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mateus ribeiro

NÃO VALE A PENA VER DE NOVO

por Mateus Ribeiro


Não faz muito tempo, e provavelmente todos aqui vão se lembrar de quando Neymar ainda atuava pelo Santos. Qualquer ser humano um pouco mais esperto sabia que mais cedo ou mais tarde, ele iria atuar na Europa. Se para contar com qualquer jogador meia boca que a imprensa inventa, times do Velho Continente abrem a carteira, obviamente que um dia iriam dar um caminhão de dinheiro em cima do último grande talento que nosso futebol apresentou ao mundo.

Dito isso, vamos ao ponto chave da conversa. Lá pelos idos de 2011, alguns boatos começavam a pipocar: “Neymar tem um pré contrato com Barcelona”; “Real Madrid prepara proposta milionária para joia santista”; “Quem dá mais pelo menino de ouro?” eram algumas das manchetes.

Até aí, tudo bem. Não somos bobos, e sabemos que o importante é vender jornal, caçar cliques e tudo mais. O problema começou a ficar sério quando teve início a corrida maluca para ver quem acertava primeiro o destino do atacante. “Neymar acerta essa semana com Barcelona”; “Madrid está a espera de Neymar” e mais algumas notícias desse porte poluíam portais, páginas do Facebook, jornais, e os já então insuportáveis debates. Toda essa movimentação visava apenas encher linguiça e ver quem seria o primeiro a acertar o destino do jogador. Como se existisse algum clube além do clubinho dos ricos nos últimos anos com dinheiro suficiente para bancar uma contratação de tanto peso…


O final todo mundo já sabe: Neymar foi para o Barcelona, ganhou tudo o que poderia, e fez gol de tudo que é jeito.

Confesso que já estava até esperando a reprise da novela “Neymar e seu destino” ser veiculada no “Vale a pena ver de novo”. Não deu nem tempo.

Nos últimos dias, presenciamos o “Grande Prêmio Neymar de Fórmula 1 (71)”. Jornalistas, “jornalistas” e palpiteiros descarregaram a metralhadora do achismo na ânsia de ser a pessoa que descobriu onde o queridinho do Brasil vai jogar. A cada instante uma notícia diferente aparece. Nenhuma certeza. O filme do início da década se repete.

Em que pese o fato de que a especulação (por mais indícios que apresente) é uma das partes mais desnecessárias do já desprezível jornalismo esportivo, ninguém mais tem saco pra isso. Deus, o mundo, eu e você sabemos que se um dia o Neymar sair do Barcelona, ele vai jogar em um time que tenha dinheiro para pagar sua multa, e aparentemente, só o time de Paris tem dinheiro (e vontade) o suficiente para descarregar um caminhão de dinheiro (ainda mais porque gastar dinheiro dos outros é mais fácil).


Eu não entendo nada de jornalismo, absolutamente nada. Mas creio que existam pautas mais interessantes do que saber os motivos que fazem um ser humano querer ganhar muito dinheiro em uma das cidades mais bonitas do planeta. Também imagino que se for pra ficar fazendo fofoca e levantando boatos, eu posso muito bem ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de entendedores de futebol.

Apenas para finalizar, outro ponto que já exterminou a paciência: “Neymar vai para o PSG para ser o melhor do mundo”. TODO O PLANETA sabe que esse prêmio é a coisa mais previsível do mundo, e que se o prêmio não ficar com Messi ou Cristiano Ronaldo, ficará com ele. Toda a galáxia sabe também da linda historia de amizade entre ele e Daniel Alves. Ninguém mais tem saco pra ouvir essas baboseiras que relembram os piores momentos da tenebrosa “Malhação”.

Dito isto, desejo boa sorte para todos que se martirizam acompanhando o noticiário esportivo.

Aquele abraço. É Tóis.

FUTEBOL É PARA POBRE, RICO E ATÉ MESMO PARA ALGUNS IDIOTAS

por Mateus Ribeiro


Vivemos dias difíceis em todos os aspectos de nossas vidas. Seja no âmbito social, seja no pessoal, seja no econômico, já diria aquele ditado, “não está fácil para ninguém”.

