A FORÇA DA POESIA
:::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
(Foto: Nana Moraes)
O duro é ter que ouvir José Mourinho, técnico do Manchester United, declarar após a conquista da Liga da Europa sobre o Ajax, que poetas não conquistam títulos. É a comprovação do engessamento da arte.
Qual a diferença dos marcadores que o nosso Mané Garrincha entortava para os de hoje, que não conseguem alcançar o Messi? Os “especialistas” insistem em dizer que os craques do passado não teriam vida fácil hoje. É muito desagradável ouvir essas baboseiras.
O que houve ao longo dos anos foi um dever de casa bem feito pelos adeptos do futebol força e, talvez por isso, os técnicos italianos, seus maiores garotos-propaganda, sejam os mais valorizados do mundo. Não gosto do estilo, mas isso é o mais gostoso do futebol, o confronto de escolas. E a Itália cumpre muitíssimo bem esse papel do ferrolho.
Romário disputa bola com Baresi na final da Copa de 94.
Perguntem ao Romário quem foi seu melhor marcador e ele dirá Baresi. Reparem quem dirige os melhores times do mundo. Marcello Lippi foi campeão do mundo em 2006, após fazer um trabalho excelente na Juventus. Em 2011, Roberto Mancini foi campeão pelo inglês Manchester City. Claudio Ranieri deu o título inglês de 2016 ao Leicester. O que dizer de Carlo Ancelotti, campeão pela Juve, Milan, Chelsea, PSG, Real Madrid e Bayern???? Agora temos o Antonio Conte, atual campeão pelo Chelsea, e o Massimiliano Allegri, da Juve.
Por que esses técnicos são tão valorizados? Porque aprenderam a criar sistemas defensivos fortíssimos para impedir a penetração de jogadores talentosos como, por exemplo, Neymar .
Na final de 70, quebraram a cara, kkkkk!!!!
Aprenderam a ganhar títulos se defendendo. Mas vale a reflexão: como furar esses bloqueios fortíssimos? Investindo cada vez mais no futebol-arte, na tabela rápida, na velocidade e no preparo físico, sim! Os atletas sem técnica estão cada vez mais preparados fisicamente.
O Barcelona é o melhor exemplo de que o futebol-arte ainda tem espaço. O Messi é um velocista, mas sabe o que fazer com a bola, pensa antes desses zagueiros-robôs programados para marcar e dar carrinhos. O Iniesta é franzino, mas sua rapidez de raciocínio é espantosa. O Pelé tinha um preparo físico invejável e, por isso, superava os brucutus.
Moral da história? Treinem, craques, treinem porque a turma do futebol-força está fazendo o dever de casa direitinho e precisamos provar que não há muros capazes de frear nossa poesia.
– texto publicado originalmente no jornal O Globo, em 29 de maio de 2017.
Alex Kamianecky
XERIFÃO DO BEM
entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | fotos e vídeo: Guillermo Planel | edição de vídeo: Daniel Planel
No último sábado, a equipe do Museu da Pelada levantou cedo! Embora o compromisso fosse apenas à tarde, a ansiedade pelo encontro era tanta que fomos os primeiros a chegar ao evento, na verdade ao bar vizinho da Livraria Folha Seca, onde “Alex Coração Americano – O Campeão do Jogo Limpo”, biografia de Alex Kamianecy, o maior e mais leal zagueiro da história do América-RJ, seria lançada. E o dono do bar se deu bem porque quando o autor chegou, o americano roxo Silvio Kohler, eu, Sergio Pugliese, Guillermo Planel e Alexandre Niemeyer já estávamos na décima gelada.
O escritor Silvio Kohler e o zagueirão Alex
– Sou do Sul e adoro uma loura. Desce mais uma! – já chegou avisando Silvio enquanto puxava uma cadeira e juntava-se a nós e a Rodrigo Ferrari, dono da Folha Seca, a mais carioca das livrarias.
Aos poucos a Rua do Ouvidor foi tomada pelo vermelho das camisas dos torcedores. E eram muitos!!! Quem diz que essa torcida é pequena engana-se. É grande e fiel às tradições. Por isso, os gritos de “Sangue” na chegada do grande ídolo. Aos 71 anos, bronzeado e malhadão, chegou caminhando lentamente, elegante e discreto, da mesma forma como atuava, apesar da força física. Rapidamente o cercamos para a esperada entrevista e mandamos na lata, talvez inspirados por tantas Originais.
– Zagueiro que se preza recebe Belfort Duarte?
O troféu era destinado aos jogadores mais leais do campeonato e ironizado por zagueiros-zagueiros como Moises, do Vasco.
– Acho que segui o caminho certo, era o meu estilo.
