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COMO SURGIU O TERMO GANDULA?

por Victor Kingma


O futebol é o esporte mais praticado no mundo. No Brasil, especialmente, tornou-se uma paixão nacional, que mexe com a vida e os costumes dos brasileiros.

No início, assim que Charles Muller o trouxe da Inglaterra para o nosso país, em 1894, bastavam uma bola, um campo, onze jogadores de cada lado, um juiz e um apito para que fosse disputada uma partida oficial.

Entretanto, através dos tempos e com a sua crescente profissionalização, várias atividades e profissões foram aparecendo no lastro do nosso velho e bom esporte bretão.

Daí surgiram o narrador, comentarista, repórter de campo, massagista, bandeirinha, roupeiro etc. Todos muito importantes e fundamentais para o brilho desse grande espetáculo que é uma partida de futebol.

Entre tantos personagens ligados ao futebol, um dos mais importantes e populares é, com certeza, o gandula. Aquele a quem cabe a tarefa de devolver a bola ao campo quando ela sai pela lateral ou linha de fundo. Seu trabalho torna a partida mais dinâmica e com mais tempo de bola em jogo.

Mas como teria surgido o termo gandula?

Reza a lenda do futebol que tudo começou em 1939, quando o Vasco da Gama trouxe da Argentina um atacante chamado Bernardo Gandulla. Com problema de documentação, o jogador, assim que chegou, não podia ser escalado para jogar. Entretanto, nos dias de jogos, ficava na beira do gramado assistindo as partidas e, quando a boa saía, ele corria e a devolvia rapidamente para o campo. Sua atitude ganhou a simpatia da torcida que sempre o aplaudia nessas ocasiões.

Com o passar dos anos, essa atividade passou a ser uma constante nas partidas. Sempre que a bola saía alguém perguntava:

– Quem vai dar uma de Gandulla?

Bernardo Gandulla logo retornou para a Argentina, mas os garotos responsáveis para devolver as bolas ao jogo, naquela época, passaram a ser chamados carinhosamente pelas torcidas de “gandulas”. O termo foi, então, se popularizando e se incorporou definitivamente ao vocabulário do futebol.

PÉS NO CHÃO

por Mateus Ribeiro


Tite está invicto no comando da seleção brasileira

Sonhar é bom. Manter os pés no chão, melhor ainda. A seleção brasileira passa por um bom momento. Venceu os últimos jogos das Eliminatórias com autoridade ímpar. O clima é de empolgação por parte de torcedores e da imprensa (como sempre). Não se pode negar que existe a troca de comando modificou muita coisa.

O time, com praticamente os mesmos jogadores, agora rende muito mais, o que causa uma dúvida: será que Neymar e seus amigos faziam corpo mole na gestão Dunga? Claramente jamais ouviremos tal hipótese, visto que agora não temos mais jogadores, e sim heróis de verde e amarelo. É claro que temos bons nomes. Neymar é ao lado de Messi e Cristiano Ronaldo um dos três jogadores que podem carregar um time nas costas. Desses três, o brasileiro é o que conta com melhores companhias.

Não podemos ignorar também que nomes como Gabriel Jesus e Coutinho estão indo muito bem, e enchem de esperança quem tanto sofreu torcendo para o selecionado da Nike durante os últimos anos. O que não pode ser ignorado de maneira alguma é que apesar da melhora evidente no futebol apresentado, os adversários enfrentados estão longe de enfiar medo em alguém.


O trio ofensivo da seleção tem dado trabalho aos marcadores

Apesar da Argentina contar com Messi, já faz um bom tempo que até nos piores momentos da canarinho, os vizinhos são atropelados. De resto, a vitória em Quito contra o Equador merece elogios. Porém, transformaram o triunfo em um desafio de Hércules. Não custa lembrar também que exatos dez anos atrás, estávamos no céu. A seleção era a melhor desde 1982 na boca de muita gente. Os títulos seguidos das insossas Copa das Confederações fizeram muita gente sonhar (e falar besteira) de maneira desenfreada. O resultado todos sabem: em um dia péssimo para o futebol brasileiro e ótimo para Zidane, a França mostrou que oba-oba não vence (e nunca vencerá) nada.