Como se não bastasse o Celtic x Rangers da nossa política, a crise social, o Tsunami de preconceito e intolerância, nossa maior paixão, o já judiado futebol, passa por um período nebuloso.

Não é de hoje, todos nós sabemos, que passamos por dificuldades dentro e fora de campo. A qualidade foi para o fundo do poço, seja dos nossos jogadores, seja dos nossos queridos cronistas que aprenderam futebol através de jogos eletrônicos. Como se todo esse cenário todo não bastasse, nosso bolso também sofre.

Ingressos com preços de uma cesta básica (não só aqui, mas em qualquer lugar do mundo) para assistir um futebol tão empolgante quanto um acústico do Julio Iglesias representam um crime hediondo da pior espécie. É o fenômeno dos estádios faraônicos, construídos para atender a vontade de dirigentes e empresários gananciosos ,atingindo quem deveria ser espectador, e virou vítima: o pobre torcedor.


Qualquer um que seja um pouco mais esperto sabe que para se assistir qualquer partida de futebol hoje, uma mísera nota de 50 reais já não é mais suficiente. Se você tiver o azar de torcer para algum time de primeira divisão, o buraco é mais fundo, uma vez que alguns ingressos ultrapassam os três dígitos na hora do pagamento. Uma pornografia. Um valos obsceno.

Estamos falando do futebol. o esporte que um dia uniu povos. O esporte que faz o dono da empresa sentar ao lado do desempregado. O esporte que faz o presidente da nação abraçar quem ganha mil vezes menos que qualquer político na hora do gol. O esporte que não precisa de mais do que uma bola para ser praticado. Acredite se quiser, o futebol é tudo isso, apesar de ter virado essa balada top nos dias atuais.


O mais triste de tudo: existe quem defenda isso. E não estou falando de “torcedor” que paga 500 reais pra gritar que é brasileiro com muito orgulho e com muito amor. Estou falando de cachorro grande. Mais precisamente de Alexandre Kalil.

Alexandre é uma das personalidades mais abomináveis e desnecessárias do mundo do futebol. Um falastrão, que sempre se notabilizou por suas opiniões polêmicas . A sua diferença para dirigentes antigos é que Kalil não tem carisma. E provou também não ter caráter, ao afirmar que “… no mundo inteiro, futebol não é coisa para pobre…”, dentre outros impropérios. Para quem tiver estômago, segue o link : https://brasil.elpais.com/brasil/2017/07/14/deportes/1500068233_300420.html

Pois bem, vamos aos fatos. Realmente, o ingresso é caro, muito caro. Acontece que pessoas que já vivenciaram (e talvez vivenciem ainda) o meio do futebol, DEVERIAM fazer o mínimo de esforço para mudar o quadro. Como é que quem ganha um salário mínimo vai ter a oportunidade de levar os filhos, o par amoroso, os pais, ou até mesmo ir sem companhia ver seu time do coração? Chega a doer os olhos ler uma declaração dessas, ainda mais vindas de quem sempre se mostrou torcedor do clube que dirigiu. Porém, tais palavras se mostram fundamentadas partindo de alguém que aparentemente gosta muito de dinheiro, já que o fanfarrão ajeitou seu burro na sombra através da maneira mais fácil de se ganhar dinheiro sem fazer nada, ao conseguir se tornar prefeito da capital mineira.

É claro, óbvio e evidente que essa banana podre não vai se importar com o torcedor, com o povo, com a situação do futebol atual, que seja. Não apenas ele, mas grande parte dos dirigentes, gestores, políticos que poderiam mudar a situação dos fãs de um dos maiores PATRIMÔNIOS CULTURAIS do nosso país estão se lixando. O importante é o bolso cheio, mesmo que seja com o estádio vazio.


(Foto: Agência O Globo)

O plano de transformar estádios em camarotes vips para a turma mais abastada continua a todo vapor. Em Minas Gerais, em Itaquera, e em todo lugar do planeta, como disse o já citado mandatário. A elitização só não é um fato consumado porque ainda existe quem sacrifica o lazer para se martirizar em uma partida de futebol do clube do coração.

