ENEM DO FUTEBOL
Tico, Ney Pereira e Guido Ferreira se divertiram respondendo as perguntas
Especialista em basquete, Marvin Sandom, nosso parceirão, nos enviou, recentemente, uma lista de perguntas variadas sobre futebol, apresentando uma série de dúvidas que muitos entendedores teriam dificuldade para responder. Para esclarecer as questões, a equipe do Museu da Pelada foi até o Caldeirão do Albertão, no Grajaú, onde rola uma pelada repleta de craques. Após muita resenha, escalamos um trio de dar inveja até no poderoso MSN, formado por Messi, Suarez e Neymar!! Os “professores” escolhidos pela nossa equipe foram Ney Pereira, Guido Ferreira e Tico! O primeiro foi considerado o melhor técnico de futsal do mundo e profissional que mais ganhou títulos em diferentes estados do Brasil. Guido Ferreira atuou no futebol profissional em alguns clubes do Rio e foi considerado o melhor jogador de Fut7 do mundo. Tico, o Herculano Quintanilha, é…. bem, Tico só é amigo dos dois, mas é especialista em resenhas!!
Confira as respostas dos craques:
1 – O que faz um volante? Por que esse nome?
O volante tem a função de fazer a transição da defesa para o ataque. Quando o time está sem a bola, são os principais responsáveis por tentar recuperá-la. São os chamados cães de guarda ou dobermanns. O Luiz Gustavo é o volante da seleção brasileira. Acredita-se que a origem do nome se deu por conta do jogador argentino Carlos Martín Volante, que atuava na posição e fez sucesso no futebol brasileiro. No Caldeirão, Vagner do Transplante tem essa função, mas o problema é que “rouba” a bola do adversário e depois não sabe o que fazer com ela. Muitos confundem cabeça de área com volante, mas os volantes ficam mais adiantados. O PC Caju odeia tanto os volantes como os cabeças de área. Os chama de gladiadores. Isso porque nunca viu Maurição do Cangaço, do Caldeirão, em ação!!!
2 – O que é um falso nove?
É um termo recente no futebol. O nove tradicional é aquele atacante que atua centralizado, fazendo o papel de pivô, segurando a bola no ataque. É o caso do Fred, do Fluminense, por exemplo. Já o falso nove é aquele que atua na mesma posição do tradicional, mas tem uma movimentação muito maior, exercendo diversas funções no ataque, o que acaba confundindo a zaga do time adversário. Mais ou menos o que fazia Riascos, no Vasco. No Caldeirão, o melhor pivô é o Pugliese porque confunde a zaga com sua movimentação intensa.
3 – Qual a diferença de um ponta esquerda, de um meia esquerda e um lateral esquerdo?
Os pontas costumam ser atacantes extremamente rápidos e habilidosos que atuam pela beira do campo. Geralmente, dão muita dor de cabeça aos laterais. O craque Neymar, por exemplo, tem atuado como ponta. Os meias atuam mais recuados que os pontas e costumam ter uma boa visão de jogo. Por isso, são responsáveis por organizar as jogadas. Não costumam ter tanta velocidade como os pontas, mas são mais estratégicos. Os laterais são os jogadores que percorrem as maiores distâncias nos jogos. Eles são obrigados a proteger a defesa e ainda precisam apoiar no ataque, cruzando a bola na área para os centroavantes. No Caldeirão, Tico Tico é o ponta mais veloz. O problema é que ninguém do time consegue acompanhá-lo e seus cruzamentos não servem para nada.
4 – O que é um ponta de lança?
É o mesmo que o centroavante, normalmente o goleador do time. No Caldeirão, Joãozinho Perdigão é imbatível!
5 – Qual a diferença de um centroavante para um atacante?
O centroavante tradicional, normalmente, atua com a camisa nove e é o principal responsável pelos gols da equipe. Se posiciona entre o ponta-direita e o ponta-esquerda, próximo à área e se movimenta o máximo possível para receber um passe ou um cruzamento, tipo Roberto Dinamite. Atacante é a generalização das posições do ataque. Entre elas estão os centroavantes e os pontas. O mais famoso do mundo, atualmente, é Messi, Suarez e Neymar, do Barcelona.
6 – O que é um ala?
