Resenha Celeste
resenha celeste
edição de vídeo: Daniel Planel
No dia 7 de dezembro de 1966, há exatos 50 anos, o Cruzeiro vencia o Santos por 3 a 2, de virada, em pleno Pacaembu, e se sagrava campeão da Taça Brasil daquele ano. Mesmo podendo perder por até três gols de diferença, visto que tinha vencido o primeiro jogo, em Minas, por 6 a 2, os ídolos celestes não se acomodaram e venceram a equipe de Pelé.
A conquista foi tão marcante que, 50 anos depois, os jogadores se reuniram para comemorar o feito e bater um papo muito bacana! É óbvio que a equipe do Museu da Pelada, junto com os parceiros do Canal 100, não ia ficar de fora dessa resenha!
– Foi o título mais importante do Cruzeiro, porque mudou a história do futebol mineiro – lembra Dirceu Lopes, autor de dois gols no primeiro jogo da decisão.
Goleiro daquele timaço, Raul Plassman não mediu as palavras para exaltar a campanha do Cruzeiro naquele ano. E não era pra menos: Com apenas 45 minutos de decisão, o Cruzeiro já vencia o poderoso Santos por 5 a 0.
– Pegamos Grêmio, Fluminense e fomos atropelando todo mundo, até o massacre no Mineirão – disse, em alusão à goleada no primeiro jogo da final.
Além de toda a resenha lembrando a conquista, os craques ainda assistiram e comentaram os lances daquele massacre histórico, através das belas imagens do Canal 100!
Dirceu Lopes
CRAQUE CELESTE
entrevista: Sergio Pugliese | edição de vídeo: Daniel Planel
Junto com o Canal 100, a equipe do Museu da Pelada participou ontem à noite, no Minas Centro, da festa de comemoração dos 50 anos da conquista da Taça Brasil, atual Campeonato Brasileiro, em 66! Grande destaque da final, contra o Santos, de Pelé, Dirceu Lopes bateu um papo emocionante com Sergio Pugliese!
Tendo vestido a camisa do Cruzeiro por 14 anos, o craque elege o título de 66 como o mais importante da sua brilhante carreira! Além disso, Dirceu afirma que jogar na Raposa foi a maior alegria da sua vida.
– Eu não tenho nem palavras pra expressar a felicidade por vestir a camisa do Cruzeiro por esse tempo todo! Devo tudo a esse clube! Jogar no Mineirão com 100 mil torcedores gritando seu nome não tem preço!
Durante o papo, o ex-jogador revelou um episódio divertidíssimo. Enquanto estava concentrado em um hotel de São Paulo, recebeu a visita de Garrincha, que o elegeu como o maior jogador que viu jogar!
– Eu só não desmaiei porque eu estava deitado na cama quando ele chegou! – disse o craque do Cruzeiro.
A ausência na lista dos convocados para a Copa de 70, sem dúvidas, é a maior frustração de sua carreira. Dirceu, no entanto, afirma que suas glórias e conquistas anulam qualquer tipo de decepção.
– Ouvir do Pelé que eu sou o maior jogador da história do Cruzeiro é muito gratificante!
VINTE ANOS SEM O MAIOR “PELADEIRO” DA IMPRENSA
por André Felipe de Lima
“Se o brasileiro se interessasse por política dez por cento do que se interessa por futebol, esse país estaria salvo”. A frase – convenhamos, com alguma (ou talvez cavalar) dose de sentido – brotou da pena afiada (para uns, obviamente) e nefasta (para outros, naturalmente) do (para incondicionalmente todos) genial Paulo Francis, que hoje, neste sábado quatro, completa vinte anos longe daqueles que verdadeiramente gostam do bom ensaio jornalístico.
Ex-trotskysta, um dos fundadores do Pasquim, nascido em Botafogo, mas torcedor do Flamengo (embora, dizem, jamais tenha ido ao Maracanã), Francis é a marca (provavelmente a última) de um jornalista crítico, ácido e independente… sem amarras.
Foi um grande escritor e um ensaísta devastador, mesmo que sem o devido reconhecimento da inteligentsia tropical. Partiu para Nova Iorque e lá montou seu bunker jornalístico, cuja mira principal era a cultura e política brasileiras. Paulo Francis foi, sem dúvida, uma espécie de anti-herói do nosso jornalismo.
Seu estilo provocativo estimulava o melindre em qualquer desavisado de plantão. Caetano Veloso, por exemplo, tornou pública a desavença com Francis, chamando-o de “bicha amarga”, boneca travada danadinha” e “direitista”. Como definiu Ruy Castro, o entrevero entre os dois gênios foi considerado pela imprensa como a “briga do século”. Piada que Washington Olivetto tratou de rebater com extrema e bem-humorada maestria: “Que país mais chato este, em que os inteligentes brigam e os burros andam de mãos dadas!”
Francis ria quando o definiam como direitista. Foi acima disso ou de qualquer ideologismo de moda. Poderíamos defini-lo como um “peladeiro” das letras e da imprensa, que batia um bolão, mas sofria com os preconceitos de um conservadorismo ideológico que, de certa forma, ainda perdura em muitas redações.
Se estivesse vivo, acharia bacana o que a moçada que estuda jornalismo na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) criou em sua homenagem: a Copa Paulo Francis (CPF) de futebol, uma verdadeira pelada bem resolvida. Ah, também há para as moças… a Copa Patrícia Poeta. Francis exclamaria resoluto: “Waaal…”.
