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Flamengo

BASTIDORES DO PENTA RUBRO-NEGRO

por Elso Venâncio

Parece que foi ontem, mas faz 30 anos. Não tinha Zico e nem Romário, mas o velho Junior estava em campo para se consagrar como o “Maestro” da garotada, em seu canto de cisne, aos 38 anos de idade.

A CBF decidiu fazer o Campeonato Brasileiro com 20 clubes, no sistema de pontos corridos, mas em turno único. Os oito melhores passariam para a segunda fase da competição.

Na última rodada, os matemáticos diziam que o Flamengo tinha apenas 2% de chances. Quer dizer, estava fora da disputa! Dependeria de uma série de resultados. Principalmente, do arquirrival Vasco, que jogaria contra o fortíssimo São Paulo, campeão da Libertadores e que ganharia do Barcelona, ao fim do ano, o título mundial.

Em coro uníssono, a torcida cruzmaltina chegou a pedir para seu time “entregar” o jogo, para que o Flamengo não conseguisse a vaga. Contudo, o clube da Colina acabou atropelando o São Paulo: 3 a 0, em São Januário. Na mesma hora, no Maracanã, o Flamengo se impôs frente ao Santos: 3 a 1. A oitava vaga estava garantida. Só São Judas Tadeu para explicar a classificação!

Nos bastidores, dois dirigentes travavam uma guerra de vida e morte. Márcio Braga tinha ido à Justiça Comum contra uma alteração estatutária na CBF que perpetuaria na entidade o cartola Ricardo Teixeira, que com mão de ferro comandava o nosso futebol. A FIFA ameaçava desfiliar a CBF e o presidente do Flamengo não recuou: contratou advogados internacionais para irem junto com ele ao Tribunal Internacional de Haia.

Em campo, o Flamengo engatou resultados positivos e, desbancando Vasco e São Paulo, chegou à decisão com o Botafogo. Venceu o primeiro jogo por 3 a 0, banindo o carro-chefe do clube alvinegro, o atacante Renato Gaúcho. Na partida seguinte, a grande final, houve uma das maiores evasões de renda da história do estádio. O público anunciado foi de 122mil, mas havia mais de 150 mil torcedores no local e, assim, parte da arquibancada – onde ficava a Raça Rubro-Negra, uma das maiores torcidas organizadas do país – não suportou. Era uma tragédia anunciada! O que aconteceu? Torcedores despencaram na geral! Quase 90 feridos e três mortos. Em campo, empate em 2 x 2, garantindo o quinto título nacional para a Gávea.

O Flamengo comemorou a vitória no gramado enquanto fora das quatro linhas o pau comia… A CBF recuou e a diretoria rubro-negra só retirou a ação após confirmado o título. Se retirasse antes, o “VAR” da época teria impedido o inesquecível pentacampeonato.

A vitória de Márcio Braga só não foi completa porque ele acumulava a Presidência da Suderj e sabia que o Velho Maracanã, na época, necessitava urgentemente de reforma.

ACORDA, PEDRINHO! SUA HORA CHEGOU

por Marcos Eduardo Neves

Provável titular da seleção na Copa de 2026, o talentosíssimo e mais que eficiente Pedro teve uma noite de gala nesta última quarta-feira, no Maracanã. Que hat-trick, que nada: iluminado, fez logo quatro gols, em plenas oitavas de Libertadores. Ainda participou de dois dos outros três, na imponente goleada de 7 a 1 sobre o Tolima. Uma semana após o Dia de São Pedro, o centroavante do Flamengo pescou almas e mais almas a seu favor como titular, o que tantos já sonhavam faz tempo, porém havia um certo Bruno Henrique, inquestionável até na questionalidade, nublando-lhe a vista do campo.

Bruno Henrique, ao que parece, ficará um ano ausente. Ao que tudo indica – e que me desculpem Marinho, Vitinho, Lázaro e até você, Cebolinha, que mal chegou, perdão pela sinceridade, mas tudo aponta para que o massacre de ontem consolide Pedro como um dos onze soldados da linha de frente em jogos decisivos.

Pedro Guilherme Abreu dos Santos é queixudo. Por isso, o apelido ‘Queixada’. Tal qual chamavam Ademir, craque do Vasco no melhor Cruzmaltino de todos os tempos, o Expresso da Vitória.

Assim como Ademir Queixada, Pedro é artilheiro nato. Assim como Ademir, pode ser também artilheiro de uma Copa. Queixada foi no Mundial de 1950. Pedro, por que não, pode cravar seu nome no cenário mundial daqui a quatro anos. Parafraseando Cazuza, para Pedro o tempo não para. O dele voa. Bem alto.