Os alas exercem a mesma função que os laterais no ataque. A diferença é que os alas não precisam se preocupar com a defesa, pois, normalmente, os treinadores colocam um volante para proteger o espaço deixado pelo ala. Alguns dizer que o ala é um “lateral avançado”. Daniel Alvez faz isso na seleção e Herculano Quintanilha, o Tico, no Caldeirão.
7 – O que aconteceu com os meios campos?
Nos dias atuais, principalmente no futebol brasileiro, os meias clássicos estão perdendo espaço para jogadores com mais força física. Responsável pela organização das jogadas, o meia precisa ter um talento acima da média e uma visão de jogo diferenciada. Atualmente, um dos únicos jogadores que sabem exercer bem a função é o Paulo Henrique Ganso, do São Paulo. Apesar das muitas críticas que recebe pela sua “lentidão”, o meia é um grande organizador e pensa nas jogadas muito antes dos companheiros. No Caldeirão, Guido deita e rola!!!
8 – E com os laterais-direitos e esquerdos?
As laterais são as posições mais carentes do futebol brasileiro. Poucos são os laterais que conseguem fazer sucesso fora do Brasil. Diferentemente do passado, quando laterais como Leandro, Júnior, Carlos Alberto Torres, Nelinho e Marinho Chagas atormentavam a defesa adversária, os laterais do presente estão cada vez mais burocráticos. Não são bons defensores e pouco vão ataque.
9 – O que é um homem base da barreira?
O homem-base é aquele jogador que fica na ponta da barreira ouvindo as instruções do goleiro para posicioná-la da melhor forma possível. Além disso, ele precisa estar atento a uma possível jogada ensaiada que ocorra pelo seu lado. Costuma ser um jogador alto.
10 – Por que quem sofre a falta é quem pede barreira?
Quem sofre a falta é que pede a barreira, pois o jogador pode escolher entre chutar direto para o gol ou cobrar rapidamente, tocando para um companheiro para pegar a zaga adversária despreparada. Vale destacar, no entanto, que, caso o jogador queira cobrar a falta diretamente para o gol, é o goleiro quem decide se quer ou não a barreira. Apesar de existirem casos em que os goleiros descartaram as barreiras, principalmente no passado, a grande maioria dos arqueiros opta pela presença delas.
11 – O que é estar atrás da linha da bola?
Está relacionado à regra de impedimento. Mesmo que não haja defensores dando condição para o jogador receber o passe, ele pode participar da jogada se estiver atrás da linha da bola. Atrás da linha da bola significa estar mais recuado que o companheiro que está com a posse da bola.
12 – Por que lance de lateral batido, não tem impedimento?
Não existe impedimento no futebol oriundodo tiro de meta, escanteio e lateral. A regra é clara!!!
13 – Para que serve a pequena área?
Além de ser um ponto de referência, a pequena área serve para delimitar a região de cobrança de tiro de meta do goleiro.
14 – O que é um articulador?
Os articuladores são jogadores de extrema técnica e grande visão de jogo, responsáveis pela organização e criação das principais jogadas ofensivas do time. Costumam pensar nas jogadas antes mesmo de receber o passe. Entre os principais articuladores do Brasil, podemos destacar o meia Alex, que se aposentou recentemente, e o craque Paulo Henrique Ganso, do São Paulo.
15 – O que é um quarto zagueiro?
Geralmente, o quarto zagueiro é aquele defensor que dá o primeiro combate. Atua com um pouco mais de liberdade que os demais e, por vezes, se aventura no ataque.
16 – O que é um zagueiro central?
Como o próprio nome diz, zagueiro central é aquele defensor que ocupa a posição central da defesa. É a principal posição da zaga e, por isso, costuma ser ocupada por um jogador experiente e com boa estatura para cortar os cruzamentos.
17 – O que é um ponta?
Os pontas costumam ser atacantes extremamente rápidos e habilidosos que atuam pelas beiradas do campo. Com muita movimentação, são responsáveis por penetrar e confundir a zaga adversária, abrindo espaço para outros jogadores. Muitas vezes esses jogadores também têm a obrigação de marcar a saída de bola adversária. Vale destacar que, geralmente, são bons finalizadores e costumam marcar muitos gols de fora da área. O craque Neymar, por exemplo, é um dos pontas que mais se destacam atualmente.
18 – Por que uma mesma posição tem vários nomes?
Uma mesma posição ter vários nomes nada mais é do que uma variação linguística regional. A linguagem do futebol, no entanto, é universal e as posições em si são as mesmas em todas as regiões.
