A TRAGÉDIA, SEGUNDO DATENA
por Zé Roberto Padilha
Pouco adianta trocar lá em cima, na cereja que comanda o bolo do futebol brasileiro, Dunga por Tite. Os ingredientes, hoje amargos, insossos, os nossos jogadores, abastecem nossos clubes com safras cada vez piores. João Batista Pinheiro e Telê Santana foram treinadores das divisões de base do Fluminense nos anos 70. Por suas mãos, passaram seguidas gerações de craques que brilharam no futebol brasileiro, como Edinho, Carlos Alberto Pintinho, Cléber, Gilson Gênio, Erivelto, Ricardo Gomes, Mário Marques, entre tantos. Ao seu lado, completando a obra, professores e estudiosos da preparação física como Sebastião Araújo e Célio de Souza. Esta “universidade da bola”, a Harvard do futebol carioca, desnudava a importância de um ex-atleta no comando da parte técnica. E um profundo conhecedor da parte física ampliando os espaços onde a técnica iria se impor. Foi assim com Pelé, Zico, Rivelino, Zizinho, Tostão e Didi. Porque jogar futebol é um ofício que não se aprende, é um dom natural como pintar, tocar violão e piano, dominar uma arte desde o berço. Daí que o jogador, no infantil e no juvenil, precisa mais dos ensinamentos de quem nasceu sabendo jogar bola, e exerceu a profissão, do que um que não jogou e estudou para melhorar o seu desempenho.
Um belo dia para mim, e triste para o futebol arte, após a Alemanha vencer a Copa do Mundo de 1974 e fazer o mundo da bola exaltar o uso da força, e da velocidade no lugar da habilidade, o Fluminense efetivou Carlos Alberto Parreira, seu preparador físico, no lugar do Zagalo na parte técnica. O primeiro a abrir as portas para nossos treinadores no mundo árabe. Estava ali presente, testemunha ocular de chuteiras de olho na herança da sagrada camisa 11 deixada por Lula, uma lenda que partia para o sul defender o Internacional. Neste dia, minha carreira se transformou: já formado nos fundamentos básicos, e nas manhas táticas por Telê, Pinheiro e Zagalo e apaixonado pela preparação-física buscando ser um ponta-esquerda moderno, Parreira me efetivou na Taça Guanabara. E, juntos, colocamos uma placa de “perigo, não pise” na linha de fundo daquela ponta esquerda. Onde nunca mais um ponta de verdade alcançaria a linha de fundo. Ele, Parreira, gostou tanto e seus seguidores também, que 20 anos depois conquistaria o Tetra com o Zinho evitando, como eu, afundar nas areias movediças que implantamos aquele dia nas Laranjeiras. Antes, Dirceu e Paulo Isidoro haviam afastado Mario Sérgio, Romeu e Zé Sérgio da seleção brasileira.
Mas havia coisa pior para acontecer com o futebol brasileiro que não seria percebido naquele momento. Mesmo porque quando Claudio Coutinho e Sebastião Lazaroni assumiram o Flamengo, e depois a seleção brasileira, a geração Zico, Falcão e Sócrates já estava formada em seus clubes pelo Carlinhos e o Zé Maria. Esse boom da elevação dos professores egressos da Escola de Educação Física do Exército, ocupando também postos civis do futebol nos anos 70, encontrou pelos clubes jogadores formados por ex-atletas. Se tratava de uma pós graduação. Com o beabá dos dribles, a soma do domínio, a equação do sistema tático no currículo, poucos perceberam no Maracanã, e no Pacaembu, o estrago que viria a seguir do regime de exceção. A pior opressão aconteceria nas divisões de base por todo o país.
Por não ser formado em sala de aula, mas nos gramados da vida, o ex-jogador não soube defender seu emprego, nem revelar em audiências e nos simpósios da vida a importância do seu papel na formação de um jogador. Já os treinadores que se formaram em universidades, sem dar um só pontapé na bola ao longo dia vida, conseguiram transformar seu CREFs não mais em um número de um conselho de classe, mas numa condição obrigatória para se exercer a profissão de técnico de futebol. Hoje, em Xerém, não tem mais Rubens Galaxe, Mario, Gilson Gênio ou Edinho, os filhos de Pinheiro, no comando dos meninos. No Ninho do Urubu, tiraram o Nunes, o Adílio e o Andrade e colocaram os formados pelo livro. Estes são frios e calculistas, revelam jogadores limitados, fortes e previsíveis, que não tiveram um gato para revelar seus pulos nas páginas de suas apostilas. Seus truques num escanteio batido pelo Marcelinho, as dicas para uma cobrança de falta do Didi, as manhas reveladas pelo Gérson em seus milimétricos lançamentos, o elástico do Rivelino ali do lado, com cheiro do suor.