Já exista quem fale em hexa. A possibilidade existe, visto que muitas seleções sofreram declínio nos últimos anos, casos de Espanha, Holanda, Argentina, Uruguai e Itália. Porém, vale lembrar que se aqui as coisas mudaram em apenas seis meses, por lá as coisas podem mudar também. Afinal, até mesmo a falta de organização que tanto contribuiu com o enfadonho 7 a 1 já não aparece mais no discurso dos pachecos.


A corrupção da CBF, que tanto atrapalhava, aparentemente acabou. A seleção atingiu o Nirvana. Tudo isso com vitorias que não são menos que obrigação de quem sempre se orgulhou de ter a camisa mais pesada do futebol mundial, e que atualmente conta com estrelas de cinema que ganham zilhões de reais, dólares e euros. Os adversários também ganham isso? Ganham. Em proporção menor. E Peru, Colômbia, Bolívia e Equador não são obrigados a ganhar da seleção brasileira, mas sim o contrário.

Isso não acontecia com técnicos anteriores? Não. O que não anula o fato de ser obrigação chutar cachorro morto. Não sou nenhum urubu. Não quero jogar praga. Mesmo porque o cenário está muito mais claro do que até meses atrás. Sem cair naquela ladainha de que a seleção voltou a ter o amor, a confiança da torcida, até porque brasileiro não gosta de torcer, gosta de ganhar. Mas as chances de melhora, ao menos nessa geração, são reais.


Oscar é consolado por Lahm após a goleada alemã no Mineirão

O que quero com esse texto é apenas relembrar todos vocês que tempos atrás todos sonharam. Todos falaram muito. Todos já davam como certo o sexto título mundial. Todos caíram do cavalo. E após os tombos (que se repetiram em 2010 e 2014), tudo de ruim foi atribuído a fenômenos do porte de apagão, pane, ao invés de reconhecer que dias ruins acontecem, e que derrotas são possíveis e mais normais do que se imagina. Sonhar é bom. Mas manter os pés no chão evita quedas abruptas.

ELES MERECEM VOLTAR

por Zé Roberto Padilha


Se a diretoria do Vasco conhecesse a importância da Escola de Sagres no descobrimento da América, não faria a travessia para a primeira divisão sob tão frágeis estruturas. Para conquistar o Novo Mundo, o Infante D. Henrique criou, em 1417, uma escola de navegação que os possibilitou alcançar lugares nunca dantes navegados. Rodeou-se de mestres nas artes das ciências ligadas à navegação, formou grandes descobridores e construiu naus seguras para suportar tempestades, marés e calmarias.

Os novos almirantes vascaínos sabiam da duração da viagem rumo à primeira divisão. E seus percalços. Estava no mapa: desembarque no Ceará, depois fazer as malas e enfrentar o Brasil, de Pelotas, na quarta seguinte pegar o Náutico, em Recife, e tentar alcançar o primeiro voo para Salvador, jogar contra o Bahia. Mesmo assim, não reforçaram a estrutura da sua tripulação, que era boa, entrosada, mas sem peças de reposição. Além de não contratar ninguém para o lugar do Riascos, só tinha o Pikachu para entrar nas beiradas, o Diguinho para substituir o terceiro cartão amarelo e cometer penalidades máximas e o Thales para entrar no segundo tempo no ataque. E quando o arqueiro Martin Silva desembarcava no Uruguai, o Jordi cobria o seu lugar. E era só.

Será que alguém no hangar de São Januário, oito séculos depois daquela lição lusitana, acreditou que seus 16 homens que lutaram para não cair em 2015, foram bi-campeões cariocas no primeiro semestre, suportariam 37 novas baldeações pela imensidão do país com 90 minutos cada? Mesmo com o mérito do inegável entrosamento alcançado, que fez com que nós, tricolores, soubéssemos a escalação do Vasco e não a nossa, seria impossível ir tão longe com o mesmo time. E com poucas e previsíveis peças de reposição. Quando subia a placa de mais cinco minutos, como em Criciúma, parecia em seus semblantes que teriam que navegar em mar revolto por mais cinco horas.


