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SE CAIR PARA A SÉRIE C…

::::::: por Paulo César Caju ::::::::


A instituição Cruzeiro, de Tostão, Dirceu Lopes, Zé Carlos, Eduardo, Raul, Evaldo, Natal, Procópio, Nelinho, Joãozinho e tantos outros jogadores geniais, deveria estar listada em Bolsa de Valores e vender títulos a investidores interessados. A marca Cruzeiro deveria ser uma das mais valiosas do mundo e o clube deveria ter pontos de venda em todos os cantos do planeta. Suas escolinhas deveriam ter fila de espera e seus ídolos deveriam ser garotos-propaganda valorizadíssimos. Deveria, deveria, deveria, mas, ao longo dos anos, as administrações que por lá passaram só pisaram, sugaram e mamaram esse patrimônio.

Esse último presidente, então, jogou uma pá de cal nessa história belíssima. Nessa última rodada, o Cruzeiro conseguiu perder, em casa, para um Avaí horroroso. Está pertinho da zona de rebaixamento e se cair para a terceirona temo que seu destino seja o mesmo da Portuguesa, de Enéas, Badeco, Zé Maria, Leivinha Ivair e Marinho Peres, do América, de País, Ivo, Bráulio, Alex, Eduzinho e Gílson Nunes, e do Bangu, de Paulo Borges, Domingos da Guia e Marinho. O Guarani, de Careca e Zenon, também está abeira do precipício. Cruzeirenses, antes de pedirem a cabeça de Ney Franco, que mal chegou e já não está convencendo, lembre-se que a diretoria sequer pagou a multa rescisória de Enderson Moreira, e ainda deve para Mano Menezes, Adílson Batista, Abel Braga e Rogério Ceni. É um buraco sem fundo.

Nilo Santos, torcedor apaixonado, me enviou uma mensagem desesperada: “PC, grite por nós! Meu Cruzeiro está sendo dizimado!”. Nilo, aqui vai minha mensagem para você: “Nilo, grite por nós! Meu Botafogo está sendo dizimado!”. O Botafogo está na zona de rebaixamento e, após cada rodada, o técnico tem a cara de pau de dizer que o time está evoluindo. E fala-se em clube-empresa, em investidores e trazem jogador do Japão, da Indonésia, da Cochinchina e o time só empata e não dá nenhum prazer de assistir. Ou os clubes se profissionalizam de uma vez por todas ou vários tradicionais serão dizimados.

Outro dia, ouvi dizer que o Flamengo está com dívidas e até o líder Atlético-MG gera dúvidas: “PC, o Galo não tem dinheiro para pagar tantas contratações. É uma aposta alta, se der errado, quebra”, me enviou o leitor Luciano Dantas. Mas Sampaoli segue apostando no futebol ofensivo e divertido de ver. Não por acaso, Keno desencantou. Fez o mesmo com Soteldo, no Santos. Os dirigentes também precisam aprender a driblar, inovar, tratar com respeito essas marcas porque uma hora a conta chega e ela pode ser impagável.

VOZES DA BOLA: ENTREVISTA ZICO


Todos buscavam algo, além da Lagoa na época pré-túnel Rebouças, com poucas casas às suas margens, onde se podia ouvir o galope dos cavalos que montados por amazonas e cavaleiros da Sociedade Hípica Brasileira, cavalgavam pelo matagal que se estendia da Curva do Calombo até a finada favela da Praia do Pinto.

Em frente ao Estádio de Remo, dominando tudo a sua volta com seu monumental lance de arquibancadas, a imponente sede do Flamengo abria os braços querendo abraçar aquele menino loirinho, magrinho, ainda pequeno para seus 14 anos.

Pela primeira vez na vida saía de Quintino, zona norte do Rio de Janeiro, para colocar os seus pés sagrados no não menos sagrado chão da Gávea.

Naquela quinta-feira, 28 de setembro de 1967, trazido pela mão pelo radialista Celso Garcia, Zico – apelido dado pela falecida prima Ermelinda – treinou pela primeira vez no Flamengo.

No entanto, antes de mostrar seu talento em campo, Zico precisou que Celso Garcia, convencesse Modesto Bria, treinador do juvenil do Flamengo e imortal craque do primeiro tricampeonato em 1942/43/44, a lhe dar uma chance.

