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UM SAMBA E UMA PROSA COM SEU ADÃO DO MARABÁ

por Marcelo Mendez

Em um domingo de pauta na várzea é simplesmente impossível não se inebriar com as coisas que envolvem esse universo que não é nada menos do que mítico.

Muitas são as vezes em que o Cronista, distraído que é, pensa;

“Hoje não vai rolar nada, que será que vou fazer?” Oras…

Cabe ao exercício da crônica a necessidade inexorável da sensibilidade, do sentir, que é algo tão necessário quanto o olhar. O que pulsa do coração do cronista espelha em seu olho. Assim fui..

Da janela do carro que me levaria para a pauta no campo do Riacho em São Bernardo, para o jogo entre Marabá x Cambuci, eu vi o domingo à tarde.

Suas cores, seus risos, suas gentes, seu enorme resplendor banhado por um sol de 33 graus em pleno inverno. Um dia que não poderia ser algo do que se diz por aí a boca larga, “comum”. Não, não poderia ser comum assim, dessa coisa cansada. Afinal o futebol de várzea está aí para justamente salvar o mundo dos homens de pouca fé, da mesmice que os circunda. E essa máxima não falha…

Dei a volta no campo do Riacho, perguntando por um contato da direção do time Marabá para uma entrevista. O time da Vila São José, fundado em 1982, é lendário por uma série de motivos, um deles, sem dúvida, o que mais me chamou atenção. Quando fundado, o time agregou toda a Comunidade Negra daquela região e, em seus quadros, 90% dos seus jogadores eram negros. Dessa afirmação de raça, de cultura de um povo, de orgulho e fé, nasceu uma tradição.

Através desta tradição, veio uma torcida, uma comunidade e a conquista de um espaço que é histórico na cidade. O lugar do bairro onde se situa o Marabá ficou eternizado como A Curva dos Pretos, o campo onde manda jogos, portanto, chama-se lindamente de Campo da Curva dos Pretos. Que coisa linda!


Pensava nisso tudo enquanto esperava pelo amigo Rincón que se atrasaria e então mandou uma mensagem dizendo para que procurasse o seu tio, que era o Presidente do time e fundador dessa história toda. Nesse momento um rapaz se aproximou de mim e falou:

– Amigo, aqui está o Seu Adão, nosso Presidente…

Esticou a mão e então apertei cumprimentando-o. O vi…

Do mais alto pódio de toda a experiência que um homem pode ter na vida, vi em Seu Adão um sábio.

Homem tranqüilo, fala calma, bonita, com o sotaque mineiro característico, Seu Adão me conduziu a um lugar perto do banco de reservas de seu time para conversarmos. Elegantíssimo, bonito, homem de finos gestos e tratos, com uma educação ímpar e andar de Zé Kéti, Seu Adão me contou histórias de sua chegada a São Paulo, de sua vida de jogador do Marabá, de sua atuação nas lutas sindicais e do orgulho que tem em ser um dos pretos que se tornaram donos da Curva.

Por alguns instantes que ali o ouvi me esqueci de tudo que havia de chato e modorrento no mundo. Da boca de Adão, saíam versos inapeláveis de um mundo de odes e sonhos que caracteriza a lindeza toda do futebol de várzea. Um universo de homens que não buscam metas, não querem fortunas, não se arvoram em tomar nada que não seja alegrias e odes.

Adão não dava entrevista, me concedia sonetos.

Entre uma orientação e outra a seu técnico, seguíamos nossa prosa. Nada ali podia me tirar o encanto de estar diante de um grande homem. Do jogo eu não quis nada. Vi em Seu Adão a possibilidade de aprender, de fazer parte de algo muito bom, de estar perto da aura de um homem que se imortalizará pela decência e pelo verso.

Dessa forma, ficou impossível não se apaixonar pelo Seu Adão do Marabá.

Eu te amo, Seu Adão!

NAS RUAS DO RIO

Parceiro e colaborador do Museu da Pelada, Alex Belchior inaugura hoje o nosso novo quadro: “Nas ruas do Rio”. O craque contará a história de monumentos, ruas, praças, estádios e espaços em geral que tenham alguma relação com o futebol.

O pontapé inicial ocorreu no calçadão de Bangu, zona oeste do Rio de Janeiro, onde está localizado um busto do craque Domingos da Guia. Inaugurada em 2004, em comemoração ao centenário do Bangu, a obra de arte homenagea um dos maiores zagueiros da história!

