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INCOMPARÁVEL

por Marcos Vinicius Cabral


Neste domingo (10), foi divulgado o resultado da eleição dos melhores jogadores do Grêmio Recreativo e Esportivo Barabá, referente ao ano de 2017.

Recebi o troféu como melhor meio campo neste maravilhoso grupo do qual faço parte desde o segundo semestre de 2015.

Fiquei surpreso com o resultado, ainda mais por estar prestes a completar 44 anos, daqui a duas semanas.

Tal honraria vai ficar no quarto da minha filha Gabrielle Cabral, que, sem sombra de dúvidas, é  sempre merecedora de tudo que conquistei desde seu nascimento, em 2007.


Vivo por ela, e para ela, e ela sim, é a razão maior de tudo isso.

Contudo, livros publicados, exposições individuais realizadas, projetos em curso, faculdade no fim e esse prêmio, tudo tem sua grandeza assim como importância na minha vida.

Portanto, agradeço a Deus (sempre), por ter me abençoado cada vez mais de forma sobrenatural.

Sem Ele, eu nada seria! 

Este troféu, apesar do seu valor simbólico e por que não dizer sentimental, deixa expostas algumas fraquezas que passamos durante os 12 meses do ano.

Mas mesmo nos momentos de lassidão, Ele nunca me abandonou e continua cada vez mais forte e onipresente na minha existência.

E para finalizar, essa homenagem em minha carreira de “boleiro” nos campos gonçalenses vem a ser a primeira no grupo e no campo da Brahma, no Porto Velho em São Gonçalo.

CRUYFF, O IMORTAL

por Serginho5bocas


Se há na linha do tempo uma equipe que podemos chamar de moderna sem medo de ser feliz, foi a seleção holandesa da Copa de 74, na Alemanha, comandada por Cruyff. Pode não ter sido campeã mundial, nem a melhor de todas as Copas, mas não tenho dúvidas de que foi a mais inovadora.

Cruyff era o senhor do jogo, aquele que comandava todo o balé, era “o cara”, sobrava na turma e talvez em qualquer turma de futebol neste planeta e em qualquer tempo, pois já nasceu técnico, era o elo com o treinador Rinus Michels, de dentro do campo.

Esse cara era Cruyff, o gênio holandês, o maior jogador de futebol nascido na Holanda em todos os tempos.


Cruyff pode não ter sido o maior de todos, mas com certeza foi o mais versátil, o cara que jogava no campo todo, com inteligência e domínio de todos os fundamentos, um peão que fazia o time girar.

Estava em todos os lugares do campo e fazia todo mundo jogar bem, acompanhando e comandando os movimentos da equipe de longe e, quando necessário, mais de perto, sempre se apresentando para dar opção e demonstrando através de seus passes para gols dos companheiros, um altruísmo acima da média.

Driblava muito bem, tinha uma visão de jogo acima da média e uma velocidade espantosa quando arrancava com a bola, partindo para cima dos adversários.

Foi com certeza o rei dos três dedos, o mestre da trivela, e tudo sem tomar conhecimento da bola, olhava para cima, altivo e elegante, dono de um estilo de jogo monárquico, um deus da bola.

Cruyff foi o rei de sua época, o melhor da década de 70, venceu inúmeros prêmios individuais, mas a sua marca registrada era o jogo coletivo, todos juntos lá atrás se ajudando para ninguém tomar drible ou levar gols e todos juntos lá na frente, para ter e dar opção de jogo a todo instante. Sem contar a linha de impedimento perfeita e as “blitz” que faziam amiúde, roubando a bola dos adversários totalmente perplexos.

Cruyff e a Holanda poderiam jogar hoje, mais de 40 anos após o apogeu, que seria moderno, pois ninguém conseguiu fazer aquilo de novo, em nenhuma época.

Eu não tive a felicidade de vê-lo em ação ao vivo na sua melhor fase, mas ainda pude me maravilhar com lances de DVDs e pela internet que felizmente possibilita a qualquer um rever os melhores lances deste grande jogador.


O confronto da Holanda contra o Uruguai na Copa de 1974 deu a sensação de que os caras de laranja eram de outro planeta. Pela TV dava a sensação de que aquilo tudo era armação, efeitos especiais, mas não era, era futebol puro, completo, coisa de quem sabe das coisas, e muito. Era o jogo que ficaria conhecido como FUTEBOL TOTAL. O que muita gente não sabe, é que aquela formação de time, uma mistura do Ajax com o Feyenoord, nunca havia jogado junto, entraram cinco novos jogadores na estreia da Copa de 1974. 