“O que me movia era a coisa de Flamengo, de entrar para o meu clube de coração, que era o que eu mais desejava. Mas o primeiro momento foi de decepção, pois a escolinha tinha duas categorias, e apareci no dia do treino dos garotos mais velhos. O Bria não queria me aproveitar. Assim mesmo, o Celso criou toda uma situação, para não desperdiçar a nossa viagem, e acabei entrando. Não foi nada demais, só deu pra fazer umas gracinhas, aquela não era a minha praia. Eu realmente fiquei assustado quando cheguei à Gávea, naquele primeiro dia; os caras eram bem maiores do que eu. O fato é que me mandaram voltar no dia seguinte, uma sexta-feira, para me apresentar para a partida de domingo, contra o Everest. Eu me apresentei aos responsáveis pelo meu núcleo, o Célio de Souza e o José Nogueira. Joguei e fiz dois gols na vitória de 4 a 3. Mas não me lembro de quase nada. Só quando pego alguma foto da época. De qualquer jeito, foi ali que o meu sonho começou a se tornar realidade. Eu tinha sido aceito na escolinha do Flamengo”, disse a Roberto Assaf e Roger Garcia, autores de sua autobiografia, ‘Zico 50 Anos de Futebol’.

Se o Natal rubro-negro é 3 de março, podemos afirmar indiscutivelmente que o Ano Novo é 28 de setembro, data em que mostrou todo o seu futebol de um menino que viria, anos mais tarde, ser o maior ídolo do clube.  

Porém, antes de sê-lo e obter tamanho êxito, cresceu dezessete centímetros chegando a 1,72 metro, ganhou vinte e nove quilos encorporando para  66 em massa muscular e sendo preparado pelo médicos do clube para receber entradas duras e desleiais de seus marcadores, como a de Márcio Nunes, naquela noite infeliz de agosto de 1985, pelo Campeonato Carioca.

Recentemente, viveu confinado em sua casa onde esteve há mais de cem dias, o ‘White Pelé’ (Pelé branco) como o Galinho de Quintino é conhecido no exterior, e aceitou conversar com o Museu da Pelada para fazer parte da série Vozes da Bola.

Por Marcos Vinicius Cabral

De onde vem o apelido Galinho?


Vem do Valdir Amaral, radialista da Rádio Globo. Quando estreei, estava jogando de centroavante, corria bem e lutava muito e como era cabeludo, recebi esse apelido de Galinho, e lógico,  Quintino, por ser do bairro onde eu morava e fui criado. Então, pegou e hoje todo mundo me chama de Galo ou Galinho.

Quem foi sua inspiração no futebol?

Eu tive grandes inspirações, a começar pelo Dida, que era o grande ídolo do Flamengo e da minha família inteira. Meus pais diziam que depois de pai e mãe uma das primeiras frases que falei foi ‘Dida’. E lógico, depois dos meus irmãos, Edu e Antunes, onde eles jogavam, eu ia assistir, e aprendi muito com eles. E uma grande Seleção, com excelentes  jogadores também me inspirou muito, porque era um ataque que todo mundo era camisa 10 em seus clubes, que foi a Seleção Brasileira de 1970. Nessa época, eu estava no juvenil e sabendo mais ou menos o que queria como jogador de futebol, olhava muito aqueles jogadores e aprendi muito com eles.

Do que você sente mais saudades quando era jogador?

Sinceramente, não sinto saudades da minha carreira. Pô, foram muitos anos jogando no Brasil, na Itália, no Japão, então, não sinto saudades de nada. Ainda jogo minhas peladas, então, seria muito egoísmo da minha parte sentir saudade de alguma coisa.

Você marcou 826 gols na carreira. Se não fossem os graves  problemas no joelho, você acha que chegaria aos mil?

Bom, eu nunca me preocupei com essa coisa de bater recorde não, de numeração e tal. A gente com o decorrer do final da carreira que você começa a achar números. Eu terminei minha carreira com 831 gols e 1.174 jogos. Agora, tem muitos jogos que muita gente não conta que é a questão dos jogos que são amistosos ou não, jogos beneficentes e jogos de despedidas. Quando eu era profissional, eu anotava tudo e lógico, que se talvez eu tivesse pensando na questão de bater recordes, talvez pudesse ter chegado a isso, mas minha função não era essa. Eu acredito que como jogador profissional, eu tenha feito uns seiscentos e poucos gols, juntando Flamengo, Seleção Brasileira, Kashima, Udinese, aí chegue a uns setecentos e poucos talvez. Para um jogador de meio de campo está bom demais e talvez eu seja um meio-campista que tenha feito mais gols no futebol mundial. Acho que sempre gostei de fazer gols mas jamais deixei de dar um passe para um companheiro melhor colocado para fazer gols e ser artilheiro. Então, isso nunca passou pela minha cabeça, porque eu sempre fui ‘nós’ e não ‘eu’.

De acordo com o jornalista Celso Unzelte, você fez 334 gols. O que representa o Maracanã na sua vida de torcedor e de jogador?

