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OURO AMENIZA DOR DA COPA

por Marcos Vinícius Cabral


Neymar homenagem Zagallo após a conquista, com a famosa frase “vão ter que me engolir”

Responsável pelo maior vexame da história das Copas do Mundo, a Alemanha sentiu o gosto amargo da derrota para o Brasil, no Maracanã. 

A vitória dramática colocou fim ao trauma brasileiro de sempre bater na trave em Olimpíadas. Se o título não apaga o vexame dos 7 a 1, certamente ameniza a dor da derrota do Mineirão em 2014, e deixa com a Alemanha a decepção de não ter um título olímpico. 

Foi vingaça? Talvez não, mas o gostinho sim. 

Em uma partida muito disputada, após empate de 1 a 1, o Brasil venceu nos pênaltis por 5 a 4, tendo a última cobrança convertida pela capitão e camisa 10 Neymar levando os 70 mil brasileiros ao delírio com o título inédito no XXXl Jogos Olímpicos.

O Brasil começou melhor mas foi a equipe alemã que levou perigo ao gol de Weverton, quando Brandt recebeu na entrada da área e bateu colocado, mas a bola explodiu no travessão brasileiro, testando os cardíacos e gelando o Maracanã. O Brasil, porém, melhor na partida e com uma precisão admirável nos desarmes e mais lucidez no ataque, fazia pressão. Até que aos 25 minutos da primeira etapa, veio a apoteose no Maracanã: Neymar sofreu falta na entrada da área e, empurrado pelas 70 mil vozes da torcida que gritava seu nome, viveu seu momento de Zico – maior artilheiro do estádio com 333 gols – marcando um golaço numa cobrança magistral que ainda bateu no travessão antes de encontrar as redes. Neymar celebrou com o tradicional gesto da lenda cada vez mais brasileira Usain Bolt, que estava na arquibancada e vibrou com o espetáculo, e com uma frase eternizada pelo atacante Cristiano Ronaldo, seu adversário na Espanha: ‘Eu estou aqui”.

Com isso, a Alemanha, em desvantagem, subiu de produção e, logo no início da segunda etapa, o lateral Toljan cruzou da direita, a bola atravessou a área brasileira e o capitão Max Meyer bateu de primeira para empatar. Foi o primeiro gol sofrido pelo Brasil em seis partidas.

As duas equipes assustaram em contra-ataques no fim, mas as defesas se mantiveram intransponíveis e seguras.

Na prorrogação, a principal arma das equipes era a cautela e foi assim até o apito final do árbitro iraniano Alireza Faghani, que levou os jogadores a passarem pelo temido teste depois de intermináveis e desgastantes 120 minutos: cobranças de pênaltis.

Nas penalidades, Ginter, Renato Augusto, Gnabry, Marquinhos, Brandt, Rafinha, Süle e Luan foram precisos em suas cobranças. Petersen, então, bateu para defesa de Weverton. Coube a Neymar, expoente dessa geração, a responsabilidade de balançar a rede e sepultar de vez nossos traumas. O craque caiu estatelado no gramado, chorando compulsivamente, num dos momentos mais marcantes dessas Olimpíadas, após marcar o gol que resgatou um pouco do prestígio e respeito perdidos recentemente.

Momento Difícil

Depois de um início muito criticado a seleção do técnico Rogério Micale, passou a primeira fase das Olimpíadas sendo alvo de torcedores que cobravam vitórias e principalmente que seu camisa 10 fosse protagonista e não coadjuvante como em outras ocasiões.

O jogador que havia sido alvo da ira da torcida brasileira – em Brasília, no Estádio Mané Garricha por exemplo, chegou a ser vaiado, ouvindo o coro: – ah, arrá, a Marta é melhor do que o Neymar, gritavam em uníssono os torcedores brasilienses.

Mas o jovem e talentoso atleta de 24 anos, calou seus críticos e deu a volta por cima, marcando um golaço de falta e convertendo em gol a ultima cobrança que decretou a vitória do Brasil, se tornando herói desta conquista.

O camisa 10 ainda fez o que craques do quilate de Ronaldinho, Romário, Ronaldo não conseguiram: colocar no pescoço a tão sonhada medalha de ouro. Depois, em entrevista à Rede Globo, parafraseou Zagallo ao responder os críticos. “Vocês vão ter que me engolir.”

Em sua quarta final nas Olimpíadas, chegou enfim a hora do Brasil subir no lugar mais alto do pódio e tirar esse nó da garganta e gritar: é campeão!

CARTA ABERTA


Em mais uma demonstração de carinho, o Museu da Pelada recebeu várias fotos e recortes de jornais sobre a carreira do saudoso Teixeira Heizer, camisa 10 do jornalismo esportivo e autor de três preciosidades, todos da Mauad X, “O Jogo Bruto das Copas do Mundo”, com prefácio de Pelé, “Maracanazo”, com prefácio de Zico, e “A Outra História de Cada Um”, com maravilhosas crônicas sobre João Saldanha, Nelson Rodrigues, Garrincha, Chacrinha e vários outros. O material foi enviado pela filha Alda Heizer e elegemos a carta enviada para João Havelange por Teixeira Heizer, datada de 1963. Essa é a maior prova de que a insatisfação com os dirigentes e a forma como o futebol é administrado vem de outros carnavais.


