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Pênalti

E SE TODOS FOSSEM IGUAIS A VOCÊS?

por Eliezer Cunha


Sou de uma geração em que se dizia; falta na entrada da área é pênalti. E Pênalti era sinônimo de gol certo. Bola em um dos cantos e o goleiro magicamente acertando o lado ou não, nem chances tinha. Tínhamos jogadores que não faziam mais que o óbvio, treinar, treinar e treinar. Converter em gols os fundamentos necessários para que a bola se acolhesse no fundo das redes. Goleiros, figuravam-se e os narradores já reservavam sua voz para a validação final, Gol. Os marcadores dos placares eletrônicos ou não, já se antecipavam ao novo placar da partida. Zico, Roberto, Dicá, Sócrates e companhia cumpriam o básico papel de um batedor: bola nas redes. Os tempos passaram e os fundamentos infelizmente também.

Hoje não existe mais distinção entre os times grandes e os pequenos no momento de uma decisão por pênalti. Ainda me arrisco a dizer que os times de menor expressão possuem um desempenho melhor que os demais, lógico,  pois é neste momento que tudo se igualam perante o arco e os fundamentos se sobressaem. Neste momento decisivo treinamentos e dedicação fazem a diferença. Temos aí então a chances necessárias de vitória de uma equipe de menor poderio.

Com certeza os times menores estão se aperfeiçoando cada vez mais neste quesito para se superarem frente aos times grandes. Isso se chama estratégica. Algumas cobranças são verdadeiras aberrações contra os fundamentos básicos para uma boa cobrança.

Com cada vez mais a ineficiência dos ataques perante as defesas adversárias, as decisões das partidas, de uma vaga ou até de um campeonato por pênaltis estão pesando nos resultados.

A bola continua rolando…, mas é, a bola parada que ainda pode estar decidindo.

ANGÚSTIAS DE 76

por Zé Roberto Padilha


Zé Roberto Padilha

As rádios só tocavam Belchior em 76: “Estava mais angustiado que o goleiro na hora do gol…”. E era natural que ao colocar a bola na marca do cal para bater o quarto pênalti da decisão da Taça Guanabara entre Flamengo x Vasco, no dia 13 de Junho de 1976, diante de 124.000 torcedores, entre eles toda a minha família que chegara de Kombi de Três Rios, tenha lembrado da música. E uma imensa vontade de corrigir aquela letra, pois ninguém fica mais angustiado do que o batedor na hora do gol. Se o Mazaropi pega, vira herói. Se o Zé Roberto perde, se torna o vilão daquela decisão.

Quando olhei para o gol, cadê ele? Cabeças da geral colaram na cabeça das cadeiras que por sua vez encaixaram nas cabeças torcedoras da arquibancada. Tem um quadro da Djanira com esta tomada. Só com cabeças. Só dava para distinguir, em meio ao nervosismo, os filetes brancos das traves – e o goleiro vascaíno ainda por cima estava todo de preto. Quase um vulto a proteger aquela cidadela intransponível porque as redes estavam invisíveis e eram elas que desnudavam o alvo que precisava ser atingido. Para complicar ainda mais os refletores do Maracanã eram precários, lâmpadas de led eram luzes de um tempo distante. Tamanha responsabilidade diante de tão pouca visão, só me restou uma súplica, um ultimo desejo ao destino que me guiara até ali: que não errasse aquela bola. Tão pequena, branca com a marca Drible e inocente à minha frente.

Depois que perdi um pênalti em uma preliminar nos juvenis, Lula, o ponta esquerda titular do Flu e da seleção, me chamou após o treinamento nas Laranjeiras e revelou o seu segredo: bater forte com o peito do pé e de curva à direita do goleiro, mirando a trave esquerda para a bola realizar uma trajetória contrária ao salto do goleiro. E quando fui bater na bola, Mazaropi, que nos conhecia das divisões de base, se atirou para aquele canto. E uma tia kardecista percebeu a manobra e virou meu tornozelo para o outro lado – pelo menos, durante várias CPIs instauradas ao longo da carreira, foi esta a explicação mais aceitável. A bola? Caprichosamente encontrou as redes no outro cantinho. Assustado, confuso e aliviado, voltava para o meio do campo quando ouvi de passagem o comentário de um Apolinho da Rádio Globo: “Quem sabe, sabe!”.


