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AINDA HÁ LUZ NO FUTEBOL BRASILEIRO

por Daniel Borges


Estão nas semifinais da Libertadores, os dois times mais ofensivos dentre os brasileiros que na competição estavam.  Que me perdoe Felipão, Roth, Mano e outros… 

Uma coisa é certa, Grêmio chega com credenciais da competição acima do Flamengo. Possui quatro semifinais dentre as últimas cinco participações, com título e manutenção de equipe.

Renato é um carioca de estilo de jogo e Gaucho no sentido estrito, de ser copeiro e saber jogar o mata-mata que os nossos amigos sulistas sabem como ninguém.

Porém, do outro lado tem um português carioca, que veio com sua filosofia de jogo, outrora preocupante mas hoje resiliente neste time do Flamengo tão ofensivo. Ademais, desde 1984, o Flamengo não chega às semifinais, mesmo tendo o melhor elenco para essa situação ainda tem que mostrar ao clube e ao torcedor que pode chegar a final este ano disputada no Chile.

No mais, um carioca português e um carioca gaúcho, estão nas semifinais. Como iniciado, viva o futebol ofensivo e seja ele o reflexo da nossa seleção, com um técnico gaúcho paulista no comando.

JOÃO HENRIQUE AREIAS, O DECANO DA GESTÃO NO FUTEBOL BRASILEIRO

por Luis Filipe Chateaubriand


Há mais de 30 anos, João Henrique Areias tem sido o grande referencial de gestão no futebol brasileiro. 

Inicialmente executivo de Marketing da International Business Machines (IBM), onde teve 15 anos de carreira, migrou para o futebol ao assumir o pioneiro cargo, nos clubes de futebol brasileiros, de gestor de Marketing, no Flamengo, em 1987. 

Ainda no ano de 1987, foi o mentor do Plano de Negócios da Copa União, até hoje maior caso de sucesso empresarial de nosso futebol. 

Modernizou as práticas mercadológicas exercidas por clubes de futebol, colocando o Flamengo na vanguarda neste sentido. 

Seguiu-se, então, uma carreira prolífica no futebol, com diversos trabalhos de gestão ou de consultoria em clubes de portes variados, no Brasil ou no exterior. 

Com sua expertise inquestionável, João Henrique Areias foi o artífice de mudanças importantes no calendário de nosso futebol, como a adoção do turno e returno e pontos corridos no Campeonato Brasileiro!

Atualmente, João Henrique Areias concilia os trabalhos tradicionais de gestor esportivo (sim, não só no futebol, mas também no basquetebol, por exemplo) com a função de educador, ministrando diversos cursos, presenciais ou à distância, sobre o ofício que o consagrou. 

Este escriba, que desde sempre vê na má gestão o principal problema de nosso futebol, tem em João Henrique Areias sua principal inspiração para tentar apontar soluções.

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email:luisfilipechateaubriand@gmail.com.

ÚLTIMO MAESTRO TRICOLOR DA VIDA DO NELSON RODRIGUES

por André Felipe de Lima


Lá pelos idos de 1976, os ex-craques tricolores Gil e Pintinho se preparavam para mais uma jornada do Fluminense fora de casa. O jogo seria em Volta Redonda. Ao chegarem ao estádio local, decidiram espiar o jogo preliminar e se encantaram com o garoto mirrado chamado Wanderley Alves de Oliveira, cujo apelido era “Delei”, um menino que se inspirava em Gerson para fazer passes longos e que logo em seguida pisaria nas Laranjeiras para trilhar uma estrada consagradora com o manto grená, branco e verde. Delei foi um dos últimos brilhos tricolores que a retina do imortal tricolor Nelson Rodrigues enxergou antes de nos deixar após o título estadual do Fluminense em 1980, jogando ao lado de Cláudio Adão, Gilberto e Edinho.

Delei, maestro incomparável, começou a reger a orquestra da rua Álvaro Chaves e logo entraria para a história como um dos mais habilidosos meias-armadores que já passaram pelo Fluminense.

