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GAME OVER

por Mateus Ribeiro


Eu estava empolgado para acompanhar a final da Libertadores 2018. Aposto que você também estava. Porém, a partida foi adiada duas vezes, por conta de problemas com a segurança. E pra ser bem sincero e direto: a final deveria acabar no sábado, sem a realização da partida de volta.

É claro que eu amo futebol, e gostaria de acompanhar uma final entre River Plate e Boca Juniors, da mesma forma que gostaria de ver um Corinthians e Palmeiras, um Peñarol e Nacional, ou qualquer grande clássico. Contudo, no ano de 2018, precisamos relembrar que uma partida de futebol é disputada por seres humanos. Sim, seres humanos iguais eu e você. Acreditem ou não, esses caras que endeusamos (e detonamos) também possuem famílias, também respiram, também precisam pagar contas, e tudo o mais. Dentre todas as coisas que temos em comum, vale ressaltar uma: o direito à segurança. E parece que esse direito foi ferido no último sábado.

Acontece que o estrago foi grande, a ressaca maior ainda. A chance da partida não acontecer no domingo era grande. E para o bem de todos, não aconteceu.

A Conmebol prometeu definir uma nova data para a reunião hoje. Eu não tenho ideia do resultado dessa reunião. A hora que você estiver lendo este texto, talvez os mandatários já tenham decidido o que fazer. De qualquer forma, eu coloco a minha mão no fogo que irão remarcar o jogo em uma nova data. Ou você acha que nossa estimada e sempre transparente confederação iria deixar para trás o investimento gigantesco dos patrocinadores, ou todo o espetáculo que a transmissão dessa partida poderia gerar? Pensando mais longe, você acha que em algum momento, os chefes dessa baderna irão pensar no perigo que os jogadores do Boca Juniors passaram?


Para tentar clarear a cabeça daqueles que não conseguem sentir o tamanho do problema, vamos fazer alguns exercícios de reflexão rápidos:

1 – Imagine se o ônibus perde o controle, naquele local extremamente movimentado?

2 – Tente imaginar se o Boca Juniors vence a partida, como seria o comportamento de PARTE da torcida presente no estádio.

3 – Como o trio de arbitragem iria se comportar? (lembrando que a turma do apito é composta por seres humanos).

4- Tente se colocar na pele de qualquer jogador do Boca Juniors depois do incidente.

5 – Caso seja muito difícil, tente imaginar que qualquer cara dentro daquele busão fosse um parente ou amigo seu;

6 – Esqueça esse papo de rivalidade. Lembre-se que a grande maioria dos jogadores são amigos, além de companheiros de profissão. Você realmente acha que os jogadores do River Plate conseguiriam jogar naquelas condições?

7 – Grande parte dos torcedores do River não compactua com tamanha selvageria. Como esse pessoal se sentiria durante a partida?


Creio que depois disso, fique um pouco mais fácil de entender que não há razão para a partida ser disputada. Eu não entendo nada de direito desportivo, mas em 2015, quando os times se enfrentaram, atos de selvageria aconteceram na Bombonera, o que causou a eliminação do Boca Juniors. Sim, eu sei que o Boca não cumpriu a sua pena inicial, e que teoricamente, nem deveria estar disputando essa edição da Libertadores. Porém, cabe lembrar que o River Plate teve os casos de jogador irregular (o que praticamente eliminou o Santos), além de Gallardo infringindo o regulamento.

“Ah, mas é final”. E DAÍ? Existem vidas que já correram riscos, e não precisam se arriscar mais. Que se encerre a final. Que se elimine o River. Que o Boca seja o campeão de um torneio que todos saíram perdendo.  É preferível perder um jogo do que acompanhar um velório, não é?

O que fica registrado, no final de tudo, é que a Conmebol perdeu uma bela oportunidade de mostrar o mínimo de respeito por quem realmente faz e acompanha o espetáculo.

HISTÓRIAS DE FUTEBOL (E DE VIDA)

por Claudio Lovato 


Foi isto o que o destino me reservou: ser o cara que apaga a luz e tranca a porta.

O último a sair.

O coveiro.

Meu pai foi presidente deste clube duas vezes. Com ele, este clube deixou a obscuridade e permitiu que seus torcedores sonhassem.

Mas os que vieram depois do meu velho não souberam manter a chama alta. Não conseguiram sequer mantê-la acesa.