TRIBUNAIS DE PADARIA

por Zé Roberto Padilha


Em 5 de outubro de 2017, Paolo Guerero, jogador de futebol, então gripado, utilizou uma medicação para melhorar sua respiração. E ganhar fôlego para enfrentar a Argentina em busca da classificação do seu país, o Peru, para a próxima Copa do Mundo de Futebol. Jogo decisivo, segundo ele, não poderia lhe faltar uma só partícula de oxigênio parta lutar pelo seu país.

Em outubro de 2009, na Dinamarca, segundo o jornal Le Monde, Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB, recebeu a propina de 1 milhão de euros pela compra de votos para a escolha da cidade do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Segundo Nuzman, que não estava gripado, não poderia faltar um só corrupto a ser comprado para não perdermos esta oportunidade única de receber a festa maior do esporte. “Custe o que custar!”, afirmou.


Guerrero, que vive dos seus salários e gratificações, queria apenas, segundo ele, respirar melhor. Já Nuzman, que violou os desígnios olímpicos pregados pelo Barão de Cobertin, segundo a imprensa, e leva uma vida abastada acima dos seus rendimentos, não quis se pronunciar. Mas enquanto um acaba de ser condenado em um café da manhã na padaria ao lado (“Certamente era cocaína, disse um torcedor!”; “Logo desconfiei de tanta luta e correria”, afirmou um vascaíno), o outro, embora preso preventivamente, foi solto porque quem se interessa, nos bares e nas esquinas do nosso país, pelos rumos do vôlei, basquete, handebol, judô e natação?

Somos latinos e passionais. Capazes de convocar às pressas, nas cadeiras de uma padaria, uma sessão extraordinária para julgar um jogador de futebol. E esperar, passivamente, quatro anos para que a chama olímpica seja acesa, ilumine nossa consciência e exija exames de fezes, porque urina é pouco, dos nossos dirigentes esportivos. A questão é: quem fez falta, anteontem, no comando de um ataque para dar orgulho, não vergonha, a uma nação? Paolo Guerrero ou Carlos Nuzman?

A JOIA ESTÁ PRONTA

por Serginho 5Bocas


Entendo quando escuto gente do ramo, com seus ternos bem cortados, falando para muitos na televisão, que ele ainda é um menino, que podem queimar uma carreira promissora, que é  muita pressão sobre os seus ombros e que talvez nem seja essa coca-cola toda, é  compreensível. Ou estão sendo corporativistas e querem defender o prodígio colega de profissão de um insucesso futuro, mais certo de ocorrer do que o sucesso, ou são míopes e não enxergam a meio palmo de seus narizes. É uma savana de pensamentos!

Do treinador atual, coitado, tão acostumado aos Copetes e Berríos de sua vida futebolística, de seu país tradicional mediano no cenário internacional do futebol, dos esquemas altamente defensivos, baseado na retranca e contra ataques, que carrega colado nos imãs de sua surrada prancheta que leva para onde quer que vá, também entendo.

Também é razoável ouvir, dos torcedores dos clubes rivais, as críticas antecipadas, de quem torce para não dar certo, último suspiro de uma tragédia anunciada que deve ocorrer no próximo estadual, quando o enfrentarão, provavelmente já como titular e certamente vão  sofrer com suas arrancadas fulminantes.


O que não posso aceitar é ouvir dos próprios rubro negros, tão carentes de ídolos, se curvar aos laticínios transloucados e desesperados, derrotistas quanto ao futuro desse menino.

Já foi! Já é, mermão!

O menino Vinicius é diferente, pois então vejam só quando ele entra no decorrer dos jogos, como o clima muda.

Se dê conta de como você já torce para que a bola chegue logo aos seus pés.

Repare na velocidade já superior aos adultos, na verticalidade incomum nesse monte de Armandinho de toquinhos para o lado, na facilidade de antever jogadas e de construí-las mentalmente para servir aos companheiros e de se servir.

Reparem na ginga de corpo e na habilidade, olhem como mesmo sendo tão jovem, já é tão superior aos outros atacantes de seu time.


Quarta à noite, um cego ao meu lado, tomando uma cerveja e escutando o jogo pela voz alta do narrador, roía suas unhas rubro negras de tensão pelo placar adverso que ainda seria igualado, mas também de esperança, pela certeza mediúnica de que, com o menino que acabara de entrar, as coisas iriam melhorar e o melhor ainda estava por vir.

No Real Madrid não tem bobo, aqui temos, muitos!

Aqui acham que os 61 milhões de euros foram muito, então tá.

Tite! Leva ele ano que vem, o futebol agradece e Telê, seu ídolo, o abençoará.

