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SAUDAÇÕES AO GUERREIRO

por Claudio Lovato Filho


Ele foi um dos heróis que conduziram o Grêmio numa travessia fundamental.

Com ele, enfrentamos a seca de títulos em boa parte dos anos 70, mas também com ele viramos o jogo.

Formou com Victor Hugo e Tadeu Ricci um meio-campo que todo o gremista recita como parte de um poema épico.

Fez o gol mais rápido da história dos Grenais, aos 14 segundos de jogo, em 14 de agosto de 1977. Uma festa inesquecível no Olímpico. Um sinal claro de que as coisas estavam mudando.

Deu o passe para um dos gols mais importantes da história do Grêmio, o gol que decretou o título estadual que abriu caminho para a conquista do país, do continente e do mundo, o gol de André Catimba na final do Gauchão daquele abençoado ano da graça de 1977. Passe de esquerda, que não era a perna de preferência. Passe milimétrico, passe perfeito, passe de quem sabe – porque ele não era apenas raça e coragem; tinha muita bola no pé também.

Defendeu o Grêmio, como jogador, entre 1971 e 1980. Depois virou conselheiro e dirigente, mas tudo isso – jogador, conselheiro, dirigente –, tudo isso sempre esteve subordinado ao torcedor apaixonado que ele sempre foi desde menino. Ele lutou, chorou e sorriu por causa da camisa azul-preta-e-branca. E a honrou de forma exemplar.

Assim foi desde os tempos do bairro Jardim Floresta, na Zona Norte de Porto Alegre, onde foi criado. Filho de imigrantes russos, passou a infância trabalhando na loja de próteses dentárias fundada pelo pai – e jogando bola, claro.

Júlio Titow, o Iúra, o camisa 8 que foi o mesmo guerreiro nos tempos de vento contra e nos tempos de maré a favor, está completando 68 anos hoje.

Salve Iúra! Parabéns, Passarinho! A Nação Tricolor te parabeniza, te abraça e te agradece por tudo, que não foi pouco.

Tu és, dentre os nossos ídolos, um dos que, de maneira mais precisa, personificam a nossa história, a nossa identidade.

SUDERJ INFORMA

por Paulo-Roberto Andel


Às vezes algumas pessoas perguntam porque tantas outras gostam muito de futebol. 

Para mim, não é simples explicar porque praticamente já nasci dentro disso. Então faz parte da minha vida. 

Tem muita, mas muita coisa dentro e no entorno de uma partida de futebol. Muito além do esporte. 

Milhões de pessoas no mundo e bilhões no planeta têm no futebol às vezes a sua única distração, o seu único alívio. O jogo que nunca termina. Você perde hoje, recobra as esperanças para o próximo jogo, o próximo jogo. 

Único esporte em que o mais humilde pode derrubar o mais poderoso. 

Jogar bola, botão, ver jogos, games, futebol de preguinho, totó. 

Quando era criança, frequentei um lugar chamado Maracanã. Estive por lá durante 35 anos consecutivos e vivi tardes e noites da pesada. Certamente essa vivência impactou toda a minha vida para sempre. Eu olhava as pessoas rindo ou chorando, as bandeiras, a bola chutada para o alto que se perdia em meio aos refletores, os garotos feito eu, alguns bem ricos, outros bem pobres, todos juntos vendo o jogo. 

Sem o Maracanã eu teria sido outra pessoa, infinitamente pior. Deitei no chão da geral e fiz do desenho da marquise do Maracanã o meu disco voador. Vi partidas no degrau mais alto da arquibancada e me sentia feliz com aquele mar de gente. Ganhei, perdi, aprendi. 

Durante oito anos, ser aluno da UERJ me fez passar pelo Maracanã mais de duas mil vezes, afora os dias de jogos. Até hoje, mesmo com tudo mudado, chegando na Praça da Bandeira eu tenho a mesma sensação de quando meu pai me puxava pela mão, há mais de quarenta anos. Anos depois, eu é que puxei a mão do meu irmão.

Nunca vi o jogo como algo entre inimigos. Pelo contrário: futebol não existe sem o outro. No futebol o adversário é tudo. Já vi muitas partidas com amigos que torcem para outros times. Noutras, não teve jeito: cada um luta pelo seu. 

Quantas vezes não fui triste para o Maracanã e passei duas horas de alívio? Muitas, nem sei dizer, talvez a maioria delas. 

Apesar do futebol brasileiro estar mal dar pernas, ainda gosto muito do jogo. Mesmo com o meu Maracanã assassinado pela ganância corrupta, ainda vou ao novo em busca de vestígios. Às vezes encontro com amigos, noutras fico sozinho do mesmo jeito que fiz muitas vezes quando era garoto. 

O tempo passou muito rápido. Se pudesse escolher no que eu gostaria de voltar no tempo, seria em três vértices: ter minha família de volta, voltar a jogar campeonatos de botão e voltar ao Maracanã, o velho Maracanã de jogos abarrotados e outros muito esvaziados. Às vezes ficar uma ou duas horas em silêncio antes do jogo começar. 

