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Adílio

DEZESSEIS NO CINEFOOT

Temos muito orgulho da parceria que formamos com o CINEfoot. Nesses dois anos de Museu, tivemos, por duas vezes, a honra de participar ativamente do festival de cinema de futebol liderado pela fera Antonio Leal.

Se no ano passado recebemos a “Honraria Futebol Arte” como a mais brilhante iniciativa no campo cultural em defesa da identidade e promoção dos valores mais preciosos do futebol genuinamente praticados nos campos e fora das quatro linhas, em 2017, na oitava edição do CINEfoot, tivemos a oportunidade de apresentar o “Dezesseis”, um vídeo sobre Adílio e Mendonça.

Vale destacar que é o número da edição do festival que determina os homenageados e, por isso, a oitava edição relembrou os grandes camisas 8 do futebol brasileiro. Presente no evento, o craque Adílio subiu ao palco para agradecer a homenagem e, logo em seguida, assistiu ao vídeo emocionante.

Além de travarem grandes duelos por Flamengo e Botafogo, respectivamente, Adílio e Mendonça honraram a camisa 8 e comandavam o meio-campo, sempre de cabeça erguida, como manda o figurino.

Todo e qualquer tipo de homenagem a essas feras continua sendo pouco por todas as alegrias que eles nos proporcionaram!

Viva o CINEfoot e viva os donos do meio-campo!

GEOVANI E ADÍLIO

por Rubens Lemos


Quando o tema é meio-campo, nem pensar em meio-termo. Os retranqueiros do Brasil assassinaram o sarau literário de um time de futebol. A estrada por onde enchemos os olhos do mundo com luminosos craques e arquitetos, planejadores e cérebros de uma partida de futebol.

Me causa tanto desânimo o futebol patropi que voltei ao redemoinho dos anos 1980. Da minha década. Do meu tempo. Do brilho dos jogos a cada trama de categoria e talento criativo. Fixei minha saudade em dois exemplares preciosos do dom de fazer feliz um amante da arte sepultada: Geovani, camisa 8 do Vasco, Adílio, camisa 8 do Flamengo.

Geovani e Adílio nunca disputaram Copas do Mundo. São dois injustiçados incríveis. Geovani poderia ter ido em 1986 e em seu lugar jogou Alemão. Geovani seria o titular mais aclamado em 1990, na insossa equipe de Sebastião Lazaroni e não viajou para a Itália. Alemão novamente, com Tita aos pedaços na reserva, foram convocados.


Adílio surgiu com a morte de outro solista, Geraldo Assobiador, de choque anafilático em operação para retirada de amígdalas. Adílio, juvenil nascido na Cruzada São Sebastião, conjunto de apartamentos para pobres, criado por Dom Hélder Câmara em plena área nobre do Rio de Janeiro, foi o companheiro perfeito de Zico.

Adílio de Oliveira Gonçalves era o típico carioca de morro. Negro, pernas arqueadas, andar gingado, malabarista com a bola. Criava no meio-campo e, se o treinador quisesse, driblava até a sombra de Nelson Rodrigues, deslocado para a ponta-esquerda. Teria vaga em 1978, seguiram Chicão e Batista, em 1982, na vaga de Renato Pé-Murcho, do São Paulo. Adílio jogou uma só partida pela seleção brasileira, em março de 1982 e foi excepcional diante de 150.289 pagantes.

Deu o passe medido para Júnior fazer o gol da vitória de 1×0 sobre a Alemanha Ocidental. É ela sim, a Alemanha que hoje põe na roda os pernas-de-pau de camisa amarela. Recebeu nota 10 da imprensa e Telê Santana o preteriu. Adílio também tinha vaga em 1986, Copa do Mundo em que foram passear Valdo e o falecido Edivaldo.


Geovani ganhou o Mundial de Juniores de 1983 pela seleção brasileira sub-20. Foi artilheiro e melhor jogador. Nasceu no tempo errado. Deveria ter surgido antes. A síndrome dos brucutus se alastrava e o seu estilo elegante, cadenciado, imperial na armação de jogadas era considerado lento e em desuso.