Apenas para finalizar, é legal ver o rico no estádio. Mas é legal ver o pobre também. Da mesma forma que é legal ver todo mundo. Afinal, o futebol é para todo mundo. Para o rico, para o pobre, e para alguns imbecis. você pode se encaixar onde quiser, Kalil!

VINTE E TRÊS ANOS DE AMOR

por Mateus Ribeiro


Vinte e três anos de muito amor e saudade. Vinte e três anos de lembranças que levarei até meus últimos dias.

Vinte e três anos é o tempo de uma vida. Vinte e três anos é o tempo que meu time ficou sem conquistar um título importante. Vinte e três anos é o tempo que a Copa de 1994 está em minha vida. E nunca mais sairá.

Pouco importa se a média de gols foi baixa. Pouco importa se você discorda. Pouco importa se o Brasil jogou feio (como alguns dizem).

Meu primeiro contato com futebol não me apresentou jogadores, mas sim, heróis. Meu primeiro contato com o futebol não poderia ter sido melhor.

Seja pelos jogos ao meio dia, seja pelo simples fato de eu poder assistir futebol 24 horas por dia, seja pelos uniformes escandalosos, seja pelo Brasil ter conquistado o tetra, seja lá o que for: eu te amo e te amarei eternamente, Copa de 94!

Em 1994, eu não fazia muita ideia do que era uma Copa do Mundo. Só sei que só se falava nisso. Resolvi perguntar para meu pai e ouvi dele que a Copa era “jogo de futebol o dia inteiro”. em um tempo que TV por assinatura era um sonho mais que distante, essa resposta foi música para meus ouvidos.

Fiquei ansioso esperando pela abertura do evento. E descobri que toda a ansiedade foi em vão, pois odiei a cerimônia. Aliás, não sei se foi pelo trauma de ver a Diana Ross fazendo aquele papelão, ou pelo simples fato de eu detestar qualquer tipo de enrolação, faço questão de perder toda e qualquer cerimônia de abertura e encerramento de eventos esportivos.

Passado isso, eis que no primeiro jogo, a Alemanha já me deixou encantado com aquele uniforme lindo. Aliás, cada uniforme maravilhoso que vi nessa Copa. Tudo era muito bonito e colorido, e mesmo aquela camisa Jeans dos EUA, ou aquela aberração que foi o segundo uniforme do México me deixaram encantado. Ainda tive tempo de ficar apaixonado pela camisa branca da Holanda, pelo azul eterno da Itália, pelos carnavalescos uniformes de Marrocos e da Irlanda, pelas camisas da Adidas, e pela emblemática camisa azul da Seleção Brasileira. Definitivamente, foi a Copa dos uniformes.



Com oito anos de idade, obviamente que eu não era lá profundo conhecedor de jogadores estrangeiros. Aquele mês foi o suficiente para eu conhecer meus primeiros ídolos gringos. Batistuta, Hagi, Stroichkov, Bergkamp, Larsson, e tantos outros que se tornaram referências para mim.

De longe, foi a Copa que mais reuniu craques e bons jogadores, na minha opinião, é claro. Praticamente, todo time tinha uma estrela, ou um jogador capaz de decidir partidas. E não eram só jogadores de ataque que eram estrelas, não. Baresi, Pagliuca, Preud´homme, Maldini, Aldair, Branco e muitos outros defensores me fizeram tomar gosto por sistemas defensivos.


E o que dizer do Brasil? Taffarel, o citado Aldair, Dunga, Branco, Romário, Bebeto e Mauro Silva viraram meus heróis. Acredite se quiser, meu sonho era ser como qualquer um desses caras. Percebe-se que não consegui, entre outros fatores, por eu não ter talento para a prática do esporte bretão.

O gol de Branco contra a Holanda, o “Eu te amo” de Bebeto para Romário, o gol salvador do Baixinho contra a Suécia na semifinal, o pênalti defendido por Taffarel na final, todos esses momentos moldaram meu caráter futebolístico.

