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romerito

O CRAQUE DO BRASIL EM 1984

por Luis Filipe Chateaubriand


Julio Cesar Romero, o Romerito, chegava ao Fluminense em 1984, vindo diretamente de Nova York, onde jogara anteriormente no Cosmos.

O jovem craque paraguaio viria ao tricolor para fazer a diferença.

Técnico, tratava a bola muito bem, de seus pés saíam passes preciosos, chutes arrebatadores, jogadas absolutamente inventivas.

Dotado de garra, estava constantemente disputando bolas divididas, liderava, apontava caminhos para os companheiros dentro do campo.

Com um preparo físico invejável, era onipresente em campo, se deslocava com extrema facilidade, movimentos ágeis, rápidos, inteligentes.

Tal conjunto de virtudes fez o gringo ser premiado ao fazer o gol do título, no primeiro jogo da final contra o Vasco da Gama, em que chutou, o goleiro Roberto Costa espalmou e a, bola, de volta, caiu novamente nos pés de “Don Romero”, dali saindo para o gol.

O cara veio, viu e venceu!

E ficou para sempre na memória do torcedor tricolor carioca!

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

O PARAGUAIO QUE INCENDIAVA AS LARANJEIRAS

por Luis Filipe Chateaubriand


Julio Cesar Romero, o Romerito, começou a se destacar muito cedo no futebol. Aos 19 anos, o jogador do pequeno Sportivo Luqueño, da cidade de Luque, sua terra natal, já era titular da Seleção Paraguaia, tendo sido o astro da conquista da Copa América de 1979 por aquele país, inclusive eliminando a Seleção Brasileira.

No ano seguinte, 1980, transferia-se para o Cosmos de Nova York, onde ficou até o final de 1983.

Mas foi ao chegar ao Fluminense, em 1984, que veio a consagração: o paraguaio tornou-se ídolo da torcida tricolor, e fez o gol do título mais importante do “pó do arroz” até então, o Campeonato Brasileiro daquele mesmo ano, 1984.

Uma característica marcante de Romerito era o chute forte e preciso. Diversas vezes fez belíssimos gols de voleio, alguns chutados de longa distância, habilidade rara entre jogadores de futebol.

Outra característica significativa de Don Romero era a bravura em campo, sua reconhecida raça. Jogador valente, não dava um jogo como perdido com facilidade, era obstinado na busca pela vitória.


Mas o que realmente marcava o paraguaio era a dinamicidade. Com um fôlego invejável e sempre com exuberante preparo físico, se movimentava por todos os lados do campo, parecia se multiplicar pelo relvado, e, assim, sempre dava opções aos companheiros, seja para receber a bola, seja para passá-la.

Estas características, aliadas a uma técnica nada desprezível, fizeram do paraguaio um dos maiores ídolos da nação tricolor. Foi, assim, importante artífice não só do título brasileiro de 1984, mas também do bi e do tricampeonato carioca, em 1984 e 1985.

Ao sair do tricolor em 1988, rumo ao Barcelona, muitos quiseram taxar ao craque a pecha de mercenário, repetindo o bordão “yo quiero mi diñero” – como se não fosse direito do profissional receber os valores que o clube lhe deve.

A verdade é que jogadores que se dedicam ao time em campo como Romerito são raros, muito raros. Técnica e garra a serviço de um clube de futebol são bens preciosos, e quem é de um clube tantas vezes campeão sabe ser grato a quem foi decisivo para importantes títulos do clube verde, branco e grená.

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email:luisfilipechateaubriand@gmail.com.

SOMOS TODOS ROMERITO

por Zé Roberto Padilha


Zé Roberto Padilha

Romerito toda hora vem do Paraguai tomar a sua dose. Tem sorte, os portões das Laranjeiras lhe estão abertos e seu nome está sempre entre os convidados de qualquer festa. Mas e os outros dezesseis que o ajudaram a conquistar o Campeonato Brasileiro de 1984, aonde vão buscar as suas?

Todo ex-atleta profissional é dependente de uma droga conhecida como afago. Há também seu genérico, o reconhecimento. Ao longo dos clássicos, vem em uma embalagem para viagem, já quando a partida é na Rua Bariri, em doses homeopáticas. Diferente das outras profissões racionais, em suas veias são injetadas, pela emoção, irreflexão, doses de idolatria ao longo da carreira. O grau de dependência que se manifesta quando a encerram depende do tempo, e da equipe, que defendam. Se jogam no Timão ou Flamengo, fu…danou-se.

Nenhum jogador de futebol pediu para ser ídolo de alguém, mas os gols vão acontecendo, títulos são alcançados, ganham uma faixa em meio a torcida, viram figurinha para o álbum da Panini e goles e mais doses de aplausos lhes são oferecidos. Quando marcam o gol da vitória, então, lhe estendem um papelote. E lhe pedem um autógrafo. Dai seguem anestesiados a cada rodada até o seu jogo de despedida.


No primeiro ano sem a bola nos pés e uma dose no ego poucos sentem. Ainda são reconhecidos, alguns viram treinadores, comentaristas, escrevem suas memórias, sobrevivem. Mas, com o tempo, a ausência do afago, a subida da rampa do Maracanã com aquela bandeira que vestiu passando na cara e nem ela lhe reconhece, sente o início da dependência. Algo começa a faltar no ar junto ao corpo e a alma.

Quando o Fluminense comemorou seus 115 anos, semana passada, e chamou o Gil e não convidou os que fizeram dele um Búfalo da seleção no lugar do touro que surgiu de Vila Nova, faltou o ar para seus companheiros. Subiu a pressão. Passou a ser caso de internação. Sem outra qualificação, pois entendiam ser a profissão de jogador de futebol orgulho do seu país, descobriram quando pararam que a própria previdência lhe negou a insalubridade, mesmo com as chuteiras passado a centímetros de suas cabeças. E precisaram se reinventar na sociedade, sem qualquer preparo ou estudo, para completar o tempo de serviço para alcançar a aposentadoria.


Mais fácil, então, entrar no primeiro botequim. Com um retratinho no bolso do seu time para ser reconhecido, tentar provar que foi importante um dia na vida de algum tricolor. E pedir uma cerveja, uma dose de licor para não lembrar que foi esquecido. Muitos não se chamam Romerito, são brasileiros comuns que se tornaram dependentes esportivos carentes de afago. E de doses profundas de reconhecimento. Na verdade, são todos ex. Para sempre.

*Qualquer semelhança com o autor não terá sido mera coincidência.