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CRUZEIRO 1992

por Marcelo Mendez


O ano de 1992 foi muito louco aqui no Brasil.

Começou com um tal PC Farias lavando uma grana, depois pintou um motorista cheio das informações, passou por um irmão indignado, uma cunhada espetacular, esposa do irmão indignado, caguetando geral em Brasília e um Presidente elétrico mais bambo que jaca madura.

Brasília Burning se fosse o The Clash. Mas daí sou eu mesmo…

O Brasil do Collor e dos Collor era um terreno fértil para o noticiário de então. Ainda mais para mim, jovenzito, 22 anos, cheio de onda e beijando na boca pra caraca. Minha vida era os discos do Happy Mondays, os primeiros estudos e trabalhos no Jornalismo e ver futebol.

E naquele ano, um time vindo lá das alterosas me chamava por demais as atenções. Hoje falaremos dele:

O ESQUADRÕES DO FUTEBOL BRASILEIRO traz aqui o Cruzeiro de 1992

A MONTAGEM


O final dos anos 80 até que vinha sendo bom para a Raposa.

Na disputadíssima Copa União, o Cruzeiro havia feito muito boa campanha em 1987 chegando até a semifinal em que foi eliminado em casa para o Internacional de Taffarel. Vinha fazendo bons campeonatos ao longo daqueles anos, chegando bem nos Campeonatos Mineiros, mas sentia-se por ali a vontade de ter um time realmente forte, parrudo e de respeito.

Para esse fim, começa o ano de 1992 com uma reformulação total em seu elenco. A Raposa foi até Portugal e de lá, repatriou Luisinho, ídolo do seu rival Atlético, e Douglas, ex-prata da casa, que havia se transferido para o futebol de além-mar. Em casa, sobe Cleisson, Célio Lúcio, traz Nonato, vai no Guarani e traz Roberto Gaucho e Marco Antonio Boiadeiro, abre os cofres e tira Renato Gaúcho do Botafogo para em Minas ter um dos melhores anos de sua vida!

O SURGIMENTO DA CHINA AZUL E O SUPERCAMPEÃO DA AMÉRICA

Ninguém sabe ao certo como aquilo aconteceu. Todavia, a torcida do Cruzeiro abraçou o time na Supercopa dos Campeões da América. Os públicos, sempre acima de 70 mil pessoas no velho Mineirão renderam para a torcida a alcunha de “China Azul”. E esse povo todo viu partidas épicas por lá.


O Cruzeiro passou por cima de Independente de Medelín, Venceu o árbitro e o River Plate, segurou o timaço do Olimpia do Paraguai e deu uma baile de bola no Racing, na primeira partida da final do campeonato no Mineirão. Um 4×0 impiedoso, sem a menor chance de qualquer susto para a Raposa.

Na partida de volta, o Cruzeiro perdeu por 1×0, mas ninguém se importou com isso. Outra história já estava escrita:

O Cruzeiro de 1992 ganha aqui seu lugar de honra na galeria dos Esquadrões do Futebol Brasileiro.

NEYMAR É UM PRODUTO

por Paulo Escobar


Desde sua infância foi moldado para ser um produto, desde muito cedo os valores que eram movimentados em torno de Neymar eram muito maiores se comparados aos de muita gente que levanta às 04 da manhã para pegar ônibus lotado. E sei que muitos virão com a história da “figura pública” ou “merece o que ganha”, não faço parte desse time que diferencia os que se lascam todos os dias para a riqueza de poucos e os que vivem da bola.

As pessoas a sua volta, entre os maiores beneficiados, seu pai, encheram os bolsos de grana e aproveitaram e aproveitam bem a vida que o produto Neymar lhes oferece. Desde festas com celebridades e viagens em vários lugares do mundo.

Neymar sempre foi blindado, inclusive as criticas que ele recebe são filtradas para não atingirem o menino, que pelo visto será menino com 40 anos. Incrível é observar como é blindado pela grande mídia inclusive e pela comissão técnica da seleção brasileira, que também o trata de forma infantil. Nesta sociedade aonde menores de 16 anos são condenados por roubo por fome, Neymar é poupado de toda realidade que o cerca.


O menino produto não pode ser atingido, pois pode influenciar seu desempenho mais fora do que dentro de campo, e vir a diminuir contratos e propagandas. Neymar tem sido poupado até das criticas no que diz respeito ao seu futebol, coisa que poderia ajudar ele, ou se alimentar disso para melhorar aquilo do qual é alvo de criticas.

Não espere de Neymar o amor a uma camisa, ou dele beijar um símbolo pensando na torcida por trás ou que leve em conta a história do time defendido, sei que isso é raro há décadas, mas nele isso é mais utópico ainda. Só no Brasil já declarou paixão pelo Santos, Palmeiras, Corinthians, Flamengo e por aí vai. Procura ficar bem com todos seus clientes, e não é diferente dos clubes por onde passou.

