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JOHN TEXTOR: “TEMOS DINHEIRO”

por Elso Venâncio


O megainvestidor John Textor vem empolgando os botafoguenses, que voltaram a lotar o Estádio Nilton Santos.

Personagem simples, carismático, que aparece sorridente nos jogos com uma latinha de cerveja na mão e é sempre atencioso com os torcedores, o norte-americano promete sacudir o futebol brasileiro na janela do meio do ano. Sem demonstrar arrogância, Textor avisa:

– Temos dinheiro… O Barcelona não tem.

O uruguaio Cavani não vai renovar com o Manchester United, da Inglaterra. O artilheiro fica livre agora em julho. Eran Zahavi, do PSV Eindhoven, da Holanda, é outro cotado. Na ‘Era Textor’, já foram investidos R$ 65 milhões em mais de dez contratações. Dois “Evertons” – o “Cebolinha”, do Benfica, e o Ribeiro, meia do Flamengo – foram sondados.

O dirigente conversa com a Nike para fornecer o material. A Reebok, comprada recentemente pela Adidas, também está em pauta.

No fim dos anos 80, o cofre estava cheio no clube graças ao poderoso bicheiro Emil Pinheiro. Carlos Alberto Dias e Fernando Macaé desviaram seus destinos. Trocaram, de forma surpreendente, a Gávea por Marechal Hermes (General Severiano só retornaria ao clube em 1995, na gestão Montenegro).

Mauro Galvão e Paulinho Criciúma foram liberados por Castor de Andrade, outro magnata do jogo do bicho. Chegou, logo depois, o técnico Valdir Espinosa, e com ele o tão esperado título estadual de 1989, que quebrou um longo jejum de 21 anos.

Voltando ao momento atual, há o desejo de se construir um novo estádio de 25 mil lugares, já que no Nilton Santos o torcedor fica distante do campo. O modelo seria o Crystal Palace, que possui o Selhurst Park Stadium.

Outra medida que o dirigente coloca em pauta: encontrar uma fórmula para aproximar as categorias de base dos profissionais:

  • – Eles tem que o interagir. Estão distantes hoje em dia.

Roberto Palli é um botafoguense apaixonado, que até já trabalhou no seu clube do coração como preparador físico. Ele me disse que um amigo seu estava com a esposa num pub londrino quando um rapaz se aproximou perguntando:

  • – Vocês falaram ‘Botafogo’? São brasileiros?

Ele se apresentou como filho do bilionário e ligou para o pai, que estava em Londres.

  • – Que coincidência espetacular! Me esperem aí, chego em 20 minutos! – disse Textor.

E foi mesmo.

Entre um drinque e outro, conversaram por mais de duas horas sobre o passado e o presente do Glorioso.

– Penso 24 horas em fazer um grande time.

O torcedor sabe das coisas, sente os novos ares. Voltou a caminhar nas ruas com a camisa alvinegra e a apoiar o time nos jogos. Textor não é bicheiro, como Emil. Mas, assim como ele, tem demonstrado enorme carinho por seu novo “negócio” – no caso, o Alvinegro de General Severiano.

Esperemos que a má fase acabe de vez e o time retome seu lugar de ponta no cenário esportivo nacional.

O CRAQUE DO BRASIL EM 2013

por Luis Filipe Chateaubriand


Ronaldinho Gaúcho apareceu com destaque em 1999.

Dali, foi crescendo, crescendo, crescendo… até que nos anos de 2003, 2004 e 2005 foi, simplesmente, o melhor jogador do mundo!

Muitos diziam naquela época que, inclusive, alcançaria a excelência técnica de Pelé.

Aí, veio o grande erro de Ronaldinho Gaúcho: entre a farra e a bola, escolheu a primeira.

Seu futebol foi definhando, definhando, definhando.

Virou uma caricatura de si próprio.

De repente, não mais que de repente, o homem partiu para uma reviravolta.

Em 2013, levou o seu Atlético Mineiro ao título inédito da Copa Libertadores da América.

Repertório vasto, jogadas de classe, inteligência ímpar, o homem fez a diferença para o título.

E, por isso, foi o craque do Brasil do ano de 2013!