ZAGUEIRO BRAVO
por Victor Kingma, de Minas Gerais
Naquela decisão da Liga Mantiqueirense, no interior mineiro, o time de Mantiqueira precisava vencer para chegar ao título. Precavido e temendo alguma surpresa, o presidente do clube, “Coronel” Neca Pereira, escolheu a dedo o juiz e os bandeirinhas e reservou para os visitantes o vestiário ao lado do curral de sua fazenda, onde ficava o campo.
Sabendo que o adversário usaria sua tradicional camisa vermelha, mandou prender, em local bem próximo à passagem dos jogadores, um feroz touro chamado Bravo, o terror das touradas da roça.
Logo ao pisar no gramado, os visitantes receberam as boas-vindas do animal, que avançava ferozmente contra a tela de proteção, tentando chifrar aquelas camisas encarnadas.
E assim continuou durante toda a partida. Sempre que alguém de vermelho se aproximava da lateral, lá vinha a besta fera, bufando e chifrando o alambrado que separava o estábulo das quatro linhas.
Intimidado, o adversário parecia presa fácil. Aos 15 minutos, já perdia por 1×0. O jogo, porém, foi se arrastando, sem outros gols. Aos 44 do segundo tempo, um cochilo do time da casa e, em um contra-ataque, o ponta inimigo driblou dois e chutou: gol! Empatada a partida! Resultado que dava o título aos visitantes.
Pressionado pelo poderoso cartola, o árbitro ainda deu dez minutos de acréscimo, mas o gol não saía. Então, chegou à beira do gramado e avisou:
– Coronel, tenho que acabar o jogo! Seu time está perdido e não fará gol nunca…
Charge de Eklisleno Ximenes
Atarantado, o coronel vira-se para o técnico e ordena:
– Esse título eu não perco. Vamos melar o jogo!
– Mas, melar como? – espantou-se o treinador…
E o coronel taxativo:
– SOLTA O BRAVO!!!
Katinha
Katinha, que dança é essa?
texto: Cláudio Lovato Filho | fotos e vídeo: Edson Junkes e Alexandre Salles | Edição de vídeo: Daniel Planel
“Seja o que Deus quiser!”
Foi exatamente isso o que ele pensou, assim mesmo, quando o técnico Otto Glória lhe disse, no vestiário, durante o intervalo:
“Você vai entrar”
“Você vai entrar”.
Domingo, 9 de setembro de 1979. Segundo turno do Campeonato Carioca. Vasco e Flamengo se enfrentam no Maracanã quase lotado.
Elcir Andrade Branco sabe que aquele é o jogo que mudará a sua vida – para o bem ou para o mal. Ele veste a camisa preta com a faixa diagonal branca e tem o número 15 vermelho às costas. Um filme passa, em câmera acelerada, na cabeça de Elcir, nome que até a ele próprio soa estranho. Há muito tempo, ainda no infanto-juvenil do Atlético Paranaense, ele se tornara Katinha.
Ele vai para o campo e faz história.
O filme que passou na cabeça de Katinha ao entrar no gramado do Maracanã começara 21 anos antes, em Lages, Santa Catarina, onde ele nasceu, em 4 de fevereiro, e em cujas ruas deu os primeiros dos muitos dribles dos quais viria a ser autor vida afora, teve sequência em Curitiba, cidade de seu primeiro clube, o Atlético Paranaense, e então Florianópolis, terra do Leão da Ilha, o Avaí, de onde saiu literalmente fugido (mas por bons motivos; aliás, os melhores) rumo a São Januário, e depois daquela partida fantástica prossseguiu em Fortaleza, novamente Florianópolis, Joinville, Salvador, Piripiri, no Piauí, e outra vez Fortaleza, no encerramento da carreira, em 1997, jogando pelo Calouros do Ar. Depois de tudo isso, o descanso do guerreiro, ao lado dos muitos amigos que fez na Florianópolis do coração, onde mora.
“Seja o que Deus quiser!”
“Seja o que Deus quiser!”, pensou Katinha, diante do lendário Otto Glória no vestiário do Maracanã.
E Ele quis que Katinha, logo em seu primeiro lance no jogo, cruzasse uma bola perfeita na cabeça de Roberto Dinamite, que entrou voando, não deu chance a Cantarele e decretou 3 a 2 para o Vasco.