Quem viu aquele cara, o camisa 14 da laranja mecânica, comandando aquilo tudo dentro do campo, teve a noção exata do que ele era capaz.

Cruyff se despediu sem levar o título, mas no jogo final, apresentou ao mundo mais uma de suas jogadas fantásticas, uma amostra do seu imenso repertório. Arrancou do meio de campo em alta velocidade e foi se infiltrando pela zaga alemã, até ser parado com pênalti, que abriria o marcador do jogo. Para se ter uma ideia, a Holanda havia dado a saída de bola, trocou de pé em pé por quase dois minutos sem que a Alemanha tocasse na bola, até que o gênio holandês pintou sua tela, a tela mais bela e surpreendente das Copas, imortal.

 

 

 

CANTUSCA 2018


Não é de hoje que o Canto do Rio Foot-ball Club tem o desejo de retornar ao futebol profissional. Após sete anos afastado das grandes competições, o clube retornará em 2018 aos campeonatos estaduais, que não disputa desde 2010. Para concretizar o sonho, o alvianil lançou na última quinta-feira, dia 30, o Projeto Cantusca 30, com o objetivo de unir 30 parceiros para recolocar o clube no cenário esportivo nacional.

Empresas importantes já se associaram à iniciativa como a concessionária Enel, a Universidade Estácio de Sá, a Academia JHAreias.Com, a Plural Sports e a Gráfica Nitcolor.

O projeto é inédito em todo o Brasil e tem como mentor João Henrique Areias, especialista com mais de 30 anos de experiência em Marketing Esportivo. O desenvolvimento prático foi feito por Gustavo Macedo, coordenador de negócios da Academia JHAreias.Com. Os objetivos da iniciativa são audaciosos e buscam recolocar o Cantusca na primeira divisão do Carioca, entre os dez melhores do estado, classificar o time para grandes competições nacionais (Série D do Brasileiro e Copa do Brasil) e renovar e posicionar a marca do clube como uma referência na região metropolitana, no estado do Rio de Janeiro e no Brasil.

O Canto do Rio já tem em sua agenda de 2018 o Campeonato Carioca de Profissionais (Série C) e Carioca Sub-20. Em breve, o clube divulgará informações sobre Estádio, Centro de Treinamento, comissão técnica e elenco.

A IRMANDADE DO RÁDIO

por Claudio Lovato


Isto começou a acontecer há muito tempo e continua até hoje.

São quatro amigos que moram em uma pequena cidade do interior. Uma cidade cercada de morros, quente como uma fornalha no verão, fria como uma geleira no inverno.

Uma cidade pequena que tem um clube de futebol que fez e continua fazendo estragos e história entre os grandes.

Em todos os dias de jogo, os quatro amigos – Renê, Lauro, Francisco e Cléber – se reúnem no bar do primeiro para ouvir pelo rádio a transmissão do jogo daquele time que é do coração de todos eles.

Só os quatro – porque quando é dia de jogo Renê fecha as portas do bar, e ninguém ousa bater; todo mundo sabe que em dia de jogo o Renê fecha a birosca.

As narrações. É tudo por causa delas.

Renê, Lauro, Francisco e Cléber só ouvem os jogos com a narração feita por uma certa pessoa, numa estação que só eles conhecem.

O narrador é Jairo, Jairão, irmão deles todos.

Tudo por causa das narrações do Jairão.

Tentando explicar: as narrações do Jairão são capazes de transportar o ouvinte não apenas para dentro do estádio, mas para dentro do próprio campo de jogo.

Fazem o ouvinte escutar o jogo de pé, de tanta vibração que aquela voz é capaz de transmitir; aquela voz é adrenalina e paixão puras e concentradas.

Tentando explicar: as narrações do Jairão misturam descrição técnica minuciosa com poesia delirante; leitura tática precisa com a fantasia mais viajante.

Levam o ouvinte para um outro estágio da experiência de acompanhar o jogo pelo rádio; fazem o ouvinte viver uma experiência transcendental, mística, religiosa.


As narrações do Jairão são aquilo a que se chegou de mais perfeito em termos de manifestação física do amor pelo futebol.

E lá estão eles de novo, os quatro, nesta quarta-feira à noite de chuva, vento e frio, sentados em torno da mesa que fica no meio do boteco, tomando suas cervejas e suas pingas, fumando seus cigarros, olhos marejados, sempre marejados, como velhos marujos à deriva, ainda assim felizes por estarem no lugar ao qual pertencem mais do que a qualquer outro.