Com 1,72m de altura, exibia grande visão de jogo e executava lançamentos com maestria, um dos quais deixou Assis de frente para o goleiro Raul, do Flamengo, na final do campeonato carioca de 1983, aos 43 minutos do segundo tempo. Aquele time do Tricolor seria, após a conquista sobre o Rubro-negro, um dos melhores já formados em toda a história nas Laranjeiras, mas Delei temia pelo futuro do elenco caso não saíssem do Maracanã com a vitória sobre o Flamengo. “Eu acreditava [no título], mas temia que, se não ganhássemos, o time fosse desmontado. Isso era uma rotina no clube”. O craque não disse nenhuma impropriedade.

O Fluminense atravessava realmente uma fase de descrédito após desempenho sofrível nos campeonatos que disputou em 1982. No final da temporada, Delei, por pouco, não trocou as Laranjeiras por Moça Bonita. Na época, o bicheiro Castor de Andrade, patrono do Bangu, apresentou proposta por Delei, mas o presidente do Fluminense, Sílvio Kely, desistiu da negociação. Por Delei, o negócio seria fechado. Afinal, em setembro de 1982 a situação não estava fácil para ele. Com o salário atrasado de 400 mil cruzeiros, o craque morava de favor na casa da irmã.

Nos meses seguintes, tudo acabaria sendo acertado entre cartolas tricolores e Delei. Para o bem do Fluminense, que iniciaria no ano seguinte uma de suas maiores trajetórias em todos os tempos, com um time de ouro cuja liderança no meio campo seria do maestro Delei, orgulho do seu Sebastião e da dona Conceição.

Hoje é aniversário do Delei. Parabéns ao maestro!

A VÁRZEA E A VERDADE LÍRICA POSSÍVEL

por Marcelo Mendez


“Ai, se eu pudesse/Fazer flores e estrelas/O mundo seria mais belo/O homem seria respeitado pelo homem/Ai se eu pudesse/Fazer flores e estrelas/Eu conquistaria você, moça…”

Decerto que quando Jorge Ben cantou isso em 1972 ele nem de longe pensava em futebol de várzea, mas para assuntos ludopédicos vindos do terrão a bela canção se faz muito pertinente para a crônica que virá. A razão do porque disso é quase que óbvia…

Todo sujeito que senta para escrever seus contos, poemas e crônicas pensa em mudar o mundo. Nada menos que isso. O Cronista ludopédico aqui não fugirá a essa premissa, portanto.

Afinal, por quantas vezes eu já não sentei para escrever pensando em fazer das duras caneladas dos campos de terra do ABCD, um relicário de flores e estrelas para entregar para vocês, caros leitores? Quantos sonhos de Proust já tive, ao imaginar que uma crônica de futebol de várzea rasgaria feito faca, a pele e o coração de vocês que me lêem?

E não se assustem com a forte imagem descrita no desejo exposto na frase última:

Desejos só podem ser válidos para vida, se conquistados através do furor apaixonado do gosto de sangue e corte.

Como o futebol de várzea.

Caro leitor que aqui me acompanha, lhe afirmo com todas as letras que um domingo de várzea jamais pode ser visto como um domingo qualquer. Por todas as forças que a experiência dessa prática reserva a quem curte esse universo, as coisas da bola de capotão sempre serão líricas. Nada menos que isso:

Líricas.

Vejamos esse último domingo meu…

Em um dia belo de céu azul e sol de um milhão de Saaras, acompanhei do pé do morrão o jogo entre DER de São Bernardo e Boa Vista de Diadema, válido por nada do vil metal meritocrático. Era um amistoso entre amigos que em meio a um mundo de ódio e caos e outros golpes, decidiram que iam tão somente se divertir. E ao redor do campo então, as cenas que mais me encantavam.

A cada criança, adulto, mulher, velhos ou novos que chegavam, vinha um sorriso de bom dia. A cordialidade do povo que sai de casa domingo pela manhã para ver um jogo de futebol de várzea é comovente. Em um mundo duro onde a irracionalidade tenta imperar, sinto que na beira do campo de futebol de várzea reside toda a poesia da resistência humana. Ali está a paz.