E Ele também quis que, no lance do quarto gol, Katinha, correndo como se não houvesse amanhã, driblasse o zagueiro Nelson e depois Cantarele e, já quase caído dentro da pequena área, ouvisse o “Deixa!” de Roberto Dinamite, que chegou em cima e mandou a bola para dentro do gol.
“Deixa!”
“Katinha, que dança é essa/Que deixa o corpo todo mole?/Katinha, que dança é essa?” Depois daquele jogo, a canção “Dança do Bole Bole”, de João Roberto Kelly, adaptada para Katinha pela torcida do Vasco, não ficava de fora de nenhuma roda de samba de vascaínos. Era a homenagem da galera ao ponteiro-direito rápido, habilidoso e predestinado que chegara de Santa Catarina e, já no primeiro jogo, lhe caíra inteiramente nas graças, numa adoção imediata e eterna.
“Deixei muitos amigos nos clubes em que joguei”, diz Katinha, que recebeu a equipe do Museu da Pelada em seu apartamento no centro de Floripa para um bate-papo descontraído que você confere no vídeo. “Até hoje, quando o Vasco vem jogar aqui, vou ao hotel para visitar o pessoal”.
“Até hoje, quando o Vasco vem jogar aqui, vou ao hotel para visitar o pessoal.”
Com a simplicidade e a simpatia que são suas marcas registradas, Katinha nos mostra as camisas, as fotos e os troféus que guarda com imenso carinho. Nas paredes cobertas de fotos de seus tempos de jogador, a comprovação de que ele fez história, foi ídolo, foi herói e, o mais importante de tudo, tornou mais feliz a vida de muita gente, jogando com fé em si mesmo, jogando por música, jogando bola, porque era isso o que o destino havia, maravilhosamente, reservado para ele.
ARTISTA DA BOLA
texto: André Mendonça | vídeo: Scarlett Palhano
Futebolista, artista da bola na tela, com imenso repertório de cores, dribles de texturas e lançamentos em profundidades, como ele mesmo se define, Al McAllister deu uma imensa contribuição para o Museu da Pelada!! Um gol de placa!!
Autor de pinturas magníficas de Pelé, Ronaldinho Gaúcho, Falcão entre outros fenômenos da bola, o craque do pincel, apaixonado por desenhos desde criança, revelou ter uma proposta de exposição de 12 pinturas de grande porte, celebrando o clássico Grenal, com retratos de grandes jogadores da dupla. O Grêmio, aliás, tem sido motivo de alegria para Al, pois assumiu a liderança isolada do Campeonato Brasileiro após vencer o Coritiba por 2 a 0.
O artista posa com as pinturas de Pelé e Maradona
Com experiência internacional e muita história bacana para contar, o artista foi vizinho dos craques Beckenbauer e Carlos Alberto Torres, em Nova York, fez trabalhos para o Pelé quando o rei atuava pelo Cosmos e teve a oportunidade de comprar um dos seus primeiros pares de chuteira com ninguém menos que Nilton Santos, na loja que o monstro da lateral-esquerda administrava na Rua Voluntários da Pátria, em Botafogo. Confira a resenha imperdível desse grande artista com a equipe do Museu da Pelada!
Como surgiu sua paixão pela arte?
Desenho de tudo desde criança e tenho ótimas lembranças dessa fase da vida, em Porto Alegre. Meu melhor amigo era meu vizinho e tinha um irmão mais velho que desenhava e pintava com muita facilidade. De certa forma, foi meu primeiro mentor pelo exemplo e talento. Nunca me vi fazendo outra coisa a não ser desenhar e pintar.
Qual é sua relação com futebol? Jogou muita pelada na infância?
Jogava bola na infância, mas não era prioridade. Meu interesse por jogar futebol mesmo despertou aos 16 anos, em 1970, com a vitória do Brasil na Copa do Mexico. Já estava morando nos EUA, mas quando vim ao Brasil com minha mãe e irmãos para rever a nossa família, mergulhei fundo durante três meses de férias aqui.
Lembro de ter comprado um chuteira na loja de material esportivo que o Nílton Santos tinha na Voluntários da Pátria em Botafogo, com o próprio Nílton Santos!
Atualmente na China, Renato Augusto é um dos seus trabalhos mais recentes
Como é sua relação com o Grêmio? Costumava frequentar os jogos?
