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6-3-3 E AO QUE TUDO INDICA O 1º REBAIXAMENTO

por Marcelo Soares


O São Paulo após a derrota para o Talleres – ARG caminha a passos largos para o seu primeiro rebaixamento.

Antes de mais nada, externo meu respeito pelo São Paulo Futebol Clube e seus torcedores.

Na sexta-feira, em uma dessas conversas sobre futebol que já são costumeiras entre colegas, Kal, um dos meus melhores amigos e São Paulino doente, já demonstrava sua decepção com o time, e pior ainda, escancarava a aceitação de que seu time não reverteria o resultado que o time argentino construiu na primeira partida. Mesmo assim ele estava anteontem no Morumbi apoiando seu time. 

O São Paulo mostrou aquele futebol de alguns anos que conhecemos, sem brilho, sem padrão de jogo, jogadas individuais… futebol feio, nada longe do que os outros clubes brasileiros apresentam ultimamente.

Antes de continuar com a história, quero falar sobre o meu time, o Corinthians. E o que essa derrota do São Paulo tem a ver com a gente.

Eu cresci vendo o São Paulo ser tricampeão da Libertadores e do mundo. Sendo hexa brasileiro, vi o São Paulo acabar com o meu domingo algumas vezes. Vi o São Paulo ser o bicho papão da Libertadores. 


Veio a troca de comando na diretoria, veio também a aposentadoria de um dos maiores jogadores da história da equipe do Morumbi. Veio, com tudo isso, a escassez de títulos e a crise no time foi se instalando. Sem manter sequer uma constância de dois ou três jogos mostrando um bom futebol, o São Paulo nos últimos anos amargou posições na parte inferior da tabela. Seus ídolos estão sendo xingados por estarem na diretoria atual do clube. 

Ontem, minutos após a derrota que culminou na eliminação do time na pré-Libertadores, um outro amigo meu, Willy, um dos caras mais fanáticos que conheço e conhecedor como poucos da história do São Paulo, seu time do coração, disse a seguinte frase: é o pior momento da história do clube. O maior vexame do time. Incrédulo por presenciar in loco o empate sem gols, chegou até a indagar se quem está no comando não vê como está tudo errado. Sempre sensato, fez uma pergunta como se realmente não acreditasse no que via.

Naquele momento percebi que o maior rival do meu time, na minha opinião, estava cada vez mais se tornando um time comum, nem se quer nos clássicos oferecia algum tipo de perigo…como amante do futebol eu torço para que o São Paulo se reerga, volte a brigar novamente por jogos e títulos. Que volte a me presentear com um clássico Majestoso de encher os olhos. Mas que no final o resultado seja negativo para o time do Morumbi.


Os rumores de Cuca e Osorio já circulam, seria essa a solução? Sabemos que não!

Antes de mais nada, respeito o São Paulo e todos os torcedores do clube.

“…Ó tricolor

Clube bem amado

As tuas glórias vem do passado…”

A FOME ALIMENTADA PELOS PÉS

por Marcos Vinicius Cabral


Sem chuteiras, meiões arriados, massageando as coxas, acariciando os joelhos com as pontas dos dedos e sentado no banco de reservas, Sandrinho ia municiando com cadarços suas “armas” de fazer gol.

Matador como poucos na cidade com mais de um milhão de habitantes, ele não via a hora de entrar naquela partida.

Era o primeiro – dos dois jogos – que decidiria o 13° Campeonato Comunitário do Gradim de 2003.

A todo instante o camisa 9 olhava para o treinador Wallace e seu auxiliar Wellington, que à beira do campo davam instruções para seus jogadores.

Os pobres Tiago Pedalada e Waguinho, atacantes titulares naqueles 90 minutos, carregavam dentro de si uma tristeza que só uma vitória com V maiúsculo amenizaria.

Ambos sabiam da importância do reserva e viam em seus olhos, a tristeza e preocupação com seu joelho direito, vítima de LCA (ligamento cruzado anterior) e o esquerdo com tendinite aguda.

Porém, sua vontade de vencer a contusão era tão grande que contagiou a todos e de maneira poucas vezes vista em um time de várzea.

Todos, sem exceção, estavam “eletrocutados” a 220 volts!