Com mais de 60 anos de carreira, Heizer fez história no jornalismo esportivo. Iniciou sua carreira na redação do Correio Fluminense, em 1953, um ano antes de se tornar repórter da Emissora Continental. No início da década de 60, começou a trabalhar como comentarista esportivo na Rádio Globo. Em 1965, teve a oportunidade de participar da primeira transmissão de um jogo de futebol, quando o Brasil enfrentou a URSS no Maracanã.

Durante 15 anos, além de participar dos programas da SporTV, trabalhou nas transmissões de campeonatos europeus e nunca teve medo de dar opiniões fortes e contundentes. Formado em Direito e Jornalismo, chegou a trabalhar como professor, mas ganhou destaque mesmo na imprensa esportiva. 

O craque do jornalismo morreu no dia 3 de maio de 2016, aos 83 anos, vítima de uma parada cardíada, deixando uma filha, seis netos e dois bisnetos. 

CONFIRA A CARTA:

“Ao Presidente João Havelange

Roma,

Primavera de 1963.

PRESIDENTE JOÃO HAVELANGE,

                                   bom dia.

            Seguimos esse roteiro da morte, testemunhando os insucessos da nossa seleção – desmoralizada, humilhada, contristada e, já a esta altura, com seu prestígio completamente maculado no atoleiro em que nos metemos.

            Hoje, caro presidente, eu estava fazendo um retrospecto do que houve, desde o princípio até a consecução do enterro formidável do nosso futebol.

            Primeiro, o grave erro de entregar-se a São Paulo, o comando-geral do escrete. Afinal, presidente, a Guanabara é incapaz? – Se não, por que a omissão?

            O segundo ato dessa novela desastrosa foi a convocação. Feita às escondidas, pelo bobo Feola e pelo rude Falcão. Tudo à traição, deixando-se no Brasil valores da elite do nosso esporte, em favor de alguns outros afilhados desse ou daquele dirigente.

            Em tudo isso, entrou política e também dinheiro, meu caro presidente.

            A política esportiva está sintetizada na sua omissão, dando a São Paulo o que não era de São Paulo. É que v. s. já tem o presidente Passo na mão, por amizade, auxílio pessoal e outros fatos que tais. Mas, teme São Paulo que, de quando em vez, ameaça formar o eixo com o sr. Rubem Moreira, para derrubá-lo da CBD.

            A política verdadeira, mesma, é a do deputado Mendonça Falcão, que precisa do esporte para eleger-se. Com alguns trocados (dinheiro do governo), ele “molha a boca” dos clubes interioranos e vai conseguindo eleitores.

            Mas, presidente, o deputado Falcão está também com sua posição ameaçada. Brigou com o presidente Helu, do Corinthians, e com o sr. Paulo Machado de Carvalho, capitão do esporte paulista. Então, no momento da convocação, ele procurou com a conivência de v. s., que se omitiu, convocar três corintianos, que não entram, sequer, na minha pelada da praia de Icaraí.

            Com isso, o Corinthians lucrou seis milhões (cota de dois milhões por atleta, que v. s. dá aos clubes que cedem valores para esse escrete de araque).

            Como se vê, teve de tudo essa seleção, veladamente no princípio e ostensivamente no final: política esportiva, política propriamente dita e dinheiro, comprando o silêncio.

            Mas, que fazer? – Seguimos como testemunhas do malogro humilhante do nosso futebol.

            Falta tudo, presidente. Condição técnica, física e disciplina. Aliás, já se disse que a única coisa que sobra aqui é a “pança” do Feola, contribuindo para o excesso de bagagem que a CBD terá de pagar.

            Outra coisa, presidente: o Falcão continua o mesmo. Não respeita ninguém. Nesse giro, ele conseguiu brigar com os jogadores, dirigentes, jornalistas brasileiros, jornalistas estrangeiros, dirigentes estrangeiros e até diplomatas que lhe vão oferecer os préstimos.

            Sua figura exótica se espalha pelas maiores capitais do mundo civilizado, que nem sei bem como explicar. Na confusão de idiomas, nem mesmo o português ele está conseguindo falar.

            Outro dia, presidente, no ônibus, ele quase surrou um jornalista italiano. Chegou a empurrá-lo, para começar a briga.

            Agora, vamos para o Egito, na rota da desgraça. Se perdermos lá, creio que nem volto ao Brasil. Ficarei com vergonha.

            Um abraço respeito do Teixeira Heizer.

P.S. – Presidente: creio que uma delegação esportiva é também uma missão cultural, de relações públicas e humanas. Como conseguir esse objetivo, dando a chefia a um homem que só frequentou o curso das águas do Rio Tietê?”