Estaria tudo isso dentro de uma certa normalidade se não fosse um fato que tornaria tudo incompreensível e inaceitável e inacreditável e bizarro para os que dele tivessem conhecimento fora daquele grupo de amigos-irmãos; o fato que tornou tudo mais triste na vida deles, mas que, ao mesmo tempo, deu origem a essa celebração que acontece em cada dia de jogo do time e que os fez enxergar a vida (e a morte) de uma nova forma, de um jeito que não conseguem explicar – nem querem.

Não, Jairão não está mais entre eles. Sim, Jairão sempre esteve entre eles, e continua e sempre estará, a cada novo jogo nessa estação de rádio que só eles conhecem e que se encarrega de mantê-los unidos, aconteça o que acontecer.

HAMLET NO LAVÍNIA E O BLUES DO PICOLÉ DE FRAMBOESA

por Marcelo Mendez


(Foto:Fabiano Ibidi)

Sim, o cronista está feliz.

Com todos os raios multi coloridos de um domingo em fúria e seu calor absolutamente dantesco, aqui estou eu, poeta das letras ludopédicas, buscador renitente de um verso lírico, sagaz caçador de poemas improváveis, vivendo um daqueles amores que redimem o homem de todas as besteiras que ele faz.

Um instante na vida em que nada parece incomodar. O pernilongo, a conta de luz, o entregador de gás que demora, a pia que entope, o cachorro que late, o esquilo que corre a cerca… Nada atrapalha e tudo vira verso. Toda a Poesia do mundo reina no olhar de um homem em meio a umas de amor.

Pois é…

Munido de todo esse sentimento, parti do Jardim Lavínia em São Bernardo para ali, cobrir a Copa Regional. Me foi dito que ali aconteceria algo parecido com uma pré temporada dos times de várzea. Uma besteira, copiada dos clubes profissionais que decerto em outros tempos que não estes de amor, eu reclamaria horrores, rogaria todas as pragas do universo contra a pauta e arrumaria boas dores de cabeça ao bom editor.

No entanto, sabedor das coisas da várzea que sou, bem imaginei que dali não sairiam grandes coisas. Afinal, depois das festanças do término dos principais campeonatos da várzea do ABC, calor de novembro, domingo de manhã, enfim; ninguém ali correu muito.

O jogo era entre Jardim do Ipê e Águia Branca. Sob um sol intenso de 35 graus, em uma grama sintética que jogava isso para uns 40 graus sem dó, as duas equipes duelavam bravamente em preguiça de fazer inveja a Dorival Caymmi. Uma leseira para ser curtida ao som de Bob Marley a cantar seu hino “Catch a fire”. Uma canseira tamanha, que contaminava a todos ali na cancha.

Dona Raquel, 59 anos, moradora do Ipê, ali a meu lado se queixava do preço do sorvete de picolé e do serviço apresentado pelo moço que suava em bicas para ganhar seus trocados.

– Eu até queria comprar, mas olha lá onde ele tá… Lá do outro lado. Não vou dar essa volta debaixo de sol.

Munido do mesmo drama, Seu Salvador, 61 anos, morador do Bairro Assunção, se apertando em uma pequena sombra ao lado do campo, relatava ao cronista sua decisão:

– Eu queria até tomar um café afinal são onze horas. Mas com esse calorão, sabe como é… Uma cervejinha é mais de Deus né…

Não querendo atrapalhar a sagração do simpático senhor, nada disse, apenas sorri. Tomando como um consentimento de causa, lá foi Seu Salvador em rumo da cerveja santa a refrescar suas quenturas.

Segui ali.

Príncipe cansado como um Hamlet resoluto, por detrás de meus óculos escuros, permaneci atento a qualquer outro réquiem de encanto que por ali reinasse. Vez por outra, dava uma olhadela no campo. Via por lá uns meninos tentando entender o porquê de seus suores em bicas mas de imediato entendi que ali não estava o que eu procurava. Não seria da cancha que sairia o verso. Por vezes é assim.

A poesia do futebol de várzea mora na improbabilidade, no imprevisto, no insólito. No que há de mais corriqueiro aos olhos nus da normatividade das rotinas diárias, está o que na várzea, inevitavelmente acaba se tornando épico. Sempre esta lá. Toda hora tem algo a se tornar imortal por aqueles cantos. Cabe ao cronista ficar atento para ver. E se por vezes não ver, bem…

Dei a volta no campo para Dona Raquel em busca dos picolés. Comprei dois de Framboesa…