por Gustavo Santos, Maria Eduarda Rodrigues e Rafaela Gissoni
Fazer parte de uma equipe na maior partida da história deste clube e perder. Uma tristeza profunda que poucos sabem como é, e carregam ao longo da vida. Às vezes a carreira esportiva oferece a chance da virada. Assim experimentou Vinícius Silva Soares, o Tartá. Vice-campeão da Libertadores pelo Fluminense em 2008, diante da LDU, num Maracanã lotado, o jovem atacante superaria o trauma com a conquista do Brasileiro de 2010.
Xodó da torcida na época, até hoje querido pelos tricolores, ele lembra, nesta entrevista, bastidores daquele memorável time, as pressões em torno da finalíssima da competição sul-americana, o gol que impulsionaria a arrancada para o título nacional.
Também reflete sobre a trajetória profissional dentro e fora das Laranjeiras. Ainda em atividade, aos 33 anos, Tartá busca de um clube para voltar a atuar. Imagina como seria diferente se a Libertadores não tivesse escorrido nos pênaltis.
Naquela decisão da Libertadores, em 2008, o Maracanã transbordava uma grande festa tricolor. Era o maior jogo da história do Fluminense. O sonho do título terminou
nos pênaltis. Como vocês vivenciaram esta decepção? Como a perda da Libertadores influenciou o restante da temporada?
Quando acabou a final, e a gente não foi campeão, isso fez com que sofrêssemos durante o Brasileiro todo. Chegávamos para treinar sem condições de dar continuidade [ao trabalho]. Mas, como somos profissionais, tem que cumprir com os compromissos do
calendário de competições.
Você diz que, até hoje, tricolores perguntam por que o técnico Renato Gaúcho não o colocou no jogo, como costumava fazer. Caso tivesse entrado, e a disputa de pênaltis se confirmasse, você gostaria de ter sido um dos cobradores, mesmo só com 19 anos?
Todos que estavam naquele jogo haviam sido preparados para caso isso acontecesse. Já estava combinada aquela sequência de atletas que começariam as cobranças. O Renato, por zelo, sabendo o peso daquele jogo, no qual uma falha poderia marcar a carreira do atleta jovem, teve o cuidado de não me colocar.
Apesar da preparação profissional, inclusive psicológica, você sentia muita pressão? A perna treme na hora do pênalti decisivo?
Sim, sentimos a pressão de uma decisão daquelas. A diferença é que a gente se prepara para aquele momento. Mas ninguém sabe o que pode acontecer, né? E ainda seria o meu primeiro pênalti como profissional. A pressão fica ainda maior.
O título não veio, mas o time fez uma campanha memorável. Eliminou dois maiores campeões do torneio: São Paulo e Boca. Quais foram as principais virtudes dessa campanha?
Aquele elenco merecia demais [o título]. Não por eu estar ali, mas por toda a trajetória. Passou por esses dois grandes clubes, em jogos épicos. Então, realmente tínhamos convicção de que sairíamos vencedores daquela final…
Caso o Fluminense tivesse vencido a Libertadores, como isso poderia ter mudado a sua carreira?
A visibilidade de um jovem campeão da Libertadores é muito grande. Isso atrairia clubes europeus e de outros mercados. Daria um novo rumo na carreira.
Que semelhanças e diferenças você observa do time de 2008 em relação ao Fluminense de 2022?
Muita coisa mudou no futebol. Não se joga mais com dois meias, nem dois volantes. São equipes diferentes, com outras perspectivas de futebol, mas ambas com muita qualidade. Eu arrisco dizer que o Fluminense que chegou à final da Libertadores tinha atletas ainda mais capacitados do que o atual elenco.
A experiência daquele Fluminense fez falta na Libertadores e na Sul-Americana de 2022, competições em que o elenco atual acabou eliminado?
O atual elenco tem jogadores experientes. Quando foi montado, até diziam que era velho. Então, experiência não faltou. Às vezes, um detalhezinho mesmo numa partida acaba interferindo na campanha. Acho que foi isso que aconteceu.
Com que técnico você mais gostou de trabalhar? Algum método de trabalho o surpreendeu?
Gostei muito do Renato [Gaúcho]. Ele simplificava as coisas. Isso não dava a ele tanto glamour como técnico, por ser simplista demais. O Cuca também tem uma visão que consegue mudar posicionamentos dentro de um jogo e surpreender o adversário. O Muricy [Ramalho] também merece ser lembrado.
No Campeonato Brasileiro de 2010, você foi considerado herói, ao marcar o gol da vitória do Fluminense sobre o Vasco, na 34ª rodada. do campeonato. O resultado deixou o time mais perto do título. O que este mérito representou para você e para a equipe?
Vencer o Vasco, um clássico regional, já seria importante. Por levar à arrancada para o título, se tornou ainda mais importante. Num campeonato como o Brasileiro, um ponto já faz a diferença. Sabíamos que a vitória contra o rival, que não queria ver a gente campeão de forma alguma, levaria aquele jogo a tomar uma proporção maior. Jogo apertado. Fui feliz ao fazer o gol da vitória.
O gol contra o Vasco foi, então, um dos marcos da sua carreira…
Sem dúvida. Como culminou em um título, marca a passagem pelo Fluminense. Eu venho de Xerém (sede das divisões de base do clube). Chegar ao elenco profissional era algo com que eu sonhava. E ainda consegui fazer um gol importante. Contra o Palmeiras, também. Fiz um gol de virada que decretou a vitória. São coisas com as quais a gente sonha. Quando se concretizam, são uma tremenda realização.
Como era o ambiente nos bastidores durante aquele Brasileiro que vocês acabariam conquistando?
Tínhamos uma convicção muito grande [do título]. O time quando embala assim, em uma reta final, fica difícil bater de frente. Parece que as coisas conspiram a favor, né? Parace uma coisa que acompanha o campeão, uma sorte de campeão. O Fluminense vinha com aquela energia muito boa, especialmente na reta final.
Qual foi a maior dificuldade dessa campanha?
Perdemos grandes jogadores. O Emerson, por lesão. O Deco, que melhorava e depois se lesionava novamente. Sofremos um jejum do nosso centroavante Washington. Dávamos muito apoio a ele nesse período. Temos que estar ali para ajudar e fazer com que o jogador não se abata.
Você jogou Série A, Série B, Libertadores. Qual a maior diferença entre essas competições?
É o espírito. Na Libertadores, às vezes o time não está em um dia bom na fase de mata-mata. O elenco pode ser qualificado, mas aquele dia ruim tira a chance [de seguir adiante]. Não há tempo de se recuperar, diferente do Brasileiro, um campeonato mais longo. Na Série B, os
jogos são muito disputados, não há a qualidade de uma partida de Série A. É muita transpiração. Você tem que estar ligado o tempo todo e disputar cada dividida.
Quando se aposentar, de que mais você sentirá falta?
Dos bons amigos que fiz. De muitos, perde-se o contato. Não encontra mais devido à distância. Imagina como estão. De alguns, a gente ainda sabe pelas mídias sociais. Sinto falta desse dia a dia e de coisas que vivemos. O Marcelo, o Thiago Silva, por exemplo, bem-sucedidos lá fora. A gente se sente parte disso também, da vitória desses amigos.
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