Hoje, dia 17 de julho, a final da Copa completa vinte e três anos. Vinte e três anos daquele que foi talvez o maior jogo que vi na vida. Não importa se não foi o jogo mais emocionante. Não importa se o nível técnico foi baixo. A final da Copa foi como a cereja de um bolo que eu insisto em lembrar o sabor vinte e três anos depois.


Praticamente todos os momentos que presenciei entre junho e julho de 1994 foram mágicos para mim. Levarei eternamente em meu coração e em minha memória cada segundo que vivi durante a Copa mais mágica que assisti na minha vida.

Deus salve Yekini e sua comemoração. Deus salve Baggio batendo o pênalti pra fora. Deus salve Escobar, esteja onde estiver. Deus salve a Romênia e a Bulgária, que tanto me encantaram. Deus salve Lalas e Balboa. Deus salve Meola. Deus salve Taffarel. Deus salve Ravelli. Deus salve a Copa de 94, e mantenha nosso amor intacto.

 

SAUDADES DO QUE NÃO VIVI

por Mateus Ribeiro


Qualquer ser humano que não tenha passado os últimos Séculos fora do Planeta Terra sabe que o futebol é um caminhão de emoções. Alegria, tristeza, frustração, decepção, agonia, euforia, e tudo mais que um torcedor possa sentir. É fato que algumas outras atividades e situações de nossa vida podem trazer tamanha carga emocional também, porém, apenas e tão somente o futebol consegue trazer o sentimento mais absurdo e inexplicável de todos: a saudade do que nunca se viveu.

Como um apaixonado, são vários os momentos que eu gostaria de ter vivenciado. Depois do gol de Basílio em 1977, talvez o momento que eu mais queria ter presenciado foi aquele fatídico 05 de julho de 1982. A Tragédia do Sarriá, que completa 35 anos exatamente hoje, foi meu maior trauma futebolístico durante alguns anos. Desde que me conheço por gente, sempre ouvi meus pais falando de um tal Paolo Rossi, sempre com os adjetivos mais carinhosos possíveis. De tanto ouvir meu pai falando de Cerezo, Falcão, Paolo Rossi, Sócrates, Sarriá, eu queria saber o que de tão estarrecedor aconteceu 03 anos, 03 meses e 28 dias antes do meu nascimento, e que mesmo assim, mexia demais comigo.

Certo dia tomei coragem e perguntei para Papai o motivo de 1982 ser um tabu tão grande. Ouvi que “depois de 1950, foi a derrota mais amarga do futebol brasileiro”. Não perguntei mais muita coisa, afinal, com oito anos de idade não conseguiria digerir nada de muito relevante. As coisas começaram a mudar de figura quando, durante a Copa de 1994, ouvi um parente falar que “se a Seleção de 82 não ganhou a Copa, não seria a de 94”. Ouvir aquilo me deixou extremamente nervoso. Afinal, se a Seleção de 1994 estava longe de ser aquelas coisas, pelo menos para este que vos escreve, aquele elenco era um verdadeiro apanhado de heróis, a Liga da Justiça Copeira. Além do que, tudo aquilo me despertou um questionamento: “Se o time de 94 pra mim é bom, imagino como é esse time de 82”. E desde aquele momento, decidi que seria questão de honra ver Romário, Dunga, Taffarel e sua turma vingarem as vítimas de Paolo Rossi.

Após o fim da Copa de 94, a euforia do título apagou um pouco dos questionamentos sobre a derrota tão falada na minha família e nos programas esportivos.

Depois da porrada de 1998, já estava mais velho, e mais preparado para sofrer. Sendo assim, resolvi por mim mesmo pesquisar sobre a Copa de 1982. Na época, Internet era um sonho distante. Comecei a me virar com livros, revistas e alguns VHS que contavam a triste historia daquele Mundial.

Descobri que a Seleção só tinha feras, todos comandados por um treinador de renome, o grandioso Telê Santana. Realmente, foi difícil entender como aquele esquadrão conseguiu perder uma Copa.