– Tiago, marque a saída de bola deles garoto -, berrava Rogério – um dos membros do staff ao lado do roupeiro Fladilson e do massagista Ratinho – com a veia do pescoço sobressaltada e no peito a medalha de São Jorge banhada de suor pela adrenalina daquele 07 de dezembro de 2003.


Naquele domingo, no campo do extinto Gradim Futebol Clube – um dos primeiros clubes a se filiar à Liga Gonçalense de Desportos (LGD), em 1931, com a ajuda do saudoso prefeito Joaquim Lavoura (1913-1975) – Sandrinho, o atacante que exalava gols, não atuaria.

Coisa rara para quem nunca havia sentado à bunda num banco de reservas desde 1989, quando aos 15 anos começou a jogar futebol como goleiro de futsal no Colégio Municipal Presidente Castelo Branco, no Boaçu.

Ironias do destino à parte, de tanto ver César – outro grande centroavante dos gramados goncalenses – estufar as redes, tomou gosto pela coisa e decidiu fazer gols e não mais evitá-los.

E no ano seguinte, Alexandro Paiva de Oliveira trocaria em definitivo a camisa 1 pela 9.

Em 1992, pelo Coroensinho, sagraria-se campeão e artilheiro no extinto campo do Aterro – hoje sede da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE), que fica às margens da Rodovia Governador Mário Covas, 101, KM 312, no Boa Vista, em São Gonçalo – contra o Biquinha.

– O time do Biquinha tinha vários jogadores que eu adorava ver jogar. Mas um dos maiores prazeres que o futebol me proporcionou, foi jogar contra e a favor de Paulo Rubens – disse ao Museu da Pelada.

E completa: – O que o Ronaldinho Gaúcho fez e o Neymar faz agora, ele (Paulo Rubens), já fazia naquela época.

Porém, preservado para os outros 90 minutos que decidiriam o título, o artilheiro tratava dos joelhos, que castigados por marcadores implacáveis, careciam de cuidados.

E foi dona Terezinha, que preparou o filho, considerado o pesadelo dos zagueiros, na semana que antecedeu à decisão.

Com o sucesso do tratamento e com o psicológico refeito nas conversas com Patrícia, sua noiva na época, o otimismo era inevitável: com ele em campo, as chances do Jovem Fla ser campeão aumentavam e muito.

– É nossa primeira vez nesse campeonato e no empenho demostrado pelos jogadores conseguimos superar os adversários e chegar até aqui – disse o confiante treinador Wallace à época para O São Gonçalo.


E não era para menos, pois em nove jogos, venceu seis, empatou dois e perdeu um.

Com uma campanha irrepreensível, a equipe formada por jogadores do Boa Vista, Boaçu e Rosane, bairros coimãos em São Gonçalo, chegara àquela final com méritos.

No primeiro jogo, um 0 a 0 insosso, muito estudado, tipo uma partida de xadrez, em que as equipes se respeitaram muito com medo de um Xeque Mate – jogada que representa o final da partida.

O JFFC teria que vencer o bom time do Santa Fé, que com Bigú, Julião e Jorginho, jogadores qualificados pelos títulos conquistados nos quatro cantos da cidade, era franco favorito.

Na segunda partida, ocorrida no dia 14 de dezembro de 2003, o campo parecia um formigueiro de gente.

Torcedores soltando fogos, balões com os escudos das equipes no céu, imprensa local fazendo a cobertura… enfim, cenário perfeito para uma manhã inesquecível.

Jogadores chegam em seus carros, alguns vem a pé, uns com fisionomia fechada e outros sorrindo tentando disfarçar o “frio na barriga”.

Os nervos estavam à flor da pele.

Os jogadores vão entrando um a um e Sandrinho é o último a passar pela porta antes dela ser fechada.

Entre caneleiras, tornozeleiras, bolsa térmica com gazes, esparadrapos, algodão, merthiolate, gelo, água, e muita vitamina C das laranjas que eram chupadas pelos jogadores, havia naqueles 22 atletas, o desejo de fazer história.

No vestiário número 2, a tradicional corrente, palavras incentivadoras, escalação anunciada, um Pai Nosso orado a plenos pulmões e o tradicional grito de guerra: – Sososososo… sou Jovem Fla!”, repetido três vezes que extravassou em coro uníssono tão alto e estridente impressionando os jogadores adversário no vestiário número 1 ao lado.

