por Marcos Vinicius Cabral

Paulo Angioni não é um dirigente que trabalha com futebol porque ama o que faz. Engana-se quem pensa que o esporte mais popular do mundo desde a criação do Big Bang esteja no sangue deste neto de italianos que é, um confesso louco apaixonado por Ana Luiza, única mulher que amou em toda vida.
Na verdade – se há algum sentido em me apossar dessa palavra simples com peso-pesado nos dicionários da vida –, Paulo Sérgio Scudieri Angioni, de 78 anos, nunca mentiu para ninguém. Para a bola, a quem prometeu que essa relação seria eterna enquanto durasse, muito menos!
Quem sabe essa relação dele com a bola permaneça viva como duas brasas que precisam estar próximas para que essa chama continue acesa. O segredo é não deixá-la se apagar!
Desde muito garoto, quando permanecia ora sentado, ora em pé nas cadeiras cativas do Maracanã admirando o ídolo Samarone, Paulo Angioni esboçou reações que hoje, ao lembrar, responde às provocações do tempo com um leve sorriso. Viaja sem tirar os pés do chão, sente-se nas nuvens quando lembra do camisa 10 vestido com o manto tricolor naquele gramado verde, presságio de esperança por dias melhores.
Parece que foi ontem que Paulo Angioni ouviu o conselho de Francisco Horta nas arquibancadas do Maracanã: “Menino, você tem que trabalhar no futebol!” Lá se vão 60 anos, nesse interim do torcedor e supervisor que foi e permanece sendo no futebol.
O menino Paulo cresceu e o Angioni virou homem. O homem Paulo Angioni nunca deixou de ser um menino. Um menino que ri das coisas banais da vida, que se alegra pela alegria das pessoas e que procura o vendedor de bala no sinal de trânsito na Praça Saens Peña simplesmente para agradecer por algo e recompensá-lo com uns trocados.
Mas nessa inquisição do homem e do menino, muita das vezes faz questão de omitir tanta generosidade. Não quer publicidade.
Sabe melhor do que ninguém que ‘A Arte do Silêncio’ reflete o trabalho que fez e continua a fazer com as cortinas fechadas em um grande clube de futebol. O que ninguém vê, não tem preço. Tem valor!
Paulo Angioni entende que os cabelos – antes negros como as blusas escuras que sempre fez questão de usar nos momentos importantes em mais de cinco décadas dedicadas ao futebol – estão prateados pelo tempo.
Entende também que cada fio prateado, indubitavelmente, seja um amigo que o futebol lhe deu. Não porque é bom. Mas é justo, é leal e é amigo!
Por isso, há de se lembrar que a frase “No lodo, há lírios”, lida por ele ainda criança no para-choque de um caminhão, foi um mantra nas decisões difíceis que o atual diretor de futebol do Fluminense teve que tomar toda às vezes que caminhou em passos lentos do gramado à sala da diretoria de futebol.
Blindado pela família, Paulo Angioni acabou criando uma casca que o protege das feridas que uma opinião contrária à sua pode lhe causar.
Sensível, o Iron Man se desfaz sempre que está em companhia da neta Catarina para virar o Papai Noel dela de janeiro a dezembro.
Paulo Angioni não fez história no futebol. Ele é a história. História viva que colheu flores nos campos áridos de cada derrota que machucou n’alma de quem extraiu lições nos infortúnios de uma profissão difícil que é a de diretor em um clube de futebol.
Orgulho imenso em poder escrever um livro sobre esse ícone do futebol brasileiro a quem defino como a seguinte frase: “Muitos foram barcos. Paulo Angioni foi cais!”.
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