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Museu da Pelada

RESENHISMO, CIÊNCIA

por Rubens Lemos


(Foto: Custodio Coimbra)

Tenho com o Museu da Pelada uma relação lírica. Estava à toa na vida, vendo o futebol passar e a turma de Sérgio Pugliese chegou com resenhas para me salvar. Um copo, uma garrafa, um pente, sai Adoniram Barbosa em samba de repente.

Um ídolo esquecido, o reencontro, uma cerveja gelada e o renascer vem do passado. Resenha é ato de desligar o interruptor do mundo, das propinas televisadas ao vivo, do sangue jorrando em traços bárbaros de audiência. É estar em transe com o papo literal e inconfundível do dialeto da bola.

Do vocabulário onde não caibam milhões, cifrões, contenções, marcações, transições, seleções e humilhações, pranchetas, esquemas, caneladas, assistências e atacantes agudos. Goleadores de cinco redes balançando por ano.


Assisto resenhas em monólogo. A última, em que me chorei (chorei por mim e é meu direito pelo que revi e perdi no futebol), foi a de Roberto Dinamite e Rondinelli num reencontro emocional, sem tradutores, nem procuradores, de dois adversários históricos e amigos com passagens maravilhosas para compartilhar com torcedores contemporâneos.

Quem vai chegando aos 50, aos 49, aguarda nos 48 um sopro de motivação na vida, sai da asfixia medíocre e respira o balão de oxigênio da arte nos personagens eternizados por dribles, gols, lançamentos e multidões em transe.

O Museu da Pelada me salva. Nas conversas sem censura, no linguajar boleiro de morro, de campinho, de rua, de ar puro da beira da praia. É uma ciência. Foi, não foi pênalti, não deu aquela porrada, sacanagem sua. Nosso time era melhor, vocês compraram o juiz (menos o Cabelada).

Viva a ciência memorial do futebol. O resenhismo. Sou resenhista em busca de pós-graduação.

COMO O MUSEU DA PELADA SALVOU A MINHA PAIXÃO PELO FUTEBOL

por Luis Filipe Chateaubriand 


Desde os oito anos, acompanho futebol. São 40 anos dedicados a este esporte tão fascinante, que nos faz sonhar, nos dá êxtase, alimenta nossa essência infantil.

Minha paixão pelo gênero esportivo era incontestável. Quantos jogos escutei com o ouvido no rádio. Quantos jogos vi na televisão. Quantos jogos vi nos estádios. Quantas resenhas acompanhei. Quantos jornais li.

Já com os meus 25 anos, fiz um trabalho na disciplina Métodos do Pensamento – do Mestrado em Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas –, sobre o tema. Cada aluno escolhia o seu tema, e debatíamos sobre os temas escolhidos nas aulas.

Meu trabalho foi o de melhor nota na disciplina. Meus colegas de Mestrado me aplaudiam, me incentivavam, diziam que eu tinha que trabalhar com isso.

Eu acreditei…

Desde então, lá no longínquo ano de 1995, alimentei a perspectiva de atuar profissionalmente com o futebol – ou na escrita, ou na gestão.

Em 1999, época da Lei Pelé, eu, já professor universitário, juntei-me a dois amigos e criamos uma empresa de consultoria em Gestão Esportiva. E, um pouco antes, já tinha começado a escrever sobre alguns assuntos do futebol, especialmente os ligados à gestão, especialmente os relacionados ao calendário do futebol brasileiro.


Seguiram-se diversos livros, artigos, ensaios, palestras, entrevistas. Mas ser um profissional do futebol, no sentido de exercer uma atividade remunerada ligada ao assunto, não consegui.

Foram muitas e muitas horas de investimento, paixão, tesão, trabalho, trabalho, muito trabalho, tentando viabilizar oportunidades. Sem êxito.

Eu havia fracassado.

Em abril de 2017, depois que ministrei uma palestra sobre o calendário do futebol brasileiro para oito pessoas, quando havia a expectativa de serem centenas delas, a minha frustração explodiu… resolvi me afastar do futebol!

Havia decidido: não assistia mais futebol, não comentava mais futebol, não me informava mais sobre futebol, não escrevia mais sobre futebol, não lia mais sobre futebol.

Futebol era algo riscado de minha vida!

E, para o espanto de muitos amigos e conhecidos, foi o que fiz, disciplinadamente. Leitura sobre política, história, economia. Nada de futebol. Escritas e estudos sobre administração e ciências sociais. Nada de futebol. Debates acalorados sobre música, sociedade, costumes, outros esportes. E nada de futebol!