GERSON, O CANHOTA GENIAL

por Péris Ribeiro


O Estádio Jalisco inteiro ouviu quando a mágica canhota de Gérson bateu na bola, a uma distância de mais de 40 metros, para fazê-la viajar, certeira, até encontrar o peito abençoado de Pelé, naquele segundo gol do Brasil na Copa de 70, contra a Tchecoslováquia – que vencemos por 4 a 1.

Dotada, porém, de mil outras magias, aquela canhota milimétrica era capaz de guardar força, malícia e precisão quando a dramaticidade do momento assim exigia. Que o diga o goleiro Albertosi, ao se deparar com aquele petardo inesperado, aos 20 minutos do segundo tempo.

Então, irremediavelmente batido, pôde ver aquele time de camisas amarelas desempatar um jogo tenso. E caminhar para uns estrondosos 4 a 1 sobre a Itália. Consagração definitiva de Gérson. E, por extenso, daquele Brasil tricampeão do mundo. Um campeão quase perfeito, como nunca se vira antes.

Momentos como esses, é bem verdade, são para se guardar para sempre na retina da memória do torcedor apaixonado. Só que o que ele também faz questão de não esquecer, jamais, é daquele Gérson, Canhotinha de Ourode vários outros momentos épicos no futebol.

No início  da carreira, por exemplo, aquele garoto vindo de Niterói, parecia ser a arrogância em pessoa. E dizia sem qualquer pudor, para quem quisesse ouvir, que ia ser tão grande quanto Pelé, Garrincha, Didi e Zizinho – não por acaso, suas maiores admirações.

Por isso mesmo, é que não foi à toa que, já em 1961, com aquele topete enorme, calções arriados e muita habilidade no pé esquerdo, desse de encarar de igual para igual o Santos de Pelé, Coutinho, Pepe, Zito e outros cobras mais. E logo em São Paulo, em pleno Estádio do Pacaembu.

Justo onde o Flamengo, o seu time na época, enfiou uma histórica goleada de 5 a 1 nos santistas – três gols seus e dois do amigo Dida, supremo goleador da Gávea naqueles tempos – e arrancou para a conquista  do pomposo título de campeão do Torneio Rio- São Paulo. Uma espécie de Campeonato Brasileiro da época.

 Mesmo assim, e mesmo com toda a repercussão após aquela inesperada façanha, o começo do seu auge só ocorreu quando se mudou para General Severiano. Tanto que foi no Botafogo, que se transformou no herdeiro natural da camisa 8 do mestre Didi. Ali, Gérson comandava o time com uma visão de jogo rara.Inacreditável! E gritando palavrões com quem teimava em correr das bolas divididas – ou insistia em desafinar no entrosamento das jogadas -, portava-se em campo como o supercraque que era, mas também como um verdadeiro líder. Um técnico dentro de campo.

E foi assim, multiplicando-se sempre, que levou aquele Botafogo – que ainda contava com craques como Jairzinho, Manga, Roberto, Rogério e Paulo César Caju -ao bicampeonato carioca, em 1967/68. E a outro bi, o da Taça Guanabara, nos mesmos anos.

 Depois da consagração na Copa do México, eis que o Gérson que fomos encontrar era um gênio da bola a guardar fôlego e disposição para dar mais um bicampeonato, desta vez o paulista, ao São Paulo F.C. do então governador Laudo Natel – que não provava do doce sabor de um título havia 13 anos. E foi lá no São Paulo, que deixou transparecer ainda mais a sua vocação de líder, quando dizia :

 – O importante não é falar, é se fazer acreditar. Não quero que vejam em mim o “cobra” da Seleção. Grito, xingo…,mas corro e luto tanto quanto exijo dos outros.

   Carreira encerrada em dezembro de 1974, no Fluminense, aos 33 anos de idade, e ainda com lenha de sobra para queimar, o que Gérson sempre dizia, naqueles tempos, era que não estava preparado para ouvir ingratidões. Ou chacotas, como a de um torcedor bêbado nas gerais, a gritar num jogo qualquer de menor expressão: “ Corre atrás da bola, ô careca! Tá sem perna, pô!

Porém, se ele avaliasse mesmo tudo o que havia feito pelos campos, saberia bem o que estava deixando: uma bruta saudade da sua personalidade indomável, da sua liderança, da sua inacreditável visão de jogo.