Podia voltar ainda mais no tempo e escutar Jorge Curi com João Saldanha no velho Telefunken de luzes verdes. Eram tempos de Edinho e Pintinho, Moisés e Renê, Junior e Uri Geller. Mendonça e Ademir Lobo, Luisinho e Silvinho. Jorge Demolidor. O treinador Velha. Zé Duarte no Rio por algum tempo. Oto Glória. Othon Valentim. Jorge Vieira. 

Aquelas luzes piscando num placar de lâmpadas que não deve nada a nenhuma tela de computador da última geração, e que os garotos arregalavam os olhos ao ver o desenho do escudo do time do coração, mais a escalação das equipes. 

Hoje, alguns dos meus craques e heróis do gramado estão mortos, outros ainda estão por aí. Os grandes locutores e repórteres. Os cronistas. As rádios. Os líderes de arquibancada. Os árbitros. Mas é como se todos estivessem vivos demais. Penso diariamente em muitos deles, é como se continuassem aqui. 

É como se eu ainda tivesse dez anos de idade e ficasse louco para saltar do ônibus e ver meu pai comprar nossos ingressos no guichê, porque aquilo era a certeza de que logo estaríamos num espetáculo de luzes e gentes para todo lado. O que me move agora é isso: eu ainda tenho dez anos de idade, mesmo que o corpo e a lógica desmintam. E quero ter dez anos para sempre, até quando o fim vier. 

Miranda desarmando Mendonça, Assis e Washington pulando e trocando palmas. 

Cuidado com Luizinho das Arábias. Atenção aos cruzamentos de Perivaldo, do Rodrigues Neto, do Capitão Carlos Alberto Torres também. Tobias agarra demais. 

Dener é um perigo, senhores! 

No placar do Maracanã, uma narração inesquecível: “Suderj informa!”, obra de arte de Victorio Gutemberg. 

@pauloandel

DERRUBADA DE ESTÁDIOS REPRESENTA TRISTE LEGADO OLÍMPICO DO RIO

por André Luiz Pereira Nunes


O futebol do Rio de Janeiro é uma das grandes vítimas da especulação imobiliária que impera em um dos metros quadrados mais caros do mundo. A Cidade Maravilhosa cede cada vez mais lugar a grandes empreendimentos, de modo que terrenos baldios, campos e até estádios, nos últimos anos, tenham dado lugar a arranha-céus, shoppings e rodovias.

Um dos mais tristes símbolos do chamado legado olímpico é o antigo estádio Eustáquio Marques. Único em Jacarepaguá e muito utilizado por times para treinamentos e jogos, como Flamengo e Vasco, foi derrubado por determinação do insensível ex-prefeito Eduardo Paes, em 2015, para a passagem da Transolimpíca, corredor expresso que liga Deodoro ao Recreio dos Bandeirantes. Com  capacidade aproximada de 5.000 pessoas, foi inclusive cenário da novela Avenida Brasil. Muitos clubes, alguns já extintos, que transitaram pelas divisões profissionais do estado, como Barcelona, Boavista, Barra da Tijuca, Estácio, Internacional, Marinho, Rio-São Paulo, Universal e Villa Rio mandaram partidas nessa praça de esportes.

A recente reapresentação do folhetim global, na sessão Vale a Pena Ver de Novo, fez o país reviver os craques do Divino Futebol Clube, como Jorginho (Cauã Reymond), Adauto (Juliano Cazarré) e Leandro (Thiago Martins), o qual até migra da Terceira Divisão para atuar no Flamengo durante a trama. Isso sem contar o ídolo Jorge Tufão (Murilo Benício). Oito anos depois, o estádio não existe mais, nem na ficção, muito menos na realidade.

O último sacrificado pela sanha destruidora dos políticos é o tradicional Everest, de Inhaúma, fundado a 28 de abril de 1953. A sua sede social, a qual englobava o estádio Ademar Bebiano (foto), foi demolida por ordem do péssimo e incompetente prefeito Marcelo Crivella, que simplesmente deu de ombros aos vários apelos contrários proferidos por inúmeras personalidades ligadas ao desporto como, por exemplo, Zico, cuja história está ligada a esse clube. Foi justamente contra o time inhaumense que o Galinho de Quintino marcou o seu primeiro gol quando ainda atuava pela Escolinha do Flamengo. Os associados garantem que em momento algum houve diálogo da prefeitura com os representantes auri-anis. Segundo eles, não haveria necessidade de derrubar um patrimônio com 67 anos de tradição, visto que existem outras áreas vazias na região disponíveis para a construção de moradias populares, no caso o projeto Minha Casa, Minha Vida. Infelizmente a demolição foi a solução encontrada pelo município para a realocação das famílias da chamada Favela do Parque Everest, que sofrem costumeiramente com enchentes desde as fortes chuvas de fevereiro de 2018.