Mazaropi defende a cobrança de Tita

Não, ninguém sabe o que passa na cabeça de um cobrador de pênaltis. Em decisões, então, esquece. São tantas alegrias e tristezas que serão definidas por sua cobrança que, como dizia Neném Prancha, de tão importante deveria ser batida pelo presidente do clube. Se assim fosse, duvido que o presidente do Vasco não fosse o Roberto Dinamite. Ou vocês queiram mais lambanças do Eurico? A propósito, Zico, o ultimo a bater pelo nosso time, perdeu o seu. Ele podia. Se perdesse o meu seria enforcado como Vladimir Herzog, assassinado como Edson Luis ou exilado como o irmão do Henfil. Não é este o destino reservado em 76, no auge do regime militar, para os que “traíam” a nação?

A SORTE ANDA NA MARCA DO PÊNALTI

por Zé Roberto Padilha


Antigamente, disputa de pênaltis era uma loteria. Uma questão de sorte, diziam locutores e jornalistas esportivos e de controle de nervos, Luciano do Valle acrescentava. Dos 7,15 m à disposição de um cobrador que pode ajeitar a bola à sua feição, do outro lado se colocava um pouco treinado guardião a cobrir apenas um quarto daquela imensidão.

De cada dez pênaltis batidos nos anos 70, apenas um era defendido. Em 1972, nas Laranjeiras, havia um tanque de areia onde se atiravam, após os coletivos, Félix, Jorge Vitório, Roberto, Jairo e Nielsen, que pediam nossa ajuda para chutar bolas em suas direções.


Raul Carlesso

Agora, no Campeonato Brasileiro de 2016, tudo mudou. De cada dez execuções, quatro são defendidas pelos goleiros. E não foi a sorte que aumentou. Foi estudo, especialização, trabalho e dedicação que foram incorporadas aos treinamentos por parte de um estudioso e precursor deste inegável avanço profissional: Raul Carlesso.

Membro da Comissão Técnica de 1970, oriundo da Escola de Educação Física do Exército, Carlesso voltou, quatro anos depois da Copa da Alemanha, impressionado com o goleiro da sua seleção, Sepp Maier. A muralha alemã publicou um livro denominado “Aprenda com o melhor goleiro do mundo” com seus métodos de treinamento, entre eles jogar tênis. E deixou algumas lições: “se acerto aquela bolinha, como não defender aquele bolão vindo em minha direção?”.

Até aquela data, os goleiros treinavam junto à mesma didática física e esportiva destinada aos jogadores de linha. Só o tanque de areia estava reservado para eles e sua percepção autodidata observada em saltos de pura intuição. Basta ver os gols tomados por Gilmar, em 58 e 62, por Leão, em 74 e por Félix, nos jogos do Tricampeonato, no México, para constatar que realizavam suas defesas por vocação e instinto, sem muito orientação técnica para defender suas metas.


Barbosa

Barbosa, então, foi sacrificado por pular no chute do Gighia, no Mundial de 50, do mesmo jeito que se jogava ao defender os juvenis do Vasco e do seu time anterior, de várzea. Era feelings próprio para exercer a profissão, não técnicas adquiridas para melhorar sua performance diante dos ataques adversários.

Raul Carlesso tirou os goleiros do grupo de treinamento e os colocou à parte para aprimorar seus fundamentos. Fincou estacas com cones para simular zagueiros e ele mesmo batia os escanteios e faltas próximas á área. Outros cones eram colocados nas extremidades da intermediária adversária para treinar reposição de bola rápida. Ele mesmo puxava contra ataques.

Aprimorar o chute e o domínio também foi importante, afinal, na sua origem nunca é demais lembrar que “convidados” foram para agarrar no gol por absoluta incompetência de jogar na linha. Se eram excluídos na escalação, deveriam ser excluídos do grupo dos que utilizavam os pés e realizar, à parte, todo um aprendizado. Além do mais os goleiros deixaram de viver naquela solidão porque passaram a ter um psicólogo, treinador, conselheiro e amigo juntos na figura do treinador de goleiros.