E, mais do que tudo, da centelha mágica daquele pé esquerdo. Capaz de dribles que assustavam adversários, chutes que liquidavam goleiros. E lançamentos que provocavam a alegria dos goleadores e o encanto de todo e qualquer amante daquele futebol genial, jogado com um misto de técnica, arte e lucidez científica.

VOZES DA BOLA: ENTREVISTA SÁVIO

texto: Marcos Vinicius Cabral | edição: Fabio Lacerda


Sávio, um dos maiores dribladores do futebol brasileiro é aquele tipo de jogador que causava expectativas na torcida por suas inúmeras qualidades, e na maioria das vezes, o capixaba de dribles curtos, longos, desconcertantes e gols, fazia jus ao jargão rubro-negro: “Craque, o Flamengo faz em casa”. Era o tipo de jogador que valia pagar o ingresso.

Natural de Vila Velha, Sávio chegou ao Flamengo, em 1988, aos 14 anos. A partir dali, era natural e desafiador olhar para o plantel profissional, campeão da Copa União com diversos jogadores com passagem pela Seleção Brasileira, e vislumbrar que um dia levantaria a torcida do Flamengo jogando no time principal.

Aos 18 anos, Sávio é puxado ao time profissional pelo ex-craque como jogador e técnico, Carlinhos, apelidado de Violino, e torna-se campeão brasileiro atuando ao lado de Júnior, jogador que mais vezes vestiu o Manto Sagrado. O Anjo LoIro, entre categoria de base e profissional, teve a Gávea como casa. Até 1997, Sávio encantou com sua técnica aliada à leitura e inteligência de jogo. Era a flecha que disparava insinuante para cima dos zagueiros e laterais.

Sávio foi campeão carioca em 1996 após um ano de muita frustração com um time repleto de jogadores acima da média. E a cereja do bolo foi o ataque formado por ele, Romário e Edmundo, um ano antes. Não deu certo! Mas já pararam para imaginar se desse? Somente os ‘Deuses do Futebol’ teriam condições de explicar o inexplicável: por que o Ataque dos Sonhos virou um pesadelo?

No ano que deixou o Flamengo para juntar-se ao Real Madrid, em 1997, Sávio e a torcida podem ter tido a mesma sensação ou até mesmo uma lacuna deixada. Mas se o título do segundo campeonato nacional mais importante do Brasil não chegou antes da despedida – vice campeão para o Grêmio numa partida no Maracanã que o ponta-esquerda foi substituído por Lúcio depois de caçado em campo – , nove anos depois estava Sávio no time que venceu o Vasco da Gama no Maracanã, em 2006, quando, assim como ele, outrora, Obina caiu nas graças da torcida.

Aos 23 anos, Sávio torna-se merengue. E a partir daí, marcou seu nome na galeria de craques de um dos maiores clubes do planeta. Entre 1998 e 2002, Sávio continuou deitando e rolando. Desta vez, sendo campeão em profusão.

Sávio não deixou saudades somente no Real Madrid, clube pelo qual é o terceiro brasileiro com mais temporadas, atrás somente dos laterais-esquerdos, Roberto Carlos e Marcelo.

Em Zaragoza, a quinta maior cidade da Espanha e localizada a 300 quilômetros das vizinhas Barcelona, Madrid e Valência, Sávio também fez história e os títulos conquistados com a equipe possuem um grau de importância muito expressivo para o ex-jogador. Ser campeão da Copa Del Rey sobre o poderoso ex-clube e da Supercopa da Espanha, ambos em 2004. Foi um período curto no Zaragoza. O suficiente para marcar território no coração dos torcedores.

Nosso 43º personagem do Vozes da Bola, é o Anjo Loiro da Gávea, que fez um inferno na vida dos marcadores que muitas vezes apelavam para a violência.

1 – Como foi a infância de Sávio Bortolini Pimentel em Vila Velha no Espírito Santo?

