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OS MOSQUETEIROS DA FÚRIA

por Serginho 5Bocas


Houve um tempo, por volta dos séculos XV e XVI em que os espanhóis eram os donos do mundo, dividindo a supremacia com os portugueses, na época das grandes navegações, da expansão marítima que iniciou o período conhecido como Revolução Comercial, Cristovão Colombo foi um dos maiores ícones desta fase de glórias.

Alguns séculos se passaram e a geopolítica mundial sofreu algumas reviravoltas, Inglaterra e depois os Estados Unidos, substituíram os portugueses e os espanhóis no cenário econômico mundial, mas em um setor especifico da atividade humana, os espanhóis voltaram a dominar, pelo menos por um curto período de tempo, no futebol.

Hoje não vou falar de um, mas de dois craques da seleção da Espanha (um jogou e o outro ainda joga) e de uma escola criada para tornar perene o bom trato a dona bola, sai a “fúria” e entra em seu lugar “La roja”, ou seja, sai a raça e a vontade e entra o toque, a técnica e a posse de bola.

A Espanha se notabilizou no futebol mundial, durante muitos anos, pelo “quase”, ou como gostamos de sacanear os torcedores adversários, com a famosa frase jocosa: “Nadou, nadou e morreu na praia”, e como morria.


Só que de depois de muitos anos de “quase”, uma nova geração de jogadores mudou esta imagem ruim. Xavi e Iniesta foram os pilares desta mudança, muito bem acompanhados pelos ótimos coadjuvantes: Fabregas, Casillas, Xabi Alonso, Puyol, Busquets, Torres e Piquet.

Xavi é mais técnico e era o motor da engrenagem, era nele que a bola era gasta, que fazia a roda girar, provavelmente é o jogador que mais deu toques na bola em uma partida em todos os tempos, e como o cara gosta de carimbá-la. A bola procura Xavi e ele agradece, sempre econômico e inteligente, se movimenta o tempo todo para estar disponível e manipulá-la. Reza a lenda que Xavi ficava meses sem errar um passe. Exageros à parte, tinha esta grande virtude como sua marca neste jogo.


Iniesta era e ainda é o mais habilidoso, sabe driblar, fintar e cruzar, não como jogavam os espanhóis que conhecíamos, mas com velocidade de raciocínio e excelente colocação. Faz poucos gols para um meia que mais se parece com um atacante, mas faz os gols quando o time mais precisa, é aquele tipo de jogador que procura jogo, não se esconde quando o tempo esquenta. A final da Copa do Mundo de 2010 provou a teoria. Quando o jogo contra a Holanda parecia que ia para a prorrogação, ele apareceu e bateu com força e categoria a bola do jogo, não foi obra do acaso, foi fruto de quem sabe e não tem medo de errar.

A Espanha implantou uma forma de jogar que já conhecíamos, mas que por muito tempo e até bem poucos anos, raramente se copiava, pois não é fácil imitar o que eles melhoraram. Jogam o tempo todo marcando forte, pressionando o erro do adversário até recuperarem a bola, e quando tem a bola em sua posse, gostam de ficar com ela. Podem perder partidas mas não admitem perder a posse da bola. Começou com Luis Aragonés e se perpetuou com Vicente del Bosque.


Para esta engrenagem funcionar desta forma “azeitada”, era necessário uma geração especial e ela veio. Começando com uma safra que foi campeã mundial sub-20 e alguns anos depois, sendo abastecida com a chegada de outros talentos, esta turma ganhou na elite mundial duas Eurocopas e uma Copa do Mundo.

Parece que esse balé já teve seus dias contados, pois pelo visto não está havendo a renovação de talentos para que ocorra a manutenção da escola de jogo. Como torcedor torço para essa história ter tido um fim, mas o perigo é se essa mentalidade já estiver disseminada em todas as categorias. Ai vamos ter que melhorar muito o que estamos jogando pra ganhar dos caras.