Medo e respeito eram sinais notórios dos que enfrentavam o Jovem Fla.

O trio de arbitragem, comandado por Edílson Soares dos Santos – sósia de Michael Jackson como é conhecido e com a bagagem de ter arbitrado quatro finais dos Campeonatos Cariocas de 2002, 2003, 2004 e 2005 – entra no campo com o semblante fechado.


Em meio ao clima proporcionado pelo jogo, Sandrinho caminha olhando para o nada – entenda-se chão – em passos lentos, pois o banco é o seu destino mais uma vez.

No meio-campo, Ricardo e Julião, capitães de suas equipes, trocam olhares espúrios e um aperto de mãos pouco amigável no cara e coroa.

A guerra, ou melhor, o jogo, vai começar!

Apito soprado e dá-se início a grande final.

E logo nos minutos iniciais, o jogo se desenha numa equipe que precisa vencer para conquistar o tão sonhado título e outra que joga com o regulamento debaixo dos braços.

O nervosismo começa a ser o maior adversário, já que a cada volta do ponteiro do relógio, a pressão aumenta.

– Ivo, seu filho da puta, é sério porra! – esbravejava Wallace, com um copo de cerveja numa das mãos enquanto a outra esfregava a cabeça tamanha preocupação com o preciosismo do camisa 4.

E como diz o ditado no futebol, “quem não faz leva” e num contra-ataque, Bigú abre o placar para o Santa Fé.

Desespero de todos e serenidade no camisa 9 rubro-negro.

– Vamos lá matador, chegou a hora -, diz Wellington, mandado Sandrinho para o aquecimento.

Com o placar desfavorável, o treinador do Jovem Fla faz duas mexidas ousadas: saca os cabeças de área Ricardo e Alex, colocando o meia ofensivo Gaiato e Sandrinho.

O jogo incendeia.

As melhores oportunidades vêm dos pés de Sandrinho mas é com a cabeça que o temido atacante empata a partida.

– Eu me lembro que foi uma cabeçada indefensável após um belo cruzamento de Pablo -, diz o matador.

Com o 1 a 1, o empate daria o título para o Santa Fé.

Mas nos acréscimos, Sandrinho recebe belo passe de Juninho e após passar pelo marcador é calçado por trás dentro da área.

Todos viram, menos Michael Jackson, que assinalou falta e não a penalidade máxima.

Em seguida, a falta é cobrada por Rivaldo e passa tirando tinta do travessão.

O jogo termina e o Santa Fé é campeão pelo critério de saldo de gols.

Enquanto os campeões comemoram, os jogadores do Jovem Fla caminham cabisbsixos para o vestiário.

O sentimento é de dever cumprido numa competição tão acirrada como foi e é até hoje o Campeonato Comunitário do Gradim.

E para Sandrinho – mesmo tendo feito aquilo que todos esperavam dele -, fica a frustação pela não conquista do tão desejado título, de quem foi um dos maiores goleadores que São Gonçalo já conheceu.

– Um erro do juiz mudou a nossa história e nos custou o título. Principalmente para Sandrinho, que merecia sorte melhor e fez um esforço sobrenatural para jogar aquela final -, disse o meio-campista Marcos, camisa 8 e companheiro de time.

Passados dezesseis anos, a vida seguiu seu curso: Sandrinho desbravou outras zagas e foi artilheiro por onde pisou a planta dos seus pés enquanto o Jovem Fla viveu até 2006.

Hoje, ambos jazem nos corações dos que viram um dos maiores times de várzea ganhar tantos troféus (trinta e oito ao todo) e tendo seu imortal camisa 9 como protagonista em muitos deles.

Doces lembranças de quem fez história nesta cidade de 128 anos.

Felizes foram os que viram Sandrinho dentro das quatro linhas, um jogador com sede de vitórias e fome de gols.

VASCO DA GAMA SE RECONCILIA COM SUAS ORIGENS

por Luis Filipe Chateaubriand


O Club de Regatas Vasco da Gama é um clube de futebol que nasceu sob o signo da igualdade, da democracia e da inclusão social.

Ao ser um dos primeiros grandes clubes do país a ter jogadores negros, mulatos, pardos e miscigenados em geral a atuar sob o seu pavilhão, deu o exemplo que outros clubes ainda não haviam feito.