A Prefeitura do Rio, através da Secretaria Municipal de Infraestrutura, Habitação e Conservação, iniciou as obras para uma nova sede para a agremiação despejada. O espaço fica localizado ao lado da Linha Amarela, em Higienópolis. Porém, os dirigentes argumentam que a extensão é muito menor a ponto do campo só poder ser utilizado para jogos de futebol soçaite. E estamos nos referindo a um clube profissional e filiado à Federação, ainda que atualmente licenciado, que sediava partidas do Campeonato Estadual.

A extinção dos espaços destinados às práticas esportivas impacta diretamente no número e, principalmente, na qualidade dos atletas formados. Ao dispormos de menos possibilidades para que os garotos possam mostrar o seu valor, restringimos cada vez mais oportunidades para que surjam novos valores. Infelizmente esse é um dos legados que os Jogos Olímpicos deixaram em nossa cidade e que nos são de triste memória.

DRIBLES E PALMAS DO EVANGELISTA… GOL DO FEITIÇO

por André Felipe de Lima 


Foi como guarda aduaneiro que Evangelista ganhou a vida. O futebol amador de sua época não rendeu dividendos para o futuro

Drible para lá, drible para cá, e lá vai o Evangelista rumo ao gol. Pelo que se lê sobre o ponta-esquerda João Evangelista dos Santos, um dos maiores ídolos do Santos F.C. antes da Era Pelé, percebe-se que o jogador era mesmo carne de pescoço. Pará-lo não devia ser fácil para nenhum médio direito ou beque central da remotíssima década de 1920. Um gesto peculiar ajudou a torná-lo uma legenda do futebol paulista naquela época: antes de cruzar a bola na área, batia palmas. Era o já conhecido sinal para que a pelota chegasse precisa na cabeça do centroavante Feitiço ou nos pés do cracaço Araken Patusca. O gol do Santos era a maior das verdades da terra naquele instante sublime de festa da torcidaalvinegra. 

Evangelista — o “Buda”, como também erachamado — nunca conseguiu explicar os motivos que o induziram a bater palmas antes dos cruzamentos na área. Dizia apenas que a estranha mania começara ainda nos campos de peladas de Santos. O não menos mítico goleiro Tuffy tentava convencer o ponta a parar com o gesto porque supostamente desconcentrava os atacantes. Que nada. Evangelista não só permaneceu com o incomum hábito como se manteve absoluto na ponta-esquerda do Santos até o fim da carreira.

De 1925 a 1931, período em que jogou somente pelo alvinegro praiano, Evangelista, que nasceu em Mocambo, Sergipe, no dia 28 de dezembro de 1902, construiu uma carreira extraordinária, porém sem conquistar um título expressivo. Deveria ter sido o de campeão paulista de 1927, quando o Santos encarou o Palestra Itália [hoje Palmeiras] em uma das finais mais polêmicas da história da principal competição bandeirante.

Ao lado de Siriri, Camarão, Feitiço e ArakenPatusca, o ponta formou aquela que para muitos foi a linha de ataque mais poderosa da Era do amadorismo do futebol paulista. Talvez mais potente até que a do poderoso Paulistano, do fora de série Friedenreich. Juntos, os cinco craques — além de Hugo, com quem Evangelista disputava a posição — marcaram incríveis 100 gols em apenas 16 jogos — incrível média de 6,25 gols por partida, até hoje insuperável — naquela memorável campanha de 1927, mas o Santosperdeu a decisão para o Palestra pelo placar de 3 a 2, um dos mais questionados até hoje por historiadores e pesquisadores do futebol.

Como informa em uma de suas crônicas o emérito jornalista e, claro!, santista Adriano de Vaney, Evangelista teria começado a carreira nos juvenis da Portuguesa Santista, a “Briosa”, mas atuando pelo quadro B, em 1923. O titular da ponta no time principal da Portuguesa chamava-se Arnaldo, que acabou machucando-se. Foi a chance que o jovem Evangelista esperava. Entrou no time principal e deu verdadeiros shows de bola até 1925, quando seguiu para o Santos levado pelo goleiro santista Alzemiro Ballio, que se tornaria árbitro de futebol e com quem estudara no Externato Santa Cruz, fundado em 1908 e que ficava na rua Senador Feijó, 217, em Santos.Outra fonte, no caso Celso Jatene, autor do livro A história do Santos Futebol Clube (2012), afirma, no entanto, que o começo da carreira de Evangelista foi no Docas F.C.


No América, Evangelista destacou-se na excursão do clube carioca à Argentina em 1929. Além dele, ostros craques santistas foram emprestados ao alvirrubro, como Camarão, Feitiço e Siriri

Independentemente das duas fontes sobre a origem do craque, a informação inequívoca é queEvangelista rumou para o Santos, onde realizou testes e impressionou, de cara, Urbano Caldeira, então presidente do clube, que não teve dúvidas em lançá-lo imediatamente no time principal. Em 15 dias, Evangelista era o titular da ponta canhota do time principal, onde estreou no dia 22 de março de 1925, contra a Associação Atlética das Palmeiras, que saiu de campo derrotada pelo acachapante placar de 5 a 0, com dois gols do arisco ponteiro estreante.