As entrevistas de Neymar sempre são mais do mesmo, o padrão que um produto com contratos milionários deve ter, essa chatice robótica que fala aquilo que não venha a desagradar as marcas esportivas. Inclusive as “desculpas” pelas marmeladas na seleção foram claramente escritas e pensadas numa propaganda, por que não fazer isso nas suas redes de graça?

Quando toma posição política é das mais deploráveis possíveis, apoia governos que promovem verdadeiros extermínios, vide esta semana com o primeiro ministro de Israel ao lado do presidente nefasto que temos aqui. Neymar sempre do lado dos que detêm o poder, dificilmente será coerente com aqueles que mais sofrem.


Este produto, cercado e mimado por aqueles o blindam inclusive pelo Tite, vive um mundo diferente e mais distante ainda que o de Cristiano Ronaldo e Messi, só ver seus comentários quando precisa se referir a algo que fuja da bolha que vive, seja politica ou cotidiano (vide as pérolas deixadas a cada fala). Seria pedir demais que ele fizesse menção durante a Copa, por exemplo, ao menino assassinado a tiros pelo Estado na favela da Maré em tempos de Copa e que deve ter sido fã de Neymar. Ao menos os dois chamados “melhores” do mundo pelo visto sabem das crianças palestinas assassinadas por Israel, uma posição mínima tomam.

Arrisco-me a dizer que Neymar é mais produto que jogador de futebol, não sou inocente, é claro que este futebol moderno é contaminado pelos contratos e pela grana, mas em cada lance e movimentos os empresários deste “menino” produto enxergam uma oportunidade. Só na Copa da Rússia levou aproximadamente 16 marcas (poder dar um Google). Você cansou de ver Neymar na TV nas propagandas durante a Copa, inclusive acredito que você o tenha visto mais fora do que dentro de campo, se esforçou mais pelo time das marcas que pela seleção.


Neymar é um produto trabalhado e cercado por gente que o vê como produto, e ele mesmo se aceita como tal, pois na idade que tem não é mais menino e já poderia pensar por si só. Para os que gostamos de futebol esperamos o dia que Neymar vire um jogador de Futebol e que o “menino” produto fique em segundo plano.

Infelizmente hoje temos um produto numa prateleira chamada futebol moderno, pensado e moldado para ser isso que ele é, e de um produto não pode se pensar nada de diferente disso que ele apresenta. Todo movimento em volta do produto é friamente calculado visando apenas o lucro, o futebol é apenas um detalhe.

 

 

 

 

 

A SELEÇÃO BRASILEIRA DE 82

por Luis Filipe Chateaubriand


Cantada em prosa e verso como uma das maiores seleções de futebol que o mundo já viu, a Seleção Brasileira de 1982 tinha imperfeições que muitas vezes não são notadas.

O técnico Telê Santana, notório adepto do futebol bem jogado, perdeu a oportunidade ímpar de fazer do Flamengo da época seu time base. Tivesse o feito, tendo o Flamengo como time base, teria ainda maiores chances de ganhar aquela Copa do Mundo do que de fato aconteceu.

Leão; Leandro, Oscar, Edinho e Júnior; Andrade, Falcão e Zico; Tita, Sócrates e Adílio. Seria um time titular com a base rubro-negra – ou seja, técnica, tática e conjunto – aliado à genialidade de Sócrates e Falcão, à experiência de Leão (o melhor goleiro do país de então), à segurança de Oscar e à agilidade de Edinho (que Luisinho não tinha, apesar da técnica).


O banco de reservas, à época composto por cinco jogadores, poderia ter Raul, Luisinho, o excelente Toninho Cerezo, o gênio Reinaldo (que não foi convocado pelo conservadorismo pessoal do técnico) e o versátil Lico (que não foi convocado sabe-se lá por que).

Vamos convir: se assim fosse, o escrete canarinho teria muito mais chances de êxito do que mesmo aquele timaço que foi montado à época teve.

Times como o Flamengo de 1981 e 1982 aparecem muito raramente em nosso futebol. Desperdiçar a chance de torná-lo base de nossa seleção foi enorme desperdício.

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email:luisfilipechateaubriand@gmail.com.

SAMPAOLI E A OXIGENADA MORAL NO FUTEBOL BRASILEIRO

por Luiz Ricas


Quando o técnico argentino assumiu o Santos FC no começo do ano, todos esperavam o que ele entregou e o que já vinha fazendo em seus últimos trabalhos, no Chile, na Argentina, no Sevilla ou no Universidad do Chile. Linhas avançadas, posse de bola, goleiro líbero, futebol ofensivo com muitos gols tomados e também sofridos. Um futebol intenso e jogado. O que ele fez no futebol brasileiro nesses quatro meses foi muito mais que tático.

