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ACREDITE EM ALGO

por Idel Halfen


Quando chega o final do ano, além das tradicionais festas e encontros de congraçamento, costumam também ocorrer algumas premiações que têm como base as escolhas de quem foi o melhor em algo. A melhor empresa, o melhor profissional, o melhor atleta, o melhor produto e por aí vai. 

Confesso não levar muito a sério tais escolhas, pois há nelas envolvidos muitos aspectos subjetivos, o que faz com que as chances de injustiça sejam grandes. Todavia, reconheço serem eventos importantes pois, mesmo que o melhor não vença ou efetivamente não exista, motiva os envolvidos a almejarem tais prêmios e trabalharem com mais afinco para tal. 

Nessa linha, vamos falar sobre a Nike que foi eleita pela AD AGE a anunciante do ano em 2018. 

A campanha que lhe rendeu a premiação posicionava a marca a favor do jogador de futebol americano Colin Kaepernick, que em 2016 iniciou um movimento de protesto contra as desigualdades raciais, se ajoelhando no momento em que o hino do país era tocado antes das partidas. 

Acusado por alguns de antipatriota e visto por outros como herói, sua atitude provocou um amplo debate que foi aproveitado pela Nike em um anúncio com a imagem de Kaepernick e a mensagem: “Believe in something. Even it means sacrifying everything” – Acredite em algo, mesmo que isso signifique sacrificar tudo. 


Assim como o gesto, a campanha foi bastante comentada, o que deu ainda mais destaque à empresa de material esportivo. 

É válida a discussão sobre a iniciativa da empresa explorar um aspecto social – e polêmico – numa campanha, valendo salientar que a mesma teve um bom índice de aprovação entre os mais jovens e trouxe reflexos positivos nas receitas. 

Há que se destacar também a solidariedade da empresa ao ficar publicamente do lado do atleta, afastado das competições desde o início dos protestos.

Contudo, é importante refletir sobre até que ponto uma marca pode ir quando se trata de temas que dividam a sociedade, mesmo porque, ainda que a motivação para o gesto do atleta seja nobre, o ato de protesto a um símbolo da pátria ofende aos mais “patriotas”. 

Não seria mais efetivo escolher causas importantes como a encampada, mas de uma forma que não desagradasse a uma gama tão grande de pessoas?


Independentemente do questionamento acima, creio que sair do lugar comum das campanhas venha a se tornar uma tendência de mercado, onde cada vez mais empresas se dão conta da necessidade de encontrar propósitos e por em práticas atitudes para satisfazê-los. 

Da mesma forma, desejo que este Natal ilumine a todos e que a tendência preconizada acima saia do âmbito corporativo e atinja a todos os setores e pessoas. 

No mais, seguem meus votos para que esse seja o melhor Natal da vida de vocês, mesmo que a expressão “melhor” seja subjetiva, o que nos concede margem para “acreditar em algo”, inclusive que os próximos serão ainda melhores.

UM REI MAIOR QUE O MENINO NEY

por Paulo Escobar


Reinaldo, mineiro de nascimento, nunca foi quieto. Desde muito cedo já mostrava quem seria, driblador, bom de bola e fazedor de gols. Chegou ao Galo com 14 anos depois do técnico do juvenil, Barbatana, ouvir falar do jovem craque.

Além do seu talento, também chamava a atenção seu estilo desenvolvido de maneira esplêndida desde muito pequeno. No time principal do Galo, ainda nos treinos, teve que começar a lidar com as pancadas que levava, o que viria a ser um problema na sua vida.

Há atacantes trombadores, oportunistas ou que passam sem deixar saudades tanto dentro como fora de campo. Existem aqueles que são grandes em campo, geniais e sem graça do lado de fora (vide Neymar), mas existem os Reinaldos, aqueles que são geniais dentro de campo e colocam um tempero à vida do lado de fora.