A bola esteve com a Espanha, sob a batuta de Xavi e Iniesta, e olha que os caras nem tinham um centroavante matador. Ai se tivessem….não sei aonde poderiam ter chagado

O TERROR DA MULHERADA

por Matheus Rocha


Todos nós sabemos: somos fominhas por futebol. Você olha para o céu, aquela névoa sobre a cidade, relâmpagos distantes e depois do trabalho aquela pelada naquele mesmo campo society de toda semana!

Obviamente, a chuva só vai aumentar e começa aquele burburinho no WhatsApp: “Vai ter pelada com chuva?”. Sempre tem aqueles que não são tão fominhas de bola quanto nós, convenhamos, simples mortais! Mas óbvio que já cortamos a conversa às 3 horas da tarde com aquele carrinho (também via WhatsApp): “Você é de açúcar? Claro que tem pelada…”. Ainda joga umas carinhas na sequência da mensagem, só para o colega não levar para o lado pessoal.

Você passa em casa rapidinho e sua mulher pergunta: “Você vai no futebol? Mas está caindo o mundo…” Claro que nós vamos!!! NÓS SEMPRE VAMOS!!! Mesmo que o mundo esteja acabando!!!

Arruma a malinha com chuteira, meião e outros apetrechos, coloca no carro e #partiupelada!!!

Obviamente, quando saímos de casa, já sabemos o que nossas esposas, namoradas, mães, enfim, mulheres de nossas vidas estão pensando vendo aquela chuva lá fora. Mas isso é um problema para depois…

Mas não vamos preocupar com isso, afinal tenho umas divididas para entrar, uns lançamentos para fazer ou então ser o matador da pelada.

Tem coisa melhor que jogar bola na chuva? Bom demais! Refrescante, relaxante e… perigoso também! Sempre tem um sem-noção dando aquele carrinho que mais parece uma cegonheira deslizando no gramado.


Depois de tirar todo stress acumulado, chegou a hora de ir embora. Aquele meião encharcado pela chuva, com aquela tornozeleira cheirando podre e a chuteira… Ah, a chuteira!!! Cheia de borrachinha da quadra de futebol society!!!

Você pode bater a chuteira na arquibancada, no chão de cimento, onde você quiser. Quando você chegar em casa lá estarão milhares – por que não – milhões de borrachinhas sujando todo lugar que você encosta. Você leva ainda para aquela área de serviço minúscula (que muitas vezes é conjugada com a cozinha nesses novos minúsculos apartamentos do século XXI).

Quem tem esposa, namorada, juntada, mãe ou afins sabe qual é o verdadeiro terror da mulherada: A BORRACHINHA DA QUADRA SOCIETY, que em dia de chuva multiplica-se. Nós, peladeiros, sabemos que aquele “pó” de borracha estará em todos cantos. Estará no carro, porque na hora que você foi colocar a chuteira na bolsa, ficou um monte grudado do lado de fora. Ficará na área, na cozinha, no banheiro, quando menos perceber estará até no seu quarto. Parece que a borracha tem vida própria e ainda voa!

Aí você coloca para lavar com a melhor das intenções. Pronto! Agora é borrachinha de grama na calça, na meia, na calcinha da sua esposa… Quando você colocou aquela chuteira, aquele meião e aquela tornozeleira podre de molho no tanque, você não esperava que no dia seguinte que sua esposa passaria já pela manhã para lavar qualquer coisa e ainda foi tentar colocar aqueles apetrechos futebolísticos para secar (só porque você pensou em mexer com isso na noite seguinte). Aquelas borrachinhas não sairão do tanque nos próximos 40 dias: se transformaram na Terceira Guerra Mundial – e bem na sua área de serviço, amigo!

