por Paulo-Roberto Andel

Poeta esplêndido, letrista que chegou a milhões de pessoas (“Por você” com Barão Vermelho, “Amor pra recomeçar” com Frejat), parceiro de craques e craques da música, gravado de Sandy & Junior a Ney Matogrosso, meu amigo Mauro Santa Cecília ainda tinha o sobrenome mais bonito do mundo.
Alvinegro em todos os continentes e galáxias, Mauro era apaixonado pelo melhor do nosso futebol. Quantas e quantas vezes não conversamos sobre feras como o goleiro Wendell, o lateral esquerdo Marinho e o estupendo Paulo Cezar Lima? Muitas. O coração botafoguense de Mauro enaltecia seus craques da casa, mas ele reverenciava o bom futebol: Sócrates, Falcão, Zico, Pintinho e Joãozinho também temperavam as conversas com suas jogadas geniais. A Máquina Tricolor, a Academia palmeirense, o Expresso da Vitória. Resenhas gloriosas.
Ninguém melhor do que o próprio poeta para desenhar as melhores frases, versos e palavras. Assim disse Mauro em 01/12/2024:
“Um dia histórico, um jogo épico. Depois do início inacreditável, a coragem do técnico Artur Jorge em manter a mesma equipe e não fazer a substituição óbvia de tirar um atacante e botar mais um defensor. E o time, com um a menos a partida inteira, se estabilizou e segurou a onda jogando com dignidade. Terminamos o primeiro tempo vencendo por 2×0 com participações decisivas do Luís Henrique, eleito o craque da competição. No segundo tempo o Atlético-MG melhorou, fez um gol, mas não resistiu à melhor equipe da temporada, que fechou a tampa com um gol no finalzinho de Júnior Santos, o artilheiro do campeonato e que era remanescente do fiasco de 2023, assim como nosso capitão Marlon Freitas. O Botafogo não havia conseguido o título da Libertadores nem com times que traziam nomes como Garrincha, Nilton Santos, Didi, Zagallo, Amarildo, Gérson, Paulo Cezar Caju e Jairzinho, do final dos anos 50 até 70. É um título que não tem nada a ver com o mental frágil ou a síndrome de sofredor imputada ao botafoguense. Foi o triunfo de um investimento bem feito com a formação de um elenco excelente e a contratação de um ótimo treinador. Como disse o John Textor, a frase “tem coisas que só acontecem ao Botafogo” ganhou um novo significado. Foi com dificuldade, mas foi inteiramente justo. Agora é comemorar muito e, mais leve, continuar atento porque a faixa do Brasileirão ainda pode pintar no nosso peito. O Botafogo faz um ano mágico em que, bem estruturado, se coloca de vez entre os melhores do país e do continente. Rolaram lágrimas de felicidade. Ontem foi escrita a página mais apoteótica do glorioso clube da estrela solitária. Que venham outras de tamanha importância. Fogão, eu te amo! Saudações alvinegras.”
E, por fim, em 10 de dezembro, seu poema definitivo traduzindo o glorioso 2024 botafoguense.
“AMOR EM PRETO E BRANCO
Quem diria depois de um ano tão difícil
E que teve um início espetacular
Dois mil e vinte e três é pra ficar pra trás
Problemas emocionais botando em risco
Fazendo o vexame se transformar em mito
Mas agora tudo mudou virando a chave
Nós somos campeões de forma inquestionável
Projetando quem sabe um horizonte lindo
Defesa, meio-campo e ataque coesos
Um time pra ficar gravado na memória
E sem esquecer da qualidade do banco
Um comandante que já começou sem medo
De nos conduzir a um patamar de glória
É bem assim o meu amor em preto e branco.”
Craque das letras e dos versos, Mauro Santa Cecília era completamente apaixonado pelo seu Botafogo e o futebol em geral. Ainda cedo demais, ele acabou de partir e já deixa uma saudade enorme, feito aqueles prefixos das rádios que ecoavam no velho Maracanã dos anos 1970.
@p.r.andel
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