Aos 25 anos, Pedro vive um grande momento. Deve estar acordado até agora… Impossível dormir! Libertadores é a nossa Champions e Pedro é dela o artilheiro, com sete gols, mesmo número que os palmeirenses Rafael Navarro e Rony. Mesmo tendo poucas chances. Um aproveitamento, diria, divino.

Além dos gols, ontem Pedro deu de calcanhar, por elevação, chutou raspando, cedeu assistências. Fez o diabo, mas saiu glorificado. Em 2016, quando se profissionalizou, aos 19 anos, certa vez se excitou ao fazer cinco – sim, 5! – pelo Fluminense, clube do qual foi ídolo e hoje causa revolta ou ojeriza entre os pó-de-arroz. Chegou a dizer, no calor do momento:

– O Fred é um ídolo da torcida. Me espelho muito nele. Procuro sempre melhorar olhando para ele e para o Ibrahimovic.

Contudo, fez cinco nos 10 a 0 sobre o Capivariano, de São Paulo, pela primeira fase da Copa São Paulo de Juniores. Não era partida de vida ou morte, muito menos na principal competição continental. Inclusive, na coletiva concedida após aquele feito, o púbere artilheiro afirmou que já havia marcado quatro gols numa oportunidade, mas nunca cinco. Só que estes quatro de ontem, convenhamos, não tem comparação.

Se com Fred, uma de suas referências, ele tinha o sonho de jogar, hoje joga com outro super-herói. Por sinal, o que mais viu de tão perto, ali do banco: Gabigol. Que, por sinal, deixou o dele e fez bela partida ontem também. Participou de vários gols.

Mas, Pedro, faz seu nome, que o de Gabigol já está feito. Você pode vir a ser o Gabigol deste ano, acredite. Sei que você acredita muito em você, nós também.Quem sabe assim, Pedro, você se aliviará da decepção de não ter sido liberado pelo próprio clube para brilhar nos últimos Jogos Olímpicos.

Na época, pareceu maldade contigo. Hoje, sinto que você estudou bastante num colégio interno. Compreendeu o professor, e agora está maduro, pronto, para assegurar de vez seu nome no clube mais amado do Brasil.

Acorda, Pedrinho! Sua hora chegou.

ANDRADE, TALENTOSO ESPANTOSO

por Luis Filipe Chateaubriand

Quando se pensa em um volante que jogava com classe, se pensa em Andrade.

O ex-volante de Flamengo, Roma e Vasco da Gama tinha uma categoria ímpar, como se diz por aí, “parece que jogava futebol de terno”.

Se destacava pelo posicionamento em campo, um volante que sabia fazer perfeitamente a cobertura dos laterais, quando estes avançavam.

Se destacava pelo refinado toque de bola, o passe preciso, o lançamento perfeito, batia na bola com perfeição.

Se destacava pelo drible, a arte de enganar o opositor, que não sabia onde e como ele “escondia” a bola.

Certa vez, em 1988, um amistoso Vienna, Áustria x Brasil, a Seleção Brasileira venceu o cotejo por 2 x 0.

O segundo gol, de Andrade, foi uma pintura: saiu driblando quase do meio de campo até o fundo das redes.

Indagado sobre o gol, Zico não titubeou: “Estão espantados com o quê? Lá na Gávea, ele faz gols desse tipo toda hora!”.

Andrade, classe em forma de jogador de futebol!

QUEM SE LEMBRARIA?

por Péris Ribeiro 


Pavão, Chamorro, Jadir, Tomires, Dequinha e Jordan ( em pé); Joel, Paulinho Almeida, Indio, Dida e Zagalo (agachados)

Quando alguém com os sentidos mais atentos, e o faro mais aguçado, se dispuser a contar em detalhes sobre a primeira grande epopeia da história do Maracanã, não terá maiores dificuldades em se deparar com o heroico Tricampeonato do Flamengo. Uma façanha e tanto, obtida ainda na primeira metade dos anos 1950. 

Logo se fará íntimo também das peripécias cometidas por um certo Rubens, o genial Doutor Rúbis, meio-campista que era a estrela da companhia e o maior ídolo da frenética massa rubro-negra. Ainda mais naqueles tempos, em que o mais famoso estádio do mundo, no seu gigantismo de meter medo, ainda cheirava a tinta fresca, cimento e concreto armado, e começava timidamente a ser chamado de Maraca pelo entusiasmado torcedor das arquibancadas. 

Mas que não se impressione, lá, o nosso pertinaz pesquisador se, quase em seguida, se deparar com o simples nome de Dida. Um Dida cravado ali, no entanto, como o grande personagem da consagração do heroico Tri. Um título tão sonhado quanto inédito, e que viria na memorável noite de 04 de abril de 1956 – com direito, inclusive, à invasão do cemitério de São João Baptista. Uma invasão ocorrida já em plena madrugada, numa comovida homenagem póstuma ao dr. Gilberto Cardoso, o apaixonado presidente falecido na reta final da campanha, no mês de novembro de 1955.