Evangelista disputou o jogo inaugural do estádio de São Januário, contra o Vasco, o dono da casa, no dia 21 de abril de 1927. Um evento tão marcante para a época que contou inclusive com a presença do presidente da República, Washington Luís. No final, deu Santos, 5 a 3, sem a menor chance para o time carioca na contenda, e o primeiro gol do estádio aconteceu aos 20 minutos do primeiro tempo. O iluminado Evangelista foi, claro, o autor dele.

Se o ano de 1927 não foi de títulos, embora aquele timaço do Santos merecesse ao menos uma taça, o ano seguinte foi auspicioso para o Evangelista, que ganhou um dos prêmios da Loteria Federal de Natal. O dinheiro veio em boa hora para o craque, que não ganhava nada com o futebol. Vivia apenas do salário de guarda aduaneiro.

Defendendo o Santos, Evangelista assinalou 54gols em 125 jogos. Foi algumas vezes titular da seleção paulista. Quando abandonou de vez a carreira, dedicou-se integralmente à família e à religião. Evangelista era diácono da Igreja Batista. Teve quatro filhos — João, Miria, Regina e Eli, os dois últimos ainda vivos — com Esmeralda Rocha dos Santos, com quem se casou em 1929 e permaneceu ao lado durante mais de 50 anos, e vários netos e bisnetos. Seu último jogo pelo Santos foi no dia 5 de novembro de 1931. O Alvinegro praiano perdeu de 4 a 0 para o Hespanha F.C., na Vila Belmiro.


A bordo do S.S.Arlanza, o time do Santos. Na foto, em pé, estão o goleiro Athié, Aristides, Feitiço, Evangelista e Araken Patusca; agachado está Osvaldo; sentados estão Camarão (com a criança no colo) Amorim, Julio, Alfredo e Siriri

Além do Santos, Evangelista vestiu a camisa do América do Rio de Janeiro. Ele, Siriri, Camarão e Feitiço foram emprestados ao clube carioca para uma excursão à Argentina, entre fevereiro e março de 1929. O América levou uma tunda da 6a 1 da seleção argentina, empatou em 1 a 1 com o Estudiantes de La Plata, goleou de 5 a 1 o Ferrocarril Oeste e empatou em 1 a 1 com um combinado portenho.  O time brasileiro atravessou o Prata e seguiu para Montevidéu, no Uruguai, onde empatou em 1 a 1 com o Peñarol; regressou a Buenos Aires e novamente perdeu para a seleção argentina, agora pelo placar de 2 a 0. Porém a façanha mais emblemática foi mesmo com a camisa santista, na Vila Belmiro, no dia 30 de julho de 1930, mesmo dia em que Uruguai e Argentina decidiam, em Montevidéu, a primeira edição de uma Copa do Mundo. A façanha santista foi uma inapelável goleada de 6 a 1 na seleção francesa. Feitiço marcou quatro gols e Mário Seixas dois. A equipe responsável pelo massacre formou com Athié, Aristides e Meira; Osvaldo, Roberto e Alfredo; Omar, Camarão, Feitiço, Mario Seixas e Evangelista. O técnico era Ramon Platero. Os franceses entraram em campo com Thepot, Mattler (Capelle) e Andoire; Laurent, Delmer e Chantrel; Liberati, Pinel, Maschinot, Delfour e Villaplane. O treinador eraRaoul Caudron.

Daquele time do Santos que massacrou os franceses pelo menos dois jogadores eram cotados para integrar a seleção brasileira que participou da Copa realizada no Uruguai: Feitiço e próprio Evangelista eram um dos craques de São Paulo que imprensa alardeava. Mas a crise política entre paulistas e cariocas culminou no boicote dos clubes de São Paulo à seleção.


Este timaço dos 100 gols merecia o título paulista. Da esquerda para a direita: Tuffy, Feitiço, Hugo, David Pimenta, Bilu, Alfredo, Júlio, Araken Patusca, Evangelista, Omar e Camarão

Evangelista teve, contudo, uma oportunidade de enfrentar os campeões do mundo. No dia 23 de abril de 1931, na Vila Belmiro, em jogo amistoso, o Santos enfrentou o temido Bella Vista, do Uruguai, cujo time contava com sete jogadores que ergueram a taça Jules Rimet no ano anterior. Eram eles José Nasazzi, o grande capitão da Copa, Ballestero, Mascheroni, Andrade, Dorado, Iriarte e Castro, além de Borja, que esteve em campo na disputa da medalha de ouro do futebol nos Jogos Olímpicos de 1928 conquistada pela Celeste. Com gols de Camarão e Natinho, o Santos derrotou de 2 a 1 a base uruguaia. Doradodescontou para o Bella Vista.