Eu torço, pois o menino estará mais do que pronto, o tempo dirá.

Valeu, Vinícius!

GERD MÜLLER, O MAIOR ARTILHEIRO QUE A ALEMANHA PRODUZIU

por André Felipe de Lima


Hoje é aniversário de Gerhard “Gerd” Müller, indiscutivelmente o melhor centroavante da história do futebol alemão e certamente um dos maiores que o futebol mundial já conheceu. Ele nasceu em Nördlingen, no dia 3 de novembro de 1945. Com suas famosas pernas curtas, seus dribles curtos e agilidade incomuns, marcou muitos gols que levaram a antiga Alemanha Ocidental ao título da Copa do Mundo de 1974. Era tão rápido dentro da área, que passaram a chamá-lo de caubói, ou seja, rápido no gatilho e com tiro (ao gol) certeiro. Müller era infalível. Dizia que preferia chutar rasteiro para dificultar a vida dos goleiros. Dava certo. Tanto funcionava, que o craque tornou-se o maior artilheiro do campeonato alemão, do qual foi campeão quatro vezes, sempre com o Bayern de Munique. Em uma única edição da Bundesliga, a de 1971/72, ele assinalou 40 gols. Em sete campeonatos nacionais, Müller foi o artilheiro. Com a camisa do Bayern, marcou 567 gols em 607 jogos. Ao longo da carreira, defendendo além do Bayern, a seleção alemã, o TSV 1861 Nördlingen e o americano Strikers de Fort Lauderdale, marcou 658 gols em 716 partidas. Simplesmente extraordinário.

“Tudo que o Bayern se tornou se deve ao Gerd Müller e aos seus gols. Se não fosse por ele, ainda estaríamos em uma velha cabana de madeira”, declarou Franz Beckenbauer, maior jogador da história da Alemanha e companheiro no Bayern e na seleção. Na mesma linha, outro colega de Bayern e de seleção, Paul Breitner destaca a relevância histórica de Müller para o futebol germânico. “Gerd Müller é o mais importante e maior futebolista que a Alemanha revelou após 1954 [ano da primeira Copa do Mundo conquistada pelo país]. Gerd Müller é o Bayern, Gerd Müller é a seleção alemã. Ou o contrário: o Bayern e a seleção nacional se tornaram o que são hoje graças ao Gerd Müller, porque foi ele quem trouxe os troféus e os títulos. Ninguém mais.”


Breitner alega que com Müller as coisas sempre ficavam mais fáceis. O time já entrava em campo confiante porque não havia dúvida de que o gol decisivo viria dos pés do artilheiro. Se fossem necessários dois ou mais gols, sem problemas, bola no Müller que ele resolvia. “Com Gerd Müller no seu time, você não precisa de sistema tático. Tínhamos a nossa estrutura. Mas podíamos jogar com o nosso sistema perfeitamente, mas sem ele não ajudaria. Para ter sucesso, precisávamos do Gerd Müller. E nós o tínhamos”, afirmou Breitner.

Quando deixou o futebol em 1982, Gerd Müller decidiu inaugurar um bar na Flórida. Um infortúnio representava o negócio. Alcoólatra, o ex-artilheiro bebia mais que vendia. A doença fez com que perdesse tudo, sobretudo o dinheiro e a esposa. Em 1991, após realizar um teste Gamma GT, o fígado registrou temerárias 2400 unidades de medida, quando o recomendável é entre 10 e 70. Müller foi internado e teve o tratamento pago por Beckenbauer. Em troca pela ajuda e carinho do amigo, que também o indicara para treinar as divisões de base do Bayern, Müller abandonou definitivamente a bebida.


Embora livre do álcool, o grande ídolo do futebol alemão encararia outro drama: o Alzheimer, diagnosticado em 2015. “Gerd Müller é um dos gigantes do futebol. Sem os gols dele, o Bayern e o futebol alemão não poderiam estar onde estão hoje. Apesar de todo o sucesso, ele sempre foi um cara modesto, o que sempre me impressionou. Foi um ótimo jogador e amigo. Trouxe experiência como treinador e ajudou a criar campeões mundiais como Phillip Lahm, Schweinsteiger e Müller”, disse Karl-Heinz Rummenigge, outro gigante da história do Bayern e do futebol alemão.

Gerd Müller hoje sofre com a saúde debilitada, mas deixou muitos ensinamentos para os que um dia desejam ser goleador implacável como ele foi um dia: “Como artilheiro, você precisa saber onde está a meta. E eu sabia disso”. Gerd Müller foi genial.