por Elso Venâncio

Com 1,78m e já consagrado no Rosário Central, o goleiro Andrada chegou ao Vasco no fim da década de 1960, aos 30 anos. Na mesma época, o Flamengo contratou o atacante Narciso Doval, de 25 anos, indicado pelo técnico Elba de Pádua Lima, o Tim, que o treinou no San Lorenzo de Almagro. Tanto Andrada quanto Doval passaram sete temporadas em seus novos clubes, dos quais se tornaram ídolos.
Waldir Amaral era o locutor esportivo mais ouvido do país, e o slogan da Rádio Globo refletia a época de ouro do rádio: “Um Brasil de audiência”. Além de criar bordões, o narrador colocava apelido nos jogadores, como “Pelé, o deus de todos os estádios”; “Gérson, o Canhotinha de Ouro”; “Zico, o Galinho de Quintino”, e por aí vai.
Sempre chamado de “El Gato” em seu país, Andrada recebeu uma denominação que o tirava do sério. Em uma quarta-feira à noite, no dia 19 de novembro de 1969, Vasco e Santos se enfrentaram no Maracanã. Waldir Amaral transmitia a partida:
— Avança Clodoaldo! Entrou na intermediária, lança Pelé. Pênalti! Pênalti! Pode ser o milésimo gol.
— O zagueiro Fernando foi quem derrubou Pelé — confirmou o Garotinho José Carlos Araújo, que fazia ponta atrás do gol.
— Atenção! Pelé chutou, é gol! Pelé! Pelé, mil gols! O mundo a seus pés! Andrada é “o goleiro do Rei” — anunciou o famoso narrador.
Com seu jeitão sério, o argentino fazia cara de poucos amigos quando alguém o chamava de “o goleiro do Rei”.
Pelo Vasco, Andrada foi campeão carioca em 1970, após o Flamengo ter conquistado a Taça Guanabara. O Botafogo tinha craques tricampeões mundiais no México, e o Fluminense conquistaria a Taça de Prata, atual Campeonato Brasileiro. Na decisão do Estadual, uma vitória por 2 a 1 sobre o favorito Botafogo, com gols de Gilson Nunes, de falta, e Valfrido. Ferrete descontou de cabeça. Uma conquista histórica, que fez o Vasco encerrar um jejum de 12 anos sem dar a volta olímpica. Na boca do túnel, Tim, que trocara a Gávea por São Januário, derrotou o vitorioso Zagallo.
Em 1974, Andrada foi um dos destaques no seu mais importante título pelo clube cruzmaltino: a conquista do Brasileiro. Na fase final, Vasco, Cruzeiro, Internacional e Santos, de Pelé, disputaram um quadrangular. A decisão não seria no Maracanã, mas o mando foi invertido após o dirigente Carmine Furleti, do Cruzeiro, tentar agredir o árbitro pernambucano Sebastião Rufino depois do empate com o Vasco, por 1 a 1, no Mineirão, durante o citado quadrangular.
Diante de mais de 112 mil presentes, os campeões foram escalados por Mário Travaglini na seguinte formação: Andrada; Fidélis, Miguel, Moisés e Alfinete; Alcir e Zanata; Jorginho Carvoeiro, Ademir, Roberto Dinamite e Luiz Carlos Tatu. Já o forte Cruzeiro contava com jogadores como Piazza, Nelinho, Perfumo, Zé Carlos, Palhinha, Dirceu Lopes. Um timaço, mas que não impediu a vitória do Vasco por 2 a 1, gols de Ademir e Jorginho Carvoeiro, com Nelinho descontando. O capitão Alcir Portella foi o responsável por levantar a taça, que ainda conquistaria outras três vezes, como auxiliar-técnico, em 1989, 1997 e 2000.
Pré-convocado para a Copa do Mundo de 1966, Andrada acabou cortado devido a uma lesão. Por outro lado, defendeu a Seleção Argentina na Copa América de 1963, na Bolívia. O lendário goleiro faleceu com 80 anos, em Rosário, no dia 4 de setembro de 2019. Durante a sua carreira, ficou marcado por manter a tradição de grandes goleiros na história do Clube de Regatas Vasco da Gama.
0 comentários