Desses 334 gols, estão contando também a parte de amador. Com isso, daria 442 jogos, e se for tirar a parte de amador, seriam 418 jogos e acho que  316 gols. O Maracanã ficou como se fosse a minha casa e como torcedor tive momentos maravilhosos de poder assistir grandes jogos e grandes decisões. Quando moleque,  aquele Fla-Flu de 63, que foi o maior recorde de público pagante, com mais de 177 mil torcedores, sendo o Flamengo campeão naquele ano ao empatar em 0 a 0 com o Fluminense. É lógico, como jogador, ali foi a minha história, pois o Flamengo mandava jogos lá, a possibilidade de fazer gols era maior e eu largava na frente dos outros. O Maracanã está ligado à minha vida.

Alguns jornalistas esportivos e muitos torcedores acham que ganhar uma Copa do Mundo é o ponto alto na carreira do jogador profissional. Você disputou os mundiais de 1978, 1982 e 1986. O que faltou, na sua opinião, para esse título?

Eu acho que uma carreira não é pautada só por títulos, conquistas, perdas. Então, nunca me preocupei com isso, essa questão de ganhar ou não uma Copa do Mundo. Seria bom, pois lutei para isso, a gente quando está disputando alguma coisa você quer sempre ganhar e trabalha para isso. Se não foi possível,  paciência! Grandes nomes da história do futebol não tiveram também essa possibilidade e outros que não representaram muito conseguiram estar num grupo que foram vencedores. Eu acho que o que dignifica a sua carreira é o teu comportamento, tua postura, teu modo de ser, o seu profissionalismo, eu acho que nesses pontos eu fui impecável. Então, para mim, não faltou nada e acho até que ganhei mais do que merecesse. A Seleção de 82 era uma seleção muito boa, todos os jogadores daquele time tiveram sucesso em suas carreiras individualmente, mas infelizmente não foi possível e no dia em que a gente não esteve bem acabou sendo eliminado. Naquele jogo erramos mais que o tanto no coletivo quanto no individual e diante de uma grande equipe como era a da Itália, eles não perdoaram a gente. Para você ver que o futebol é tão esquisito, que aquela partida foi a única oficial que eu perdi na Seleção Brasileira, juntando eliminatórias e Copas do Mundo. Disputei três Copas do Mundo: em 78, não perdermos, em 86 também não,  saímos nos pênaltis após empatar em 1 a 1 no tempo normal e eliminatórias também não. Então,  nem tive a felicidade de disputar uma final  e muitos outros jogadores perderam e foram campeões do mundo. No mais, essas coisas acontecem no futebol, não deixo de colocar minha cabeça no travesseiro e dormir. Fiz o que era possível fazer, mas Deus não quis, só me resta entregar nas mãos D’Ele e paciência. Mas minha carreira está aí para todo mundo ver, o quanto eu trabalhei, me dediquei na Seleção e nos times que joguei.


Arthur Antunes Coimbra, torcedor, nunca viu o Flamengo ganhar do Botafogo. Quando virou Zico, colocou dez jogos de vantagem nos confrontos, porém, em 1989, perdeu a final para o alvinegro. Afinal, o Glorioso foi ou não uma pedra na sua chuteira?

Não, o Glorioso não foi uma pedra na minha chuteira. Foi sim, muito importante e deu muitas glórias ao futebol brasileiro com times maravilhosos. Para se ter uma ideia, eu como torcedor, em 1962, vi o Botafogo ganhar a final contra o Flamengo com três gols do Garrincha e não saí chateado do Maracanã, pois o ‘Anjo das Pernas Tortas’ era a alegria do povo e era um cara que todo mundo gostava. O problema meu, em especial, era que o (goleiro) Manga, mexia muito com o torcedor do Flamengo e dizia que gastava a gratificação antes do jogo, pois tinha um time bom, então, ele passava no mercado antes dos jogos e fazias as compras. Na verdade, isso irritava um pouco a gente, torcedor, e aí,  talvez, tenha me deixado mais chateado. Tanto que quando comecei a jogar tinha mais gana de vencer o Botafogo do que qualquer outro time por causa dessa provocação, sempre que eu lembrava das palavras do Manga. O Flamengo era o único time que tinha menos vitória que o Botafogo e depois a gente equilibrou e botamos dez vitórias à frente. Hoje, o Flamengo está com uma boa vantagem em relação ao Botafogo. Sobre 89, o fato de perder ou ganhar uma final não tem nada a ver, não muda nada, o Botafogo não foi pedra na minha chuteira não. Tive mais alegrias do que tristezas jogando contra eles.