Evangelista não marcou gol naquele jogo, mas é possível imaginar o misto de alegria pela vitória com a frustação por não ter ido à Copa. O futebol a partir dali era passado para ele. O ex-craquepermaneceu acompanhando cada passo do seu querido Santos, mas a prioridade era a família, esempre ao lado da companheira Esmeralda.

Sabiamente, Evangelista defendia a importância dos ponteiros para qualquer esquema tático, algo que hoje, quase 100 anos após a época dourada daquele estupendo time do Santos, um ou outro técnico mais sagaz explora em seus times. Mas longe de qualquer unanimidade.


No América, Evangelista destacou-se na excursão do clube carioca à Argentina em 1929. Além dele, ostros craques santistas foram emprestados ao alvirrubro, como Camarão, Feitiço e Siriri

“O futebol de hoje exige rapidez, mas parece que ninguém entende isso. Notem quantas vezes apenas um toque a mais na bola destrói a jogada”. Evangelista disse isso em 1980, bem antes, portanto, da explosão física e da velocidade que começaram a determinar os esquemas táticos a partir de 1980, com a figura dos pontasdesaparecendo gradativamente das escalações. A escassez de gols era o que mais preocupava o Evangelista. Mas às 19h do dia 13 de janeiro de 1985, na cidade de Santos, um ACV o levava embora. 

Evangelista foi um dos mais importantes jogadores do Santos antes do surgimento da geração de craques geniais que moldou a Era Pelé. Não ergueu tantos troféus como Pepe, inegavelmente o mais emblemático ponta-esquerda da história do clube e segundo maior artilheiro santista depois do Pelé, mas não há duvida caso Pepe não existisse: o melhor ponta canhoto do Santos em todos os tempos seria o cidadão João Evangelista dos Santos, o craque que batia palmas para Feitiço ser artilheiro.


Evangelista defendeu a seleção paulista em várias ocasiões nos anos de 1920. Na foto, ele está ao lado do companheiro de Santos, o avante Feitiço. Também na imagem aparecem outros craques que defenderam o alvinegro praiano: o goleiro Tuffy e o meia atacanteCamarão

VOZES DA BOLA: ENTREVISTA CLÁUDIO ADÃO


Nenhum outro jogador vestiu mais camisas de clubes de futebol que Cláudio Adalberto Adão, atualmente com 65 anos.

Ninguém encantou mais os torcedores e extraiu de suas gargantas o grito expandido de goooooooool no ar ao desencantar as redes adversárias mais do que o filho de dona Ilma e seu Paulo, nos vinte e sete clubes pelos quais passou.

Cláudio Adão respirou e transpirou por cada um deles, foi profissional, foi atleta e o melhor de tudo: foi goleador!

Poucos, bem poucos, a ponto de contar nos dedos de uma das mãos, deram tantas alegrias a uma gente tão sofrida como são esses seres apaixonados que estacionam suas nádegas nas arquibancadas, fazem o coração bater mais forte e recebem a alcunha de torcedor de futebol.

Nascido na ‘Cidade do Aço’, como é conhecida Volta Redonda, naquele 2 de julho de 1955, quis o destino (alguns dizem que essa providência divina pelas leis naturais têm nome e se chama Oliveira, primo que o convidara para passar férias escolares em sua casa, em Cubatão), que num teste despretensioso na Portuguesa Santista, fosse aprovado com sobras.

Megalômano, logo em sua primeira experiência com a bola em um torneio amistoso com as participações das equipes do Santos e do Jabaquara, fez 8 gols, dois a menos que o 10 de sua camisa.

Convidado a treinar no time pelo qual Pelé se notabilizou, acabou sendo autorizado pelo pai a morar no alojamento do Estádio Urbano Caldeira e pelo treinador Chico Formiga a trocar o 10 de meio campo pela 9 de centroavante.

Adâmico naquele  paraíso de terreno  plano e verde, conheceu e se apaixonou por sua ‘Eva’, simbolizada na figura redonda de uma bola, mas não ouviu a voz do ‘Deus’ Pelé para não entrar em divididas.

No entanto, caiu na tentação e mesmo mordendo a maçã do pecado por amor a sua ‘Eva’, vestiu literalmente a camisa do Santos numa partida vadia no ‘Caldeirão do Diabo’, como era conhecido o Estádio Mário Alves de Mendonça (demolido anos depois para a construção de um grande supermercado), fraturou a patela e os ligamentos do joelho num choque involuntário com Luís Antônio, goleiro do América de São José do Rio Preto.

Na contusão, o vermelho do sangue de sua perna se misturaria ao preto de sua pele, e naquele 2 de maio de 1976, o pedido de sua mãe Ilma – para não entrar em campo – às vésperas do fatídico jogo, varreria à mente e se manifestaria de forma intensa na sua vida: o Flamengo seria sua redenção.

E foi.

Após presenciar o choro incontido dos seus pés com saudades da bola nesses 418 dias em que passou por um rígido tratamento de recuperação, seja na Escola de Educação Física do Exército no Rio de Janeiro, ou nas atividades físicas individuais, tão importante quanto foram o incentivo e o enxugamento de cada gota de suor de seu rosto, feito à época pela noiva Paula (com quem é casado há 43 anos).