Dida foi, sim, “o grande mocinho da “negra” com o América”, como estamparia no título de sua principal matéria, em letras garrafais, a revista “Manchete Esportiva”. Afinal, depois de vencer o primeiro jogo por 1 a 0, e de ser goleado de maneira acachapante por 5 a 1 no segundo, no domingo seguinte – logo em um domingo, 1° de abril -, eis que o Flamengo praticamente como que ressurgiu das cinzas. E ressurgiu naquela noite encantada de quarta-feira, com o Maracanã superlotado e com as ilustres presenças do presidente da República, Juscelino Kubitschek e do bispo Dom Hélder Câmara nas tribunas especiais.

Falaram – e muito! – durante dias e dias, logo em seguida à grande decisão, da proteção divina do dr. Gilberto lá dos céus. Disseram pela cidade que o profético padre Góes rezara à exaustão, até não poder mais, lá na igreja de São Judas Tadeu, no Cosme Velho. E foram bem mais além, garantindo que prometeram oferendas sem fim a Iemanjá, e que os tambores dos terreiros de umbanda rufaram sem parar até o sol raiar.

Mas a verdade, a grande e exclusiva verdade é que, se o ágil e habilidoso garoto alagoano não estivesse realmente predestinado, nada daquilo teria acontecido. Melhor dizendo: aquela noite de glória jamais teria entrado para a história. E é aí que os números são realmente de espantar. Flamengo 4 x América 1. Quatro gols de Dida! Uma quarta-feira, à noite. E mês… quatro. Abril!    

Que Dida ficou imortalizado como o mocinho daquela noite mágica, ninguém jamais irá contestar. Seria, no mínimo, uma blasfêmia irreparável. Imperdoável! Ainda mais, se lembrarmos de um certo – e imponderável – detalhe. Até a véspera do jogo, ele sequer estava escalado. Aliás, o irrequieto atacante andava fora do time desde a volta de Evaristo, finalmente recuperado de uma fratura no pé esquerdo. 

Portanto, Dida acabara entrando naquela finalíssima graças a uma daquelas decisões inesperadas de Don Fleitas Solich, o festejado técnico do Flamengo, sempre exaltado por tirar coelhos da cartola nos momentos mais imprevisíveis. Só que, em meio à indescritível alegria pelo primeiro Tri da Era do Maracanã, caberia muito bem uma pergunta. Quem se lembraria, ali, de Rubens, o quase intocável Doutor Rúbis, o mais festejado herói do Bicampeonato, conquistado nas temporadas de   1953 e 54?

Ou, de algo bem mais recente ainda: quem se lembraria, agora, de Paulinho? O Paulinho  Almeida que só não jogara a “negra” decisiva com o América. Que estivera em campo em 29 daqueles desgastantes 30 jogos, no mais longo Campeonato Carioca da história – começara em finais de junho de 1955,  só terminando em 04 de abril de 1956. O Paulinho que fora o artilheiro absoluto da competição, com 23 gols. E mais: que acabara escolhido como “O Craque do Ano” pela tradicional e conceituada revista “Esporte Ilustrado”- a mesma que havia elegido Rubens o “N° 1”, nos anos de 1953 e 54. 

Quem se lembraria, afinal, em meio ao delírio coletivo pela extraordinária conquista, da dívida de gratidão da torcida rubro negra – dívida, que  ela  jamais poderia pagar –  para  com heróis do porte de um  Rubens, dos artilheiros Índio e Benitez, do injustiçado Paulinho Almeida?  Quem se lembraria?

OBRIGADO, DIRETORIA DO FLAMENGO

por Zé Roberto Padilha


Em nome de todos os tricolores, gostaria de agradecer aos sábios e ilustres diretores de futebol do Flamengo por ter vendido, e nos livrado, do seu melhor jogador.

Seria muito complicado ter nas semifinais o “Luiz Henrique deles” jogando contra nós.

Sabe aquela jogada cada vez mais rara no futebol, aquele drible que chega à linha de fundo e puxa a bola com um pé, ameaça cruzar e sai para o outro, se bobear, dá mais uma entortada no zagueiro…

Que eu me lembre, excetuando essas duas feras acima mencionadas, apenas o Soteldo realizava essa jogada no Santos. E ela é mortal, objetiva e desmoralizante.

Espero, sinceramente, que o valor da transação tenha sido bem alto. À altura das dores de cabeça que vocês terão para encontrar um outro Michael.

Como vendem um jogador no melhor momento de sua carreira para pagar a maior e mais vultosa Comissão Técnica, portuguesa com certeza, já contratada no país?

Falar nisso, quem foi mesmo o sabido que bateu o martelo? Gostaria de agradecer pessoalmente. Lhe conceder minhas sinceras “saudações tricolores”.