TIMAÇO


Hoje é dia de agradecer! Entre textos, fotos, documentos e objetos históricos, recebemos muitas colaborações de diversas regiões do Brasil e até mesmo de outros países, nesses primeiros meses de atividade. Por isso, nada mais justo do que homenagear os grandes amigos que ajudam o Museu da Pelada a resgatar lindas histórias! Evidentemente que não cabem todos na imagem, mas não há dúvidas de que cada colaboração é recebida com muito carinho e orgulho e nos deixa ainda mais motivados para ir em busca da poesia perdida!

Valeu, rapaziada!! É só o começo!!

Samarone

OS CANHÕES DE SAMARONE

 

vídeo e reportagem: André Fernandes | texto: André Mendonça | edição: Daniel Planel

André Fernandes, fundador da Agência de Notícias das Favelas, arrumava as malas para visitar a filha Kauanne, em Cascavel, no Paraná, quando a equipe do Museu da Pelada lançou o famoso “já que…”. André pensou “lá vem bomba!” e franziu a testa quando soube do pedido: entrevistar Samarone, ídolo tricolor. Rubro-negro de fé, André safou-se com uma observação relevante: “Topo porque ele jogou no Mengão!”. Ufa!!! Para André, missão dada é missão cumprida. E, nesse caso, comprida, afinal foram 1.300 quilômetros até o Sul do país, região para onde o craque mudou-se há muitos anos e trabalha como engenheiro do DNER (Fundação Departamento Nacional de Estradas de Rodagens). Mas valeu porque teve uma aula de futebol com Wilson Gomes, o menino, que chute após chute, ouvia a expressão “Os Canhões de Samarone” numa divertida comparação com o filme britânico, que fazia sucesso na época, “Os Canhões de Navarone”, com Anthony Queen e Gregory Peck.


André Fernandes e Samarone

Desde moleque Samarone se destacava nas peladas e arrebentava no Flamenguinho, do bairro Campo Grande, em Santos, até ser convidado para integrar a equipe de divisões de base da Portuguesa Santista. Foi nessa época que o amigo Zé Cabeça lançou o apelido que o acompanha até hoje.

– Só os familiares me chamam de Wilson Gomes, até estranho!

Na nova equipe, participou de dois Campeonatos Paulistas, com o intuito de conseguir o acesso do clube para a elite do futebol estadual. Se não teve êxito na primeira tentativa, a segunda não poderia ser melhor. Em 1964, na final contra a Ponte-Preta, em Campinas, o meia fez o gol da vitória e classificou a Portuguesa para a Primeira Divisão. De acordo com Samarone, foi o lance mais importante de sua carreira.

– Além de ter sido importante para a Portuguesa, aquele gol me deu muita visibilidade! Vários clubes demonstraram interesse, mas eu acabei indo para o Fluminense.


Samarone chegou ao Fluminense com 18 anos

A transferência para o tricolor carioca ocorreu em 1965, aos 18 anos. Se por um lado o craque dava um grande salto na carreira, por outro teve que abandonar as peladas na várzea paulista, onde costumava jogar aos domingos, quando estava de folga.

No Fluminense, Samarone fez mais de 200 partidas, se tornando ídolo do clube. Prova disso foi a homenagem recente que o tricolor fez, presenteando o craque com uma camisa personalizada.

Em 70, o meia teve participação decisiva na conquista do Campeonato Brasileiro. Diante de grandes times como Cruzeiro, de Tostão e Dirceu Lopes, e Palmeiras, o Fluminense não tomou conhecimento e se sagrou campeão do torneio.

– Aquele título foi muito marcante! O Brasil havia acabado de ser tricampeão do mundo. As equipes eram muito fortes. Ganhar aquele torneio mostrou a força daquele grupo do Fluminense.


O craque posa com a taça do Campeonato Brasileiro de 70 (Foto: site oficial do Fluminense)

Depois do Flu, o meia se transferiu para o Corinthians, em 71. Na equipe paulista, não repetiu o sucesso do Rio, mas teve grande atuação no clássico contra o Santos, na Vila Belmiro, onde marcou um gol e ajudou a equipe a vencer por 4 a 2. A partida marcou também o reencontro de Samarone com os amigos que eram seus companheiros de pelada na infância.


Entre os grandes clubes, o meia ainda teve uma passagem pelo Flamengo em 73. No rubro-negro, mais um gol contra o Santos ficaria marcado em sua memória.

– Foi um gol memorável, pois o presidente Médici estava na Tribuna de Honra do Maracanã! Vencemos por 1 a 0!

Com o coração dividido entre Santos e Fluminense, Samarone não sabe dizer qual é seu time favorito. De acordo com ele, nos dias atuais, torce mais para um futebol bonito, com dribles e jogadas trabalhadas, do que para o resultado em si.

 

CRAQUES DA SEMANA

Como já era esperado, o duelo entre dois ídolos do futebol mundial foi muito acirrado e teve grande repercussão! O equilíbrio foi tão grande que não houve um vencedor! Veja grandes momentos da dupla!