Sábado, contra o Ceará, será a ultima etapa de uma travessia sofrida. Fico a imaginar como estão os músculos adutores do Rodrigo, os hematomas dos tornozelos sempre atingidos do Nenê, os joelhos já rodados do Andrezinho. Fora as cordas vocais do Jorginho, a carga do extintor de incêndio carregado nas costas pelo Zinho. Todos estão há mais de um ano sem descanso. Não são feitos de tábuas da Ilha da Madeira, ou construídos com um aço que nem existia. São de carne, osso e fibras. Independente da falta de visão dos seus novos infantes, cartolas descomandantes, a torcida vascaína precisa ir a São Januário, ou ao Maracanã, reverenciar a ultima jornada dos seus heróis e guerreiros. Um dia a história do futebol lhes fará justiça pela dedicação, entrega e capacidade de suportar tantos jogos com um elenco tão reduzido. Todos eles, jogadores e comissão técnica vascaínos, merecem o nosso reconhecimento e respeito ao desembarcarem de volta ao seu Porto Seguro.

Eduzinho Coimbra

EDUZINHO, NOTA 100!

entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça vídeo e edição: Daniel Perpétuo | 

 

Em mais uma tabelinha envolvente, Museu da Pelada e Canal 100 esticaram o tapete vermelho para homenagear Edu Coimbra, o grande Eduzinho, maior ídolo da história do América-RJ!! E, nesse caso, o vermelho do tapete combinou com a cor do tradicional clube carioca. Eduzinho é o terceiro entrevistado do Museu/Canal 100, desde que anunciaram a parceria. Os dois primeiros foram os cruzeirenses Raul e Dirceu Lopes. Ao chegar no Bar Insano, do parceiro Sergio Bragança, na Barra da Tijuca, o craque não conseguiu esconder a felicidade quando soube que veria alguns lances seus, transmitidos pelo Canal 100.

– Caramba! Canal 100? Eu saía de Quintino para os cinemas de Cascadura ou Madureira para me ver jogando. Não levava minha namorada para ela não atrapalhar e torcia para ser algum jogo do América! Nenhuma tecnologia vai conseguir resgatar aquela emoção.

Responsável pelo acervo do Canal 100, Alexandre Niemeyer separou algumas partidas e editou os melhores lances de Eduzinho. As primeiras cenas transmitidas foram entre América e Flamengo, no Maracanã. Numa resenha para lá de descontraída, com muita cerveja, bolinho de bacalhau e pastel, o camisa 10 demonstrou que está com a memória em dia, lembrando de todos os lances e jogadores.

Sobre os duelos contra o Flamengo, aliás, o ex-jogador fez uma revelação bastante curiosa. Sempre com grandes exibições diante do time em que o irmão Zico se tornou ídolo, Edu explicou de onde vinha tanta motivação.

– Eu tinha a obrigação de jogar bem! Se eu jogasse mal, muitos iam dizer que eu tava fazendo corpo mole. Todos sabiam que minha família inteira era flamenguista! O Flamengo era freguês do América naquela época! – disse o artilheiro, explicando depois que a tal freguesia acabou quando Zico surgiu.

Vale destacar que o talento para o futebol corre no sangue da família Antunes Coimbra. Além de Zico, não podemos esquecer do saudoso Antunes, com quem Edu teve a oportunidade de jogar junto no América na década de 60, e Nando, que teve passagens por Ceará e Portugal. Por conta desse “DNA privilegiado”, Edu não tem medo de dizer:

– Nenhuma família no mundo fez mais gols do que a nossa! Tenho certeza absoluta! Só eu, Zico e Antunes já temos mais gols que todo mundo e ainda tem o Nando! – gabou-se, para a risada de todos.

Depois de muitas lembranças, Alexandre “apertou o play” para o segunda atração: Vasco x Fluminense. Assim como o jogo anterior, o clássico carioca ainda estava fresquinho na memória de Edu.

As lembranças, no entanto, não eram das melhores. Naquela partida, Eduzinho reclamou muito da arbitragem de Arnaldo Cezar Coelho. Além de ter sofrido um pênalti não marcado pelo árbitro, o craque do Vasco ainda marcou um gol belíssimo, de bicicleta, invalidado “por estar em posição irregular”.

– Depois daquele jogo, nunca mais falei com o Arnaldo! Anular um gol daqueles foi um crime! E eu fui derrubado na área, sim! Foi pênalti claro! O PC Caju ainda me xingou, falando que eu tinha me jogado!