Por incrível que pareça, o primeiro a perceber este abismo não foi a CBF. Foi a TV Bandeirantes. Notando a comoção causada pela nossa precoce eliminação da Copa América, escalou o Datena para transmitir jogos de futebol. Poucos locutores são capazes de transmitir com tanta competência os assaltos, os sequestros, os crimes, todos os infortúnios do nosso cotidiano. E o que mais o nosso futebol representa, hoje, senão uma tragédia na vida da gente?
MARCOSSENSE F.C. INSPIRA TAÇA SÃO JOÃO MARCOS DE FUTEBOL INFANTIL
por Christina Lima
Imagine uma cidade do interior do estado do Rio de Janeiro que viveu seu auge no Ciclo do Café e que na década de 1930 tinha uma vida simples, mas com muitas atividades sociais e culturais como carnaval de rua, bailes no clube, corridas de cavalos, pesca e, é claro, futebol. Assim era São João Marcos, umas das primeiras cidades tombadas no Brasil pelo seu conjunto arquitetônico, mas destombada e demolida no ano seguinte pelo Governo Vargas para a ampliação de uma represa que iria garantir o abastecimento de água do Rio de Janeiro.
São João Marcos era a casa do histórico Marcossense Futebol Clube, time de futebol de uniforme azul e branco que permanece ‘imbatível’ na lembrança dos antigos torcedores.
As ruínas dessa cidade se transformaram no Parque Arqueológico e Ambiental de São João Marcos, situado no município de Rio Claro, um dos espaços culturais mais visitados do interior do estado do Rio de Janeiro. Patrocinado pela Light e pela Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro e gerido pelo Instituto Cultural Cidade Viva, o Parque comemora, em 23 de junho, cinco anos de atividades que resgatam, por meio de várias ações, a memória de São João Marcos, sua história e tradições culturais.
Uma dessas ações foi a construção do campo de futebol do Parque, palco da Taça São João Marcos de Futebol Infantil, que este ano terá a sua 3ª edição em agosto, no período dos Jogos Olímpicos do Rio 2016. O torneio faz parte do Programa Educativo Especial e recebe duas equipes formadas por alunos de escolas públicas de Rio Claro. No gramado, o futebol é usado como ferramenta de educação e lazer. Os pequenos craques de hoje se divertem e evocam, sem nem mesmo perceber, o passado de glória do Marcossense.
O ABRAÇO
:::: por Paulo Cezar Caju ::::
E Tite assumiu o tão sonhado cargo de treinador da seleção brasileira com um afetuoso abraço em Marco Polo Del Nero!!! Coisa linda!!! E ainda li numa dessas matérias baba-ovo que “Tite chegou demonstrando coragem e personalidade”. Kkkkkkkkkkkk!!!! Peraí, ele recentemente assinou um documento coletivo pedindo a renúncia do presidente da CBF e agora corre para o abraço???!!!
Se vai manter a assinatura pouco importa. Igualzinho ao presidente do Flamengo, que bate, bate, bate, mas quando recebe o convite para uma viagem internacional esquece tudo e topa! Claro, com uma crise dessas, uma viagem de Bandeira, quer dizer, de bandeja, não dá para ser negada. Tudo balela, tudo conversa para boi dormir.
Imaginem o Tite, terno alinhado, com seu ar professoral negociando as bases do contrato com o Del Nero!!! Imaginem ele se impondo, dizendo que não admitirá interferências de empresários e patrocinadores na convocação dos jogadores!!!! Kkkkkkkk!!!! Conta outra! A mim, não enganam com esse discursinho de transparência. Os cifrões nos olhinhos vêm antes de qualquer sonho de vestir a amarelinha ou vencer Copa do Mundo e Olimpíadas. O certo seria NENHUM treinador aceitar o convite de Del Nero. Isso, sim, seria um pacto verdadeiro, a união da categoria por uma mudança radical e a reformulação do futebol.