MODESTO BRIA, O ÍDOLO QUE FEZ DO FLAMENGO SUA VIDA

O grande Bria, pai do querido Antonio Henrique Bria Bria, faria anos nesta quinta-feira (8). Foi um dos maiores jogadores da história do Flamengo e até hoje é lembrado pelos torcedores, sobretudo os mais antigos. A seguir, uma breve biografia do grande craque do passado

por André Felipe de Lima


O repórter perguntou: “Que conseguiu você do futebol, Bria?”. Modesto Bria, centromédio extraordinário e ídolo do Flamengo nos anos de 1940, onde formou uma das mais famosas linhas médias da história ao lado de Biguá e Jayme de Almeida, respondeu com a humildade digna de um sábio tibetano e do próprio nome que assina: “Materialmente, quase nada. Apenas um terreninho em Teresópolis. Mas no Brasil obtive muita coisa: amigos que dinheiro algum no mundo pode comprar, um bom clube para trabalhar e um ótimo filho, Antônio Henrique, de 11 anos, que é brasileiro”.

Se os almanaques e pesquisas sobre a história do Flamengo estiverem corretos, Modesto Bria foi o primeiro craque paraguaio a vestir o manto rubro-negro.

Embora dissesse em entrevistas ser apenas “regular”, era um volante clássico, de toque refinado, que ligava a defesa ao ataque com passes precisos, a maioria deles nos pés de Zizinho, meia mais avançado daquele sensacional time tricampeão do Flamengo de 1942 a 44. Bria era peça-chave naquela engrenagem campeã. “Sempre fui centromédio. Não sabia jogar em outra posição”. Foi o jogo da final do campeonato de 1944, o que garantiu o “tri” sobre o Vasco, que mais emocionou Bria. “Vencemos o Vasco por 1 a 0, gol de Valido. Fiz a maior partida da minha vida”.

Aquele Flamengo era ofensivo à beça. Derrubara até mitos de que zagueiro não passava da linha do meio de campo para atacar o adversário. Balela, diria Bria. Domingos da Guia — talvez o maior de todos os beques que já produzimos no Brasil — subia bastante ao ataque. Era o Bria quem dava a cobertura, permanecendo na zaga. Deu tão certo a jogada que o Flamengo foi tricampeão do Rio, sem rivais à altura.

Nascido na paraguaia Encarnación, no dia 8 de março de 1922, Modesto Bria começou a jogar futebol em 1938, com 16 anos, no time amador do Nacional, na capital paraguaia, seu time do coração na infância. No ano seguinte, tornou-se profissional. Órfão de pai e arrimo da mãe, da irmã e do irmão, estudava para trabalhar no comércio. Não tinha muitas pretensões com o futebol. Isso, na adolescência. Mas o rapaz cresceu e mostrou a que veio. Era bom de bola. Defendeu a Seleção do Paraguai duas vezes. Permaneceu no Nacional até 1943, até o compositor e locutor esportivo Ary Barroso o descobrir durante uma viagem ao Paraguai. “Um dia [bendito dia!] Ary Barroso foi a Assunção. Viu-me jogar e ficou tão entusiasmado comigo que não teve dúvidas”.


Quem apresentou Bria ao Ary Barroso foi o tenente-coronel Sylvio Santa Rosa, adido militar no Paraguai e dirigente do Conselho Nacional de Educação Física local. Ary, que fazia um show no Teatro Nacional de Assunção, deu uma escapa durante a folga do palco e foi ver Modesto Bria jogar [e bem à beça!] pelo Paraguai contra a Argentina. O placar terminou 2 a 1 para o escrete de Bria. Ary encantou-se, invadiu o vestiário e o intimou a substituir o argentino Volante, que estava se aposentando no Flamengo. Pegaram um pequeno avião e chegaram ao Rio no dia 27 de agosto de 1943, uma sexta-feira.

Ao descer no Aeroporto Santos Dumont, Bria foi surpreendido por um mar de torcedores. Abraçaram o craque, beijaram e tiraram fotos ao lado dele. Bria já era ídolo mesmo sem entrar em campo. “Cheguei ao Rio e fiquei maravilhado com as belezas da cidade. Estou encantado com o pessoal do Flamengo. Estava cansado sexta-feira e apenas tomei meio litro de leite e dormi. Ontem [sábado], percorri toda a praia do Flamengo e vim à cidade [Centro do Rio] e à redação de A Noite”, disse Bria ao repórter do jornal, no dia seguinte a chegada ao Rio.

