PELÉ EM BERÇO ESPLÊNDIDO
por Paulo-Roberto Andel

Lá pelo meio de 2022, todos os que gostam do melhor futebol do mundo ficaram apreensivos. Depois de idas e vindas hospitalares, já se sabia que o tempo de Pelé na Terra estava no fim. Silêncios constrangedores, informações limitadas, estava desenhado o que viria aos pés do fim do ano.
E então Pelé se foi.
Como quase sempre acontece nessas situações, o resto do mundo ensina a parte do Brasil o tamanho de um de seus maiores ídolos, senão o maior, mas certamente o mais conhecido de todos no planeta.
O mundo se deu às mãos e chorou por Pelé. Parte do Brasil, mais acostumada a apedrejar do que exaltar, fez beicinho mas em vão. As homenagens se estenderam por todo 2024, e é lamentável que o grande Santos tenha sucumbido no Brasileirão justamente nesta temporada.
Pelé foi o atleta do século XX e o maior jogador de futebol de todos os tempos. Para os incrédulos, uma simples pesquisa no Google dará as respostas. Parte considerável das façanhas do Rei do Futebol é vista com facilidade no YouTube. É difícil brigar com as imagens e fatos, ou com depoimentos de craques como Rivellino, Gerson e grande elenco.
Mas, pensando bem, Pelé não se foi. Ele tem a vocação da eternidade. Seus gols, suas façanhas esportivas, sua arte – sim! -, sua história está espalhada pelo mundo. São livros, vídeos, filmes, fotos, áudios. Pelé é uma presença permanente.
Um ano depois de sua morte, o Rei está no trono de sempre. No topo.
Muitas vezes, Pelé foi condenado não pelo seu talento de maior jogador de futebol da história, mas sim porque alguns não o consideravam o maior ser humano da história da humanidade, o maior intelectual do planeta, o maior criador da Terra. Talentos que quase nunca se cobrou de ninguém. Enquanto isso, neste exato momento, em algum lugar do mundo um brasileiro está pedindo uma informação e, ao falar de sua origem, ouve “Brasil, Pelé!”.
Nesta sexta, o Rei completa um ano de sua morte. É um excelente momento para reflexões e aprendizados. Quem sabe os desentendidos consigam finalmente entender o tamanho de Pelé no mundo?
Para fechar estas linhas, uma breve lembrança esportiva que ajuda a posicionar o Rei diante de pretendentes ao trono maior do futebol.
Vamos falar do Santos, uma das maiores equipes do planeta e que provavelmente teve o maior time de todos os tempos.
Olhando a lista dos dez maiores artilheiros da história do Peixe, além do próprio Pelé, temos os seguintes nomes: Tite, Pagão, Araken Patusca, Edu, Dorval, Feitiço, Toninho Guerreiro, Coutinho e Pepe. Somados, estes jogadores chegaram a cerca de 2.100 gols com a camisa santista. Destes, apenas Feitiço e Araken não receberam lançamentos e passes de Pelé. Não é nenhum absurdo que o camisa 10, além de ter feito mais de 1.000 gols, tenha dado os passes para outros 1.000 gols do Santos.
Pesquise qualquer outro artilheiro da história do futebol. Nenhum deles terá uma estatística parecida com essa.
@p. r. andel
UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 42
por Eduardo Lamas Neiva