Quando comentava sobre essa partida, Eduzinho revelou que a grande maioria dos jogadores já entrava em campo procurando os cinegrafistas do Canal 100 e, quando eles estavam presentes, era uma motivação a mais, pois todos queriam fazer lances bonitos para ver no cinema depois.

O terceiro duelo transmitido foi uma das poucas exibições de Eduzinho com a camisa da seleção brasileira: Brasil x Uruguai, pela Taça Rio Branco. Embora fosse diferenciado e tivesse extrema facilidade para balançar as redes, o craque teve o azar de ser de uma geração de ouro para o futebol brasileiro. A grande concorrência no ataque da seleção fez com que Eduzinho não fosse convocado para a Copa de 70, quando vivia um momento mágico no América.

– Eu fiquei bem triste! Eu sei que jogava no América, que não estava entre os maiores do Brasil, mas merecia a vaga! Tinha acabado de ganhar o prêmio de melhor jogador sul-americano, mas acho que fui prejudicado pela ditadura. Minha família sofreu muito no regime militar!

Tendo vestido as camisas de América, Vasco, Bahia e Flamengo, o artilheiro se tornou técnico assim que pendurou as chuteiras, e teve a missão de comandar o time no qual se tornou ídolo, em 1982. Depois de treinar alguns clubes no Brasil, foi se aventurar no Kashima Antlers, do Japão, onde passou por uma situação extremamente engraçada e constrangedora, que pode ser vista no vídeo ao lado!

Além de ter sido um grande craque dentro das quatro linhas, o artilheiro mostrou mais uma vez que também seria titular em qualquer resenha do mundo!

Valeu, Eduzinho!!

 

O ANDARILHO

por Claudio Lovato


Foto: Max Rocha

Pode acreditar: ontem, quando cheguei ao estádio para a minha apresentação no meu novo clube, demorei para responder quando um repórter me perguntou em quantos times eu já havia jogado.

O cara perguntou de repente, tive que fazer um esforço, acho que ele teve até vontade de rir. Ainda bem que era uma entrevista para jornal, porque se fosse para TV ou para o rádio, num programa ao vivo, eu estaria sendo chamado de comédia, teria virado piada. 

Foram 14 clubes.

É, 14.

Saí de casa com 16 anos. Assinei meu primeiro contrato como profissional aos 18. Faço 35 daqui a dois meses. Rodei muito.

Pois é. O meu décimo quinto clube. Fechamos um contrato de dois anos, coisa rara para um jogador da minha idade. Eu tenho sorte. Mas também tenho meus méritos: sempre me cuidei, sempre agi com profissionalismo, nunca me meti em roubada, esquemas para derrubar técnico, essas coisas. Só me preocupei em jogar bola para quem estivesse pagando o meu salário.

Hoje, o Caio Lúcio, meu filho mais velho, me perguntou:

– Pai, você sente a mesma coisa por todos os clubes em que jogou?

Aquela pergunta me perturbou, confesso. Pensei nas minhas entrevistas de apresentação, sempre com beijo nos escudos, pensei nas minhas comemorações de gol com a batida de mão aberta no peito.

– Mais ou menos, filho.


Ele não se deu por satisfeito.

– Mas o seu primeiro clube foi o mais importante, não foi?

Fiquei olhando para a TV enquanto ele aguardava a minha resposta.

– O mais importante foi o que veio antes do primeiro! O time lá do bairro. Depois de lá virou outra coisa! – eu disse, sem pensar muito.

– O time do vô Alberto?

– É. O vô Alberto organizava tudo.

Senti a garganta apertar.

– Quando você parar, você podia organizar um time pra mim, não podia? Que nem o vô Alberto fez pra você? – ele perguntou.

De repente, naquele exato instante, eu me convenci de que queria fazer aquilo mais que qualquer outra coisa na minha vida. 

– Então, ué! – eu disse.

– Ué! – ele disse, e batemos as mãos, num “cinco” bonito.

Nosso papo, nossos códigos. Eu e o velho Alberto também tínhamos os nossos. Tudo tão diferente e, ao mesmo tempo, tão igual. Nostalgia e expectativa, sempre se revezando. Derrotas e voltas por cima. A próxima chance! Arrependimentos e autocongratulações. Passado, presente e futuro no mesmo pacote. A vida.