(Foto: Reprodução)
E seguiu mesmo. Pelo América, foram mais de 600 jogos e o título da Taça Guanabara de 74. Em 77, recebeu o prêmio Belfort Duarte e figurou entre os 40 pré-convocados para a Copa de 70, mas não fez parte da lista final, assim como seu parceiro Eduzinho, que prestigiou o evento e, assim como Alex, considera essa ausência de 70 o momento mais triste da carreira.
Para lhe arrancar um sorriso, no entanto, basta falar do América. Se alguém ainda tem dúvidas da paixão de Alex pelo clube saiba que quando o xerifão do bem se transferiu para o Sport, após mais de 10 anos no Mecão, exigiu uma cláusula no contrato para não entrar em campo contra a ex-equipe.
– O América sempre fez parte da minha vida.
Por tanta dedicação e lealdade com os companheiros, Alex se tornou um ídolo incontestável do clube. Por isso, a onda vermelha e branca ia tomando cada vez mais conta da Rua do Ouvidor para conseguir um livro autografado do craque. Uma forma, talvez, dos saudosos torcedores relembrarem os anos gloriosos do Mecão, que hoje está na Série B do Carioca e não disputa nenhuma das divisões do Brasileirão.
Alex e Tia Ruth.
– O América é fora de série!! – ironizou um torcedor.
Torcedora símbolo do alvirrubro, Tia Ruth, de 92 anos, precisou segurar a emoção ao abraçar seu maior ídolo, entregar duas rosas – uma branca e outra vermelha – e cantarolar em seu ouvido uma música de Roberto Carlos:
– Eu tenho tanto pra lhe falar / Mas com palavras não sei dizer / Como é grande o meu amor por você!
Alex chorou e retribuiu o carinho da torcedora com sorrisos sinceros e uma longa dedicatória em sua biografia. A fila de autógrafos já dobrava a esquina. Álvaro Canhoto, lenda do futebol de salão, era um desses fãs. Eduzinho Coimbra, outro. A torcida entoava ”Hei de torcer, torcer, torcer, hei de torcer até morrer…”. Guillermo Planel registrava tudo com sua câmera, Pugliese comentou comigo sobre o belíssimo hino do América, composto por Lamartine Babo, “o mais bonito de todos”, segundo ele, em seguida chamou o garçom e em homenagem ao Mecão brindamos mais uma.
OLHAR REQUINTADO
Como muitos brasileiros, Adriano Ávila respira futebol desde a infância. Quando garoto, passava a maior parte do tempo jogando peladas com os amigos e, como os polêmicos craques, só perdia a paciência quando lhe exigiam maior dedicação na marcação. O outro passatempo de Ávila era o “Futbox”, um jogo de botão adaptado com caixinhas, que ele mesmo inventou aos nove anos. O que ninguém sabia, no entanto, é que esse simples se tornaria o maior conteúdo ilustrado do mundo sobre futebol: o Projeto Futbox.
Com um talento fora do comum para uma criança, Ávila montava caprichosamente as equipes no futebol de botão. Os jogadores da seleção brasileira, por exemplo, eram formados por peças amarelas sobre as azuis. Assim como os alemães entravam em campo com as cores brancas e pretas.
– Com o tempo percebi que tinha uma ótima oportunidade diante de mim, que era juntar minha paixão, o futebol, com minhas expertises, que são ilustração, design e posteriormente gestão de marca.
A partir daí, passou a se dedicar ao projeto e as intensas pesquisas com o intuito de tratar o futebol da forma como ele merece, como ele mesmo define. Em 2006, junto com o amigo Fred Paulino, publicou a primeira investida com a marca e o acervo Futbox, tratava-se do futbox.art.br, site sobre a Copa da Alemanha.
Cinco anos depois, montou uma sociedade com os parceiros Salomão Filho e Bernardo Werneck para a criação do portal. Contudo, para organizar os 20 anos de pesquisas e ilustrações, além do desenvolvimento da navegação, design, iconografia, banco de dados, entre outros detalhes, contou com o apoio de cinco profissionais: Gustavo Varela, Ramon Nogueira, Angellys Silva, André Fidusi e Gabriel Godoy.
O projeto inovador partiu do princípio de pesquisar, catalogar e ilustrar a história do futebol brasileiro e mundial, ampliando o conhecimento do torcedor sobre a história dos clubes, como consta na descrição da página no Facebook. Para se tornar o maior acervo ilustrado do mundo, foram necessários 25 anos de pesquisas sobre simbologias e conquistas dos principais clubes dos cinco continentes, todas as seleções que participaram das Copas do Mundo desde 1930, além de todos os campeonatos que marcaram época no Brasil e no mundo.
– Minha relação com o futebol mudou muito depois do Projeto Futbox. Hoje assisto a poucos jogos, bem pontuais, e quando assisto, presto muita atenção no comportamento da torcida, sua interação com as arenas, quem são os patrocinadores que aparecem nas placas, o design dos uniformes, como a aplicação do escudo ou do patrocinador aconteceu, se está em harmonia com a camisa, etc.