Passaram-se cerca de oito meses sem futebol em minha vida, e apareceu a síndrome de abstinência.

Pensei em um jogador chamado Leandro, ex lateral do Flamengo e da Seleção Brasileira, cracaço de bola.


Fiz uma busca pelo nome “Leandro Flamengo” no Google.

Uma das opções que apareceu para mim foi “Leandro o Papa da Lateral”, uma entrevista de vídeo com o “Peixe Frito” em um sítio de internet chamado Museu da Pelada.

Fiquei bastante curioso, não me contive, fui assistir a entrevista. A síndrome de abstinência de oito meses chegava ao fim!

Fiquei extasiado com o que assisti. Estórias curiosas, engraçadas, interessantes, um clima de alto astral e de muitas risadas entre o entrevistado e o entrevistador (que depois, fiquei sabendo, chamava-se Sérgio Pugliese, editor do Museu da Pelada).

Depois de assistir à entrevista, comecei a procurar “Museu da Pelada” no Google. E encontrei mais entrevistas interessantes, mais escritos excelentes, mais ações solidárias, mais engajamento com a comunidade do futebol, mais risadas bem humoradas do Sérgio Pugliese, e mais, mais e mais… futebol em sua essência!

Daí, não resisti: voltei para o futebol, minha grande paixão, de braços abertos!


Apesar de não ter conseguido, até a presente data, atuar de forma remunerada como um profissional do futebol, estou reconciliado com este. Afinal, o futebol me deu e me dá muito. Me dá tesão. Me dá sentimentos em sua plenitude. Me dá exemplos. Me dá emoções. Me dá raciocínios. Me dá vida!

E é assim que o Museu da Pelada age em nossas vidas: nos faz reconciliar com a nossa própria essência. A vida sem futebol seria insuportável!

Ave, Museu da Pelada, por nos fazer reconciliar com o futebol nosso de cada dia!

 

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra "O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro". Email:luisfilipechateaubriand@gmail.com.

SONHOS RENOVADOS

por Marcos Vinicius Cabral


Dessa vez não fui despertado pelo celular que fica embaixo do meu travesseiro (graças a ele eu não perco a hora das peladas nos domingos).

Nele, marcava 4h57 da manhã da última quinta-feira, 27 de dezembro e ao olhar pela janela, uma escuridão tomava conta do céu.

O silêncio lá fora contrastava com o daqui de dentro do meu quarto, já que na ponta dos pés – como um bailarino ensaísta – dei os habituais vinte passos até o banheiro preocupado em não acordar Raquel minha esposa e Mel nossa cachorrinha da raça Shit-zu, que dormiam um sono angelical.

No regresso ao quarto, tentei dormir novamente e não reencontrei o sono.

Sem motivo algum comecei a pensar no Museu da Pelada, espaço virtual que resgata histórias de quem jogou bola e quem não jogou, de quem foi profissional ou de quem foi perna de pau nas peladas da vida e de quem marcou gols antológicos sendo aplaudido de pé e de quem perdeu outros feitos tendo na figura materna alvo de xingamentos.

Na verdade eu não estava pensando e sim sonhando com os olhos abertos, acreditem!

Já passava das 5h da manhã, deitado com olhos fixados no ventilador de teto, sonhei com o dia que conheci Sérgio Pugliese, pelos idos dos anos 90, quando visitei a redação do O Globo, na Rua Irineu Marinho, 35 – Centro – Rio de Janeiro.

Na ocasião, à procura de trabalho como ilustrador, o máximo que consegui aos 20 anos de idade foi conhecer Chico Caruso, segundo maior chargista desse país – ninguém supera o semovente Ique que se reinventa a cada ano.


Passados 23 anos, o reencontro na sede da Approach em Botafogo, Zona Sul da cidade, naquele segundo semestre de 2016.

Eu como estudante do quinto período de jornalismo e ele como Diretor.

Não falamos sobre outro assunto que não fosse os caminhos da Assessoria de Imprensa no século XXI, em que o dono da “canhota mais habilidosa do Albertão” foi sabatinado por minha colega de grupo Raquel Miranda.

Sonhei com minha adoração ao futebol do ex-camisa 2 rubro-negro e seleção brasileira Leandro, quando escrevi uma experiência vivida no “Enquanto todos queriam ser o Źico eu preferia o Leandro”, que foi minha primeira matéria para o Museu da Pelada.