Munido de algumas informações, fui questionar meu pai (minha eterna referência futebolística) sobre a derrota por 3 a 2, e ouvi uma frase emblemática: “Não existe time invencível”. A frase entrou na minha cabeça de uma forma quase hipnótica. Depois de ouvir isso, comecei a analisar as coisas mais friamente.

A Copa de 2006, e todo o seu carnaval em cima do famigerado “quadrado mágico” me fez viver talvez aquilo que muita gente viveu em 1982: a sensação de que a taça estava garantida, e de que ninguém poderia parar o Brasil. Novamente, um time de azul apareceu no meio do caminho e acabou com os planos. Sem comparações, mas isso foi o mais próximo que vivi de 1982. Talvez com a diferença de que eu jamais acreditei naquela turma que o Parreira levou em 2006, enquanto em 1982, imagino que o país todo viveu um conto de fadas.

Aprendi que o brasileiro tem uma facilidade gigantesca em se empolgar. Seja com um time mágico, seja com um time ok que consegue resultados obrigatórios, como classificação para a Copa, Copa das Confederações e Copa América. Aprendi também que jamais deve se subestimar um adversário do porte da Itália. Independente da fase.

Mas tudo isso não importa. Posso tirar toda e qualquer conclusão. Queria estar vivo e assistindo ao jogo entre Brasil e Itália naquele 05 de julho de 1982. Gostaria de ter chorado, de ter ficado cheio de raiva, de ter xingado o Telê, o Cerezo. Queria ter a oportunidade de mandar o Paolo Rossi para o inferno, queria achar um culpado, queria falar que a arbitragem teve alguma culpa (mesmo que isso fosse mentira, pra um perdedor é ótimo usar isso como justificativa), queria chutar a tv, queria assistir aos programas esportivos da época. Dane-se que a Itália foi correta. Dane-se que o Brasil tinha falhas. Eu queria (e quero) voltar no tempo para poder viver aquele triste dia. Afinal, o futebol não é feito apenas de rosas, possui seus espinhos. E garanto que os espinhos daquele 05 de julho calejaram muita gente, que depois pode comer o filé 1994 e 2002, após roer o amargo osso em 1982.


Pode parecer loucura, mas sinto falta de ter passado alguma decepção com uma derrota da Seleção. Conforme mencionei acima, passei por algo similar em 1998, mas depois daquilo, nunca mais torci pelo time verde e amarelo. Não por causa da Copa em si, mas pelos personagens que começaram a frequentar as convocações, tudo o que envolve o time da CBF, enfim. Em 2002 já ligava para a Copa do Mundo tanto quanto ligo para o preço do petróleo. Já não fazia sentido sofrer por aquilo, e até hoje não perco um segundo sequer ouvindo Tite, Dunga, Scolari, ou quem quer que seja. Mas passo horas vendo o time de 1970, o de 1958, e até mesmo o time “perdedor” de 1982. E o de 1986 também. Afinal, sempre existe o que possa se aprender, mesmo nas derrotas.

E lá se vão 35 anos. Apesar de tantos anos, continuo com a mesma saudade do que nunca vivi. Continuo com a mesma tristeza por não ter ouvido meu pai falar do time de Telê com o mesmo sorriso no rosto que falava do time de Zagallo (e Saldanha). Porém, como não gosto de passar vontade, uma eu não vou deixar passar: VÁ PARA O INFERNO, PAOLO ROSSI.

E você, qual a saudade do que você nunca vivenciou? Conte pra nós!

A NOITE QUE NÃO ACABOU. E JAMAIS ACABARÁ.

por Mateus Ribeiro


Mateus Ribeiro

Existem poucas coisas que eu gosto na minha vida. Poucas mesmo, sem exagero. Acontece que essas poucas coisas (e pessoas) que gosto, recebem meu amor da forma mais intensa possível. Posso afirmar com toda a certeza, que dentro do seleto clube que reside em meu coração, o inquilino que ocupa mais espaço é o Sport Club Corinthians Paulista.

Desde minha infância, tudo, absolutamente tudo que vivi teve alguma ligação com o Alvinegro de Parque São Jorge. Inúmeras são as lembranças, as alegrias, e as decepções. E no campo das decepções, nenhuma me deixava mais chateado do que nunca ter conquistado a América.