O que vem à sua cabeça quando você fecha os olhos e lembra o 6 de fevereiro de 1990, quando fez sua despedida oficial dos gramados no Maracanã?

O que vem à minha cabeça é o orgulho de ter representado bem o Flamengo em primeiro lugar, que foi quem me abriu às  portas para o futebol profissional. Depois, por onde eu passei, eu acho que o profissionalismo e a determinação com que encarei isso. Na verdade, eu já estava com a minha cabeça preparada para essa despedida. Chegou uma hora que meu corpo já não aceitava mais aquilo que eu comandava com a cabeça, e lógico, sempre há uma expectativa muito grande quando você atinge um alto nível na carreira. Mas havia chegado a hora de parar. Comecei a ter muitas contusões, a ser impedido de fazer uma das coisas que eu mais gostava, que eram os treinamentos. Mas foi uma despedida digna e um agradecimento especial à torcida que esteve lá presente no dia e muita gente se emocionou. Vi que tudo aquilo que aconteceu, acabou mostrando que minha carreira durante todos esses anos, valeu a pena em cada suor desprendido em minha trajetória no futebol.

Qual o gol mais bonito que você fez na carreira e o mais importante?

O gol mais bonito para mim foi o que eu fiz lá no Japão, que é chamado o ‘Gol de Escorpião’, pelo Kashima. Foi um gol de calcanhar ao contrário, difícil, e bonito pela plasticidade, onde deu tudo certo numa jogada entre eu, o Alcindo e o Carlos Alberto, quando ele deu o passe, eu já havia passado da bola, mas consegui dar um mergulho e puxar a bola com o calcanhar. Aí, o goleiro vinha saindo, então, a beleza foi na dificuldade. Dificilmente, você vê um jogador fazer gol igual a ele. Então, para mim, foi o gol mais bonito. E o mais importante, foi o de falta contra o Cobreloa, o segundo, na final da Libertadores de 81 e que selou ali o título. Eu sempre digo que todos os treinamentos que fiz de falta durante a minha carreira inteira, se eu tivesse só feito aquele gol, já teria valido a pena, ter desprendido o suor que eu desprendi para poder fazer aquele gol, que até aquele momento havia sido o título mais importante da história do Flamengo.


No dia 19 de julho foi comemorado o Dia Nacional do Futebol. O que o futebol representou para o Zico?

Parabéns ao futebol por esse dia, mas o futebol é comemorado todo dia e não só no 19 de julho. Eu acho que o futebol representou tudo na minha vida, o que eu tenho, eu devo ao futebol. Não sei o que faria se não tivesse o futebol, é lógico, estudei para poder ter condições de se não desse certo fazer outras coisas, mas apareceu o futebol muito cedo. Então, o futebol representou tudo na minha vida.

Você já foi diretor do Flamengo em 2010. Pensa algum dia em ser presidente?

O período em que fui diretor do Flamengo em 2010 só serviu para fortalecer que eu não deva assumir nenhum cargo no Flamengo. E presidente, nem pensar!

O Flamengo levou 38 anos para ganhar uma Libertadores. O que você atribuí ao fato e qual o grande mérito deste Flamengo de Jorge Jesus?

Acho que o Flamengo teve times em condições de ter conquistado uma Libertadores, e se não conseguiu, no momento em que poderia se estruturar melhor, acabou não dando importância para isso. Quando se estruturou financeiramente, em termos de equilíbrio econômico, a parte de infraestrutura, aí, lógico que pôde fazer com que jogadores de grande nível pudessem vir jogar no Flamengo e num local de treinamento que não falta nada. Toda parte de tecnologia e condições de trabalho dos profissionais fez com que muita gente  tivesse gosto em voltar a jogar no Flamengo. E o Jorge Jesus, com a chegada dele, conseguiu mostrar aos jogadores, a  importância do que representa o Flamengo, do que é  jogar no Flamengo. Então, é lógico, que além disso tudo, mostrou um trabalho de campo excelente, com intensidade e com uma forma de jogar que conseguiu encaixar todos os jogadores. Uma coisa que facilitou foi que do time titular, oito jogadores passaram pela europa e já estavam habituados com os métodos de treinamentos e forma de jogar. Eu acho que você não pode numa resposta dizer todos os pontos mas eu acho que esses foram relevantes para que isso tudo acontecesse e o título da Libertadores voltasse ao Flamengo assim como poderia ter voltado o do Mundial também.

Na sua opinião, quem foi melhor: o Flamengo de 81 ou a Seleção Brasileira de 82?