Ao ser o grande clube oriundo da quase sempre excluída zona norte carioca, mostrou ao mundo do futebol que o Rio de Janeiro não deve ser a cidade partida, mas sim a cidade unida.

Ao dar ensejo para que muitos garotos de origens modestas, ao longo do tempo, surgissem de suas categorias de base e melhorassem de vida, se mostrou um clube que propicia oportunidades de ascensão social a pessoas excluídas mas com talento para superarem a exclusão.


O clube passou por período obscurantista, durante algumas décadas recentes. Foram tempos de pranto e ranger de dentes, com o clube entregue a autoritarismo, desmandos, bravatas, truculência, falta de modos.

Mas, com as lindas a recentes atitudes de solidariedade em relação ao arquirrival Clube de Regatas do Flamengo, o Vasco recupera sua verdadeira dimensão: Gigante!

Querido Gigante da Colina: seja bem-vindo de volta às suas raízes, ao seu feitio, à sua identidade! Nós, seus torcedores de quatro costados, te recebemos de volta de braços abertos!

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email:luisfilipechateaubriand@gmail.com.

O TIME DAQUELE ANO

por Claudio Lovato

– Vocês estão malucos??? – o presidente rugiu em direção a todos e a ninguém em especial. O diretor de futebol imediatamente olhou para o gerente de futebol, que então virou-se para o técnico, que não tinha a quem se voltar e optou por olhar para o tampo da mesa.  

– É o oitavo veterano que vocês contratam! Por acaso nós vamos disputar algum torneio de asilos? Hein? Hein??? – o presidente esbravejou, recostando-se em sua poltrona de espaldar alto, e depois fechou os olhos e usou os polegares para pressionar as têmporas latejantes.

– Oito jogadores em fim de carreira! E só um deles ganhou alguma coisa que mereça menção! Um bando de perdedores! Velhos e perdedores! Vocês querem me destruir! Só pode ser! – o mandatário prosseguia em seu desabafo repleto de fúria.

– Oito jogadores…! Ex-jogadores!!! Quatro jogadores com quase 40 anos! Vocês perderam o juízo??? Como que eu fui deixar isso acontecer??? Mas será que eu não posso nem tirar umas semaninhas de férias?! 

O ano anterior fora um desastre, e o rebaixamento só não ocorrera por questão de um gol – que não aconteceu; o pênalti na última rodada defendido pelo jovem goleiro prata-da-casa Wilson Morais.

No fim desse ano tétrico e quase mortal, os comandantes do futebol do clube (o presidente excluído) decidiram que era hora de tornar o elenco mais cascudo. Seria necessário agregar experiência ao grupo. Deveriam ser acréscimos pontuais, mas uma combinação de fatores que envolveu indicações de conselheiros, esperteza de empresários e ansiedade dos dirigentes levou à formação de um time com excesso de veteranos. Nessa equação, porém, é fundamental incluir (e destacar) a insistência e o poder de influência do treinador Ary Santamaria.

Para o velho homem do futebol havia um objetivo subjacente: ele queria resgatar alguns dos guerreiros por ele comandados em outros tempos. Queria proporcionar-lhes uma última oportunidade de provarem seu valor e irem em paz para a aposentadoria, uma espécie de saideira que, para eles, fosse capaz de se tornar o melhor de suas festas individuais.

Os desafios começaram logo na pré-temporada, com a equipe da preparação física tendo que colocar em prática uma estratégia especial para a maioria do plantel – que resultou sem mortos nem feridos.

A imprensa fez a festa. Matérias pipocavam diariamente, a maioria delas num tom jocoso, piadístico. Uma das mais marcantes era acompanhada de uma charge que, mediante o uso de balõezinhos, mostrava Ary Santamaria cantando “Eu nasci há dez mil anos atrás”. O sarcasmo comandava o show da mídia.

O começo da campanha foi preocupante, confirmando as previsões (pessimistas? Realistas?) de muitos: uma derrota fora de casa na estreia e dois empates jogando em seus domínios.