Aí vem o Bom Senso com aquele papinho de transparência disso, ética daquilo, até surgir mais um convite da CBF. Desmobilização certa! É a tal da vaidade, é a tal sede do poder. Bom, só sei que Del Nero segue sem poder sair do país. Para os Estados Unidos, então, nem pensar. É cana! Mas pensando bem, por que ele sairia do Brasil se aqui ele está tão bem acompanhado de Cunhas, Renans e Jucás?
E CONTINUA DANDO AS ORDENS NO TERREIRO…
DE VOLTA AO PASSADO
por Zé Roberto Padilha
Dr. Emmett Brown, que no épico De Volta para o Futuro, de Steven Spielberg, levou Martin McFly em seu DeLorean de volta para o passado, poderia fazer um favor ao futebol brasileiro se repetisse a viagem e embarcasse, desta vez para o ano de 1982, o Ganso. Ele desembarcaria no Estádio Sarriá e seria escalado na meia-esquerda da seleção brasileira ao lado de Toninho Cerezzo, Falcão e Zico. Telê Santana avançaria o Sócrates para formar o ataque ao lado do Éder. E a máquina do tempo traria Serginho de volta ao presente do nosso futebol, onde mal sentiria a mudança. Nosso grande centroavante jogaria como titular em qualquer equipe. Já o Ganso, não.
Sua classe, habilidade e cadência, definitivamente, não são compatíveis com a correria desenfreada e impensada que se estabeleceu atualmente naquela faixa nobre do campo. Neste filme, dos melhores sonhos dos amantes do futebol-arte, Paulo Rossi não seria protagonista. Seria apenas um coadjuvante que enfrentou a equipe que mais simbolizou em campo a arte do futebol brasileiro. Faltou-lhe apenas o título. Se tivesse o Ganso, quem sabe?
Ganso recebe muitas críticas por ser considerado lento (Foto: Reprodução)
Ontem, durante a transmissão de Flamengo x São Paulo, o futebol refinado de Paulo Henrique Ganso, de toques suaves e passadas cadenciadas, que parecia que alguma criança na sala apertava a tecla Slow Motion toda vez que a bola chegava aos seus pés, não agradava aos comentários do Edinho. No SporTv, o comentarista exigia que ele fosse mais participativo na partida. Um carrinho, por exemplo, como os do Sheik, seria sinal de luta. As roubadas de bolas do Marcio Araújo, então, simbolizaria a glória. A mediocridade jogada tem sido irradiada através das cabines de rádio e televisão, e ela tem contaminado locutores e comentaristas e alcançado dia seguinte às bancas de jornais. Ganso, jogando na década de 80, mereceria toda semana uma crônica de Armando Nogueira no Jornal do Brasil. E outra do Nelson Rodrigues no Jornal dos Sports. Mas os cronistas literatos desapareceram junto à arte do nosso futebol. No seu lugar, ficaram colunistas que por mais que tentem, seus textos não são mais inspirados nas jogadas dos grandes craques, mas produzidos junto a garra e a luta de alguns gladiadores. Os cada vez mais quilômetros percorridos pelos fundistas que insistem em correr mais que a bola.
Ganso, que parece atuar de smoking, não foi escalado para jogar a Copa América porque não há no comando da seleção um treinador com o bom gosto de Telê Santana. Para jogar no time do Dunga, e do Felipão, o meio-campista tem que marcar, baixar a cabeça, correr e trocar passes com seus zagueiros. Luiz Gustavo, Fernandinho, Elias, Godzila, Homem de Ferro e Volverine crescem à frente dos telespectadores e do ataque adversário. Mas não evitam que voltemos mais cedo para casa para ver a Argentina se exibir inteirinha na tela presente.
Aos 20 minutos do segundo tempo, Ganso caiu de mau jeito na área do Flamengo. Quando o massagista chegou, torcemos para ele tirar daquela bolsinha Iodex, ou um tubo de Balsámo Bengué, aquele com salicilato de metila. Até Gelol, do Pelé, nos daria esperança. Seriam símbolos dos anos 80. Dr. Emmet Brown já teria conseguido transportá-lo. Mas o massagista do São Paulo, e o médico que o atendeu, tirou um tubo com anestésico de ultima geração de aerosóis e borrifou em suas costas. Estávamos mesmo de volta ao presente. Mas se Spielberg recuou McFly no tempo para mudar a vida dos seus pais, levar o Ganso de volta ao passado, a idade em que ele merecia ter nascido e jogado, mudaria seu destino. E do próprio futebol brasileiro.