Eu acho que o Flamengo de 81, porque era um time que treinava todo dia, já a Seleção de 82 se reunia de vez em quando, ficava três dias e tal, mas é diferente. O conjunto que o Flamengo de 81 tinha, lógico, muito melhor, e muitos daquele time poderiam estar naquela Seleção de 82, pois aquele time era uma verdadeira seleção. O único jogador do Flamengo de 81 que não foi para a Seleção foi o Lico, que jogava um futebol tão bom quanto os que foram. Eu acho que você não pode comparar um time que treina todo dia com uma Seleção que se encontra apenas de vez em quando. É lógico que, além da qualidade técnica, tinha um entrosamento que a Seleção de 82 não conseguiu.

Faltando ainda dois anos para a próxima Copa do Mundo você coloca o Brasil como favorito?*

Eu acho que antes de chegar numa Copa do Mundo, o Brasil tem que passar das eliminatórias, né? Hoje, há um equilíbrio muito grande e a Seleção Brasileira ainda está muito instável. Se o Brasil for para a Copa do Mundo, aí sim, poderá ser um dos favoritos como sempre acontece pela qualidade e pelo nível de seu futebol.

Os campos melhoraram, os materiais como chuteiras, caneleiras, meiões e camisas se desenvolveram. Tudo evoluiu para o jogador de futebol praticar o esporte, não é mesmo?

Nós não tivemos a infraestrutura que jogadores de hoje em dia têm, os campos maravilhosos, onde você não perde tempo para dominar uma bola, não precisa adivinhar se a bola vai para esquerda, para direita, se vai subir, se vai vir rasteira. Naquela época para jogar você precisava ser peladeiro mesmo, acostumado a jogar na terra, no paralelepípedo, tabelar com muro, com o meio-fio, quem não sabia fazer isso se complicava. Os jogadores de hoje são bons, têm muita qualidade, mas jogam de acordo com o que o futebol exige hoje para eles. Meu material na época, se chovesse, você saía do campo com 3 kg a mais de peso, ele encharcava. Até chuteira, era impossível qualquer jogador pegar uma chuteira nova e ir para o treino, para o jogo, você tinha que mandar alguém amaciar, geralmente a gente pedia para a garotada fazer isso. Hoje, não, você pega uma chuteira nova e já bota para jogar. Então, como você vai comparar essas épocas, com toda essa diferença? Não dá.

Como tem enfrentado esses dias de isolamento social devido ao Covid-19?

Bom, eu tenho aproveitado minha casa, afinal de contas, foram mais de cinquenta anos de trabalho e construí um bom patrimônio. Pela primeira vez, estou há quatro meses sem sair de casa com a (esposa) Sandra, meus filhos, netos, e estou aproveitando esse momento família. Tenho feito minhas caminhadas no campinho aqui em casa, corrida na piscina, utilizando meu spa e a gente constrói um patrimônio e em virtude do trabalho,  acaba não aproveitando isso. Portanto, nesse período de pandemia, estou aproveitando minha casa, cuidando das minhas plantas, brincando com meus cachorros, olhando tudo, fazendo as mudanças que tenho que fazer e não sinto vontade nenhuma de sair de casa.


Como surgiu a ideia do canal no YouTube, o ‘CanalZico10’, que já conta com um milhão e duzentos mil inscritos?

A ideia do canal surgiu do fato de eu ter feito uma linda carreira e grandes amizades ao longo desses anos no futebol. Se você não tiver conteúdo, não adianta ter nome. Então, o importante foi que aquilo que eu consegui no futebol, com a possibilidade de fazer bons conteúdos, e lógico, um papo sempre gostoso, divertido, sem polêmica, onde os convidados falam de suas histórias e contam coisas engraçadas. A produção do canal criou uns quadros bacanas onde todos se divertem, então, se o convidado quiser falar o que quiser, ele fala, e não é induzido a nada e nem em polêmicas. Estamos satisfeitos, é muito trabalho que dá, mas tem sido muito legal e o mais importante é que as pessoas que têm sido convidadas tem esse prazer em bater esse papo com a gente. Então, conseguimos bons parceiros e procuramos sempre valorizar isso levando grandes convidados que têm histórias, principalmente dentro do futebol. Mas a gente leva de outras áreas também, pessoas que às vezes têm ligação com o futebol. Estamos felizes e tivemos oportunidade nesse tempo de quarentena conversar com muita gente que seria muito difícil devido ao fato do trabalho. Mas como estavam em casa, a gente conseguiu uma galera muito legal para conversar e participar lá no canal.

Faltou algo em sua carreira?

Bom, na minha opinião não faltou nada para minha carreira. Tudo o que eu recebi, está bom demais e eu não fico lamentando o que deixou de acontecer. Hoje, curto e aproveito tudo aquilo que me foi dado.