Maravilhosa. Depois do meu horário da escola, passava a maior parte do meu tempo brincando nas ruas, mas jogar bola era minha paixão. Lembro bem que havia um campo ao lado da casa em que cresci. Minha infância foi boa porque tive a bola como minha melhor amiga. Para ser sincero, praticamente, eu dormia com essa ‘minha amiga’ (risos) quase todas às noites. O meu pai era um torcedor apaixonado pelo Fluminense, tricolor roxo, e eu cresci em uma família que mesclava botafoguenses, tricolores e flamenguistas. Ou seja, não teria como não gostar de futebol. Comecei jogando no Fluminensinho daqui de Vila Velha, time que era formado por garotos considerados bons de bola e que meu pai era o treinador. Em seguida, fui para a Associação Desportiva Ferroviária, clube grande daqui do estado. Comecei a disputar competições importantes na época. Despertei a atenção de alguns clubes como o Bahia, o Botafogo e o Vasco. No entanto, essas oportunidades acabaram não se concretizando. O destino me direcionou para o Flamengo com apenas 14 anos de idade.

2 – Como foi ter sido revelado nas divisões de base da Desportiva Ferroviária-ES?

A Desportiva Ferroviária representa muito para mim. Sou torcedor apaixonado, onde tudo começou. Joguei três anos e me orgulho em dizer isso, pela importância de realizar o meu sonho. Depois que recebi o convite do Flamengo, aos 14 anos, percebi que era a hora de ir embora e tentar alçar voos maiores para a carreira. Mas o início de tudo, eu devo a Desportiva, e é, sem dúvida, um clube inesquecível na minha vida e na minha carreira de jogador de futebol.

3 – Como foi sua chegada ao Flamengo em 1988?

Muito difícil. Imagine, você sair de uma cidade pequena como Vila Velha e chegar à ‘Cidade Maravilhosa’ para jogar em um clube do tamanho do Flamengo com apenas 14 anos? É complicado! Ver tantos jogadores chegando e ver a concorrência acirrada nos testes acaba se tornando algo especial. Mas não consegui nada sozinho. Tive o apoio de muitas pessoas, principalmente para fazer o deslocamento até o clube, já que eu morava longe. Foi uma rotina muito difícil para um adolescente de 14 anos. O Flamengo, à época, não dispunha da estrutura que tem hoje. Muito longe do que vimos nos dias atuais. Além das conduções para treinar, os locais mudavam muito. Tudo era estranho. Eu tive uma família a quem considero como meus pais, que me acolheu 18 meses. Esta família que me refiro era como a minha em Vila Velha no sentido de ser bem estruturada, sólida e unida. Nesse tempo, passei a morar na concentração do clube e acabei ficando lá por seis anos. Então, foi uma chegada difícil, houve obstáculos, lutas e situações novas que não estava acostumado. Agradeço a todos os profissionais do clube que passaram na minha vida nesse período.

4 – Após a aposentadoria de Zico, todo bom jogador que surgia na posição do Galinho de Quintino vinha a comparação. Você passou por esta situação nada cômoda?

Não somente eu, mas outros jogadores conviveram com este tipo de comparação que é um fardo para qualquer jogador que está subindo ao profissional. Acontecia muito isso, principalmente, nas décadas de 1980 e 1990. Para mim, confesso aos leitores do Museu da Pelada, em nenhum momento isso me incomodou. Muito pelo contrário. Fortaleceu-me dentro do clube, pois eu tinha um método de viver cada dia diferente dentro da Gávea. Necessitava conquistar meu espaço para eu chegar ao time de cima sendo o Sávio com minhas características, com o meu futebol, com o meu aprimoramento para aperfeiçoar alguns fundamentos. Agora, ser comparado a um dos maiores camisas 10 do futebol mundial e maior ídolo do clube, aconteceu para me fortalecer. O Zico sempre foi uma referência para mim. Espelhei-me nele e isso foi motivo de felicidade, dedicação e superação. O lado positivo da comparação foi a força interior que desenvolvi e a cada treino, a cada dia, ser melhor. Obviamente, a comparação foi muito complicada. Procurei ver esta situação com um olhar de responsabilidade pela grandeza do Zico. E foi um diferencial para a minha carreira.

5 – Por que Sávio, Romário e Edmundo, considerado o melhor ataque do mundo, não deu certo no centenário do Flamengo, em 1995?