Dois Fla-Flus foram o suficiente para ele dizer ao futebol: ESTOU CURADO! 

Um em 1977, na vitória por 2 a 1, dois gols de Tita, que marcaria sua estreia de forma modesta pelo Flamengo e um outro no mesmo ano, no qual o camisa 9 marcou dois gols – sendo o segundo um golaço no ângulo – na vitória contra o Tricolor por 2 a 0.

Ali, naqueles 90 minutos, Cláudio Adão choraria em introspecção e mataria dos seus pés a saudade que estavam da bola.

Mas Adão estava curado e pôde desfrutar das coisas boas que o futebol lhe proporcionaria dali por diante, como a energia da torcida em cada gol marcado, independente das vinte e sete camisas que vestiu nesses vinte e poucos anos como jogador profissional.

Sim, pôde buscar pelas vitórias e títulos conquistados ao lado de Zico & Cia. no time da Gávea.

Sem dúvida, pôde jogar partidas gloriosas pelo Glorioso com o número 6 de Nilton Santos de cabeça para baixo às costas.

Definitivamente, tabelaria com Robertinho e Zezé no ataque Tricolor, clube paixão mor do dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980).

E jogou, venceu e nunca perdeu ao lado de Roberto Dinamite, jogando em São Januário com a Cruz de Malta no peito.

Segundo seus próprios cálculos, 862 gols foram marcados, para outras fontes, 591 tentos, mas isso pouco importa.

Na verdade, trata-se certamente de ser um digno representante de qualquer lista dos maiores goleadores da história do futebol brasileiro e que infelizmente, não vestiu uma única vez a camisa da seleção brasileira, para sua maior (e porquê não dizer nossa também) tristeza.

Conviveu com a difícil missão de ser goleador por onde passou, enfrentou uma grave contusão e o racismo quando era auxiliar de Evaristo de Macedo no Flamengo, mas jura de pés juntos, ter tirado de letra.

Não bastasse tanto, ainda foi herói ao salvar a vida do irreverente ponta-direita Marinho (1957-2020), que se afogou ao tentar tirar ‘onda’ surfando numa madeira nas ondas revoltas na Praia da Barra, em 1985, quando foram companheiros no Bangu.

O Museu da Pelada conversou com Cláudio Adão, o nômade do futebol brasileiro para a série Vozes da Bola desta semana.

Por Marcos Vinicius Cabral

O que levou um menino de 13 anos, viajar 380,7 km de Volta Redonda a Cubatão, jogar na equipe amadora do Unidos do Parque Fernando Jorge, passar pelos juvenis da Portuguesa Santista e chegar no Santos, onde começou a carreira, em 1972?

Um sonho. Eu tinha um primo chamado Oliveira, que morava em Cubatão e meu desejo era jogar no Santos de Pelé. No entanto, para chegar lá, passei pelo Unidos do Parque Fernando Jorge e depois pela Portuguesa Santista, onde depois de um torneio contra o Santos e o Jabaquara, joguei muito bem. Foi aí que o seu Olavo, das divisões de base do clube, me convidou para fazer um teste no Peixe. Fiz, passei e iniciei minha vida no futebol.

É verdade, que você era meio campista e por sugestão do treinador, passou a ser centroavante, chegando a marcar 80 gols pelas equipes de base?

Verdade. Eu realmente comecei como camisa 10, e quem me orientou para virar centroavante foi o próprio seu Olavo e o Chico Formiga, ambos treinadores das categorias de base que diziam que eu teria mais oportunidade de subir para o time profissional como 9, porque o 10 era do Pelé.

Em seu primeiro ano de profissional no Santos, em 1972, você chegou a jogar com Pelé, antes dele ir para os EUA. Como foi jogar com o ‘Atleta do Século’ e conviver um pouco com ele?

Foi a realização do meu sonho de menino. Ele me dava muitos conselhos, mas ao mesmo tempo metia medo nos mais jovens. Mas foi o (ponta) Edu, que conversou bastante comigo e me aconselhou demais sobre como me comportar dentro e fora de campo. Aprendi muito com os conselhos do Edu e observando os movimentos e a colocação em campo do Rei Pelé.

Foi em um Santos x América, em São José do Rio Preto, no Estádio Mário Alves de Mendonça, que você fraturou a tíbia e o perônio. A contusão foi tão séria que o médico do clube, Dr. Daló Salerno, viu a fratura exposta e achou que você não jogaria mais. O que de fato aconteceu, isso atrapalhou sua carreira e como se recuperou?


Na verdade o médico que me operou e me acompanhou todo o tempo foi o Dr. Ítalo Consentino. Mas realmente, as fraturas foram muito graves, fiquei parado quase dois anos e com muita dedicação consegui voltar. Tive que me adaptar a uma nova maneira de jogar, porque perdi muita velocidade. É claro que esse acontecimento atrapalhou muito a minha carreira, pois logo de cara, perdi a Olimpíada de Montreal, da qual eu era capitão e maior nome da seleção na época.