Geovani foi o jogador que conquistou o maior número de títulos cariocas pelo Vasco juntamente com Roberto Dinamite: Foram cinco, todos vencendo ao Flamengo. Geovani foi o melhor jogador das Olimpíadas de Seul em 1988. Tomou um cartão amarelo na semifinal contra a Alemanha (coincidência lamentável) e o Brasil perdeu a final contra a URSS. Neto ocupou o seu lugar e nada fez.

O capixaba Geovani foi o melhor jogador da América do Sul em 1988 e em 1989, venceu a Copa América pela seleção de Lazaroni, já na reserva, vítima do esquema de cinco zagueiros e menos um inteligente no meio e sobrou da lista porque Lazaroni tinha um compromisso de camaradagem com o seu “compadre” Tita.


Nos jogos entre Vasco e Flamengo na década de 1980, Geovani e Adílio coadjuvavam, ainda que tão brilhantes quanto às estrelas. A Geovani, Romário deve muitos dos seus gols, recebendo livre na área lançamentos de 40 metros, fita métrica na chuteira do Pequeno Príncipe, assim batizado o regente cruzmaltino.

Adílio destruía adversários quando Zico era anulado por três marcadores. Até dois ele resolvia fácil, fácil. Adílio, tendo mais atrás Andrade, ritmava o sensacional Flamengo campeão da Libertadores e do Mundial Interclubes de 1981.

Geovani e Adílio se respeitavam. Geovani, embora mais novo, aparentava a maturidade de um Gerson, mais toque e passes longos do que rapidez. Raciocínio genial na antevisão dos lances. Adílio, manhoso, balançava o corpo e se sobrepunha a qualquer marcador, desnorteado com tanta beleza afro-carioca.

Geovani e Adílio, observando emocionado o velho jogo – tenho muitos no acervo para me encantar mais adiante , pouco se encontravam, nunca trombavam um no outro. Eram clássicos, sutis, desconcertantes. Eles pensavam, traziam do ventre de suas mães, a intelectualidade boleira que desapareceu para sempre.

Geovani e Adílio jogavam num tempo de sábios: Havia Sócrates, Pita, Zenon, Delei, Silas, Mário Sérgio em fase vinho puro, Raí começando. Sobravam virtudes.

Lamentáveis do baixo nível atual, naquele tempo, com muito esforço, disputariam a quarta divisão de Ariquemes em Rondônia. Meninos de hoje, se vocês tivessem visto Geovani e Adílio, falar em Renato Augusto, Lucas Lima, seria blasfêmia. Penso em Geovani e Adílio. Com saudade e revanche.

SORRIR É O MELHOR REMÉDIO

texto: Marcos Vinicius Cabral | foto e vídeo: Guillermo Planel | edição de vídeo: Daniel Planel

– Alô, é da casa do País? – perguntei com receio de ter ligado para o número errado.

– Sim, é da casa dele. Quem está falando? – perguntou uma voz feminina.

– Aqui é o Marcos Vinicius, do Museu da Pelada.

– Oi Marquinhos, vou chamá-lo, mas ele está muito triste. Um instante – disse dona Maria Lúcia, sua esposa, sem dar tempo de perguntar o motivo da tristeza.

– Oi amigo, é amanhã que a gente vai pegar minhas fotos? – me indagou uma voz aveludada. 

– Isso mesmo, estou ligando para avisá-lo que amanhã às 14h, irei te pegar com a equipe do Museu da Pelada, para irmos no Largo do Machado buscar seu álbum digitalizado, como prometido.

– Amanhã te espero e obrigado pelo que estão fazendo comigo! – exclamou sem saber o real motivo da nossa ida à cidade maravilhosa.

 – Ok querido, “tamu junto”! – me despedi respeitando sua tristeza.

Na manhã seguinte, na sexta-feira (16), ao ir trabalhar, fiquei imaginando quais motivos deixariam o grande goleiro País tão para baixo a ponto de não mostrar a mesma alegria que nos recebera, no início do mês, quando estivemos em sua casa, fazendo uma entrevista com ele.

Diferentemente daquele dia, percebi que algo estranho estava presente por trás dos minúsculos óculos, que escondiam a tristeza em seu olhar.

Parei o carro em frente ao número 4.497, na rua Marajó, no Boa Vista, liguei o pisca alerta do veículo e fui tocar a campainha de sua casa.

Ao abrir o portão, dona Maria Lúcia, sua esposa há 43 anos, me disse para ter um pouquinho de paciência com ele, pois estava muito emocionado com a partida do Bil, com quem conviveram por 12 maravilhosos anos, desfrutando da mais sincera lealdade numa amizade.