Mas o que poucos sabem é que a espetacular chegada de Bria ao Rio não foi mérito do Ary Barroso, como até hoje muitos acreditam. Antes mesmo de o compositor e flamenguista de quatro costados conhecer o craque, o Flamengo já nutria interesse por Bria, como revelou reportagem do jornal A Noite, de 31 de agosto de 1943, na qual um outro Ary [Fogaça], alto funcionário dos Correios e torcedor fanático do Flamengo, recebeu de um amigo de Assunção recortes de jornal que exaltavam o jogador. Ele não pestanejou, falou com o técnico Flávio Costa e enviou os recortes de jornais a Alfredo Curvelo, cartola do Flamengo. Um repórter do jornal A Noite acompanhou o caso e chegou a redigir o texto de um telegrama de Ary Fogaça a Santa Rosa, de quem o funcionário dos Correios era muito amigo. Santa Rosa veio ao Rio e foi apresentado a Curvelo.

Encantado com o que lera e ouvira sobre Bria, Curvelo e o presidente do Flamengo, Dario Melo Pinto, autorizaram Santa Rosa a iniciar as negociações com o Nacional. Ou seja, a vinda de Bria com Ary Barroso foi apenas fruto de uma reportagem sensacionalista do matutino O Jornal, cuja seção de esportes estava sob o comando do compositor e locutor esportivo. O espetáculo marqueteiro promovido por Ary Barroso deu certo. Centenas de torcedores foram ao aeroporto receber o jogador e a versão falaciosa de que Ary Barroso trouxera Bria “no grito” prevalece até hoje. “Foi o que de mais emocionante poderia ter havido. O Flamengo teria que enfrentar o Fluminense, nessa semana. O jogo era no domingo e praticamente estávamos em cima da hora. Viemos de teco-teco, um aviãozinho de apenas três lugares, eu, Ary Barroso e, obviamente, o piloto”.


Biguá, Bria e Jayme de Almeida

O craque custou ao rubro-negro noventa mil cruzeiros entre passe e luvas. Dinheiro pra chuchu naquela época, que obrigou ao Flamengo recorrer a um empréstimo do Banco do Brasil, cuja última parcela foi paga somente em janeiro de 1944.

O passe de Bria estava bastante concorrido. Além do Flamengo, o Gimnasia y Esgrima, da Argentina, queria o centromédio. O Nacional recusou a oferta por considerá-la baixa. Mas outro argentino quase atropelou o clube brasileiro. O River Plate oferecera 150 mil cruzeiros. Mas como a remessa do sinal demorava a chegar por conta de entraves burocráticos, o Nacional optou pela oferta do Flamengo.

No dia 12, Bria estreou contra o Fluminense, em jogo que terminou empatado em 2 a 2, Perácio marcou os dois gols do rubro-negro, com Invernizzi e Carreiro descontaram para o tricolor. A crônica esportiva escreveu que Bria jogou bem, com passes precisos, ótimo posicionamento, mas com muito trabalho para marcar o meia Tim. Não era para menos. Tim foi um jogador mágico.

Outra informação pouco conhecida é que o coronel Santa Rosa tinha outro endereço programado para Bria no Rio de Janeiro: as Laranjeiras. A sorte ajudou, emperrando a ambição milionária do River Plate e o ligeiro Ary Barroso tratou logo de embarcar o craque em um teco-teco rumo à Gávea.