Como tem enfrentado esses dias de isolamento social devido ao coronavírus?

Acordo todos os dias, faço meus exercícios com minha mulher, estou aproveitando para ler muitos livros e passo muito tempo com meus netos Flora e Joaquim, com os quais estou em quarentena desde março.

O Flamengo acreditou em você quando ficou dois anos parado, sendo inclusive peça-chave na conquista do tricampeonato carioca, em 1978 e 1979 e 1979 (especial). O sucesso foi tanto que virou até música, na voz de João Nogueira, que adaptou um samba de Wilson Batista: “O Mais Querido/Tem Zico, Adílio e Adão/Eu já rezei pra São Jorge/Pro Mengo ser campeão”. Por que resolveu sair e jogar no Botafogo?

Meu contrato venceu e a oferta do Flamengo não me valorizava como eu esperava. Aí, o Botafogo me fez uma proposta muito melhor.

A imprensa afirmou na época, que no Botafogo, seu salário era três vezes maior do que no Flamengo. Nada mal para quem na juventude, crescera idolatrando Didi, Garrincha, Zagallo e Nilton Santos. Por que ficou pouco tempo nessa sua primeira (de três) passagem pelo Glorioso?

Fiquei pouco tempo porque recebi uma proposta do Áustria Viena irrecusável, muito boa financeiramente falando, que acabou não dando certo por causa de exames médicos, que identificaram no meu coração uma onda T invertida.

E mesmo tendo sido identificado problemas no coração, continuou jogando sem problemas?

Na verdade, só tive conhecimento dessa onda T invertida nos exames médicos lá na Àustria. Lembro que liguei de lá mesmo para o cardiologista do Flamengo, Dr. Serafim, que me tranquilizou imediatamente e me disse que isso não representava nenhum perigo para a continuidade da minha carreira como jogador profissional de futebol.


Reprovado na Áustria por problemas médicos voltou ao Brasil para jogar em que clube?

No Fluminense, em 1980. 

Falando em Fluminense, o tetracampeonato carioca pelo tricolor foi uma façanha para não ser esquecida. Mas é verdade, que você chegava a se arrepiar quando entrava em campo e ouvia os tricolores cantarem a música feita para o papa João Paulo II. “A benção, João de Deus…”.?

Olha, fui muito feliz no Fluminense e sou o recordista de gols do campeonato carioca até hoje pelo clube. E olha que passaram por lá, grande atacantes como: Romerito, Assis,  Whashington, Ézio, Romário, Fred e tantos outros. Como sou católico, a música do João de Deus, realmente me emocionava e motivava muito.

No Vasco, mais uma vez campeão carioca, você carregou consigo uma história vencedora na principal casa de um clube de futebol, que é São Januário. Jogando no místico estádio, com a Cruz de Malta no peito, você não perdeu uma única partida sequer, não é mesmo?

Essa sempre foi uma característica minha como jogador ao longo de toda carreira. Depois dessa contusão grave no Santos, raramente, eu voltei a me machucar. Por todos os clubes que passei, sempre fui o jogador que mais atuava e no Vasco, não podia ser diferente. Sempre me cuidei muito e sempre gostei de treinar muito.

Entre tantos zagueiros que enfrentou, qual foi na sua opinião, o mais difícil? Por quê?

Os mais difíceis sempre foram os zagueiros que jogavam limpo, e desses, eu posso citar dois: o Amaral e o Luiz Pereira.

Quem foi o seu melhor treinador?

Vou citar alguns: seu Chico Formiga e seu Olavo na base do Santos, Zizinho na base da seleção brasileira, Didi no Botafogo, Tim e Pepe, ambos no Santos, e Cláudio Coutinho no Flamengo.

Por mais de duas décadas, você mostrou faro de gols apurado com as 27 camisas que vestiu, marcando 862 vezes. No entanto, não ter jogado uma Copa do Mundo, certamente deve ter te desapontado. Mas na verdade, foi Cláudio Coutinho, que não te levou em 1978 ou Telê Santana em 1982, o responsável da maior tristeza do jogador Cláudio Adão?

A maior tristeza foi eu não ter jogado pelo menos um jogo na seleção brasileira, nem sequer em amistosos. Cláudio Coutinho não me levou em 1978, mesmo sendo meu treinador no Flamengo e levou o Reinaldo machucado, algo surreal. Depois em 1987, eu jogando pelo Cruzeiro e o Telê, como técnico do Atlético Mineiro, me ligou e me confessou que me convocou em 1982, mas que a CBF pressionou e o obrigou a chamar Roberto Dinamite para o lugar do Careca, que havia se machucado. Acreditei nele, porque o Tele não escalou o Roberto para o banco de reservas em nenhuma partida nessa Copa do Mundo.

Sobre o Roberto ter ido por imposição da CBF em 1982, na Copa do Mundo da Espanha em seu lugar, o que será que o Roberto acha disso?