E para terminar: Defina Zico em uma única palavra?

Uma palavra que me define é determinação.

SAÍDA DE BOLA

por Mateus Ribeiro


Pelo amor de Deus, tirem essa bola de perto da área!

Eu não sei quem foi o ser abençoado que achou genial essa mania de goleiro ficar tocando bola com defensor perto da área. Não há beleza nenhuma nisso, muito menos eficácia. E ainda existe o risco gigantesco de se tomar gol, visto que em 99% das vezes, os jogadores de ataque são mais habilidosos e rápidos que os de defesa, ainda mais nos tempos atuais.

Sabe-se lá quando ou onde, resolveram que ficar tocando bola na zona de perigo era a melhor saída para transformar o enfadonho futebol brasileiro em algo moderno, inovador e atraente. Qualquer pessoa que tenha o mínimo de bom senso sabe que essa estratégia é extremamente perigosa, até porque já não temos mais nenhum Mauro Galvão ou Gamarra. 

Já está mais do que provado que essa nova moda de ficar desafiando a lógica não vai dar certo. Porém, toda essa patifaria disfarçada de inovação é defendida pelos entendidos, que conseguem enxergar vantagem nesta troca de passes inúteis, que quando gera algum perigo, gera unicamente para o time que resolve se arriscar com isso.

Por mais que a turma da modernidade tente defender essa aberração, não vai ser esse 1-2 que vai salvar o futebol, ainda mais com a falta de jogadores habilidosos na atualidade. E sejamos francos, se o cara tem habilidade, que use do meio pra frente, e não para ficar fazendo gracinha na zaga ou na volância, colocando em risco o resultado do time. O futebol não é lugar para brincadeira, ainda mais se for feita na zona da defesa.

A inovação é necessária. Mas inovar por inovar não faz o mínimo sentido. Não é de hoje que a cada saída errada (e são várias) que um time dá, os comentaristas falam que isso faz parte da tal “filosofia  de jogo”. Aí eu me pergunto, qual filosofia? Até hoje, eu não vi ninguém que defende essa baboseira destrinchando os conceitos da tal “ideia de jogo”. No máximo, falam que “time x gosta de ter a bola”, e que é importante o goleiro saber sair jogando. Tudo bem, é até legal um goleiro que saiba jogar com os pés, mas eu prefiro que ele seja bom  com as mãos. O grandioso e subestimado Dida, por exemplo, nunca foi um exemplo de como se jogar com os pés, mas era um monstro na sua principal função: defender. 

Eu confesso que me sinto como um peixe fora do aquário vendo tanta gente entendida defendendo o indefensável. É claro que é legal um time onde todos os atletas saibam o que fazer com a bola. Mas não é necessário EM TODA SAÍDA DE BOLA a jogada (que invariavelmente, não resulta em nada) começar dentro da área. Até porque, quanto mais longe de seu próprio gol a bola estiver, melhor para o time.

Eu prefiro ser um conservador da bola e ao invés de me maravilhar com 90% de posse de bola inútil, ou então com o goleiro que participa do jogo a toda hora, vibrar com coisas mais obsoletas, como gols, vitórias e títulos. 

Enquanto sou bombardeado por todos os adeptos do tatiquês que defendem a horrorosa saída de bola com toques entre os defensores, eu faço um apelo: PELO AMOR DE DEUS, TIREM ESSA BOLA DE PERTO DA ÁREA.

Um abraço e até a próxima!

CLODOALDO, DO TEMPO EM QUE VOLANTES TAMBÉM ERAM CRAQUES

por Guilherme Guarche, do Centro de Memória


Nos instantes finais da partida decisiva contra a Itália, ainda no meio de campo da defesa brasileira, Clodoaldo driblou um, dois, três, quatro oponentes. Depois, deu a bola para Rivelino, que tocou para Jairzinho, que achou Pelé. Este serviu o capitão Carlos Alberto para completar a obra-prima iniciada pelo jovem de 20 anos, mandando a bola para o fundo das redes italianas.

Este gol fechou a goleada de 4 a 1 que deu ao Brasil o seu tricampeonato mundial e consagrou o jovem camisa cinco do Santos e da Seleção Brasileira como um dos melhores do mundo na sua posição.

Clodoaldo Tavares Santana, filho de Irineu Vicente Santana e Petrina Tavares de Almeida, nasceu em um domingo, 25 de setembro de 1949, na cidade de Itabaiana, distante 54 Km da capital Aracaju, em Sergipe.