Então, me chamaram, e eu – o idiota presunçoso – não consegui dizer não. Quis honrar a obra do meu pai, dar sequência ao que ele fez. Mas quem sou eu?

Eu sou apenas o cara que vai apagar a luz, trancar a porta e jogar a chave fora.

O último funcionário do campo da morte.

Foi o que o destino me reservou.

Vou entrar para a história como o cara que não conseguiu.

Acabou. 

********

Os dois homens estão sentados lado a lado na arquibancada do velho estádio. Acabaram de ver seu time perder mais uma.

O homem mais jovem aponta para um torcedor que está alguns degraus abaixo, rasgando a bandeira do clube. Um companheiro se aproxima dele e o impede de completar o que estava fazendo.

O homem mais velho diz ao mais jovem:

– Um daqueles dois apenas perdeu; o outro foi derrotado.

O mais jovem pergunta:

– Quando sabemos se perdemos ou se fomos derrotados?

 – Quando temos dúvida entre uma coisa e outra, então fomos derrotados! – o mais velho então diz.

******** 

Eles se casaram quando ele tinha 23 anos e ainda disputava a titularidade no time pelo qual, menos de dois anos depois, se sagraria campeão continental.

Conheciam-se desde a infância, vizinhos no bairro onde nasceram e onde seus pais nasceram e onde os pais de seus pais nasceram.

Ela disse:

– Vou com você aonde tiver que ir. Vou estar sempre ao seu lado.

E ele respondeu:

– Não tem nada mais importante pra mim.


Hoje, exatos 30 anos depois, estão comemorando o aniversário de casamento jantando no restaurante preferido deles.

Ele não conseguiu abandonar o futebol. Em suas palavras, ajuda “uns garotos que estão começando”. Não gosta de ser chamado de empresário. Não se vê como tal. Quer ajudar os garotos do mesmo jeito que um dia foi ajudado, de um jeito que fez toda a diferença.

E ela… Ela continua com o mesmo brilho no olhar, e a mesma sabedoria serena que ao longo do tempo assegurou que a vida deles, apesar dos percalços inevitáveis a qualquer habitante deste planeta – solteiro ou casado -, fosse essencialmente aquilo que eles sempre quiseram que fosse.

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Foto: Ricardo Chaves/Agencia RBS

Manoelzinho sabe sonhar.

Tem 12 anos e quer ser jogador de futebol.

Manoelzinho é filho de Etevaldo e Vera. São três filhos. Manoelzinho é o mais novo, temporão. Carmen Lúcia e Gilson, os mais velhos.

Os irmãos, volta e meia, trazem para casa algum presente para ele. Sempre alguma coisa relacionada ao futebol: um chaveiro, uma revista, um adesivo, uma caneta.

Manoelzinho sempre fica muito feliz quando recebe um presente desses, e então sonha mais alto e mais forte.

Então se vê mandando uma bola, de canhota – sempre de canhota! – lá na rede, no contrapé do goleiro. E se vê correndo para a torcida, que o adora como a nenhum outro antes ou depois.

Manoelzinho é rei em seu quarto, seu quarto que é seu estádio, e ele, sequer por um segundo, deixa que seu problema – “distrofia”, palavra que ele ouviu seus pais repetirem aos sussurros mais de uma vez -, atrapalhe as coisas. Não mesmo.

Porque ele aprendeu que não existe a menor chance de alguém ser feliz nesta vida sem sonhar.

Ele aprendeu que sonhar é o que leva à liberdade, ao tipo de liberdade que mais interessa.

DEZ VEZES VERDES E UM PORRE REDENTOR

por Marcelo Mendez


De tudo que posso lembrar-me do domingo, a última coisa que disse antes de entrar em estado delicioso de torpor etílico foi: “Deyverson, eu te amo”.

Assim como tantas outras vezes eu disse que o odeio, que o detesto, que não joga nada, que é maluco, que é grosso e caneleiro. Mas daí vem o titulo do Palmeiras do Brasileirão em 2018 e nada do que foi dito importa.

Só vale então o que se sente.