Segui andando e então reparei que do bar do campo dava pra ver o jogo. Fui até lá e o simpático, o dono do bar, me vendeu uma cerveja gelada e uma coxinha de frango deliciosa. Me ajeitei em um canto e passei a ver o jogo, ou a ver o que eu queria ver, não sei…

Enquanto o time do DER contava com a força de seus atacantes Max e Lipe para abrir um 3×0 no placar liberei meus pensamentos para imaginar que a alegria é possível e está muito mais perto do que pensamos.

Em um campo de terra simples, rodeado de amigos que se faz no minuto imediato que se retribui um sorriso, dividindo uma cerveja, vibrando por um gol seja ele de quem for, está a felicidade. Livre de amarras, de elitismos, de todo e qualquer tipo de ódio e segregação, afirmo que a várzea é a única chance que o cotidiano tem para ser belo.

E essa é a única verdade inexorável do futebol…

GERALDO, O ASSOVIADOR

por Zé Roberto Padilha


Outro dia, Carlos Alberto Pintinho, seu amigo inseparável, e fico a imaginar que meio campo formariam se jogassem juntos, fez uma postagem sobre a data em que nos despedimos dele. Folheando meus álbuns, e como devo a minha mãe, irmãs e namorados o carinho com que os fizeram, encontrei esta foto da minha chegada ao Flamengo. Em 1976, pelas ruas de paralelepípedo de Governador Portela, em Miguel Pereira, onde realizávamos a pré temporada, este gênio do futebol voltava do treino ao meu lado equilibrando a bola naquele piso irregular e duro. Quando entrávamos em campo, o gramado se transformava num palco macio onde deslizava sua arte como poucos o fizeram.

Certas vezes, sua habilidade explícita se confundia com displicência. Quando o adversário tinha a bola, voltava lentamente e assobiando para compor a marcação. Treinadores de formação militar, como Carlos Froner, acostumado a acordar de madrugada com toques de clarins, perfilarem em silêncio e prestar continência diante de uma rígida disciplina, não aceitavam tal “irresponsabilidade”. Ele, e outros tantos brucutus da prancheta, não entendiam que gênios como ele precisavam voltar respirando a procura do espaço vazio. Se posicionando para receber, desmarcados, uma bola e iniciar o contra-ataque. Para roubar a bola do adversário já tinha eu, o Merica e o Tadeu. Ele e Zico, estavam lá para dominá-la com um pincel livre, leve e solto aos seus pés. E pintar no Maracanã uma nova obra de arte.

Certa feita, Carlos Froner perdeu a paciência. E não o relacionou para um excursão ao nordeste. Recuperando de uma torção no tornozelo, ficamos na Gávea correndo em volta do campo para manter a forma. E o Dr. Célio Cotecchia, que há tempos procurava uma oportunidade de operar suas amígdalas, o levou para a cirurgia. O que aconteceu lá todos sabem. O futebol se despediu de uma das suas maiores promessas. Penso num jogador que, hoje, jogaria parecido com ele. E só encontro ele mesmo.

Tamanha foi a comoção que sua família, repleta de irmão altos e inconformados, não permitiu a entrada do treinador no velório. Achavam que se Carlos Froner não o tivesse punido, levado Geraldo junto com o time, ele não iria operar. Não operando, não morreria. No futebol sempre foi assim, todos saem à procura de culpados diante de uma derrota. E que derrota foi essa para o futebol brasileiro.

Desculpem a nota colada ao lado enchendo a minha bola, mas minha mãe coruja recortava tudo que era elogio. E jogava longe, como todas as mães, as críticas sobre seu filho. Porém, no sábado, 17 de janeiro de 1976, com o Última Hora custando Cr$ 2,00, ela guardou mais que a foto de um Aero Willys, um fusca e uma Variant pelas ruas de Governador Portela. Ela perpetuou a oportunidade que tive de carregar nas mãos o que um gênio o fazia com os pés.