Conforme os anos foram passando, essa frustração apenas aumentava, graças a nomes como Adílson Batista, Coelho, Cocito, Roger, Geninho, e uma infinidade de seres que desejo nunca mais ver na minha frente.

Até que quando menos eu esperava, as coisas começaram a mudar de patamar. Da maneira mais improvável possível, o clube marginalizado, alvo das piadas mais baixas e preconceituosas possíveis, o patinho feio entre os quatro paulistas, saiu do poço e chegou ao topo. Após 1676 dias, o Corinthians saiu de um rebaixamento para a Série B do futebol Brasileiro, e chegou até o topo da América. De maneira suada. Incontestável. Como eu sempre quis. Como deveria ser.

O início amargo


Tudo começou naquele fatídico dia da eliminação para o Tolima, na pré Libertadores de 2011. Após a dura derrota, fiquei extremamente feliz com a saída de alguns nomes do clube. Principalmente com a saída do lateral e do atacante que queriam apenas aumentar a conta bancária em cima do Corinthians. Passada toda essa turbulência, o time foi entrando nos eixos, apesar da presença de Adriano. Após árduas batalhas, o Corinthians consegue conquistar seu quinto Campeonato Brasileiro, que garantia aos comandados de Tite a chance de disputar a Libertadores no ano de 2011. O primeiro passo havia sido dado.

Não precisa ser nenhum gênio para imaginar que a cada minuto do meu dia algum infeliz me lembrava que o Corinthians não tinha conquistado a Libertadores. Ficava calado. Não respondia. Uma hora eu iria conseguir me vingar.

Bom, está certo que o início não foi dos melhores, e quase que a vaca deita na estreia. Sorte que Ralf livrou nossa cara com um gol na bacia das almas, e empatamos contra o modesto Deportivo Táchira. É claro, óbvio, e evidente que Deus e o mundo tripudiou em cima de nós, torcedores, por comemorarmos o empate como se fosse uma vitória. Mal sabiam eles o que ainda estava por vir…


Jogo após jogo, a primeira fase foi um passeio. Exceção feita ao jogo contra o Cruz Azul no México, tudo correu tranquilamente na primeira fase, e o Corinthians passou com sobras, para nossa alegria. Afinal, enquanto há vida, ainda há esperança. E ela estava cada dia mais viva e radiante dentro dos nossos corações.

O fator Cássio

Nem tudo são flores. No meio do caminho, o goleiro titular Júlio César fez o que era sua especialidade: falhou na hora que não poderia falhar. Contra a Ponte Preta, pelo Paulistão, nosso querido Horácio entregou a rapadura, e ajudou a construir uma eliminação vexatória. Resultado: Júlio vai pro banco.

Para assumir a meta alvinegra, Tite escolheu Cássio, que era o terceiro goleiro, e havia feito uma ou outra partida pelo time titular. No meio da fogueira, sem nenhum tipo de alívio, Cássio iniciou sua caminhada na partida de ida das oitavas de final, contra o Emelec, no Equador. Além da altitude e de uma arbitragem no mínimo tendenciosa, os Equatorianos mostraram que também tinham o futebol como arma, e bombardearam Cássio, que demonstrando uma segurança ímpar, segurou o empate sem gols, o que deixou as coisas um pouco mais tranquilas.

Já no jogo da volta, um 3 a 0 mandou o Emelec de volta pra casa. Mal o jogo havia acabado, fui obrigado a ver dezenas de sábios (por “coincidência”, nenhum era torcedor do Corinthians) comentando que nas quartas, o Corinthians não teria chances contra o Vasco da Gama.


Após mais um empate com o placar zerado, no jogo da volta, bastava uma vitoria simples para a classificação se concretizar. Porém, o senhor Alessandro resolveu deixar tudo mais emocionante, e me fez viver os oito segundos mais tensos da minha vida. Sorte que pela primeira vez, Cássio livrou a cara de Alessandro. A dele e a de mais uns 30 milhões de torcedores espalhados pelo planeta.