Meu tio avô era sócio no Grêmio e foi responsável por doutrinar meu pai, americano residindo já alguns anos no Sul do Brasil, a ser gremista. Eu me tornei gremista de carteirinha por tabela na sequência de anos lá, indo ao estádio e conhecendo jogadores da época.
Meu pai tinha carteira de jornalista fotógrafo semiprofissional e sempre frequentava os jogos do Grêmio fotografando os lances agachado na linha de fundo junto com outros fotógrafos. Um domingo, chegou em casa carregado por amigos, pois tinha levado uma bolada na coxa e não conseguia andar sem ser amparado. Foi “carimbado”, dava para ver claramente uma mancha roxa provocada pela bola e a logomarca “Drible” invertida.
A família toda é composta de gremistas e colorados, e sempre havia a rivalidade entre meus tios e primos, mas era muito divertido torcer nos jogos. No final das contas o chimarrão e o churrasco sempre apaziguavam os ânimos.
O craque Edmundo posa ao lado da arte feita por Al McAllister
Você perdeu um pouco do seu encanto por futebol? Houve algum motivo específico para isso acontecer?
Não perdi o encanto, longe disso. Sempre fui de dar apoio ao time do Grêmio, até hoje torço. Mas fanático mesmo eu era pelo futebol quando fazia faculdade em Nova York. Jogava no time da escola contra outras universidades em torneios pelo estado de Nova York e New Jersey. Mas lembro que os jogos eram bastante violentos. Eu, pelo menos, apanhava muito na ponta, cheguei a jogar um ano raspando as pernas para usar bota de esparadrapo para proteger e firmar os tornozelos. Havia torneios internos de futebol de salão no inverno, o que era muito legal. A faculdade tinha estudantes de todos os países, então convivia com gente da Jamaica, Trinidad-Tobago, Itália, Colombia, Grécia e, claro, americanos. Todos amantes do futebol, aprendi muito com eles, a linguagem solidária do futebol.
Não perdi o encanto pelo futebol. Como fiz trabalhos para o João Henrique Areias em marketing de imagem e projetos do jogador Sávio – na época jogando na Europa, me aprofundei mais ainda no interesse pelo assunto. O João depois me assessorou, junto com a esposa como minha marchand, em fazer exposições de pinturas no Rio de Janeiro, inclusive no Maracanã. Através do João, conheci outro grande profissional de marketing e administração no futebol, o Luiz Léo, desenvolvendo mais projetos com o amigo designer George Milek.
Mesmo nos Estados Unidos você tinha o costume de acompanhar o noticiário de esportes do Brasil?
O desenho de Ronaldo quando atuava no futebol italiano
Todo sábado eu pegava o metrô, saindo de Brooklyn até Manhattan para comprar a revista Placar no restaurante “Cabana Carioca”. Era quando chegavam as revistas e jornais do Brasil no voo da manhã. A maior tristeza era quando o avião atrasava, ou não tinha a remessa, e eu fazia a viagem de volta para o Brooklyn de mãos vazias.
Mas quando tinha a revista eu a devorava, lia tudo, copiava as fotos. Tenho algumas páginas nos meus cadernos de desenho daquela época com essas imagens de jogadores. Era meu treinamento para melhorar o traço e conhecimento do corpo humano em movimento. O Jairzinho, Furacão da Copa, era o exemplo perfeito de proporção e musculatura. A revista sempre tinha uma página inteira com foto de algum time. Eu destacava essa foto e colava na parede da sala do apartamento… acabei cobrindo a parede com essas fotos.
Qual é sua opinião em relação à situação atual do futebol brasileiro?
Está explícito que o Brasil ainda caminha para trás em termos de gestão e organização de clubes, campeonatos, eventos esportivos em geral. Falta vontade. Está claro que pessoas com competência e currículo no esporte não têm acesso a cargos e posições de comando, onde uma real mudança pode ser iniciada. Ex-jogadores como Leonardo, com experiência e cursos em gestão na Europa, foram boicotados pelas “panelas” de entidades que comandam o futebol no Brasil. O saudoso Sócrates sintetizou bem o problema: o Brasil em vez de exportar sua arte, exporta seus artistas. E isso vale para outros ramos de talentos brasileiros.
Desde que conheci o site Museu da Pelada me encantou a proposta de vocês. Nosso país não valoriza sua história no futebol, não honra seus craques de bola, quem fez do futebol brasileiro tão apreciado mundo afora. Nos anos 90, na minha pesquisa por imagens como referência para compor minhas pinturas de futebolistas antigos, me deparei com registros históricos precários, mal catalogados.