Até hoje essa é uma pergunta difícil de ser respondida. Por que o ataque, considerado o dos sonhos, não deu certo? É necessário um entrosamento entre plantel, comissão técnica, dirigentes, para que a gestão administrativa refletisse dentro do campo. O Flamengo passava por muito problemas econômicos, e o atraso no pagamento dos salários eram constantes. A reformulação, em profusão, do elenco, foi outra situação que dificultou o entrosamento do time. O extra campo foi outro grande problema daquele plantel. Mesmo com todas as dificuldades, conseguimos chegar à final do Campeonato Carioca, na Supercopa dos Campeões, em que ganhamos sete dos oitos jogos, muito em virtude da individualidade de alguns jogadores daquela equipe, mas infelizmente não deu. A parceria com o Romário, na minha opinião foi positiva, Nós dois totalizamos 140 gols em 106 jogos. Particularmente, gosto de destacar isso todas às vezes que falo desse assunto. A pressão foi inexplicável, uma vez que a expectativa dos dirigentes e torcedores recaíram no ano do centenário do clube.

6 – Em um amistoso realizado no Japão, você e Romário chegaram a trocar empurrões. O que houve ali?

Naquele episódio, transformaram um pequeno atrito em algo que parecia ser de outro mundo. Eu e o Romário discutimos durante a partida que estendeu até o vestiário. O clima ficou ruim, mas passou! Na verdade, morreu ali. No futebol isso é tão normal, mas naquela época, tudo que envolvia o nome de Romário, ganhava grande proporção. O ocorrido foi motivado pelo andamento da partida na qual estávamos perdendo no primeiro tempo. O importante foi o carinho recíproco ao longo de três anos. Muito respeito um com o outro. Romário sempre foi muito profissional.


7 – Durante o Pré-Olímpico de Atlanta em 1996, você foi destaque na Seleção Sub-23, deixando Ronaldo Fenômeno no banco de reservas. Conte essa história.

A minha história com a camisa da Seleção Brasileira começou dois anos antes, quando fui convocado e joguei um amistoso contra a Islândia, em Florianópolis. Vencemos por 3 a 0 a partida que visava a preparação para a Copa do Mundo dos Estados Unidos em 1994. Mas apesar de estar vivendo uma grande fase no Flamengo, o grupo para disputar aquele Mundial já estava definido pelo Carlos Alberto Parreira. Depois da conquista do tetracampeonato, tive uma sequência na Seleção pré-olímpica e na principal. Mostrei evolução a cada jogo com a ‘amarelinha’ e mantendo a regularidade. Sobre ser titular e ter o Ronaldo Fenômeno no banco, eu sabia da qualidade dele e do momento de aparição para o futebol. Ele havia assinado contrato com o Barcelona depois de fazer chover na Holanda vestindo a camisa do PSV. Mas, eu prefiro lembrar com carinho sobre nosso convívio. Fomos companheiros de quarto em toda as Olimpíadas. A experiência de dividir quarto com ele foi maravilhosa, e nossas conversas sobre o futebol, família, futuro, seleção e Europa, eram muito legais. Eu tenho um carinho muito grande pelo Ronaldo, um atleta exemplar, um jogador diferenciado e foi um orgulho em tê-lo enfrentado e jogado ao seu lado também.

8 – Como surgiu o apelido Anjo Loiro?

É uma história engraçada. No meu primeiro gol marcado em um Fla-Flu, o saudoso Januário de Oliveira me chamou de Diabo Loiro. Ele era mestre na arte de improvisar. Mas esse apelido acabou incomodando a avó da minha esposa, senhora Nair, que é uma pessoa muito religiosa e sentiu-se incomodada com o apelido. Certa vez, em um shopping, no Rio de Janeiro, elas encontraram o Januário. A avó da minha esposa dirigiu-se a ele, e educadamente, pediu que não chamasse-me mais de ‘Diabo Loiro’. Ela disse para ele que eu era um anjo (risos)! No jogo seguinte, eu marquei um gol, e o Januário trocou o pseudônimo. Eu conseguia ser ‘cruel’, um dos bordões do Januário de Oliveira, sendo anjo.


9 – Como foi jogar ao lado de Roberto Carlos, Raul, Redondo, Seedorf, Figo, Zidane e Casillas, naquele timaço do Real Madrid que ganhou três Champions League e um Mundial?