Depois dessa defesa, mal conseguia coordenar meus movimentos. Só queria que aquilo acabasse logo. E acabou da melhor maneira possível, com um gol de Paulinho no final da partida. Alma lavada, mas o caminho era longo.

Obrigado, Sheik e Danilo!

Nas semifinais, o adversário era o Santos, que contava com os queridinhos Ganso e Neymar. Desnecessário dizer que o favoritômetro estava quase explodindo, pois 11 entre 10 comentaristas davam como certa a classificação do Alvinegro Praiano. Só esqueceram que do outro lado estavam 11 homens com sangue no olho, e vestindo uma camisa que jamais pode ser subestimada.


Logo no primeiro jogo, Sheik calou muita gente com uma obra de arte. Além do gol do atacante, Cássio fechou o gol, e garantiu a vitoria do Timão no campo adversário. Mesmo com direito a um apagão “suspeito”, por “coincidência” no momento que o Corinthians tinha chances de fazer o segundo gol.

No jogo da volta, o nosso amado e letal Danilento fez o tento que nos colocou na inédita final. Meu coração estava quase saindo pela boca. A sensação era indescritível, e eu já não estava mais acreditando que o sonho era real. Enfim, faltavam só mais dois jogos.

Boca Juniors. O adversário ideal. O final perfeito.

Sempre tive na minha cabeça um modelo ideal para o Corinthians ganhar a Libertadores: eliminando o máximo de brasileiros possível, e pegando um time temido na final. A presença do Boca Juniors como adversário não poderia ser melhor.

Obviamente, sentia um pouco de medo de enfrentar o bicho papão do século XXI, ainda mais sabendo que Riquelme estava deitando e rolando.


Enfim, quem precisa de Riquelme quando se tem estrela de campeão, não é? Pois bem, mais uma vez, um herói improvável surge através dos pés de Romarinho, que em seu primeiro toque na bola nos garantiu o empate. Só não digo que ele calou a Bombonera pelo simples fato de que havia um bom número de torcedores do Corinthians por lá.

No jogo da volta, o nervosismo foi embora através de dois gols de Sheik. Tudo foi muito rápido. Eu não conseguia falar nada após o segundo gol, não conseguia chorar, nem rir, nem falar. Apenas relembrar de todas as lágrimas que derramei até o apito final daquela partida.

Veio o apito final. E com ele, um caminhão de sentimentos.


Ao mesmo tempo que gritava, chorava, pulava, agradecia aos céus, queria sair correndo, abraçar todo mundo que estava no mesmo bar que eu. Sei que numa dessa acabei na praça da cidade comemorando o título até sabe se lá Deus que horas. Me lembro inclusive de ter descido de um caminhão e quase dar com a cara no asfalto, de tão feliz (e bêbado) que fiquei. Mas naquela noite, eu poderia me exceder. Aquela noite foi mágica. Aquela noite permitia qualquer excesso. Aquela noite de 04 de julho de 2012, a noite que nunca acabou.

E depois daquela noite?

Depois veio a conquista do Mundo, mais dois Paulistas, um Brasileiro, uma Recopa, e muitas emoções. Mas nenhuma se compara com a emoção que vivi naqueles longos meses de 2012, o ano que o mundo iria acabar. Para mim, poderia ter acabado ali mesmo. Afinal, já havia visto meu time ganhar tudo o que poderia ganhar.

Por sorte, o mundo não acabou, e cinco anos depois, posso agradecer Cássio, Alessandro, Castán, Fábio Santos, Ralf, Paulinho, Alex, Danilo, Jorge Henrique, Sheik, Romarinho, Liédson, Douglas, Tite e tantos outros guerreiros que escreveram seu nome na historia do Sport Club Corinthians Paulista. Após anos roendo o osso, chegava a hora de aproveitar o filé.

Contra todas as expectativas. Contrariando todos os prognósticos. Contra o Brasil. Contra a América. Contra o Mundo. Contra tudo e contra todos. Porque aqui é o CORINTHIANS. Daqui até a eternidade!