Bria pensara jogar apenas dois ou três anos pelo Flamengo. Mudara radicalmente de ideia. Descobria ser a Gávea o seu segundo lar. Construíra em seguida uma linda família. Por dez anos defendeu o Flamengo. O amor pelo clube preto e vermelho o completava na alma. Foram registrados 360 jogos pelo rubro-negro e oito gols contabilizados. Chegou a ter o passe emprestado ao Santa Cruz de Recife, em 1952, mas a paixão pelo Flamengo era mais forte. Voltou à Gávea no mesmo ano para encerrar a carreira, cedendo a posição para outro magnífico volante da história do Flamengo: Dequinha. “Era um tempo bom. A vida era mais tranquila e o jogador vivia mais. Nas vésperas dos jogos recebíamos a visita de amigos cantores que apareciam espontaneamente para nos ajudar a superar a expectativa. Orlando Silva, Ciro Monteiro e muitos outros cantores rubro-negros da época ficavam conosco até tarde. Eu, Biguá, Zizinho e Pirilo praticamente morávamos na concentração”.

Atendendo ao pedido do então presidente do Flamengo Gilberto Cardoso, Bria, que estava distante do futebol após pendurar as chuteiras, tornou-se treinador dos juvenis em 1955 após uma breve passagem pelo Cerro Porteño. Conquistou um tricampeonato carioca da categoria dirigindo a garotada. Em seguida, foi auxiliar do patrício Fleitas Solich e de Flávio Costa no time principal. Treinou o Ipiranga, de Salvador, mas foi uma página decepcionante para ele. “Fizeram-me pedir um ano de licença ao Flamengo e no fim de dois meses puseram-me no olho da rua, sem respeitar nenhum dos compromissos assumidos. Sorte que imediatamente o Botafogo de lá mesmo da Bahia contratou os meus serviços e não precisei voltar correndo e pedir para o Flamengo interromper a licença já concedida. E estou certo de que os dirigentes do Botafogo baiano não se arrependeram do apoio que me deram, em momento tão difícil”.

Tempos depois, foi um dos responsáveis pela formação de Zico, o maior ídolo do Flamengo em todos os tempos. “Fui eu que busquei o Solich no Paraguai. Busquei também o Benítez, Garcia e Reyes, outros paraguaios que se deram bem na Gávea”. Dizia ter sido Zizinho o melhor jogador que viu jogar pelo Flamengo. Abaixo dele Gérson e Zico. “Na minha posição, o que mais me agradou foi Dequinha, exatamente meu substituto quando parei de jogar”.


Após a morte da esposa Ivone, Bria casou-se novamente. Antônio Henrique é o único filho do primeiro casamento. “Meu filho é técnico em computação eletrônica e trabalha para uma das grandes organizações bancárias do Brasil. Ele e minha nora me deram uma segunda Ivone, a minha netinha. E olhe que podem me chamar de vovô babão como quiserem, mas duvido que exista uma menininha tão linda em todo o universo como a minha netinha”, contou Bria, em entrevista concedida em 1971 para a revista especial “Grandes Clubes Brasileiros/ Flamengo”.

Teve mais dois filhos. Morava em Copacabana e mantinha um sítio em Bananal, no interior paulista. Foi um dos funcionários mais antigos do Flamengo. Trabalhou no clube por mais de 50 anos. Seu prazer era passar o dia na Gávea. Quando podia, ia ao consulado do Paraguai saber das notícias da terra natal. Ao repórter Cláudio Arreguy, confessou em 1992: “Sou meio brasileiro e meio paraguaio. Se as duas seleções se enfrentam, fico dividido. Acabo torcendo só um pouco para o Paraguai. Sou primo-irmão do presidente do Paraguai [general Andrés Rodriguez, que se manteve no poder entre 1989 e 1993]. Nossas mães eram irmãs. Foi minha mãe quem o colocou no quartel. Mas não temos mais contato nenhum. Aliás, há seis anos não vou lá”.

Sentia saudade dos tempos de jogador. Confessava isso aos repórteres e aos mais próximos. “Muitas, mas muitas saudades mesmo. Gostaria de poder retornar à idade que tinha para poder jogar futebol”. Assim Bria resumia sua maior paixão: “O Flamengo é uma vida. Ser Flamengo é um nó na garganta, e nada mais”.

