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Livro

FOTBAL – AVENTURAS, TRISTEZAS E ALEGRIAS ROMENAS

por Igor Serrano


Football Manager é um famoso jogo de computador onde o jogador tem como função ser o manager de um time de futebol e no que isso implica (escalar e contratar jogadores, dentre outras possibilidades). Durante o jogo, não aparecem imagens das partidas que o time sorteado ao jogador estaria disputando. Apenas são informados os lances que acontecem nela.

Agora imagine a seguinte situação…


Um garoto brasileiro de doze anos começa a jogar o referido jogo e cai no sorteio para ele o Universitatea Craiova da Romênia. Tudo que aquele garoto sabia sobre o longínquo país é que tinha um tal de Hagi, de quem seu pai falava muito bem, e a Seleção Romena jogava de amarelo (informação obtida graças ao jogo de futebol do videogame Super Nintendo).

Com o tempo a empolgação gerada por aquele time, até então desconhecido, gerou no garoto uma curiosidade sobre a equipe propriamente dita e também pelo país. Assim descobriu a curiosa história do Craiova. O clube (FC Universitatea Craiova) foi extinto em meados de 2011, deixando uma fiel torcida órfã de seu passado de títulos. Alguns anos depois, outro clube foi fundado com o nome semelhante (CS Universitatea Craiova), com outros proprietários, mas alegando ser a continuidade do extinto clube. Não demorou para um grande imbróglio ser instaurado com a ressurreição do clube original. Dois times com nomes idênticos e lutando por uma mesma identidade e torcida.

Em poucos anos, mais velho, o garoto criou um blog sobre o futebol romeno e o intitulou de “O Craiovano”. Na faculdade, decidiu fazer do trabalho de conclusão do curso de Comunicação Social um documentário sobre o futebol romeno e a situação do Craiova. Para tanto, autodidata, aprendeu a falar, ler e escrever romeno apenas com material encontrado na internet. 


Fez alguns contatos pela internet, virou notícia em um jornal da Romênia com a proposta do documentário e ao longo da jornada em solo romeno conseguiu entrevistar diversos jogadores e…Hagi, o grande ídolo do futebol do país e destaque na Copa de 1994.

Essa poderia ser mais uma grande história de cinema. Mas não é. Ela aconteceu e o nome do personagem é João Vítor Roberge. A saga do catarinense torcedor do Vasco da Gama e fã do futebol romeno não poderia ser apenas contada aos professores e alunos da Universidade Federal de Santa Catarina. Ela merecia ser divulgada a todos. E foi. Assim surgiu “Fotbal – Aventuras, tristezas e alegrias romenas”, livro em que João detalha o futebol romeno e seus clubes, a inusitada clonagem do Craiova e principalmente a jornada à Romênia para o documentário do TCC de jornalismo na UFSC:

“Fotbal é dois em um. Metade história do futebol romeno, metade história do documentário Craiova versus Craiova, desde 2006. E é o novo lançamento da Multifoco Editora e do Selo Drible de Letra, que já tem data marcada. Quem vem acompanhando O Craiovano nestes quatro anos já viu blog, documentário sobre a história do Universitatea Craiova e até entrevista exclusiva em vídeo com Gheorghe Hagi. Agora é a vez do livro, para trazer o futebol romeno em uma forma completa e descontraída, diferente de qualquer livro sobre futebol que você já leu. Até porque quem já viu livro sobre o fotbal, certo? O fotbal vive. O Romenão é gigante”. 

Fotbal será lançado em setembro em Santa Catarina.

DIGA ESPELHO MEU

por Zé Roberto Padilha


Zé Roberto

Acabara de chegar das Paineiras onde melhorava meu tempo na subida dos 5 km. Todo feliz por chegar ao lado do Pintinho e do Edinho, morava no Humaitá e perguntei orgulhoso ao meu espelho em 1972: “Será que existe um ponta esquerda que corra mais do que eu?” Ele respondeu: “Sim, seu nome é Dirceuzinho e joga no Coritiba.”

Não desisti. Continuei a treinar forte, tomar vitaminas, dormir cedo e era sempre o primeiro da fila nos exercícios físicos. Certo dia, dois anos depois, alcancei em 1974 na planilha de Carlos Alberto Parreira 3.120m em 12 minutos do Teste de Cooper. Muitos jogadores do elenco tricolor sequer alcançaram a marca dos 3 km. Me sentindo um queniano, retornei ao espelho, já morando na Rua do Catete, e ele novamente baixou minha bola: “Sim, Dirceuzinho, já no Botafogo, alcançou 3.475m. Recorde brasileiro entre jogadores de futebol.”

Aí veio nosso primeiro duelo num clássico vovô, e ele aconteceu por todos os lugares do campo, onde a bola estivesse. Até a primeira metade da década de 70 o camisa 11 enfrentava o camisa 2, Garrincha com a 7 enfrentava Joãos com a 6, e o 9 ficava entre a zaga dos números 3 e 4, esperando que o 10 viesse detrás e decidisse a partida. Eram vários duelos à parte, em locais específicos dentro de uma mesma partida de futebol. E era estranho para mim, e para o Dirceuzinho, diante de tamanha correria, duelar em locais nunca antes defrontados. “O que será que este ponta esquerda está fazendo por aqui?”


Dirceuzinho na seleção

Peladeiros nas derrotas, polivalentes nas vitórias. Deste jeito, fomos buscando com nossos pulmões espaços no futebol-arte. Acabamos sendo motorzinhos da mesma máquina de jogar futebol, eu em 75, ele em 76. Nossa missão era a mesma: cobrir o Marco Antonio, depois o Rodrigues Neto, e liberar o PC, o Rivellino e o Edinho para atacar os adversários. Fomos bicampeões cariocas. Mas as seguidas contusões não me permitiram mais tentar alcançar seu tempo, sua bola: fui para Recife defender o Santa Cruz, ele alcançou a seleção brasileira. Desta vez o espelho bateu o martelo em Boa Viagem, era um reflexo bonito de frente para o mar: “Dirceuzinho, realmente, fora bem mais longe do que eu!”


Já não era mais meu adversário. Era seu fã. Cada convocação sua alimentava dentro de mim um estímulo que nos ajudou a continuar a profissão diante da perda dos meniscos, dos tornozelos fraturados, de uma hérnia inguinal rompida. Se não machucasse tanto, pensava no cotidiano do departamento médico, poderia continuar me espelhando, buscar seus feitos como buscava seus tempos, quem sabe, um lugar melhor na história do futebol brasileiro.

Um tempo depois, o espelho se quebrou. Dirceu José Guimarães, nascido como eu em 1952, precocemente, nos deixou. Hoje, ao acordar e escovar os dentes, por instante vi refletido, infelizmente esquecido, o tamanho da sua importância para o nosso futebol. Três Copas do Mundo, terceiro melhor jogador do planeta em 1978. Daí peguei a caneta e tratei de lhe fazer justiça, pois em matéria de gratidão e respeito a sua obra, pensei, ninguém vai ser mais rápido do que eu. Que saudades, parceiro!