, descer para o vestiário no fim da partida contra a Croácia, deixar jogadores desolados com a eliminação na Copa do Mundo e o sonho do hexacampeão transferido para 2026 ficarem sentados no gramado do Estádio Cidade da Educação, em Doha. Ausência de empatia, liderança, comando e, no mínimo, faltou ser paizão dos meninos.
Prevaleceu, pelo menos naquele momento, duas coisas: covardia ao abandonar os jogadores na batalha campestre e egoísmo ao não juntar os cacos em que alguns deles se transformaram ao apito final do árbitro inglês Michael Oliver.
“Sempre elogio as atitudes do Tite. Mas essa é de ir para o vestiário e deixar os jogadores em campo não está correto. São todos um time!”, cornetou Galvão Bueno durante transmissão de Brazil x Croácia.
E é esse Tite que, além do episódio, traz na bagagem duas Copa do Mundo (2018 e 2022), dois títulos do Campeonato Brasileiro pelo Corinthians (2011 e 2015) e o título da Copa América de 2019, que chega ao Flamengo.
Conseguirá o senhor Adenor Leonardo Bachi resgatar o treinador Tite, que conquistou lauréis na carreira, como, por exemplo, ser considerado o melhor treinador da Copa Libertadores da América, em 2012, e do Campeonato Brasileiro, em 2015? Nas competições, foi campeão.
Ou será que o senhor Adenor Leonardo Bachi vai ser o Tite, o paizão de jogadores que foi no Corinthians? Aliás, por mais que sempre tenha refutado o rótulo, foi na vitória suada por 3 a 2 contra o Mirassol que “paizão” começou a ser falado entre os jogadores corintianos no Paulista de 2011.
“Não gosto de tratar isso como relação de pai e filho, muito menos de família. Prefiro dizer que faço um trabalho de correção, diante do que o jogador faz ou deixa de fazer”, comentou Tite, à época.
Quatro anos depois, o meia Renato Augusto ratificou o que Tite evitara (ou tentara) em vão: “Foi o cara que me passou toda essa confiança, estamos sempre conversando, ele é um pai para todo mundo. Não adianta só falar da parte tática e técnica, tem também a parte humana, que é realmente incrível. Agradeço muito a ele por ter voltado à Seleção”, afirmou o jogador, em entrevista ao GloboEsporte.com, em dezembro de 2015.
Ampulheta virada e desvirada pelas mãos do tempo, Tite, que assinou com o Flamengo até 31 de dezembro de 2024, chega em um momento extremamente conturbado.
O Flamengo que encerra a dois meses a temporada fracassada de 2023 sob comando de Vitor Pereira e Jorge Sampaoli, com Tite vai brigar ponto a ponto por uma boa colocação no Campeonato Brasileiro – única coisa que resta – buscando classificação à Libertadores do ano que vem. Inclusive, foi o que fez mudar de decisão e assumir o Mais Querido agora.
O grande dilema do novo treinador vai ser fazer esse Flamengo milionário jogar e voltar a dar à torcida o que ela espera desde janeiro: títulos!
Ademais, é criar um antídoto para combater a mau futebol praticado nesta temporada por jogadores considerados vencedores na recente história rubro-negra. Casos de, principalmente, Gabigol, Pedro, Everton Ribeiro, Filipe Luís e Thiago Maia. Além deles, torcer para que Tite e a comissão técnica composta por cinco integrantes que chegam com ele, possam extrair o melhor da estrutura do clube e do material humano que terão à disposição.
Para tanto, é necessário que Tite – que comanda pela primeira vez na carreira um clube do Rio de Janeiro – não seja o paizão e tampouco o treinador que abandona os jogadores ainda no campo e desça para o vestiário em eventuais derrotas à frente do Flamengo.
Basta ser técnico. Isso será tão importante quanto títulos conquistados, pois Tite é a esperança no horizonte rubro-negro.
DEPOIS DA DATA FIFA
por Paulo-Roberto Andel