O que aconteceu na sequência não foi um milagre e pode ser explicado em parte desta forma: Ary Santamaria armou seu time de uma maneira pragmática e eficiente. Seus antigos (e, fora de campo, problemáticos) atacantes Jaques e Mauro Carioca caíam pelos lados do campo e eram acionados o máximo de vezes possível por um meia-armador chamado Marcos David, que conseguira o feito de ter sido rebaixado jogando por três clubes diferentes em três anos consecutivos. O garoto da camisa 1, Wilson Morais, dava pinta de vir a se tornar, em breve, goleiro de nível seleção, e os dois zagueiros de área, cuja soma das idades chegava a 76 anos, deu à equipe uma segurança surpreendente. E também havia um lateral-direito de nome de Rossano, já grisalho, que parecia ter sido enviado ao mundo com o único propósito de bater faltas, mas que ao longo da carreira jamais dera a sorte de fazer farte de um elenco vencedor. 


O time não foi campeão (este não é um texto de realismo mágico), mas o que ele conseguiu assombrou o país inteiro, incluindo sua própria torcida: um heroico quarto lugar no Campeonato Nacional daquele ano inesquecível.

Mas, talvez, de todas as explicações para o sucesso da equipe, a que causou mais impacto, pela sinceridade e pelo caráter didático e irrefutável, foi oferecida pelo técnico Ary Santamaria em entrevista logo após o último jogo da temporada, ainda sob o impacto da vitória por 3 a 1 sobre um rival histórico, ouvindo seu nome ser gritado pelo estádio lotado:

– Velho é o caralho!   


DE MADUREIRA SURGIU CAIO, O DO DECISIVO GOL GREMISTA

por André Felipe de Lima


Luiz Carlos Tavares Franco ficou conhecido como “Caio”. Foi centroavante e ponta-direita. Atuando nas duas posições tornou-se ídolo do Grêmio e do maranhense Moto Club. Nasceu no Rio de Janeiro, no dia 16 de março de 1955. Foi criado no bairro de Madureira, no subúrbio carioca.

O pai de Caio, Valter Franco, era fotógrafo e deu um duro danado para criar os cinco filhos. Apesar das dificuldades, Caio, que tinha pinta de craque desde pequeno, ingressou no infantil do Brasil Novo, um time amador de Madureira do qual Valter era sócio. Um dia, o time da categoria “dente de leite” do Botafogo entrou em campo para enfrentar o Brasil Novo. A atuação de Caio impressionou Joel e Joca, os treinadores do alvinegro, que não perderam tempo, levando o garoto bom de bola para treinar no Botafogo. Valter não se opôs. Imediatamente aceitou o convite feito ao filho, afinal torcia ardorosamente pelo Botafogo.

Diariamente, Caio embarcava na estação de trem de Madureira até a Central do Brasil. Dali, para o campo do Botafogo, em General Severiano, na zona sul. Uma cotidiana “viagem” longa e cansativa, mas necessária para a evolução do Caio. Dos 11 aos 17 anos, esta foi a rotina do garoto. De Madureira a Botafogo, buscando um lugar ao sol.

O pai esforçava-se ao máximo para não deixar faltar nada aos filhos. Valter fez questão de que Caio estudasse em um bom colégio. Não abriu mão da educação. Se jogava no Botafogo, tinha de estudar. Por isso o matriculou no Colégio Piedade, vinculado à antiga Universidade Gama Filho, no bairro Piedade, bem próximo a Madureira.


Com boas atuações no time juvenil, jogando sempre como ponta direita, logo o escalaram entre os profissionais, em um time de “cobras”, craques da melhor estirpe. No dia 23 de março de 1975, Caio disputou seu primeiro jogo oficial, no Maracanã, contra o América, mas o Botafogo perdeu de 1 a 0, em jogo válido pelo primeiro turno do campeonato carioca. Foi a quarta derrota consecutiva do Botafogo para o América em campeonatos cariocas.

Semanas após o jogo contra o América, Caio se desentendeu com Neca, o técnico do time juvenil. Fim da linha no Botafogo e o sonho de defender o Madureira, time do seu bairro, concretizado, para onde Caio seguiu após ser dispensado pelo alvinegro.

A estreia no Madureira foi coincidentemente contra o Botafogo, que venceu o jogo por 3 a 0. “Eu morava perto do estádio. Ia a pé para os treinos, na saída ficava conversando com a vizinhança. E me sentia em casa. Jogadores e torcida eram como uma família”. Mas, embora fosse destaque do time, o clube o surpreendeu com o passe livre. “Não entendi. Peguei aquele papel e saí do clube chorando, fui correr mundo. Mas aqueles dois anos nunca mais esquecerei.”