Um titulo do Palmeiras para mim tem o gosto do picolé da Yopa que meu pai comprava para mim na frente do Parque Antártica, lá pelos anos 70. Tem o cheiro daquela chapa de pernil, pronta pra preparar os mais deliciosos lanches que já comi. Tem a velocidade do carro do meu saudoso Tio Bida, a nos levar para embates épicos pelas arquibancadas de São Paulo ao longo da vida.


Vale muito.

Vale minha busca intrínseca pelo riso do rosto de vocês, meus iguais Palmeirenses, vale pelo meu ofício de cronista, de procurar a mínima centelha de faísca para através dela, incendiar o coração de vocês, para criar uma labareda de encantos, em meio a esse mundo duro e frio que insiste em se fazer presente.

As melhores vezes que consegui isso foram através do Palmeiras.


Portanto agora, as 05h27min da manhã da segunda, vestido de verde e tomando café numa padaria do Parque Novo Oratório, eu saúdo a todos vocês que assim como eu, deram um tempo na chatice da razão critica, da razão pura e simples e de todas as lógicas que se impõe no dia a dia nosso.

Já, já a gente volta às responsabilidades.

Agora comemora Palmeirense.

Comemora que a gente merece.

UM TANGO INACABADO

por Paulo Escobar


No primeiro texto que escrevi sobre aquele jogo inesquecível da primeira final, terminei dessa forma: “Até depois do dia 24 para falarmos mais disto que é mais que um clássico. Até…”

Gostaria de ter escrito hoje sobre um jogo épico como o primeiro, de ter falado de uma partida elétrica ou ter citado uma final inesquecível. Mas não foi o que vimos.

River e Boca costuma ser um clássico cheio de história e rivalidade, de muitas confusões, de todo tipo de loucura possível, do inimaginável tanto dentro como fora de campo. Se esperávamos ver um grande jogo no sábado, nos enganamos. Depois das pedradas da torcida do River no ônibus Xeneize, vimos jogadores feridos e uma final jogada para domingo de novo.

E depois de mais um tango, cheio de dramas e reviravoltas, chegamos ao grande dia e a diferença daquele jogo adiado na Bombonera é que em Nuñes não tivemos o jogo tão esperado. O Boca se recusou a jogar com jogadores feridos e disse que com a diferença de condições esportivas em relação ao River não jogará.


River e Boca mexe com questões além do jogo, mexe com as classes sociais, mexe com a história, as derrotas viram hinos e são marcas profundas. Pra quem já foi a Boca ou passou por Nuñes sabe o que significa perder um jogo comum num superclássico. O que se viu foi não querer perder aquela que tem sido dita como a última final em dois jogos da história da Liberta, pois ano que vem seremos uma cópia europeia.

Tevez lembra aquela eliminação que o Boca sofreu quando a torcida Xeneize jogou gás de pimenta nos jogadores do River. O que se pede é a anulação do jogo e a diretoria do Boca pede os pontos da partida no tribunal.

A torcida do River, na saída do jogo deste domingo, cantava “Bocagón” insinuando que os Xeneizes não queriam entrar no jogo por medo do confronto. E mais uma vez os torcedores que estavam neste domingo no estádio sofreram com a desorganização da Conmebol, que tirou o corpo fora dos incidentes.

Não vou fazer análises daquelas que colocam torcedores como bandidos e nem juízos morais, pois entendo que o futebol faz até o mais calmo dos seres humanos perder a noção. Vale lembrar que pela paixão ao futebol já se fez de tudo neste mundo, e entendemos também que a revolta social é uma questão um pouco mais ampla e que está bem além do futebol. Também não vou cair naquele “punitivismo” que faz com que se proíba de tudo nos estádios.


Fiquei triste por querer ver esse jogo, e se é pra apontar culpados jogo na conta das federações, pois entre AFA, CONMEBOL e CBF não se tem muita diferença.

Lembremos que aqui já tivemos uma final que começou em 2000 e terminou em 2001 ou times que subiram da terceira pra primeira ou títulos reconhecidos por interesses políticos estranhos, ou VAR que funciona para alguns e para outros não.

As federações, entre elas a FIFA, são as grandes culpadas pelo pior que vemos no futebol e sempre movidas por interesses financeiros que fazem do esporte um simples instrumento para o lucro das pessoas por trás destas entidades. Quem num Boca e River joga o ônibus Xeneize para passar no meio da torcida dos Millionarios?