Seu começo de vida foi muito difícil. Perdeu os pais cedo e aos seis anos se viu obrigado a migrar para São Paulo, mais precisamente para a cidade de Praia Grande.

Passou a morar no litoral paulista com uma irmã e com seu irmão, Antônio. Lá ficou por três anos, mas, como houve uma separação na família, ele veio morar em Santos, com uma família no Morro do São Bento. Foi uma fase difícil na sua vida.

De 1959 a 1963 foi coroinha na Igreja do Valongo, ajudando o frei Cosme Damião nas missas. Ainda bem menino encontrou na religião a proteção e a paz espiritual que tanto precisava.

Com 11 anos começou a trabalhar para se sustentar. A princípio na feira e em mercearias, carregando as compras para as pessoas. Na adolescência trabalhou na Companhia de Produtores de Armazéns Gerais, no bairro do Macuco.

As adversidades que o garoto enfrentava na sua infância e adolescência poderiam tê-lo conduzido para outro caminho, mas o forte desejo de vencer na vida levaria Clodoaldo a ser um campeão.


A opção do futebol veio naturalmente, pela habilidade e desenvoltura que demonstrava na equipe amadora do Grêmio do Apito, administrado pelo árbitro Romualdo Arppi Filho, e depois na Sociedade Esportiva Barreiros.
No Barreiros, o time do bairro Chinês, foi dirigido pelo técnico Miro Caiçara e jogou com a camisa sete, dividindo o meio de campo com seu futuro parceiro no Santos, Walter Negreiros.

Ao vê-lo, o treinador dos amadores do Santos, Ernesto Marques, técnico que revelou vários jogadores no time santista, o convidou para treinar no Alvinegro Praiano.

Nicolau Moran, diretor de futebol do Peixe na época, também foi muito importante em sua formação como atleta e como homem, pois conseguiu que ele morasse em um alojamento no Estádio Urbano Caldeira.
Em entrevista ao Centro de Memória do Santos FC, Clodoaldo falou sobre essa etapa no clube:

Na época o alojamento era uma sauna. Insuportável dormir lá e muitas vezes a gente passava as noites na arquibancada. Trazia os colchões para cima, porque nem ventilador tinha naquela época.

Mas já tinha uma alimentação boa, moradia, e isso me facilitou, porque acordava e já tinha treino. Eu treinava em todas as posições, menos de goleiro.

Veio o amador, me destaquei no campeonato juvenil e de aspirantes. Quando fui a revelação do aspirante, no final de 1966, o Santos já me levou para uma excursão.

Era o começo de uma carreira que o consagraria como um dos melhores volantes do futebol mundial. Um médio-volante hábil, que marcava bem nos dois lados do campo, eficiente no apoio ao ataque e nos desarmes, e sem cometer faltas.

Mais do que profissional, herdeiro de Zito

Clodoaldo, que tinha desde a infância o apelido de “Corró” (pequeno peixe dos açudes), jogou a primeira partida como profissional do Alvinegro em um amistoso na cidade de Blumenau, Santa Catarina, em 5 de junho de 1966. O Santos venceu por 2 a 0, com gols de Coutinho e Amauri. Naquele dia Corró tinha, exatamente, 16 anos, oito meses e 11 dias.


O time dirigido por Luiz Alonso Perez, o Lula, que estava em seu último ano no clube formou com Laércio, Oberdan (Zé Carlos), Mauro, Haroldo e Geraldino; Joel Camargo (Clodoaldo) e Salomão; Amauri, Coutinho (Wilson), Toninho Guerreiro (Del Vecchio) e Abel

Já em 1967 Clodoaldo tornou-se titular ao substituir o grande capitão José Ely Miranda, o Zito, de quem herdou a camisa cinco do Peixe. No Campeonato Paulista de 1967, Corró, com a camisa oito, jogou várias partidas ao lado de seu ídolo, Zito, que usava a cinco

Nos vestiários do Pacaembu, antes de uma partida contra a Portuguesa de Desportos, na hora de distribuir as camisas o grande capitão santista chamou o técnico Antônio Fernandes, o Antoninho, e falou:

A camisa cinco, a partir de hoje, é do moleque

Emocionado sempre que se lembra desse episódio que marcou para sempre sua amizade com Zito, Clodoaldo se recorda de ter dito que procuraria honrar essa responsabilidade, pois “substituir Zito uma responsabilidade enorme”.

Nunca esqueci desse gesto do Zito, sempre tive um respeito e um carinho muito grande por ele como pessoa.
Fomos campeões em 1967 logo de cara, depois veio 1968 e 1969 e fui me acostumando com a camisa do capitão.