Hoje, quando um cobrador vai bater um pênalti, ele sabe que vai ter à sua frente um profissional muito mais preparado. Que não salta mais a esmo para jogar a história daquela partida ao acaso. E que na concentração passou a noite anterior assistindo todos os vídeos com as ultimas cobranças do batedor oficial e adversário. Enfim, não foi a sorte deles, goleiros, que aumentou, muito menos o gol que diminuiu, foram eles que se tornaram mais competentes na prática e defesa dos seu ofício.

Moral da História: a sorte acompanha quem, com trabalho e estudo,  diminui o tamanho das metas, e dos objetivos, que todo o azar adversário assedia.


PÊNALTIS, NÃO!!!

por Fabio Lacerda


 

Os deuses do futebol não escrevem certos por linhas tortas. Os deuses do esporte mais apreciado do planeta é diferente do Deus Supremo. Eles escrevem das cenas mais brilhantes às cicatrizes ou feridas não saradas para os craques. Na Cultura da Destruição, toda a sua construção pode ficar devidamente demarcada na hora H com a bola na marca da cal. Sim, os deuses do futebol marcam os craques com ferro quente como a forma de haver um porém diante do brilhantismo das carreiras. Os craques nasceram para perder pênaltis nos momentos decisivos. Os craques do time estão para carregar essa farda. Só vi um que passou ileso no nesse espaço de apenas 11 metros da consagração plena: Romário de Souza Faria. 

No auge futebolístico dos meus 39 anos e seis meses de vida, pelo menos 34 já sabendo que futebol era transmitido na televisão, cheguei à conclusão que craques ou até mesmo o jogador que fez chover durante os 90 minutos não deve cobrar as penalidades decisivas caso os 30 da prorrogação sejam consumados. E também durante os 90 minutos. Jogadores de futebol por mais experiente, sente as pernas tremerem, a cabeça remoer na hora do ‘mano a mano’. Não venha com essa de que é experiente, que é isso, é aquilo! É conversa fiada! Estou para ver um verdadeiro craque revelar qual foi o momento que as pernas bambearam em razão da insegurança e que o êxito não tenha sido consumado! Sugiro inclusive como uma proposta para essa obra-prima chamada Museu da Pelada. Uma obra-prima que o Pugliese, Paulo César Caju e demais colaboradores assinam, parodiando o grande Édson Mauro! E também para o funcionário que leva o café para a diretoria e seus convidados. A arte de servir que falta ao futebol, à sociedade.  

O maior artilheiro do Maracanã com 333 gols teve seus dias de ferro quente. Numa final de Taça Guanabara, na disputa dos pênaltis, o Flamengo com a faca e o queijo na mão. Foi quando o arqueiro de Além Paraíba, Mazzaropi, voou raso como um galo para espalmar a cobrança daquele que um ano depois iniciaria uma saga de títulos pelo Flamengo.  Em seguida pegou de Geraldo, outra jogador projetado a craque que veio a desperdiçar sua cobrança. Há exatos 37 anos e 14 dias. Mas foi na Copa do Mundo de 1986 que o Zico perdeu a grande oportunidade de fazer o gol de pênalti diante de uma França forte que já vinha de uma bela Copa do Mundo em 1982 e conquistado a medalha olímpica diante do Brasil, em Pasadena, nos EUA. 

Contemporâneo do Zico na seleção e nos duelos marcantes entre Flamengo e Atlético-MG, Toninho Cerezo é outro exemplo de craque que titubeou na marca da cal. Em 1977, ano de nascimento de quem vos escreve, chutou para longe a cobrança de pênalti na decisão contra o São Paulo de Valdir Peres. Abriu a contagem pelo Galo de Minas e não permitiu que o alvinegro das Alterosas largasse à frente no placar. A curiosidade desse fatídico momento para a massa do Galo foi que as duas outras cobranças perdidas foram praticamente iguais a do Cerezo – bola no canto superior esquerdo, porém, por cima do travessão. 