O futebol para, as seleções cumprem seus calendários. O Brasil tinha duas partidas pela frente. Foi mal. Empate na Arena Pantanal, derrota no Centenário. Para a Venezuela, raras vezes perdeu pontos na história. Do Uruguai, não sofria dois gols de diferenças há décadas. Por fim, Neymar se machucou – depois do empate em casa, já tinha levado uma pipocada na cabeça e xingado deuziomundo.
Apesar dos resultados ruins e da queda na tabela de classificação, não há o menor motivo para sustos. No atual modelo, todas as grandes seleções sul-americanas irão à Copa. Mesmo que se arraste sem empolgar, a Seleção Brasileira não corre risco na eliminatória.
Talvez o maior problema seja para os torcedores brasileiros que ainda sonham com o futebol que, um dia, encantou o mundo por sua beleza plástica, por seu encanto de dribles e passes que derrubavam adversários e levaram a Seleção Canarinho a atuações e vitórias memoráveis. Diante do pragmatismo, parece que o velho sonho do futebol brasileiro simplesmente desapareceu.
Não vem de agora. Foi um longo processo. Para jogar o chamado futebol de competição, o Brasil deu de ombros à sua própria essência. Aposentou o talento e deu vez ao mofado futebol força. Passamos a fabricar brucutus em vez de craques e, há muitos anos, nosso único fora de série esteve longe de ser decisivo. De certa forma, as sucessivas desclassificações em Copas desde 2006 demonstram que nosso principal capital – a arte – se esvaiu. Mesmo quando o Brasil fez boas campanhas, não brilhou tecnicamente.
Não se trata de alarmismo, mas simples constatação. O melhor futebol do mundo já não tem jogadores a granel, que podem decidir a qualquer momento. Às vezes um drible, noutras um passe, mas são exceções e não regras.
Até quando esperar?
@pauloandel
CORRA E OLHE O CÉU
por Idel Halfen

O processo de criação das camisas dos clubes de futebol passa originalmente por algum fator de inspiração. Na maioria das vezes, algo associado às conquistas e datas comemorativas, inclusive de alguns campeonatos.
A adaptação aos dias atuais de algum uniforme antigo, frases marcantes bordadas na parte de trás do colarinho e/ou cores alternativas que guardem algum tipo de relação com o clube, costumam ser as soluções de conceituação mais frequentes.
Difícil sair desse universo, tanto pelo risco de as camisas não caírem no gosto do torcedor, quanto pela complexidade de buscar algo, para usar um termo “modinha”, disruptivo.

Sobre as críticas quanto à estética, tenho a percepção de que elas sempre irão existir – nunca vi unanimidade -, porém, assevero que a demanda desse tipo de produto se dá muito mais em função do momento do time que propriamente pela estética, afinal, o torcedor não compra a camisa do seu clube para combinar com a calça ou qualquer outra peça de vestuário.
Já a busca pela inovação, mais um termo atual, requer muito conhecimento da história do clube, e quando falo de história não me refiro apenas à esportiva. É fundamental pesquisar e conhecer as diversas interações da instituição dentro do cenário socioeconômico do país e do mundo, sua relação com a cultura, elencar os torcedores que, de alguma forma, são referências em suas atividades.
Não é tarefa fácil, aliás, nada é fácil para o Fluminense.
Mas lá vem você de novo encaixando o Flu em tudo! Certamente alguém pensou nisso ao ler a menção ao Fluminense.
Só que nesse caso há uma boa justificativa para a citação, visto o clube ter saído do lugar comum da busca pelas inspirações trazendo como mote para sua terceira camisa um de seus maiores torcedores: Cartola, fundador da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira e, dessa forma, utilizando suas cores.