Confesso que o início foi muito difícil. Foi apreensão, nervosismo e ansiedade ao chegar a um clube da grandeza do Real Madrid na temporada 1997/98. Lembro que a responsabilidade era enorme, já que há 32 anos, o clube não conquistava uma Liga dos Campeões. Imagina, a pressão que era jogar naquele clube! Foi desafiador jogar pelos merengues. Jogar com estes jogadores citados e outros tantos craques foram momentos inesquecíveis. Na primeira temporada, conquistamos o título e acabamos com o jejum. Sou torcedor do Real Madrid até hoje e me emociono toda vez que lembro do clube e desses momentos que passei lá no estádio Santiago Bernabéu. Foram cinco temporadas e conquistamos as principais competições. Fui bem recebido por todos, e graças a Deus, fui muito querido pela exigente torcida madrilenha. Fui feliz. Fui campeão. Escrevi meu nome na história do clube. Sou o terceiro jogador brasileiro que mais vezes vestiu a linda camisa branca do Real Madrid sendo superado somente pelos laterais-esquerdos Roberto Carlos e Marcelo.

10 – Você jogou um ano com Zidane, considerado o maior jogador do futebol francês de todos os tempos. Como foi essa experiência?

Sim. Foi minha última temporada no clube. A experiência em ter jogado com Zinedine Zidane, que vivia seu auge, foi muito rica e muito boa. Zidane é um cara sensacional, uma pessoa muito tranquila e, apesar de ter convivido com ele apenas por uma temporada, aprendi muito. Por se tratar de ter desfrutado pouco dessa convivência, eu busquei aprender, observá-lo nos treinamentos, ver o seu profissionalismo e o exemplo dele como pessoa fora de campo. Bastou um ano jogando com ele para eu enriquecer minhas questões pessoal e profissional. Zidane foi um profissional digno de ser chamado de craque.


11 – Sávio, você conquistou a Champions pelo Real Madrid em 1997/98, 1999/2000 e 2001/02. Foi o melhor momento na carreira?

Conquistar grandes títulos jogando pelo Real Madrid, realmente, foi o momento inesquecível. Não é fácil disputar cinco Liga dos Campeões e ganhar três. Em termos de maturidade, experiência, aprendizado e de evolução dentro de campo, não tenho a menor dúvida que foi o melhor momento da minha carreira. Se for falar de momento individual, eu não saberia te responder, sinceramente. O Real Madrid foi muito bom, tanto que eu tive a felicidade de cair nas graças dos torcedores madrilenhos. Mas com todo respeito ao que vivi no Real Madrid, nada se compara ao período que joguei no Zaragoza, onde fiquei três anos, disputei três finais e em duas sagrei-me campeão. Mas não posso esquecer meu auge individual no Flamengo que foi também marcante para a minha carreira.

12 – Você foi imortalizado no Real Zaragoza, onde conquistou os títulos da Copa do Rey da Espanha – sobre o Real Madrid – e da Supercopa, em 2004. Qual sua relação com os Blancos?

O Real Zaragoza foi algo muito especial na minha carreira. Individualmente, foi o meu melhor momento na Europa e fizemos um time forte, competitivo. A minha chegada, assim como a do zagueiro Álvaro, do Gabriel Milito, do David Villa, e o Leonardo Ponzio, que já estava no clube, criou uma consistência com jogadores de muita qualidade. Foram três temporadas e chegamos em duas finais – Copa do Rei e na sequência conquistamos a Super Copa da Espanha contra o Valencia, que era o atual campeão espanhol, na temporada 2003/2004. Por estes motivos, eu afirmo, sem sombra de dúvidas, que o Real Zaragoza foi um clube que me marcou, não só pelos títulos, pela coletividade de um grupo maravilhoso, pelo ambiente. A diferença é que, por exemplo, quando você vai jogar em um clube como o Real Madrid, automaticamente, cria-se sempre a expectativa da conquista de títulos. No Real Zaragoza é diferente, pois não há essa expectativa. Não só eu, mas vários jogadores daquele grupo, foram imortalizados como grandes ídolos da história do clube. É motivo de muito orgulho e fico lisonjeado em ter defendido as cores deste clube.