Gostaria de deixar algumas dúvidas no ar:

A quem interessa este tumulto na última final ida e volta? Será que não se quer fortalecer a ideia de campo neutro e jogo único?

A quem interessa esticar mais o jogo e as incertezas?

A quem interessa criminalizar e generalizar as torcidas como bandidos?

Há problemas estruturais e profundos no futebol mundial, movido por interesses políticos e financeiros de empresas, algumas pessoas e instituições por trás e nos bastidores que se mantêm ocultos.


Gostaríamos de ter visto um jogo épico no monumental, queria poder escrever aqui sobre o futebol e a paixão que nos move e faz viver isto que é muito mais que um esporte. Mas ainda nas incertezas mal sabemos o que virá pela frente e o que acontecerá pode ser qualquer coisa. Até a decisão sair não diga que já viu de tudo, pois há coisas que você ainda verá e duvidará.

Terça feira, dia 27, às 10h, assistiremos o que a CONMEBOL decidirá, e posso lhes garantir que tudo pode acontecer. E infelizmente este tango de tanto drama não foi cantado por inteiro, mas nós, os amantes do futebol, esperamos que tudo se resolva dentro de campo e não nos bastidores do futebol, que ali sim é onde moram os bandidos e os sujos que estragam nossa paixão.

Espero poder escrever o desfecho com a bola no campo e um jogo épico, mas lembre-se que tudo pode acontecer…

OS DEUSES DO FUTEBOL LAVARAM BUENOS AIRES

por Marcelo Soares


Desde quando começamos a entender sobre futebol e torcer pelo nosso time do coração, torcemos de qualquer jeito para que o nosso clube participe da tão famosa Copa Libertadores da América e brigue para conquistar o sonhado título. Esse talvez seja o campeonato que mais represente o povo Sul-Americano.

O último dia 03 de novembro era esperado por todos os amantes do futebol, pois aconteceria o primeiro jogo da final do ano de 2018. A Copa que leva em seu nome uma homenagem aos heróis da independência das nações Sul-Americanas teve que aguardar mais um dia para apresentar ao mundo a sua final histórica. Os Deuses do futebol resolveram lavar a cidade de Buenos Aires antes do jogo para se despedir do tradicional formato que conhecemos da Libertadores.

Sabendo que seria o último ano nesse formato, talvez esse místico campeonato tenha tomado a liberdade de fazer algumas escolhas:

Escolheu o país que tem mais títulos, que tem o maior campeão do campeonato e que ainda luta contra a modernização dos estádios e de toda sua história.

O campeonato que já teve campeão invicto e também quem renasceu das cinzas, escolheu trazer um time que se classificou em último na fase de grupos para disputar o título. Contra quem? Seu maior rival.

Boca Juniors x River Plate


Depois de tantas mudanças nos últimos anos, regras, premiações e duração do campeonato, as finais agora passarão a ser decididas em um jogo só em campo neutro.

Podemos invejar o futebol europeu, a qualidade dos jogadores e dos seus jogos, porém a festa fora dos gramados quem inveja são eles. E toda essa festa que vemos nos clássicos foi um dos principais motivos para nos apaixonarmos por futebol.

Em um campeonato onde os países têm a maioria de sua população passando necessidades básicas, torcedores dão a vida para ver um jogo do time. Em mais uma decisão “daquelas” da CONMEBOL, tornaram praticamente impossível o sonho de muitos torcedores de um dia realizar o sonho de ver o time do coração no seu estádio na final da Libertadores. Numa tentativa talvez de tornar o campeonato semelhante a Champions League, já sabemos que não é isso que queremos. Somos torcedores e não espectadores, queremos ir a estádios e não em arenas. Essa não é a nossa essência.

Tamanha estrutura, acesso da maioria da população e fácil mobilidade ajudam para que esses deslocamentos se tornem mais fáceis na Europa em campeonatos como a Champions League. Mas aqui não!


O dia do primeiro jogo chegou e o que vimos foi mais uma festa mágica da torcida do Boca. Se faltava técnica, sobrava vontade para ambas equipes.

No último episódio dessa Libertadores de 2018, hoje, que possamos ser premiados com mais um jogo cheio de emoção que só um clássico é capaz de proporcionar para nós e mais uma festa única, dessa vez da torcida do River.

 O torcedor que saíra mais feliz já sabemos, serão todos aqueles que são apaixonados por futebol!