Para conhecer um pouco mais sobre a Copa Paulo Francis, vá lá no blog abaixo:
http://copapaulofrancis.blogspot.com.br/
AS CARAS DE QUEM SOMOS
por Zé Roberto Padilha
Somos o que lemos, já disse um dia o poeta. Ou foi o profeta? Pouco importa, eles estavam certos. Porque nos anos 70 o país do futebol prendia e torturava seus filhos e não teve um só ídolo de chuteiras a levantar a voz e tirar seu torcedor socialista do pau-de-arara. Saíram às ruas os estudantes, entraram em greve os metalúrgicos, os ferroviários, todos os operários, mas nenhum Pelé ocupou o show do intervalo para denunciar a tortura. O sumiço do Herzog. Em meio a esta pavorosa omissão, Democracia Corintiana, Afonsinho e Movimento Passe Livre foram focos isolados de resistência prontamente abafados pelos cartolas.
Nas concentrações dos clubes de futebol os jogadores não liam Movimento, Pasquim ou Opinião. Eles liam Contigo, Jornal dos Sports, Tio Patinhas e Manchete. Não a de variedades, política e sociedade do Arnaldo Bloch. Mas a esportiva que só continha futebol. Tão violento foi o descaso da minha classe que o ditador da vez, Emilio Garrastazu Médici, teve a petulância de trocar o comando da seleção porque João Saldanha era comunista. Em seu lugar imporia a CBF um treinador que levasse Dadá Maravilha ao México. Era um bom atacante, cabeceava bem, tinha passadas largas e um certo domínio de bola, masna época era o melhor ópio do povo que o futebol concebia nas tardes de domingo. O que distraia as massas enquanto as bombas explodiam no Riocentro.
Nosso país, hoje, encharcado de corrupção e desmandos, também reflete o que seus filhos lêem: enquanto a Bíblia Sagrada vende apenas 500 mil exemplares por mês, segundo a Sociedade Bíblica do Brasil, a tiragem da revista Caras bateu 860 mil em janeiro. E a Quem Acontece chegou a casa dos 650 mil. De um lado o livro mais vendido no mundo, a cartilha da fraternidade que desde o primeiro exemplar tem orientado a humanidade a dividir o pão e o vinho. De outro, uma exposição da vida das celebridades, riqueza e ostentação dos que vivem a esconder o pão e colecionar vinhos. Para ficar bonito na capa, aplicam botox e trocam a fiel escudeira por uma Joelma mais nova que vai aparecer deslumbrante em suas páginas ostentando um vestido Dior.
Eike Batista não leu a Bíblia. Ele é a cara, e o mau exemplo, de quem acontece em nosso país. Deu uma Ferrari para o filho e não lhe deu educação para dirigir, preferiu investir em uma banca de advogados e subornar o radar da reta oposta da Washington Luis. Seus companheiros de cela, que não tiveram oportunidade de estudar, não entendem como aquele homem foi parar ali. Ter uma mansão com dez suítes e defecar de cócoras sob o olhar do deboche. Ter no cardápio lagostas e medalhões do Copacabana Palace e comer bóias requentadas que o estomago não reconhece.
A vida é mesmo assim. Somos o que somos. E o que lemos. Mas quando o homem, e a mulher, se dedicam apenas a serem lidos, vistos e admirados, e para tal precisam negociar valores éticos e morais, corromper e serem corrompidos, chegou a Lavo Jato a hora de pegar o manual da humildade. Ao trocar a Ilha de Caras pelas celas de Bangu, Eike, Cabral, Eduardo Cunha e Cia vão ter tempo de sobra para rever conceitos e ler a Bíblia emprestada do detento ao lado. Que Deus os perdoe e nos proteja.
MEU CORAÇÃO
:::: por Paulo Cezar Caju ::::
Rogério, Gerson, Roberto Miranda, Jairzinho e PC Caju
Volta e meia ouço torcedores resmungando….”esse time ainda me mata!!!”. Os do Vasco devem ter repetido isso exaustivamente na partida contra o Fluminense. Tomara que não tenha morrido ninguém.
Convencido por amigos franceses e por Amauri, da pelada de Jacarepaguá, acabei indo ao Engenhão assistir o meu Botafogo contra o Nova Iguaçu. Jogo horroroso, mas horroroso mesmo. Se fosse cinema os críticos colocariam aquele bonequinho indo embora. No intervalo fui comer um cachorro-quente e alguns torcedores se aproximaram. Queriam minha opinião sobre o jogo.
Peraí, mas eles não estavam vendo? É preciso eu dizer o óbvio? Querem que eu desenhe?
Na verdade, perguntam para me irritar, conhecem o tamanho do meu pavio. Resultado, aconteceu um bate-boca. Os caras me chamaram de nostálgico, saudosista essas coisas que todos estão cansados de saber que sou mesmo. E sou mesmo!!!! Fui embora do Engenhão, larguei meus amigos lá. Peguei o trem, o Metrô e casa!!!! Me estressei, sei que preciso me controlar.
De madrugada, chegou a conta do aborrecimento: senti uma pontada no peito, no meu coração botafoguense. Sozinho, me deitei no chão e tentei relaxar. Para isso, claro, não pensei no futebol atual, mas no de Garrincha e Amarildo. Isso me faz bem, fazer o que? Fui para o Copa d´Or e fiz uma bateria de exames. O médico disse que tenho ondas invertidas. Ainda bem que não puxou assunto sobre futebol. Sangue bom, tudo em cima, só preciso controlar o colesterol e…..a paciência.
Preferi nem assistir o jogo ontem, estreia da Libertadores. Ganhando ou perdendo o coração dispara. Botafogo, assim você me mata!!!
– texto publicado originalmente no jornal O Globo, em 02 de fevereiro de 2017.