A convocação para a Seleção Brasileira, em 1968, e a participação na conquista do Mundial no México coroou sua trajetória com a camisa canarinho. Em 1972, outra marcante conquista na Seleção foi a Taça Independência. Antes da Copa do Mundo da Alemanha, em 1974, o valente médio santista que não perdia uma só dividida foi cortado do grupo às véspe ras do M undial.

Em 1978, quando ganhou seu último título no Santos, liderou um grupo de garotos conhecido como “Meninos da Vila”.

Problemas no joelho anteciparam sua despedida do futebol, e ele vestiu pela última vez a camisa do time que tanto ama no dia 26 de janeiro de 1980, na Vila Belmiro, na derrota para a Seleção da Romênia por 1 a O.

Nesse amistoso, que teve um público de 24 204 espectadores, escalado por seu amigo José Macia, o Pepe, o Santos formou com Marolla, Nelsinho Baptista, Joãozinho, Neto e Paulinho (Washington); Clodoaldo (Cláudio Gaúcho), Carlos Silva e Pita; Nilton Batata (Serginho), Aluísio (Rubens Feijão) e João Paulo.

Ao todo, entre os anos de 1966 e 1980, Clodoaldo vestiu a camisa do onze praiano em 512 partidas e marcou 14 gols. É o sétimo jogador que mais vezes defendeu o Peixe.

Pela Seleção Brasileira, o craque dono da camisa cinco jogou 51 partidas e marcou apenas três gols, um deles foi o inesquecível gol de empate na semifinal contra o Uruguai, na vitória brasileira por 3 a 1.

Títulos de Clodoaldo no Santos

1967 – Campeonato Paulista e Torneio Triangular de Florença.
1968 – Campeonato Paulista, Campeonato Brasileiro, Recopa Sul-Americana, Recopa Mundial, Torneio Octogonal do Chile e Torneio Amazônia.
1969 – Campeonato Paulista e Torneio de Cuiabá.
1970 – Torneio Hexagonal do Chile.
1973 – Campeonato Paulista.
1977 – Torneio Hexagonal do Chile.
1978 – Campeonato Paulista.


Técnico e dirigente

Em 1981 jogou três partidas pela equipe do Nacional, de Manaus. No ano seguinte se despediu da carreira após atuar na segunda liga americana pela equipe do New York United.

Ainda em 1982 aceitou o convite da diretoria presidida por Rubens Quintas e dirigiu o Santos em substituição ao técnico Daltro Menezes. Em partidas obteve 10 vitórias, seis empates e sete derrotas.

A partir de 1995, na gestão do presidente Samir Abdul Hack (*26/08/1941+29/08/2016), Clodoaldo exerceu as funções de diretor de futebol e vice-presidente do clube. Também serviu ao Santos como gerente de futebol profissional em 2009. Sua última participação na diretoria santista ocorreu em 2017.

Com a experiência de ter trabalhado muitos anos como corretor de imóveis de alto padrão na Baixada Santista, atualmente Clodoaldo é dono de uma imobiliária na em Santos.

O sergipano-santista Clodoaldo, que hoje completa 71 anos, reside na Avenida da Praia, no bairro da Aparecida. É casado desde 1974 com Clery e pai de Claudine e da modelo internacional a jovem Simone Tavares. Clery lhe deu o neto Vitor Santana, que jogou nas categorias de base do Santos.

O QUE NOS CUSTOU SER VICE DO VASCO

por Zé Roberto Padilha


A final da Taça GB 1976, entre Flamengo x Vasco, com 1×1 no tempo normal, gols de Roberto Dinamite e Geraldo Assobiador, foi decidida nos pênaltis.

Quando Zico foi bater o ultimo e fechar o caixão, enfiei a cabeça na grama e trocamos, eu e o Rondinelli, um diálogo digno de um jogador de futebol. Daqueles que vivem seus 15 minutos de glória fora da realidade econômica do seu país.

Ele perguntou, já que o bicho da conquista, 100 mil reais, três vezes o nosso salário porque 134 mil pessoas pagaram ingressos, o que iria fazer com essa pequena fortuna.

Respondi: trocar meu Puma Spyder, comprado há um ano na Lemos & Brentar, no Jardim Botânico, por uma Puma GTB (foto), motor Chevrolet, que acabara de chegar ao mercado.

Mazaroppi defendeu o pênalti, eu perdi o emprego porque havia sido trocado pelo Doval, e o Flu foi bicampeão carioca e Rondinelli o caminho de casa.


Conseguimos, com todo respeito a minha nora, Simone, a proeza de ser vice do Vasco e nunca mais ter tido a oportunidade de dirigir uma maravilha dessas.

Coisas do futebol. Mas que o carro era bonito…