Zé Ary, ainda surpreso com o que João Sem Medo dissera sobre o desconhecimento do regulamento da Copa de 54 pela delegação brasileira, não se conteve.
Garçom: – Caramba, seu João, como pode? Que confusão!
Ceguinho Torcedor: – Confusão houve mesmo depois da partida contra a Iugoslávia. No jogo contra a Hungria, a pancadaria foi generalizada. Perdemos de 4 a 2 no jogo e a cabeça depois.
Idiota da Objetividade: – A Hungria abriu 2 a 0 logo no início da partida, com gols de Hidegkuti e Kocsis, que estaria em posição de impedimento. Djalma Santos, de pênalti, diminuiu ainda no primeiro tempo, mas o zagueiro Lantos aumentou pra 3 a 1 em pênalti inexistente de Pinheiro na etapa final. Depois, Julinho Botelho reduziu a vantagem húngara e a equipe brasileira passou a pressionar novamente em busca do empate. Chegou a botar duas bolas seguidas na trave, mas aí Kocsis marcou no fim.
João Sem Medo: – Jornalistas brasileiros chegaram a dizer que o atacante húngaro estava impedido, mas não houve nada disso. Os brasileiros ainda reclamaram um pênalti em Julinho, não marcado pelo juiz, que eu achei duvidoso.
Idiota da Objetividade: – O jogo foi muito violento, teve três expulsos: Pinheiro e Humberto, pelo Brasil, e Bozsik, que era deputado no Parlamento húngaro.
João Sem Medo: – Com todo mundo de cabeça quente estourou a pancadaria após a partida, que ficou conhecida como a Batalha de Berna. Atingiram até o ministro de Esportes da Hungria.
Garçom: – Nossa mãe!
Idiota da Objetividade: – Faltou espírito esportivo a quase todo mundo ali.
Garçom: – Boa, seu Idiota! Hehe da Objetividade! Vamos aproveitar tua deixa pra chamar ao palco mais uma vez: Moraes Moreira!
Aplausos de toda plateia.
Moraes Moreira: – Obrigado, gente. Se faltou espírito esportivo em 54, aqui vamos de “Espírito Esportivo”.
A plateia dança e se diverte muito com Moraes Moreira e aplaude ao fim da música. O artista agradece e volta à sua mesa.
Idiota da Objetividade: – Depois daquilo tudo, daquela total falta de espírito esportivo, até Mário Vianna, com dois enes, o árbitro brasileiro na Copa, se envolveu. Ele acusou o juiz inglês Arthur Ellis de estar comprado e a Fifa, de ser uma camarilha de ladrões.
Garçom: – Desde aquela época? Não sei como era, mas hoje tem ex-dirigentes da Fifa afastados e até presos.
Ceguinho Torcedor: – Mário Vianna arrancou o distintivo da Fifa do peito e o queimou.
Idiota da Objetividade: – Acabou sendo expulso do quadro da Fifa depois disso.
João Sem Medo: – Trabalhei com ele muitos anos na Rádio Globo.
Idiota da Objetividade: – Mário Vianna encerrou sua carreira de árbitro em 1957. Foi técnico do Palmeiras, mas acumulou oito derrotas em 14 jogos e acabou saindo do clube paulista. Temperamental e polêmico, ele foi comentarista de arbitragem na Rádio Guanabara na década de 60 e da Rádio Globo por mais de 20 anos, entre as décadas de 70 e 80.
Garçom: – Ah, me lembro muito bem dele. (canta a vinheta do comentarista na Rádio Globo) “Mário Viaaaaanna”, com dois enes.
Mario Vianna, que chegara naquele momento ao bar, ao ouvir sua vinheta na voz de Zé Ary, entra com seuvozeirão.
Mario Vianna: – “Gooooooooool legaaaaaaal”.
Risada geral.
Garçom: – Que prazer, seu Mario Vianna. O senhor chegou na hora certa.haha
Mario Vianna: – O prazer é todo meu.
Garçom: – O senhor tinha outros bordões famosos… Quando o árbitro cometia um erro, como era?
Mario Vianna: – “Eeeeeeeeeeerrooooou”! Cadê o eco? “Eeeeeeeeeeerrooooou”.
Garçom: – Tinha também “pênalti que não é, não entra”. Hahahaha .
Mario Vianna (rindo): – Também, também.
João Sem Medo: – Zé Ary tá com o gogó afiado. Dá um abraço aqui, Mario!
Os dois se abraçam e Mário Vianna cumprimenta Ceguinho Torcedor, Idiota da Objetividade e Sobrenatural de Almeida, que brinca com o ex-árbitro.
Sobrenatural de Almeida: – Você era assombroso, Mário. Assombroooooosoooooo!
Os dois caem na gargalhada. Mário Vianna segue então em direção à sua mesa. João Sem Medo retoma pelota.
João Sem Medo: – A derrota de 50 gerou uma pressão imensa da imprensa e dos torcedores para que o time brasileiro deixasse de ser frouxo. Havia quase uma unanimidade…
Ceguinho Torcedor: – Toda unanimidade é burra!
João Sem Medo: – Pois é, Ceguinho, acredito que aquilo acabou mexendo com a cabeça dos jogadores. Até o uniforme mudaram pro Mundial na Suíça.
Idiota da Objetividade: – A seleção jogou até a Copa de 1950 com camisas brancas, calções azuis e meiões brancos.
João Sem Medo: – Aí juntaram a pressão com a superstição. Disseram que além de um time frouxo, tínhamos um uniforme que dava azar.
Sobrenatural de Almeida: – Ora essa! Isso é assombroso, assomborso. Hahaha
Garçom: – Seu Almeida, peço licença, mas assombrosa mesmo é a qualidade das músicas brasileiras que falam do futebol. Vamos ouvir no som o grande Carlinhos Vergueiro num samba que fala de juiz, camisa, muito do que foi conversado aqui. Vamos lá, “Camisa Molhada”, de Toquinho e Carlinhos Vergueiro.
Fim do capítulo 42
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Um gol desse não se perde!
A FINAL DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE 1985
por Luis Filipe Chateaubriand