Além da homenagem ao ícone tricolor, a camisa consegue quebrar paradigmas ao juntar um clube, visto como elitizado, com a escola de samba mais popular do Brasil. Outro fato digno de destaque é a materialização da união entre música e futebol, a qual pode ser constantemente notada através dos cânticos entoados pelas torcidas nos estádios, porém, poucas vezes consolidada e oficializada como fez o Fluminense com Cartola.
Se isso tudo não bastasse, há ainda a menção à música “Corra e olhe o céu”, do próprio Cartola que, num ato visionário, tem na sua letra uma menção à nova camisa do Fluminense:
Linda
No que se apresenta
O triste se ausenta
Fez-se a alegria
ERA TITE
por Elso Venâncio, o repórter Elso

A ‘Era Tite’ no Flamengo começou. Após o técnico ter esperado propostas de outros clubes e seleções. Atualmente, o profissional do futebol só permanece no país, ou volta, quando não tem mercado lá fora.
Tite planejava um ‘ano sabático’ depois das duas decepções seguidas em Copas do Mundo. Apenas um comandante brasileiro, até então, havia perdido um Mundial e, mesmo assim, comandou a seleção no seguinte. Falo do mestre Telê Santana, que encantou o mundo com o time de 1982, na Espanha.
Na verdade, Telê, ao contrário de Tite, não prosseguiu no cargo até 1986, quando voltou a dirigir a seleção no México. Ele deixou o comando, após aquela derrota fatídica para a Itália. No entanto, houve troca de presidentes na CBF. Os treinadores Carlos Alberto Parreira, Edu Coimbra e Evaristo de Macedo não foram aprovados pelo público, devido a maus resultados. Nesse ínterim, o vascaíno Medrado Dias, mesmo apoiado por Giulite Coutinho, foi derrotado pela dupla Otávio Pinto Guimarães e Nabi Abi Chedid. Assim, Telê retornou. Para alegria dos torcedores.
Só que Tite não é Telê! Ainda assim, receberá o mesmo salário que a CBF lhe pagava. Sua comissão técnica custará 4,5 milhões de euros por ano aos cofres rubro-negros, algo em torno de 1,8 milhão por mês. Valor que supera o do português Abel Ferreira, que comanda o Palmeiras.
A escola gaúcha, adepta de uma boa retranca, passa longe do futebol-arte que nos consagrou. Mas, nos clubes por onde passou, Tite, verdade seja dita, tem um currículo vitorioso. Conquistou até mesmo Libertadores e Mundial de Clubes, pelo Corinthians.
Os dois principais personagens de um clube de futebol são o presidente e o treinador. Se o time vai mal a crise estoura nas costas dos dois. Difícil é entender os poderes que um técnico tem hoje. Contratado, leva um exército para auxiliá-lo. Seis, sete, quem sabe oito profissionais que falam o que ele quer ouvir, mas quase nunca o que ele precisa escutar.
O artilheiro Tiquinho, melhor jogador do Campeonato Brasileiro, foi para o banco? O dirigente precisa ter conhecimento e autoridade para saber a escalação e o planejamento tático. Não à toa o técnico alvinegro que o pôs na reserva foi demitido assim que acabou o jogo.
O Flamengo engorda o seu orçamento bilionário após um site de apostas quase dobrar o valor para aparecer no omoplata dos atletas. De R$ 48 milhões saltou para R$ 90 milhões em dois anos, com um aporte de R$ 20 milhões só neste mês. Se o BRB – o Banco de Brasília – deixar ao fim do ano de ser o patrocinador máster, certamente o site tomará seu lugar, pagando nada menos que R$ 170 milhões.
Ano que vem a Gávea respirará o tenso e sempre efervescente clima eleitoral.
“A política é como nuvem. Você olha, ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou” – afirmava o político mineiro Magalhães Pinto.
Rodolfo Landim trabalha para fazer seu sucessor. Para isso, o desempenho do time é importante. Eduardo Bandeira de Mello dá sinais de que pode tentar voltar à presidência do clube mais querido do país.