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DOMINGO ERA DIA DE ZICO

4 / novembro / 2025

por Zé Roberto Padilha

Até nós, jogadores, ficamos assustados com o tamanho daquele burburinho. Como uma partida da terceira rodada da Taça Guanabara, poderia atrair tanta gente?

No aquecimento, as paredes tremiam. A polícia militar chegou ao vestiário e avisou que a partida sofreria um atraso. Precisavam retirar torcedores que alcançaram o anel superior.

Sabe aquele dia em que o carioca combina, depois da praia, vamos ao Maracanã? Todo mundo ouviu e foi também. E registraram, naquele inesquecível 4 de abril de 1976, entre Flamengo x Vasco, o quinto maior público da história do Maracanã: 174.770 torcedores.

Era um domingo. E domingo era dia de Zico.

Mal começara a partida e ele encontrou Geraldo penetrando entre os zagueiros. E o “assoviador” tocou para trás e o Luizinho guardou. No segundo tempo, fez um corta luz para o nosso artilheiro, mas a devolução subiu um pouco. Pouco importava. Ele acertou o corpo na corrida e, com um voleio improvável com a perna esquerda, acertou a bola no ângulo direito do Mazzaropi

Era um lance raro até para o futebol arte praticado no país naquela ocasião, porém, era um domingo de futebol no Rio. E domingo era dia de Zico.

Quem jogou aquela partida precisou, desde então, adotar como os sobreviventes de Hiroshima, as testemunhas da queda das Torres gêmeas, do terremoto de São Francisco um psicólogo e um otorrino. As cenas e os zumbidos emergem certas madrugadas, carregando um silêncio pouco confiável com pinta de preceder uma grande explosão.

Foram poucos os que, em nossa profissão, ouviram um grito de gol comemorado por mais de cem mil pessoas. Agora, só se marcarem a revanche pro Rock in Rio.

O Maracanã, que era a nossa cara, cercado de isopores, geraldinos e arquibaldos vivia ocupado por um povo feliz e miscigenado antes da chegada do padrão FIFA. Aquele pensado para colocar todo mundo no mesmo patamar antes que o Brasil tirasse a graça das Copas ao vencer todo mundo.

E nossos templos sagrados viraram arenas, os espetáculos se tornaram dramas e os dribles, os gols de falta, toda a magia, enfim, foi desaparecendo junto à multidão devolvida à sua poltrona porque só cabe, hoje, no maior estádio do mundo, a metade daquele público. .

Desse tempo único, só restou mesmo, no Rio, o domingo. Com praia, sol, gente bronzeada e bonita, mas nunca mais se viu uma tarde iluminada como aquela. Era um domingo. E domingo era dia de Zico.

* do nosso livro “Crônicas de uma saudade anunciada”

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