Em maio de 1977, Caio aceitou o convite do Coronel Santana, que treinara o Maranhão Atlético Clube e que o conhecera no Rio, para jogar no futebol maranhense. Começara, portanto, sua trajetória no Moto Club, e a estreia não poderia ser mais apropriada… contra o rival Sampaio Corrêa, na decisão do terceiro turno do campeonato estadual. Embora tenha jogado bem, Caio não conseguiu evitar a derrota do Moto Club. Nascera ali, naquele jogo, uma relação de amor com a torcida rubro-negra, mas também, ao longo do tempo, a fama de “turista” porque vivia “fugindo” de São Luís para visitar a noiva, que morava no Rio de Janeiro. Uma situação que provocou uma indisposição com a diretoria do clube que acabou emprestando seu passe, no começo de 1978, ao Paysandu, que se reforçava para disputar a Taça de Ouro, o campeonato nacional. Mas o clube acabou eliminado logo no começo da competição e Caio regressou ao Moto Club, onde permaneceu até junho do ano seguinte.

No “Papão”, como o Moto Club é conhecido no Maranhão, Caio descobriu-se mais eficiente como centroavante do que como ponteiro. Foi o treinador Marçal quem percebeu o goleador nato em Caio e passou a escalá-lo no comando do ataque. Com Caio na frente, o Moto foi campeão estadual em 1977.

Caio construiu fama de craque no Maranhão. Era justo que ousasse voos mais altos. No começo do segundo semestre de 1979, o técnico da Portuguesa de Desportos, João Avelino, passeou em São Luís a procura de valores para a Lusa. Viu Caio jogar e se impressionou. Seria ele o novo atacante da Portuguesa. Não deu outra. Caio marcou 19 gols no campeonato paulista. Os anos se passaram e Caio tornou-se ídolo da torcida da Lusa.

Em janeiro de 1983, Caio voltou das férias que passou em São Luís. Ao retornar aos treinos da Portuguesa, discutiu com cartolas, que, como represália ao que consideravam rebeldia, não renovaram o contrato de Caio, que passou a treinar isoladamente, sem contato direto com os companheiros do time. Em março, a corda esticou de vez E Caio teve o passem emprestado ao Grêmio, pelo período de dez meses. Um personagem foi fundamental para a negociação: o preparador físico Wilton, que também acabara de trocar o São Paulo pelo clube gaúcho. Caio seria uma das esperanças de gols para o time que se preparava para a Taça Libertadores da América, que também contratara César. Ambos brigaram pela posição de titular, mas Caio levou a melhor. O destino reservava grandes surpresas. E não foram poucas.


Com o Grêmio, Caio teve o seu melhor momento na carreira em 1983, conquistando o Mundial Interclubes e a Taça Libertadores da América, da qual foi o segundo principal goleador. Ao longo de sua jornada no Grêmio, assinalou 48 gols. Um deles o primeiro da vitória de 2 a 1 na final contra o Peñarol, que garantiu a primeira “Libertadores” para o Grêmio.

Mas houve um momento no Tricolor gaúcho em que Caio aborreceu-se. O centroavante era titular absoluto do time que se preparava para a disputa do Mundial Interclubes, em Tóquio, contra o Hamburgo, mas a diretoria do clube contratou várias estrelas somente para aquele jogo. Uma delas, Paulo Cézar Caju.

Logo no segundo tempo, quando o placar estava 1 a 1, Caju cansou e o técnico Valdir Espinosa escalou Caio. Sorte gremista lançada. Caio entrou para mudar o rumo da partida. Com um lançamento preciso para a grande área do time alemão, a bola encontrou Renato Gaúcho, que driblou o zagueiro e marcou o segundo dele na partida e o gol do título de campeão do mundo para o Grêmio.

Em dezembro de 1984, Caio sofreu uma grave contusão na virilha durante um jogo pela Taça Libertadores daquele ano. O Grêmio tentava o “bi” e Caio era a esperança de gols, mas, infelizmente, a contusão o tirou de cena e o time perdeu a final para o Independiente, da Argentina.