O maior artilheiro da história do Atlético-MG foi chamado de Rei pelos atleticanos, pois para estes o seu monarca era Reinaldo. Cada um tem seu Rei, cada torcida tem seus ídolos, em tempos do ainda reinado de Pelé, em Minas quem imperava era Reinaldo.


Quantos atacantes do futebol nacional você consegue lembrar que tenham feitos 28 gols num Brasileirão, ou possuem uma média de 1,56 por jogo? Não entendo por que o Rei não tem um lugar de destaque maior daquilo que lhe foi dado?

Ídolos não deveriam ser propriedade de uma única torcida, ainda mais quando tiverem feitos como os de Reinaldo, pessoas grandes fora dos campos que conseguem se movimentar de alguma forma a favor dos mais sofridos deveriam ser mais lembradas. Mas também entendo que no jeito que este mundo está estruturado, ídolos bons de pés e isentos de pensamentos merecem mais destaque.

O Rei devia driblar os seus adversários e as pancadas que levava, deveria driblar o silêncio imposto pela ditadura militar através das palavras de Geisel, que na despedida da Seleção para a Copa de 1978 lhe diz:

– Vai jogar bola, garoto. Deixa que política a gente faz!

Não obedece a censura imposta e, no seu gol contra a Suécia, Reinaldo comemora com seu braço erguido e punho fechado, gesto dos panteras negras, pois o atacante tomou lado nas épocas de torturas e desaparecimento.


Amigo de gays sem se importar como os preconceitos que, na época, eram fortes também, ainda mais no futebol, um meio bastante homofóbico, pode ter sido um dos fatores que também sofreu as consequências do lado de fora. Participou da campanha que levara o Brasil à Copa de 1982, mas, discriminado pelas suas posições, acabou não sendo convocado.

As dores das contusões e as dores internas o levam a procurar formas de aliviar as mesmas, as drogas são o episódio lembrado e taxado, não escondeu o uso, não se isentou sobre o tema. Mas cada um sabe as dores que carrega e o que faz para aliviá-las, o Rei foi grande na sua sinceridade e humanidade.

Qual é a diferença dentro de campo na habilidade e na sede de gols de Reinaldo e Neymar? O Rei teve a carreira abreviada devido as pancadas, claro que não teve o mesmo marketing e não foi um eterno menino bajulado e blindado pela mídia. Mas dentro de campo Reinaldo foi diferenciado, só não esteve na Copa de 82 e nos grandes centros pelas suas posições fora de campo. Poderia ter se silenciado e seguido os passos de Neymar.


Reinaldo teve que driblar as pancadas e a opressão, teve que jogar em épocas difíceis e não se isentou. Não foi menino em suas posições e se a seleção lhe fechou as portas pelo que pensava, azar da seleção.

Num mundo ao contrário, que valoriza os lucros e destina ao ostracismo o lado humano, que coloca como vencedores aqueles que dançam conforme a música, ídolos como Reinaldo devem ser apagados das histórias. Mas estes ídolos são resistentes ao esquecimento e subvertem até o ostracismo a que se procuram destiná-los. Me arrisco a provocá-los e sem nenhum medo lhe digo que tanto dentro como fora de campo:

Reinaldo é maior que Neymar!

NOS TEMPO DO ONÇA

por Victor Kingma 


Nos anos 60, os campeonatos estaduais viviam o seu auge e os estádios estavam sempre lotados. No Rio, o Flamengo, que na primeira metade tinha sido campeão em 1963 e 1965, passou todo restante da década sem conquistar um título sequer.

O jejum de conquistas começou em 1966, ao perder por 3 x 0 a célebre decisão contra o Bangu, jogo que acabou em pancadaria, protagonizada pelo lendário Almir, o pernambuquinho.