DAS DORES DO 6×0 ALHEIO E DO SILÊNCIO DAS CHUTEIRAS BRONZEADAS

por Marcelo Mendez

A tarde em Festa

Foi uma alegria só!

Na tarde daquela quarta-feira, 21 de junho, além dos oito anos de aniversário da conquista do Tri em 70, o Brasil fez 3×1 na Polônia com uma exibição de gala do meia Dirceu e no quintal da Avenida das Nações, começou uma profusão de abraços, beijos e cânticos. Eu mesmo ganhei vários desses abraços.

– Marcelo, vamos para a final! – disse minha prima Marlene me beijando o rosto, enquanto o céu do Parque Novo Oratório era forrado de balões e fogos de artifício.

Na rua, os carros buzinavam, as pessoas corriam com bandeiras do Brasil e tudo era alegria. Eu, com meus imberbes 8 anos, entrava na gandaia. O que se dizia era que a Copa de 1978 já estava no papo e só meu Tio Moreno que teve a prudência de questionar aquele forfé todo:

– Olhaaaaa… A Argentina já mudou lugar de jogo, o horário, está estranho isso aí…”

– Moreno, nem com todo roubo do mundo, eles fazem quatro gols no Peru. Eles não têm time pra isso! – respondeu, meu outro Tio, o João.

– Melhor esperar o jogo à noite…

– Ahhhhh, Moreno… Deixa de ser chato!

– Eu quero só ver…

Noite em desalinho


A boca da noite daquela quarta-feira estava estranha.

Toda a euforia da tarde, da festa antecipada, parecia ter acabado mais que repentinamente. No lugar dos beijos, abraços, rojões, goles de cerveja Antárctica e cantorias, o que passou a imperar era um sentimento de apreensão.

Uma dose forte e cruel de realidade se aproximava da nação bronzeada com o começo do jogo Argentina x Peru.

Na nossa sala, todo mundo de olhos na TV, ninguém falava muito. A impressão que tinha é que à tarde rolou um transe xamanico/ludopédico, mas que acabou e no lugar veio uma partida de 90 minutos para ir “curando” todo torpor de alegria que inundava os corações canarinho. E nem demorou muito.


Em poucos minutos do primeiro tempo, o jogo já estava 2×0 para a Argentina, com dois gols esquisitíssimos; No primeiro, o zagueiro peruano simplesmente saiu da jogada, dando uma pernada em lugar nenhum. Kemps, na saída do goleiro Quiroga, só empurrou para o fundo das redes.

No segundo, não é que Tarantini estava sozinho na área; Ele, além de sozinho, abaixou para cabecear uma bola totalmente defensável para ampliar a coisa para 2×0. E assim terminou o primeiro tempo. E na segunda etapa foi ainda pior…

O bom time peruano, que tanto trabalho deu ao Brasil, parecia um time de várzea dos piores. O ataque argentino entrou como quis e fez não só 4, mas 6×0. Uma tunda, uma paulada. Fiquei triste…

Com meus parcos 8 anos, entendi que toda aquela festa de horas antes, todos aqueles beijos e abraços, havia chegado ao fim, por conta daquele 6×0 da Argentina no Peru. Vi todo mundo protestando, falando em marmelada, em falta de vergonha na cara, mas o que mais me impressionou naquele dia foi outra coisa:

O silêncio.

Descobri naquele dia 21 de junho de 1978, que o futebol é uma montanha russa, que ele pode gerar desde a irritante alegria, até a mais pungente tristeza, em questão de quase nada de tempo. E que uma dor de futebol tem retumbância atroz.

A dor do futebol cala muito mais que instrumentos de samba. Ela silencia os sonhos…

UM TIME CHAMADO CAMBURÃO

por Rubens Lemos


Sede de General Severiano com faixa anunciando um Baile Black com o Monsieur Lima.