Para uma pintura retratando o Garrincha, eu cheguei a ir ao acervo de um antigo jornal carioca e comprei a foto que precisava para uma pintura que tinha em mente. Naquela época eu também utilizava fotogramas tirados de vídeos sobre futebol. A primeira vez que vi imagens da seleção brasileira da Copa de 1958, com qualidade decente, foi em um documentáro inglês.
Assim vejo a iniciativa do Museu da Pelada como muito positiva, humana e de respeito. Dá gosto acessar o site e ler os artigos, ver as imagens e assistir os vídeos com as entrevistas de gente ligada ao futebol. Gente do bem.
O desenho magnífico do maior jogador da história
Você chegou a fazer alguns trabalhos para o Pelé quando ele atuava pelo Cosmos! Qual era a sua relação com ele?
O Pelé tinha escritório no prédio da Warner, onde eu tinha clientes que usavam meus trabalhos, no final dos anos 70, e a equipe dele me procurou para fazer uma ilustração como logomarca. O curioso é que, alguns anos antes, ele havia passado em Cleveland, no estado de Ohio, onde mora minha mãe, para um evento promocional. Vários brasileiros foram vê-lo, era aquela novidade do Cosmos de Nova York, e minha mãe me pediu um desenho para dar de presente a ele. Fiz dois, o segundo para ele autografar para mim. Quando cheguei à recepção do escritório dele, vi o desenho emoldurado e pendurado atrás da recepcionista. Foi muito legal!
O Pelé foi muito simpático, conversamos bastante, e fiz uma pequena pintura em acrílica sobre tela seguindo o que ele me pediu.
Em 1983, eu deixei Nova York e vim morar no Rio de Janeiro, mais uma vez cruzei caminho com o Pelé através de um amigo que fabricava os cosméticos da Xuxa. O Pelé e ela estavam juntos na época. Eu e George Milek éramos os responsáveis pelo design das embalagens de toda linha da Xuxa, do shampoo, sabonetes, etc., e fomos convocados para várias reuniões de pesquisa com o Pelé e seus assessores, para ver da possibilidade de lançar uma linha de produtos com a marca dele.
A pintura de Ronaldinho Gaúcho estará na exposição de Al celebrando o Grenal
Como foi essa experiência de ter sido vizinho do craque Beckenbauer?
Fui vizinho do Beckenbauer por acaso. Eu residia na rua 55, entre a Broadway e Sexta Avenida, e ele foi colocado pelo Cosmos para morar em um prédio centenário enorme que tinha acabado de ser reformado, na esquina da Sexta Avenida. Então, seguidamente passávamos um pelo outro na rua, sempre o cumprimentava. O Carlos Alberto Torres também frequentava aquela região.
Em vários jogos do Cosmos sentei nas arquibancadas atrás do gol e era impressionante a visão de jogo do Kaiser, a facilidade de distribuir bolas longas, todas de trivela. Parecia não fazer esforço. Foi um privilégio ver Pelé, Beckenbauer e Carlos Alberto jogando juntos. Hoje tenho a mesma sensação ao ver o Messi, Neymar e Suarez. É a mais pura arte do futebol.
Você tem um ateliê em Niterói? Quais trabalhos têm feito atualmente? Algum relacionado a futebol?
Moro em Niterói já há alguns anos, tenho meu ateliê em casa mesmo. Tenho um novo projeto em andamento voltado para o futebol, mas como está na incubadora não tenho como revelar o que é.
Tenho uma proposta de uma exposição de 12 pinturas de grande porte celebrando o Grenal, com retratos de grandes jogadores dos times. Mas ainda sem data e local definidos, tenho minhas marchands buscando patrocínio para viabilizar.
GOLAÇO DE PET FAZ 15 ANOS!!
No dia 27 de maio de 2001, há exatos 15 anos, Petkovic cobrava uma falta com perfeição que ficaria marcada para sempre na memória dos rubro-negros!! Além de ter sido um golaço, a falta cobrada aos 43 minutos da segunda etapa rendeu o título do Campeonato Carioca em cima do maior rival!! A convite de Sergio Pugliese, o sérvio reviu seu épico gol de uma maneira curiosa!! Assine o canal do Museu da Pelada no Youtube e fique por dentro de todas as resenhas!!