A oxigenada do Sampaoli no futebol brasileiro não é tática, é moral. Taticamente em era de internet e TV a cabo, todos que acompanham futebol sabiam do conceito de jogo dele, inclusive com esse resultado de fazer um monte de gols e quando perde, também na mesma proporção. Mas a grande novidade é a voz dele: exigir o que deveria ser óbvio e usar do lastro dele para falar disso publicamente. 

No futebol daqui a gente normatizou coisas completamente absurdas, como jogador voltar inteiramente fora de forma das férias, nenhum comprometimento (necessitando de motivação para fazer o que se dispôs a fazer, jogar bola), jogador ruim ganhando fortunas em times grandes, jogadores manhosos que tem que ser tratados como “pop star prima dona principezinho do mundo”, atraso de salário, dirigente não cumprir promessas, comissão técnica ou parte do elenco receber salário e outros departamentos e jogadores do clube não, etc. Só para ficar nos exemplos dos quais ele francamente falou em público. Instituições gigantes em mãos de gente incompetente ou de má índole. 


No início de abril, o treinador que vai aos treinos de bicicleta na plana cidade santista viu um grupo de crianças assistindo ao treino em cima da árvore e prontamente convidou os garotos para entrar no CT, conhecer os jogadores e ver o treino do banco de reservas. Um simples gesto até destoa do modo intocável como são as relações entre torcida e atletas, um dia inesquecível para essas crianças e um breve gole na água da realidade que o elenco por ele treinado bebeu.

Sampaoli é gigante nesse gesto e em todos desde que começou no futebol e merece louvores por isso. O Santos que ele atualmente comanda e demais clubes do Brasil são gigantes em sua história e torcida, mas temos cada dirigente, cada jogador, cada cartola que é impressionante a força do futebol em se manter vivo por aqui com tanto sangue suga grudado nele!

DOIS CRAQUES E UM REENCONTRO

por Marcos Vinicius Cabral


“Nosso time se tornou um grupo com uma união muito forte fora de campo. Às quartas-feiras no Cinco de Julho, jogávamos para ajustar os erros. Com isso, acabamos um bom tempo invictos e aproveitando para treinar para o campeonato, já que o mesmo era disputado por grandes equipes e bons jogadores. Ganhar do Pouca Rola foi uma das maiores vitórias desse time com uma espinha dorsal composta por Leleco, por mim, Irineu, Gonçalinho e Guina. Lembro do campo cheio naquele domingo e da confiança transmitida pela nossa torcida. O resultado em si foi para confirmar o talento de uma geração representada por grandes jogadores”. (Marcinho, ex-zagueiro do Grêmio, atualmente com 51 anos)

“Havíamos disputado campeonatos anteriores, éramos uma equipe de amigos e jogando juntos ficamos fortes. Recheado de craques, um garoto, craque de bola, chamado Marcos Vinicius, apelidado de Lito, cresceu vendo aquele time jogar e passou a fazer parte do elenco. Naquele fatídico jogo, o árbitro, de nome Nei, era tio de um jogador do Grêmio e nós já imaginávamos o que poderia acontecer. Atribuo a ele nossa derrota pois foi o único culpado por não termos chegado à final. Foi uma grande decepção, e uma covardia o que o organizador do campeonato fez, pois ele torcia para o time que era o nosso principal rival”. (Flávio, ex-meia do Pouca Rola, atualmente com 48 anos)

O domingo se aproximava e a ansiedade calçava chuteiras para entrar em campo.

De um lado, a boa equipe da “Esquina do Pecado” em Neves – point de encontro dos jogadores do Grêmio Futebol Clube – se reunia para ouvir atentamente o treinador Dico traçar sua estratégia.

Não muito longe dali, no “Bar de César” – que ficava em frente à Praça do Barreto – o Pouca Rola Futebol Clube se preparava para a partida mais difícil da temporada.

Vencer o nervosismo era sair na frente naqueles 90 minutos que definiriam quem chegaria à final do 5° Campeonato Comunitário do Ceclat, em 1990.


Dois jogadores se tornaram símbolos das cores que defendiam: o zagueiro Marcinho, camisa 5 do Grêmio, e Flávio, camisa 10 do Pouca Rola.

– Enfrentar Flávio era saber que o jogo ia ser duro, devido a sua qualidade técnica. Nós fomos criados ali no Barreto e todos se conheciam. Não podíamos relaxar pois de um grande jogador sempre se espera alguma coisa – elogia Marcinho.