Quando viu o ônibus do Botafogo chegar ao Maracanã naquela tarde de 1977 e as primeiras cabeças foram surgindo das janelas, o repórter Deny Menezes, sarcástico e rápido, não se conteve e mandou flash para a cabine da Rádio Nacional: “Atenção Zé Carlos (O narrador José Carlos Araújo), o Time do Camburão acaba de chegar…”.

Há nove anos sem títulos, na época, o presidente Charles Borer, ligado ao SNI, da linha dura de apoio ao Regime Militar, estava execrado pela torcida pela venda da lendária sede de General Severiano à Companhia Vale do Rio Doce. Toda a história do dirigente Carlito Rocha, o seu cachorrinho Biriba, Heleno de Freitas, Nilton Santos, Didi e Mané Garrincha havia sido jogada fora para ser recuperada nos anos 1990.

Charles Borer parecia tirano comandante de tropas alemães da SS na Segunda Guerra Mundial e era combatido pelo jornalismo de esquerda, liderado por João Saldanha, por defender pancada nos comunistas cuja perseguição era liderada pelo seu irmão Cecil Borer, diretor do temível DOI-CODI, ante-sala da morte nos anos de chumbo.

Borer quis ficar de bem com a torcida e demonstrar autoridade. Montou um time cheio de craques malandros acima da conta. Contratou Paulo César Caju, Mário Sérgio, Dé, o Aranha, Manfrini, Gil, Ubirajara Alcântara, Renê Pancada e Rodrigues Neto. 


Já estavam no Botafogo, Bráulio, o ex-Menino de Ouro do Internacional(RS), Carbone e Ademir Vicente, que contava detalhes aos companheiros do seu namoro com a cantora Vanusa. Na teoria, um time, na prática, o camburão perfeitamente definido por Deny Menezes. Ninguém queria nada a não ser criar caso, fazer arruaça e desafiar a decantada valentia de Borer. 

Paulo César Caju não costumava jogar às quintas-feiras pois às quartas havia noites especiais com garotas importadas na então famosa Boate Regine`s. PC Show, com vasta cabeleira Black Power, fazendo biquinho, recitava o francês que aprendeu à risca, no tempo em que brilhou no Olympique de Marselha. Divertiu-se e encantou. Tocar a bola para ele era um desfile.

Mário Sérgio e Renê gostavam de brincadeiras sadias quando o time viajava a Campos e Volta Redonda. Sacavam revólveres e atiravam em placas de trânsito. Quem acertasse menos, pagava a rodada de cerveja, que começava no próprio ônibus (camburão).

O Camburão de Futebol e Regatas passou a treinar em Marechal Hermes, onde foi construído um estádio com arquibancadas metálicas. Segunda-feira pela manhã, nem pensar. Tudo começava às duas da tarde porque do time titular, apenas o jovem e habilidoso meia Mendonça acordava antes do meio-dia.

Depois de empates contra Olaria e São Cristóvão, Charles Borer pensou que enquadraria de uma vez o Camburão. Contratou para técnico ninguém menos que o delegado de polícia Luiz Mariano, do antigo time dos 12 de Ouro, alcunha afável do Esquadrão da Morte. De preparador físico, a seda humana chamada Hélio Viggio, chefe da Divisão Anti-Sequestro.

Charles Borer apresentou a dupla, que guardava pistolas sob as calças de elástico e disse que a partir daquele momento, ai de quem continuasse desrespeitando a autoridade dirigente. Foi às duas da tarde. 

No dia seguinte, pela manhã, não viu Mariano ou Viggio em Marechal Hermes. Telefonou ao técnico, que o atendeu, pelas 11, voz de ressaca monumental. “Borer, o Dé, o Ademir e o PC nos convidaram a um papo, pra selar a paz, mostrar boas intenções e terminamos às sete horas, todos bêbados. São bons meninos.” 

Desmoralizado de uma vez pela malandragem, Borer resolveu desmontar o camburão, vendendo, com dificuldade, peça por peça, até 1979.