Nos anos de 1967 e 1968, sua torcida teve que conviver com a impressionante hegemonia do Botafogo, que montou um dos maiores times de sua história, com quase todos os jogadores oriundos da sua base.  Realmente era difícil conter o ataque formado por Rogério, Gerson, Roberto, Jairzinho e Paulo César, comandados pelo novato técnico Zagalo, ainda com um “L” só no nome. Nesses dois anos o Flamengo sequer chegou à decisão, vencidas pelo alvinegro contra Bangu (2 x 1) e Vasco (4 x 0).

Em 1969 a seca de títulos continuou, quando os rubro-negros perderam por 3 x 2 a decisão para o Fluminense, cujo grande destaque era o centroavante gaúcho Flávio, o Minuano, o artilheiro do campeonato.

Naqueles sombrios anos sem conquistas para o futebol rubro-negro, as alegrias vinham de esporádicas e emocionantes vitórias.


A torcida vivia à procura de um ídolo, quando, no início de 1968, vindo da Bahia, aportou na Gávea um raçudo quarto zagueiro,  de nome Onça, que, vencida a desconfiança inicial pelo estranho apelido, logo foi alçado a essa condição.

E o bravo Onça, teve mesmo os seus dias de glória:

Numa partida contra o arquirrival Vasco, invicto há 10 partidas, pelo segundo turno do campeonato de 1968, o Flamengo perdia por 1 x 0 quando o zagueiro marcou um golaço de falta, da intermediária, empatando a partida e caindo de vez nas graças da torcida. Até porque, Dionísio, “o Bode Atômico”, e ainda, de letra, marcaria o gol da sensacional vitória, comemorada com euforia pelos rubro-negros, em tempos de vacas magras.  Isso diante de 134.185 mil pagantes, recorde nacional de público naquele ano.

As manchetes dos jornais do dia seguinte deram grande destaque, não só à vitória rubro-negra mas ao golaço de falta marcado pelo novo xodó da torcida.

Sem ser um craque consagrado, como tantos que vestiram a camisa rubro-negra, Onça era daqueles jogadores respeitados pela torcida do Flamengo, pela raça com que defendia as cores do clube.


Além do Flamengo, onde jogou 164 partidas e marcou 7 gols, de 1968 até 1971,  atuou ainda pelo Fluminense-BA, Sport de Recife, Bahia e Sergipe, onde encerrou a carreira, em 1978.

Mario Filipe Pedreira, o Onça, nasceu em 13 de julho de 1943, na cidade de Santaluz, Bahia, e faleceu em 7 de setembro de 2017, em Salvador, aos 74 anos de idade.

Sua raça e determinação o fez entrar para a história do clube e nas resenhas diárias com os amigos se vangloriava muito disso, antes de ser acometido pelo mal de Alzheimer, nos últimos anos de vida.

ARTISTAS SACODEM O MARACA

entrevista: Sergio Pugliese | vídeo e edição: Daniel Planel

A convite do parceiro Sérgio Ricardo, presidente da Loterj, a equipe do Museu da Pelada foi até o Maracanã para o lançamento da Raspadinha Raspa Rio Balanço Geral, que contou com uma pelada sob forte calor e reuniu artistas e grandes craques do passado.

Para a nossa surpresa, durante o discurso de Sérgio Ricardo sobre a novidade, fomos convidados para falar um pouco do Museu da Pelada, representado pelo nosso capitão Sergio Pugliese:

– O nosso objetivo é eternizar momentos maravilhosos do futebol. Depois do 7×1, a gente quis mostrar para as novas gerações que o nosso futebol não era aquele. Por isso, criamos esse espaço que traz de volta os jogadores do passado.

Recebido com aplausos, Edmundo era um dos mais aguardados pela galera e atendeu fã por fã com autógrafos e selfies.


Como a gente gosta mesmo é da resenha, partimos para o vestiário do Maraca e nos deparamos com a logo do Museu estampada nas camisas que seriam usadas pelas estrelas. Ao notar que usaria a mística camisa 7, Toni Garrido não se conteve:

– Não é todo dia que você chega ao Maracanã e tem seu nomezinho com uma camisa te esperando. Ainda mais com a camisa 7, vou ser o Toni Garrincha! – brincou.