13 – Em junho de 2006, você voltou ao Flamengo, disputou apenas dez partidas e não marcou nenhum gol. O que houve?


Foi uma decisão muito pessoal. Eu havia perdido meu pai meses antes e foi um momento extremamente delicado para mim. Eu necessitava ficar mais perto da minha família, principalmente, da minha mãe. Eu lembro que estava com contrato vigorando por mais um ano com o Zaragoza. A rescisão foi com o clube espanhol foi conturbada, pois os dirigentes não queriam me liberar. Mesmo assim, decidi voltar para apenas um clube no Brasil: o Flamengo. Sei que chegaram propostas de outros clubes do Brasil, mas nem quis escutar. O Flamengo vivia um momento muito ruim, financeiramente falando. Voltei ciente do momento que o clube atravessava, mas não sabia que o problema era maior do que eu pensava. Nessa minha volta, em princípio, minha meta era encerrar a carreira no meu clube de coração, mas fiquei sem receber durante o primeiro semestre. A convivência não era das melhores e percebi nos bastidores que pessoas não estavam satisfeitas com a minha volta. Logo, a sequência para 2007 ficou insustentável e decidimos pela rescisão contratual.

14 – Sávio, o que você atribui o fato de nunca ter disputado uma Copa do Mundo?

Eu não tenho resposta. Todo jogador vive essa expectativa e quando você vem desempenhando um papel de destaque individual ou coletivo pelo clube em que está jogando, é normal acreditar que vai chegar a sua hora de defender seu país, vestindo a camisa da Seleção Brasileira. Mas isso nunca aconteceu e te garanto que não abalava meu emocional. Eu conseguia superar, dar sequência à minha carreira e isso acabou me fazendo mais forte para que eu, dentro do clube, pudesse melhorar e jogar mais. Jogar uma Copa do Mundo foi um sonho não realizado. Aguardei a minha vez e, em duas Copas do Mundo, acho que tinha condições de disputar: na França em 1998, e na Coreia do Sul e Japão, em 2002.

15 – Você era um ponta-esquerda insinuante que fazia gols. Qual foi o lateral mais difícil que você enfrentou e por quê?

Era o meu estilo de jogo. Eu tinha uma característica de jogo muito pessoal, própria. Eu fazia questão de não mudar porque achava que era característica nata. E uma dessas características que eu tinha era o drible, principalmente, em alta velocidade que acabava quebrando a marcação de alguns defensores bons tecnicamente e aqueles chegavam mais duro, que eram mais viris. Eu começava a driblar muito pelo lado esquerdo e depois fui me aprimorando em fazer as jogadas pelo meio, intermediária adversária. Os técnicos exploravam essa característica que eu tinha para vencer a tática do adversário.

16 – Antes de encerrar a carreira, em 2011, você jogou no Real Sociedad, Levante, Desportiva Ferroviária-ES, Avaí e o Anorthosis, do Chipre. Como avalia essas passagens por esses clubes?

Chegou um momento na minha carreira que, aos 33 anos, comecei a escolher o clube em que eu queria jogar. Isso me trouxe consequências, como abrir mão da parte financeira e, por outro lado, como forma de retribuição, algo pessoal como jogar três meses na Desportiva Ferroviária, que para o futebol local, foi algo muito positivo. Em seguida, surgiu a oportunidade de voltar para o futebol espanhol e jogar no Real Sociedad. No meu último ano na Espanha, aceitei um desafio ainda maior e fui jogar no Chipre. Foi uma experiência enriquecedora, pois joguei minha sexta e última Champions League em um clube desconhecido no cenário futebolístico e disputar uma competição dessa magnitude. Fiquei marcado no futebol cipriota. Para mim também foi muito bom ter jogado no Anorthosis, pois na fase de grupos, nós quase classificamos, e eu acabei sendo o jogador com o maior número de assistências da primeira fase, disputando pelo clube de baixo investimento diante dos grandes da Europa. Mas acho que nessa experiência, consegui deixar algo novo e diferente para o clube e marcar, junto com meus companheiros, o clube com esse feito, já que o Anorthosis tornou-se o primeiro clube do Chipre a chegar na fase de grupos da Liga dos Campeões, derrotando o Olympiakos da Grécia.