Nunca conversei com ele a esse respeito. 

Nunca?


Não, nunca. Imagino que ele ficaria muito constrangido e seria uma situação desnecessária, já que não podemos voltar no tempo.

No dia 19 de julho foi comemorado o Dia Nacional do Futebol. O que o futebol representou para o Cláudio Adão?

O futebol representa tudo na minha vida. As maiores alegrias, as maiores tristezas, o encontro com minha mulher, com quem estou casado há 43 anos, enfim, a realização de todos os meus sonhos, eu devo ao futebol.

Certa vez, você falou que pelas suas contas, ficou faltando apenas 138 gols para o milésimo gol. Se não tivesse ficado 418 dias sem jogar em virtude da grave contusão que teve antes de se transferir para o Flamengo, acha que chegaria lá?

Mole, mole, modéstia à parte. Hoje em dia, um atacante fica meses e até anos sem fazer um gol, coisa surreal. Muito diferente da minha época, no qual não podíamos ficar sem fazer gols por duas partidas.

Em 1989, pelo Corinthians, você marcou um gol de calcanhar contra o Palmeiras no Campeonato Brasileiro daquele ano. Por ter jogado nos maiores clubes do Brasil, qual foi, na sua opinião, o clássico que você disputou que é a maior rivalidade do futebol nacional?

Eu tive a felicidade de jogar praticamente todos os clássicos que representam as maiores rivalidades do futebol brasileiro: Fla-Flu, Flamengo x Vasco, Corinthians x Palmeiras, Cruzeiro x Atlético Mineiro, Ba-Vi, Ceará x Fortaleza, Santa Cruz x Sport e Santa Cruz X Náutico. De todos esses que eu joguei, acho que a maior rivalidade é Corinthians e Palmeiras.

Em entrevista ao UOL Esporte ano passado, você disse aos repórteres Diego Salgado e Vanderlei Lima, que o racismo atrapalhou seus planos em se tornar técnico de futebol. Como jogador ou cidadão comum, sofreu algum tipo de  preconceito? O que pensa sobre o racismo?

Sofri vários episódios de racismo como jogador, como ser humano e como técnico. O racismo é inaceitável numa sociedade justa. Mas enquanto os brancos não saírem do seu lugar privilegiado e pararem de dizer que não são racistas e passarem a ser antirracistas, essa situação não mudará. Infelizmente.

Você disse que sofreu episódios de racismo, e qual foi o que mais te deixou magoado?

Foi quando eu era assistente do Evaristo de Macedo, no Flamengo, em 2002. Uma vez, chegando ao treino, escutei uma pessoa dizer numa roda de diretores, que conversavam sobre uma possível saída do Evaristo, que negro só servia para jogar, e não para comandar. Na época, fiquei super decepcionado, porque essa pessoa era meu amigo e o neto dele estudava com meu filho e os dois eram os melhores amigos. Fiquei decepcionado e nunca imaginei que ele era racista.

Dos clubes que você jogou no exterior, qual deles você enriqueceu mais, culturalmente falando?

Sem dúvida nenhuma no Al Ain, nos Emirados Árabes, em 1982. Foi a oportunidade de conhecer mais a cultura muçulmana e entender as diferenças gigantes entre a nossa cultura e a deles. Até hoje, conservo a amizade com companheiros e alguns sheiks com quem convivi nessa época.

Se Nilton Santos foi a ‘Enciclopédia do Futebol’ para os laterais, podemos dizer que você foi um livro de ‘Auto-Ajuda’ para os centroavantes?

Deixando a modéstia de lado, acho que sim. Penso que hoje faz muita falta para os atacantes ter a presença de ex-jogadores de futebol nas comissões técnicas, passando seus conhecimentos e experiências próprias.

Você tinha uma maneira de cobrar pênalti inigualável, se posicionando ao lado da bola e sem tomar distância. Como criou esse cobrança e depois de você, não vimos mais jogadores te imitando. Por quê?


Eu comecei a analisar que, quando eu caminhava para bater o penalti, eu me deslocava e às vezes, dava uma pequena vantagem ao goleiro. Foi dai que comecei a treinar batendo parado e me adaptei bem. Quando joguei no Sport Boys do Peru, formaram uma comissão de árbitros que analisaram a minha maneira de bater parado para ver se era ou não uma paradinha, à época proibida pela FIFA. Mas é lógico que concluiram que se eu já estava parado ao lado da bola, não podia estar efetuando a paradinha. Sobre outros jogadores baterem igual, não sei porque nenhum tentou cobrar dessa forma, mas ao mesmo tempo, considero que essa forma de cobrar pênaltis é bem difícil e requer mais força e precisão do que em uma cobrança normal.

Defina Cláudio Adão em uma única palavra?

Humildade.

Você é conhecido no futebol carioca por ter sido um dos poucos jogadores que defendeu os quatro grandes clubes do Rio de Janeiro. Afinal de contas, o Museu da Pelada quer saber: qual é o seu time de coração?

Santos (risos).