Embora tivesse apenas 30 anos, Caio sentiu-se inseguro para continuar a carreira. Decidiu, prematuramente, parar. Santos, Palmeiras e o Benfica queriam contratá-lo. Caio manteve-se irredutível e informou à diretoria que não mais jogaria.

Desolado, Caio retornou a São Luís, cidade que aprendeu a amar tanto quanto o Rio de Janeiro, sua terra natal. Do futebol, partiu para o comércio. O que tinha, investiu em uma rede de farmácias. Foi nessa época que, durante uma pelada para lá de informal, Caio descobriu que não mais sentia a impertinente dor na virilha. Estava curado. Cartolas do Moto Club souberam do fato e decidiram convidá-lo para voltar aos gramados. O Grêmio ainda era detentor do passe de Caio, mas acabou liberando-o para o clube maranhense. Caio permaneceu até 1989, ano em que o Moto Club foi campeão estadual, brigou com o presidente do clube, Edmar Cutrim, e decidiu ir para o rival Sampaio Corrêa, com o qual foi bicampeão, em 1990 e 91. Após estas conquistas, Caio decidiu, definitivamente, pendurar as chuteiras.


Passou a trabalhar com escolinhas de futebol pelo Cohatrac [Conjunto Habitacional dos Trabalhadores Comerciários], famoso bairro de São Luís, e foi treinador e auxiliar técnico de muitos clubes maranhenses, entre os quais o Maranhão e o próprio Moto Club. Mas a carreira de treinador não decolou. Seu último estágio foi em 2000, no comando do Açailândia. “Cada ser humano é um ser humano… Nem todo bom atleta quer dizer que será um técnico. Prefiro ser torcedor.”

Caio foi se virando como pôde. Foi gerente de vendas de uma fábrica de pré-moldados e derivados, localizada no bairro do Anil, em sociedade com Paulo Figueiredo, técnico em engenharia. Sem experiência de ambos, o negócio não foi para frente. Nunca se omitiu diante dos fracassos como empreendedor, mas sempre fez o possível para ajudar, sobretudo, os parentes, inclusive os da ex-esposa Zelda, com quem teve os filhos Caio Rafael e Rafaela. E foram alguns destes familiares de Zelda de que Caio disse ter sido influenciado para investir em farmácias. “Fiz algumas coisas com o dinheiro, como comprar casa pra minha mãe e meus irmãos. Na hora que achei que era momento, montei cinco farmácias; achei que era ganhar ou perder. E foi isso [perder] que aconteceu. Montei uma coisa que não tinha nada a ver comigo; eu nunca havia vendido um remédio. O que eu ia fazer com farmácias? Mas acontece que não deu certo faz parte da vida, não é só eu que está assim que passou pelo futebol e poderia estar melhor.”

Na década de 1990, o dinheiro escasseara de vez. Caio encontrou como fonte de renda um táxi, que pertence a um amigo. Até novembro de 2014, o grande ídolo gremista, da Lusa e do Moto Club dirigiu seu carro, cujo ponto ficava no Aeroporto de São Luís, para sobreviver. “Não queria ser taxista, não. Mas, dentro do que ganho, vivo bem.”

Morando sozinho e com o desgastante e insalubre ofício aliado ao uso contínuo do cigarro por anos a fio, sua saúde degringolou. Uma trombose na perna esquerda há anos o impediu de trabalhar como taxista. Caio negligenciou a doença, que se agravou em 2014. Sem recursos financeiros para o tratamento, o risco de amputação, nestes casos, é iminente. Em novembro de 2014, para reverter a situação, Tarciso, ponta-direita com quem Caio jogou no campeoníssimo Grêmio dos anos de 1980, iniciou um mutirão solidário para arrecadar recursos e operar a perna de Caio. Renato Gaúcho, o capitão do Mundial de 83 Hugo De León e o presidente do Tricolor Fábio Koff foram alguns dos que colaboraram com a campanha que levou Caio a Porto Alegre para submeter-se a cirurgia.

A solidariedade entre heróis do futebol foi decisiva para salvar Caio, um ídolo genuinamente campeão mundial!

Mas o dia 12 de fevereiro de 2019 roubou Caio do carinho das torcidas gremista e do Moto Club. Mas jamais sequestrará da memória o que Caio fez pelas duas.