17 – Quem foi o seu melhor treinador?

Tive alguns bons treinadores como o espanhol Vicente del Bosque, o alemão Jupp Heynckes e o holandês Guus Hiddink, mas o melhor treinador que tive foi o Paulo Autuori no Flamengo, em 1997. Era um cara sensacional, de uma clareza enorme dentro e fora de campo, e que me ensinou muito enquanto estivemos trabalhando juntos.

18 – E o seu ídolo no futebol?

Zico. Um cara que eu me espelhei dentro de campo e sempre falo que eu era Zico Futebol Clube e passei a ser Flamengo depois. Quando o conheci, admirei ainda mais, e hoje, tenho nele um grande amigo, uma pessoa sensacional e que me fez enxergar o futebol de uma outra maneira. E sou grato a ele por isso.

19 – Como vê a crise sanitária do coronavírus no mundo?

Expectativa, ansiedade e tristeza. É difícil, em um âmbito geral, a gente analisar o que está acontecendo. Eu acho que ninguém esperava algo parecido com um vírus desse que veio para mudar muitas coisas na vida de todos nós. Devemos sim, pedir a Deus, conforto para os que perderam seus amigos e entes queridos. É muito difícil mensurar isso tudo de uma forma tão simples e em palavras. Eu tenho pessoas próximas que viveram e presenciaram momentos difíceis por causa do coronavírus, e nos resta orar a Deus para que isso passe o mais rápido possível. Precisamos, não só o Brasil, mas o mundo, viver o normal de novo!

20 – Defina Sávio em uma única palavra?

Definir o Sávio em uma palavra é muito difícil (risos). Muito complicado responder a pergunta, mas eu acho que sou um cara tranquilo, muito tranquilo por sinal, caseiro, de família, amigo, muito profissional e exigente demais comigo mesmo. O profissionalismo para mim era a base para se conquistar as vitórias, e o Sávio era isso.

A SAUDADE DELA ESTÁ DOENDO EM MIM

por Zé Roberto Padilha


Eu, Nielsen Elias, Abel Braga, Marco Aurélio, Rubens Galaxe e Marinho tínhamos 19 anos. Estávamos nos juvenis do Fluminense fazendo vestibular para jogador de futebol. E ganhamos, um ano antes, em 1970, o título carioca da categoria.

Mal sabíamos a importância daquele título.

Porque com a conquista do tricampeonato, o Brasil virou referência mundial no futebol. E a FIFA, ao organizar em 1971, em Cannes, França, o primeiro Mundial Sub-20, convidou sua seleção. Que jamais havia sido formada.

Com pouco tempo para convocar e treinar uma, o que fez a CBD? Chamou a base do time do Fluminense, todos titulares e entrosados, e acrescentou Ângelo, do Atlético-Mg, Mário, do São Paulo, Nilson Dias, do Botafogo, Clayton, do Santos e Jorginho Carvoeiro do Vasco. No banco, Enéias, Portuguesa, entrava sempre nas partidas.

Seleções da Hungria, e da França, além do Chelsea, foram nossos adversários. E levantamos o título invictos. Esse título nos valorizou no clube, foi praticamente uma pós graduação. Ganhamos de presente uma semana em Paris e a medalha mais bonita desse mundo.

De ouro puro, cunhada na Casa da Moeda, nas ondas do milagre econômico do Brasil Ame-o ou Deixe-o, ela ficou como símbolo maior das nossas carreiras.

Que teve, como na minha e de todos, altos e baixos. Em uma das baixas, foi pra Caixa Econômica Federal. E na baixa das baixas, atrasamos com o pagamento. E ela foi leiloada.

Acontece. Hoje, mais estável, ao reunir meu acervo para deixar como lembrança para os filhos e netos, gostaria de saber se quem a resgatou poderia me vender. Tenho certeza que seu colecionador não terá os motivos que tenho para recebê-la de volta.

Campeão Mundial. Só quem conquista um título para o seu país, escuta o Hino Nacional, representa uma cidade pequenininha na região serrana do estado do Rio de Janeiro, pode aquilatar a emoção e o orgulho dessa conquista.

A medalha era o símbolo maior desse momento único de nossas vidas. Na minha estante está faltando ela, e a saudade dela está doendo em mim.