Naquela ocasião, me senti como um garoto recém saído dos juniores e que treina bem durante a semana aguardando o momento de entrar na partida.

– Sensacional amigo, ela vai ser postada! – disse Serginho, como se fosse meu treinador e me chamasse para ser incorporado ao time do Museu.

E convenhamos, fazer parte de um grupo talentosíssimo como este e que tem Paulo César Caju, é um privilégio para poucos!

E foi assim que vi a publicação tendo curtidas, compartilhamentos e comentários, porém, após ser incorporado, a titularidade ainda estava longe.

O jogo estava só começando!

Comecei a escrever, escrever, escrever, pois era o mesmo que treinar, treinar e treinar.

Com isso, fui ganhando forma, assim como Rivellino na Copa do México em 1970, em que colocou uma “pulga” atrás da orelha do treinador Zagallo, que teve que arrumar uma vaga para o craque da camisa 10 do Corinthians e Fluminense, naquele time.

Aos poucos, fui me tornando uma grata surpresa, para Serginho e André – seu auxiliar técnico – assim como foi Josimar, lateral botafoguense que foi à Copa de 1986 – Leandro não estava no voo para o México – e fez história com dois golaços contra Argélia e Polônia respectivamente.

Oba, agora eu vestia o manto – não o rubro-negro – mas do Museu da Pelada!

O ano começou e com ele os sonhos foram renovados.

Que possamos escrever histórias cada vez mais bacanas de quem tem muito o que nos contar!

Feliz ano novo a todos!

COPA DO MUNDO DE AMADORES

Como todos sabem, a equipe do Museu da Pelada só entra em campo para defender causas especiais e a convite do parceiro Bris Belga, tivemos a honra de participar da 5ª Copa do Mundo de Amadores, que reúne peladeiros de diferentes classes sociais e refugiados de diversas nacionalidades no CFZ.

– São 14 países mais a Catalunha, que eu não posso considerar como país, mas são meninos que vêm aqui com todo orgulho de representar a região.

Aceitamos o convite na hora e entramos em contato com Guido Ferreira, idealizador do Projeto Facão e craque do Fut 7, para montar a nossa seleção. Em poucos minutos os nossos 14 craques já estavam selecionados: Antonio Minotauro, Rola, Kaká, Dabá, Ismael, Claudio, Sidinho, Carlinhos, Waguinho, Mazza, Fábio, Canhota, Xande e Aranha.


Reinaldo Demorô, Bris Belga, Sergio Pugliese e Bruno Gallart

Mesmo sem poder atuar, por conta de uma lesão no joelho, o centroavante Sergio Pugliese recebeu tratamento VIP quando chegou ao local da partida e deixou seus pés sob os cuidados do excelente podólogo Bruno Gallart.

Se não bastasse a ausência do nosso artilheiro, ainda enfrentaríamos a equipe da Angola, atual campeã do torneio, mas nada que abalasse a confiança dos nossos craques!

– O importante é que nós vamos lutar pelo Museu! – disse Rola.

– O Museu vai entrar para a história! – emendou Kaká, nosso japonês voador.

O resultado da partida não podemos divulgar. O importante é que nos divertimos pra valer e só nos resta agradecer ao parceiro Bris Belga pelo convite e parabenizá-lo pela organização do torneio, que contou até com transmissão ao vivo pelo YouTube.

PENEIRA NA KELSON´S

Através do parceiro Anderson Jedai, Maurício Albuquerque, observador técnico do Flamengo, esteve ontem no campo da favela da Kelson’s, realizando uma peneira para avaliar meninos de 7 a 15 anos que driblam várias dificuldades diariamente, mas não desistem do sonho de construir seu futuro.

Debaixo de muito sol, os futuros craques fizeram os olhos do professor brilharem a ponto de alguns terem sido selecionados para um período de testes no Ninho do Urubu.

Como podemos ver nas fotos, a garotada foi dividida em dois times e usou os coletes doados pelo Museu da Pelada no fim do ano passado, quando equipamos a escolinha do parceiro Farney de Melo. Tal fato nos motiva ainda mais a continuar nessa batalha diária, ao lado dos amigos, em prol da solidariedade.

Vale lembrar que o volante Michel, campeão da Libertadores pelo Grêmio, deu seus primeiros passos no campo da Kelson´s e é exemplo para os meninos da comunidade.