Acostumado com todo aquele ambiente, Adílio preferiu exaltar o nosso trabalho e fazer nosso dia ainda mais feliz:

– Museu da Pelada é demais! A peladinha é a origem de todos nós. Antes de virar jogador, driblava a árvore que tinha no campinho perto de casa. A gente aprendeu a jogar na marra.

O goleiro Cláudinho Cunha, da Planet Globe, seguiu pelo mesmo caminho:


– O Museu da Pelada faz parte da nossa essência, da nossa infância. A maioria dos brasieiros, desde criança, imaginou ser jogador de futeobl. Então todos têm essa veia futebolística e nosso amigo Pugliese traz isso à tona para a gente recordar esses momentos maravilhosos.

Para completar, ainda entramos em campo ao lado de Adílio e não só não batemos uma peladinha porque nosso artilheiro Pugliese está sob cuidados do Departamento Médico!

MORRI, ISSO POUCO IMPORTA. VIBRO PELO EDEVALDO E O MEU TRICOLOR

por André Felipe de Lima


“Morri ontem, um domingo. Mais dia ou menos dia, chegaria a hora. Encontrando-me no céu, fui recebido em um camarote concedido por Deus para poucos, honraria que confesso jamais imaginar ostentar ou tampouco ambicionar, não esforcei-me para isso. Tive direito a asas angelicais e auréolas douradas, as mesmas que usei em procissões quando menino em priscas eras imemoriais, antes do nada, portanto, como muitos gostavam de ouvir e ler. Ali, envolvido pela minha imaculada ingenuidade infantil, acreditava em Deus e sequer pensava existir lorpas, pascácios e sacripantas. Perdi-o — o garoto ingênuo — no meio da longa estrada da carne. Culpa minha decerto. Mas Ele, lá do seu camarote, o mesmo onde me encontro agora, cercado de nuvens e luzes indescritíveis, assistia, como faz com todos crédulos ou incrédulos, ateus ou carolas, cada passo dado por esta eterna moribunda alma, sobretudo cada frase que escrevia ou verbo proferido. Perdoou-me por todas as letras das vidas que ousei compor sem lirismo. Era o nu e o cru, e não haveria de ser diferente. Afinal, como sempre afirmava — e Ele pode provar isso nos anais que destina a todos nós— que, embora assumidamente violento quando me sentava diante de uma Remington, mantive muito do menino que fui. Salvei-me aí. Mas nada. Nada mesmo importa neste momento de transição do chão infernal ao teto sublime azul anil mais que a atuação do Edevaldo. Como jogou bem o meu lateral-direito tricolor. Os suíços deram trabalho ontem enquanto me encaminhava para o camarote de Deus. Porém vencemos com um magro 2 a 0. O bastante. Se a seleção foi sofrível aos olhos dos críticos, a mim pouco importa. Edevaldo redimiu o escrete. A tarde antes cinzenta sobre a fronte de Telê coloriu-se em um arco-íris predominantemente verde e amarelo com o lateral indo e voltando de uma ponta a outra do campo com um fôlego inimaginável. Um puro-sangue. O Brasil seguirá firme para Montevidéu, conquistará o Mundialito. Quanto a mim, se Ele permitir, permanecerei aqui, em meu reluzente camarote celestial, apenas observando os encontros e desencontros das carnes de vocês e o que andam fazendo (ou não fazendo) pelo meu Fluminense.”

***

No dia 21 de dezembro de 1980, enquanto a seleção brasileira derrotava a seleção suíça pelo placar de 2 a 0 (gols de Sócrates e Zé Sérgio), no estádio José Fragelli, em Cuiabá, preparando-se para o Mundialito, uma mini Copa do Mundo, no Uruguai, perdíamos o “profeta tricolor” Nelson Rodrigues. E também perderíamos o Mundialito. Isso, Nelson não poderia prever.