– Não quero entrar no mérito do quanto fomos prejudicados pela arbitragem mas Marcinho e Leleco (goleiro), foram fundamentais para a vitória deles com uma grande atuação – devolve Flávio.

Polêmicas à parte, os olhos castanho-claros de Marcinho e os esverdeados de Flávio, olham na direção do passado para reviver esse confronto.

Confronto este que começou bem antes do apito inicial da partida com provocações de ambos os lados durante a semana e encerrada na manhã daquele domingo quando cada atleta colocou a planta de seus pés no solo sagrado do Clube Combinado Cinco de Julho.

Fundado em 1927, o ‘Gigante da Zona Norte‘ que vivera tantas decisões emocionantes, estava prestes a transformar Grêmio e Pouca Rola num confronto histórico assim como inesquecível.

Nas escalações dos times, nada de novo, apenas uma mexida no setor de meio-campo do Pouca Rola com a entrada de Isidoro no lugar de Lito.

– Até hoje não consegui entender minha sacada do time, pois vinha fazendo um grande campeonato e jogávamos com o regulamento debaixo do braço – diz o ex-camisa 8 Lito.

E completa:

– Comecei a jogar bola com 13 anos de idade e ter sido preterido numa semifinal contra o Grêmio, foi sem sombra de dúvidas, uma das maiores frustações no futebol – lamenta o habilidoso meia hoje com 45 anos.

Contudo, o lateral gremista Irineu vai além:

– Para ser sincero não lembro muito do jogo, afinal de contas, são 29 anos que ele aconteceu. Mas pra mim teve um gosto especial, já que joguei no Pouca Rola na sua primeira formação e sempre tive carinho pelo time. O barato disso tudo eram as provocações – relembra aos risos.


Mas naquela manhã de sol forte, foi preciso esquecer o sorriso e fechar a cara e os portões do clube, pois os craques daquela partida atraíram muitos torcedores.

O campo lotado como poucas vezes se viu enquanto os jogadores transpiravam demasiadamente um bom espetáculo.

Leleco, Mauricio, Marcinho, Mongol e Irineu; Zé Baleba, Gonçalinho e Testão; Guina e Eraldinho, pisaram no palco sagrado de terra batida, com seu tradicional uniforme: camisa branca e azul listrada na vertical, short branco e meiôes azuis.

Já na outra metade dos 60m x 40m de sua extensão completa, Cidinho, César, Milton e Jay; Isidoro, Neizinho e Flávio; Boulevard e Willian, aqueciam sob olhares confiantes numa vitória.

– Nosso time era favorito com méritos próprios e todos queriam ganhar da gente – recorda César, camisa 2 do Pouca Rola.

Bola rolando e o Pouca Rola vai para cima sendo soberano nos 45 minutos iniciais, com Leleco operando milagres no gol gremista.

A vontade de vencer empurra o time que joga todo de vermelho e comandado por Zeir (Roberto era o treinador mas por questões pessoais não pôde comandar a equipe), sai em busca do gol.

Numa bola despretensiosa, o zagueiro Milton (até então impecável na partida) sendo último homem, domina mal uma bola rechaçada no meio-campo e o arisco Guina numa arrancada dá um tapa na frente e toca na saída de Cidinho.

Um a zero.

Segundo tempo começa e o Grêmio usa o célebre adágio de “o melhor ataque é a defesa” e a zaga segura o ímpeto do adversário.

Depois disso, inúmeras chances desperdiçadas, gol de cabeça de Flávio mal anulado, empurrão em Boulevard dentro dentro da área não assinalado, uma mão na bola em cima da linha do gol que evitou o empate que o juiz não marcou e invasões em campo, manchariam o jogo que marcaria Flávio e Marcinho.

Fim de jogo: 1 a 0 para o Grêmio e comemoração discreta de um time que acabaria vencendo o Avenida e sagrando-se campeão.

Coisas da bola que excede todo entendimento.


Enquanto Flávio sempre honrou a camisa 10 por onde jogou, Marcinho como zagueiro sempre foi um admirável líder.

Ambos, inegavelmente foram craques.

Enquanto um defendia com propriedade sua área o outro era elegante até com os meioēs arriados para atacá-la.

Se um foi duro, porém leal o outro foi clássico como a Sinfonia n.o 5, dita Sinfonia do Destino, de Ludwig Van Beethoven.

Um foi apaixonado pela bola e o outro apenas amante.

Passados quase 30 anos, a sensação que se tem é que aqueles 90 minutos ainda não terminaram e só terminaram numa conversa a sós na Praça Monsenhor Albuquerque na Mangueira em São Gonçalo, onde se reencontraram a pedido do Museu da Pelada para falarem do jogo que mudou suas vidas.

E porque não dizer, o jogo que transformou uma rivalidade numa grande amizade entre eles.