Em 1994, quando o Brasil terminou o jejum de 24 anos sem colocar as mãos na taça Jules Rimet, durante a Libertadores quando o São Paulo tentava o tricampeonato do continental de clubes, Palhinha, o cérebro do time, sucumbiu diante do goleiro artilheiro e paraguaio Chilavert, do Veléz Sarsfield, que foi ao Japão para conquistar o Mundial Interclubes. 

Edmundo, outro exponencial jogador dos últimos anos do futebol brasileiro teve seus dias de vilão. Pelo Vasco chutou para longe uma cobrança contra o Corinthians na final do Mundial Interclubes no Maracanã depois que Hélton realizou o improvável: pegar o último pênalti cobrado por um dos jogadores mais perfeitos do disparo da bola: Marcelinho Carioca. Este, coincidentemente, também fraquejou na ‘hora do vamos ver”, na “hora da onça beber água”. Fez surgir um santo no Palestra Itália – São Marcos. Alguns anos depois, a vez foi do Edmundo dar uma de ‘animal irracional’ e cobrar a pior penalidade da sua vida diante do Sport em São Januário. Fez uma grande partida, fez o segundo gol no final do jogo dando a vitória por 2 a 0 e a chance de ir à final da Copa do Brasil, ano este que culminaria com o primeiro rebaixamento do Vasco da Gama. Diferentemente de 2000, Edmundo foi o único a perder a cobrança que comprometeu a ida do Vasco para a segunda final da Copa do Brasil em dois anos. 

Outro caso que os deuses do futebol preparam para os craques pode ser mensurado pela final da Libertadores da América entre Fluminense e LDU do Equador, clube este que teve uma sequência interessante de títulos sul-americanos e contribuindo com a ascensão da seleção do país que não é nosso vizinho geograficamente falando. Thiago Neves, provavelmente é o único jogador do planeta a fazer três gols numa decisão de Libertadores. Porém, o pior estava por vir na cobrança das penalidades máximas, na hora de ficar “de frente para o crime”. Ele errou a cobrança logo em seguida do insucesso do Conca, outro craque da ‘Máquina Tricolor Versão Anos 2000’ guardada às devidas proporções. Por favor!

Platini na disputa de pênaltis contra o Brasil também em 1986 – num mesmo jogo dois craques sucumbindo à Psicologia Esportiva -, Franco Baresi e Roberto Baggio, que fez uma Copa do Mundo brilhante não somente em 1994, como também em 1990, chutou aos ares a chance da Itália vingar 1970 numa final. Em época de Eurocopa, David Beckham também teve seu dia de pesadelo durante às quartas-de-finais da competição européia em 2004 quando Portugal sediou a competição. O craque-galã, camisa 7 do English Team, isolou a bola diante do goleiro Ricardo, da seleção portuguesa, nas quartas-de-finais, que custou a classificação inglesa para encarar a Holanda. Os craques são punidos pelos deuses do futebol, mas são absolvidos pelos torcedores. 

Para brindar minha tese, na final da Copa América Centenária, o maior jogador do planeta abriu a disputa de pênaltis pelos argentinos cobrando um tiro de meta e deixando de colocar a segunda maior campeã da Copa América na frente depois do craque Arturo Vidal também perder a primeira cobrança pelos bicampeões da Copa América. Olha que “el pibe’ celebrou aniversário na última quinta-feira, mas a festa é andina mais uma vez. 

Quem lembrar de grandes craques que fraquejaram na hora do penalti deixando a taça de campeão para o adversário, fale com o Museu da Pelada. A lista deve ser extensa. Grande abraço e saiba que na hora do pênalti o posicionamento é na meia lua e quando o árbitro autorizar obrigatoriamente para a cobrança sair com mais perfeição é necessário correr para a bola. Esse lance de paradinha, repicada, posicionamento torto perante à gorduchinha – olha eu parodiando o grande Osmar Santos – é fruto de falta de seriedade nos treinamentos. 

Craques não foram feitos para decisões nas disputas de pênaltis. É preciso saber que uma cobrança, para ser perfeita, depende do posicionamento do cobrador na meia lua para que o mesmo possa correr em direção à bola e dificultar a escolha do goleiro. É por isso que Romário nunca deu chances para os arqueiros. Quem vai correndo para a bola vai decidido. Essa técnica é observada por um jornalista frustrado que não conseguiu ser jogador de futebol.