Em 1985, Bangu e Coritiba chegavam à final do Campeonato Brasileiro.
Nas semifinais, o Bangu eliminou o Brasil de Pelotas – que, por sua vez havia eliminado o poderoso Flamengo.
Nas semifinais, o Coritiba eliminou o Atlético Mineiro, que era considerado favorito para a contenda.
A final deu-se em apenas em um jogo, realizado no Estádio do Maracanã, Rio de Janeiro.
No primeiro tempo, o Coritiba fez 1 x 0 com um gol de falta de Índio, um chute de longa distância.
Ainda no primeiro tempo, Lulinha empatou para o Bangu, em um chute de fora da área que foi desviado pela zaga coritibana.
O empate por 1 x 1 decretou a decisão por pênaltis.
E, então, o Coritiba venceu por 6 x 5, com Ado desperdiçando a cobrança pelo Bangu e Gomes convertendo o pênalti decisivo para os paranaenses.
O “Coxa Branca” era, assim, pela primeira e única vez, campeão brasileiro.
VALERIA A PENA VER EDU JOGAR DE NOVO
por Zé Roberto Padilha

Artistas da Globo dificilmente serão esquecidos. Não é difícil a família e os fãs de Aracy Balabanian matarem as saudades do seu talento. São muitas as reprises e ainda tem a Globoplay com quase todas as novelas antigas à disposição.
Mas e os artistas da bola? Que encantaram gerações em capítulos de 90 minutos e ainda disputaram prorrogações e penalidades máximas? Não seria interessante ver o futebol-arte de novo, onde a bola, muito bem tratada, corria mais que os jogadores?
Eu, por exemplo, trocaria qualquer programa para rever Edu, o maior artilheiro da história do América, atuar. Reuniria meus filhos e netos na sala e serviria a mim mesmo uma taça de vinho e brindaria à memória do meu pai.
Além, é claro, de ouvir nas entrevistas, o cidadão Edu Antunes Coimbra dar continuidade às atitudes, ações e jogadas nobres que são marcas da família Antunes.
Toda a minha família era americana. Minha avó chamava América Fernandes Padilha. E Eduzinho era nosso ídolo maior. Certamente, Zico se espelhou no seu irmão para aprender, e depois aprimorar, a arte de bater faltas, realizar dribles curtos e arrancar em velocidade.
Todos os brasileiros, amantes do futebol, em qualquer época, deveriam ter o direito de saborear as imagens do time do América quando entrava em campo. Era um vermelho forte que pintava no gramado verde uma aquarela clássica, uma obra de arte emoldurada pela massa que vibrava à sua volta. E que encantava e precedia o espetáculo.
Saudades do Edu, do América, sentimentos bacanas que o espírito de Natal sempre potencializa.
COMO ESSE RAPAZ INCOMODA
por Zé Roberto Padilha

Desde o tempo em que o Audax se tornou audacioso, passando pelos clubes onde a audácia o fez perder o emprego até o “vocês vão ter que me engolir”, onde foi disputar o título mundial com o mais respeitado treinador do mundo, Pep Guardiola, que esse rapaz incomoda o conservadorismo que assola nossa imprensa.
Fernando Diniz deveria ser coroado, pelo Ranking OGlobo/Extra, o melhor treinador do país em 2023. Sem enxergar esse ano, com todo o respeito, nenhum português à sua frente. Aí, na avaliação deles, Supercopa do Brasil, onde ninguém acompanha ou dá importância, tem um peso Libertadores.
Tem mais: nem levaram em conta que, hoje, ele dirige a seleção brasileira.
Uma pena que depois de anos de mesmice, Tite e Felipões, nossa imprensa não reconheça o valor da inovação. Da criatividade.
Mesmo perdendo por 4×0, o mundo assistiu alguns minutos de rara beleza e inovação. Uma saída de bola que nos faz ficar com o coração na mão, mas que só a arte do jogador brasileiro seria capaz de realizar.
Um dia eles vão ter que respeitar, não ter ciúmes, da capacidade inovadora de um treinador audacioso e competente.