– Marquinhos, o Bil morreu ontem e estamos arrasados – disse com lágrimas nos olhos.

Dei um abraço nela e tentei passar uma energia boa com a perda, mesmo ainda sem saber quem era o Bil.

Antes de entrar no carro, cheguei o banco do carona para trás – por ter quase dois metros de altura – imaginei que seus joelhos ficariam encostados no painel e isso lhe causaria um incômodo desnecessário.

Ao entrar no carro, recebi do País um abraço tão apertado, que com a emoção destinada naquela ação, conseguiu destravar o cinto de segurança que havia colocado ao me sentar para dirigir.

Demos tchau em um ato ensaiado, e pegamos a BR-101, sentido Rio de Janeiro.

Liguei o rádio na 97,5 (Melodia) e coloquei bem baixinho esperando pelo ex-arqueiro do América-RJ puxar assunto, já que sempre limpava os óculos que estavam embaçado pelo choro incontido, pela lembrança do Bil.

Fomos até a subida da ponte, sem trocar uma palavra.

O sentimento era de um silêncio fúnebre, enlutado pela tamanha perda.

Ao chegar no vão central da Ponte Presidente Costa e Silva, popularmente conhecida como Ponte Rio-Niterói, liguei para o cinegrafista Guillermo Planel, que estaria já nos esperando com o (suposto) álbum digitalizado.

Entre gaivotas dando rasantes e alternando belos mergulhos, naquele magnífico céu azul com sol refletindo nas águas da Baía de Guanabara e reluzindo nos vidros dos carros a nossa volta, País observava com olhos marejados e atentos, tipo criança quando vai a algum lugar pela primeira vez. 

Depois de quase 20 minutos sem trocar uma palavra sequer, nossa parada técnica – termo usado para designar uma pausa nas partidas de futebol e também hidratar os atletas – foi com um comentário que hidratou a partir de então, nossa conversa.

 – Sabe de uma coisa, Marquinhos? Certos animais não deveriam morrer nunca. E o meu cachorro era um deles – desabafou o goleiro, que iniciou a carreira profissionalmente em 1971 e assumiu a camisa número 1 do Mequinha em 1974.

Concordei, balançando a cabeça positivamente e tentando estancar aquela dor, que era igual a de 1977, quando o presidente do América-RJ, senhor Wilson Freire Carvalhal, se negou a vendê-lo para o Atlético de Madrid, após uma atuação épica na vitória por 1 a 0, dentro do Vicente Calderón (na época, chamado de Manzanares), no torneio Teresa Herrera.

– Hoje eu vivo com uma aposentadoria que dá para sobreviver mas se eu fosse vendido para fora, estaria em melhor situação – confidenciou.

Contudo, se no final da década de 70, a chance de fazer a independência financeira não se concretizou, restou como consolo ser um dos melhores goleiros do Brasil, sendo inclusive, posteriormente, convocado por Cláudio Coutinho para a seleção brasileira que iniciava a preparação para a Copa do Mundo na Argentina, em 1978.

Mas se nossa conversa se restringiu a fatos tristes, chegando no Largo do Machado, uma surpresa o esperava.

Sem revelar a verdade – pois ele acreditava que iria buscar o material dele com fotos, recortes de jornais e revistas todo digitalizado – ele estava sendo aguardado pelos ídolos rubro-negros e seus companheiros no Fla-Master, Adílio e Júlio César Urigeller, no consultório do nosso querido Dr. Lulinha, para iniciar seu tratamento dentário.

Portanto, chegando lá, foi recebido com todo carinho e voltou a mostrar para os que o conhecem, o sorriso, que ao lado de sua generosidade, são duas marcas características do grande ser humano que é. Sua dor deu lugar a um respiro, ainda que fraquinho, de alegria pela surpresa e esse respiro ínfimo me encheu da mais pura alegria, ao ver novamente o sorriso bonito do nosso número 1.

 

FESTA DO AREIA

Através do parceiro Dime Cordeiro, um dos maiores zagueiros do futebol de praia do Rio de Janeiro, recebemos o convite para participar da festa de 50 anos do tradicional Areia, do Leme, e não pensamos duas vezes antes de aceitar e ser um dos patrocinadores da confraternização.

Se hoje em dia o futebol de praia está longe de ser o esporte mais praticado entre a garotada, o mesmo não se pode falar do passado. Grandes craques do Brasil deram os primeiros passos nas praias do Rio de Janeiro, em uma época em que centenas de pessoas se aglomeravam para assistir aos clássicos em Copacabana.


Neimar, Neyvaldo e Dime

O Areia Leme, sem dúvida era um dos times mais temidos pelos rivais. Enquanto Dime Cordeiro fazia a segurança lá atrás, Neimar e Neyvaldo faziam chover no ataque e balançavam a rede com extrema facilidade. 

– Jogamos juntos por uns 20 anos e vivemos grandes momentos na praia.

O artilheiro Neyvaldo reforçou a felicidade por participar dos 50 anos da equipe.

– O mais legal disso tudo é que a amizade permanece. O Areia é um grupo de amigos. Além de companheiros de time, somos amigos desde os seis anos de idade.

Quem também fez questão de participar da festa foi o craque Adílio. Embora tenha sido ídolo do Royal, do Leblon, rival do Areia, o ídolo do Flamengo vê o encontro como uma boa lembrança do futebol de praia do Rio de Janeiro. 


Ao ser perguntado sobre qual time costuma vencer o duelo, Adílio puxou a sardinha para o seu lado:

– O Royal vencia mais!

Ao saber da resposta de Adílio, Dime preferiu não polemizar:

– Nessa época eu ainda não era nascido.

Por fim, o camisa 8 da Gávea exaltou a amizade com Neimar, com quem dividiu as quadras com a camisa da seleção brasileira e foi campeão mundial na Holanda.

– Esse cara é meu ídolo. Tive o prazer de conviver com ele durante um mês e meio e aprendi muito com ele! – retribuiu Neimar.

NEGO BOM DE BOLA

texto: André Mendonça | vídeo e edição: Daniel Planel

O pré carnaval já começou no Rio de Janeiro e é claro que a equipe do Museu da Pelada, repleta de foliões, não ia ficar de fora dessa! Depois do sucesso na estreia, em 2016, o bloco Fla Master volta a desfilar na Praia da Barra da Tijuca neste ano e homenageará Adílio, “O Nego Bom de Bola”.

Como um craque que deu tantas alegrias aos torcedores rubro-negros não poderia ter um samba meia boca, Francisco Aquino, um dos líderes do bloco, convocou uma equipe de primeira qualidade e a equipe do Museu da Pelada teve a honra de marcar presença na gravação oficial do samba.


O timaço de bambas escalado por Aquino seria uma verdadeira panela no mundo das peladas: Mauro Diniz (cavaco e voz), Gilson Verde (violão de sete cordas) e João Diniz (voz). Para completar essa seleção, o próprio Adílio e o amigo inseparável Júlio César Uri Geller soltaram a voz na gravação do samba em um estúdio no Méier. Júlio César Uri Geller, aliás, mostrou estar com o físico em dia ao chegar ao local da gravação com sua bicicleta.

Embora a direção e produção da música tenha sido de Mauro Diniz, considerado o Zico do samba, a composição é do saudoso Marechal, vizinho de Adílio na Cruzada São Sebastião, e relembra brilhante trajetória de um dos maiores ídolos do Flamengo.

O desfile do Fla Máster acontece no dia 18 de fevereiro, a partir das 14h, no Posto 5 da Praia da Barra, e reunirá grandes craques do passado! Se você for rubro-negro…

NEGO BOM DE BOLA

Lá vem o Nego bom de bola, meu irmão
Morou na Cruzada e hoje é craque do Mengão


No campo quando começa a jogar
Fazendo o seu gingado é difícil de marcar
Finta pra lí, finta pra lá, finta pra cá
Com a bola nos pés ninguém consegue lhe tomar.

Eu vou dizer, você não vai acreditar
Quando o Nego pega a bola dá um show particular
É gol do Mengo, gol de Zico que olé
Foi passe de Adílio sempre com a bola no pé

Mas esse Nego é tão fácil de encontrar
Quem quiser ver o Adílio escuta o que eu vou te falar
Muito antes de cada jogo do Mengão
Ele está lá na Cruzada
Ou na Praia do Leblon

Lá vem o Nego…