De acordo com ele, o futebol moderno está muito menos romântico e tem afastado a “casa das máquinas” dos estádios, ou arenas.
– O Brasil está elitizando o acesso aos jogos e isso pode provocar um desinteresse do “povão” no esporte, exatamente o nicho que fornece os craques para a disputa de jogo.
Outra crítica feita pelo craque foi em relação ao calendário brasileiro. Segundo ele, a alternativa seria se espelhar no modelo europeu. Sobre o tema, Ávila, que diz ter tomado gosto pela escrita durante o desenvolvimento do Futbox, fez uma pesquisa detalhada e publicou uma análise bacana no site.
Vale destacar ainda que ele foi o responsável pela revitalização visual do América-MG. Com uma boa relação com o clube, desde que procurou os dirigentes para apresentar o Futbox há alguns anos, Ávila recebeu com orgulho o convite para desenvolver o projeto.
– Foram mais de seis meses de muita pesquisa, consulta em projetos internos e acervos do clube até chegar à fase final, onde apliquei o conceito dos 3T$: Tradição, Torcida e Troféus, metodologia de trabalho que venho desenvolvendo, que é a gestão da marca de um clube de futebol através da sua identidade visual.
Por fim, ao ser perguntado sobre quem era seu maior ídolo no futebol, provou que tem um olhar diferenciado ao eleger Tostão, não só pelo desempenho do craque dentro de campo, mas também por sua personalidade:
– O melhor do Tostão, para quem não conhece, não é rever seus lances no Youtube, e sim ir a qualquer livraria e ler um dos seus livros. É algo sensacional para quem gosta de futebol, mas não fica só olhando para a bola.
Futbox
O AEROPORTO DE ITABUNA
por Zé Roberto Padilha
Zé Roberto Padilha
Era um sábado ensolarado do mês de junho e o avião da Varig (lembram-se dela?) se aproximava do Aeroporto Luis Viana Filha, em Itabuna, Bahia, trazendo a delegação do CR Flamengo, que iria fazer um amistoso inaugurando o novo estádio do clube. E como se tratava de Flamengo, dava para ver da janelinha aquelas formiguinhas carregando suas bandeiras vermelho e preta em volta da pista. Estou falando de 1976, naquela época as pessoas recebiam os passageiros da Varig, Vasp e Transbrasil à beira da pista, não tinha aquela passarela suspensa, era olho nos olho, emoção do torcedor na cara do jogador.
Nas ultimas poltronas, após o sambinha do fundo homenageando nosso Merica para desespero das aeromoças, o filho daquela terra que chegara à Gávea ao lado do Dendê, eu e meu parceiro Toninho Baiano. Já jogador da seleção, Toninho, então assíduo do Charles de Gaulle, Orly, e aeroportos cheios de estilo como o de Roma e de Madrid, virou-se para mim e disparou:
– Já pensou, Zé, você chegando nesta “babinha” não mais para jogar, mas de mala, para ficar de vez por aqui.
Não concordei, nem discordei, apenas sorri. Meu silêncio foi de uma cumplicidade e arrogância do mesmo tamanho.
Aeroporto de Itabuna
E descemos aquelas escadas anestesiados pela glória passageira como eterna fosse. Porque jogador de futebol vive seus 15 anos máximos de glória fora da realidade econômica do seu país e da sua família, ou vocês acham que o Gum (120 mil reais/mês), Henrique (160 mil reais/mês) limitados zagueiros do Fluminense, que ganham 4 vezes mais do que nosso mais alto magistrado, não seriam protagonistas, hoje, da mesma história? Perguntem a eles, no fundo do jatinho fretado do Flu, durante a Copa do Brasil, se eles fossem jogar contra o Asa e desembarcassem no aeroporto de Arapiraca não para o jogo de ida, mas para ficar por ali, ganhando salário normal, de um jogador trabalhador da segunda ou terceira divisão do nosso futebol?
A partida entre Flamengo x Itabuna levou 40 mil pessoas ao também estádio Luis Viana Filho no dia 25/01/76, poderoso nome de uma raposa política capaz de batizar aeroportos e estádios, e o placar foi de 5×0 pro nosso time (Luizinho, aos 8, Zico, 17 do 1º tempo, e Caio aos 24, 27 e 32 do 2º), e saímos dali nos braços queridos dos baianos, levando aquele diálogo de fundo de avião como uma norma taxativa da irrealidade em que vivíamos.
Daí fui para o Santa Cruz, em Recife, dois anos depois machuquei meu joelho, operei em uma época em que a medicina retirava todos os meniscos no lugar de isolar apenas sua parte lesionada, preservando aquele fundamental órgão de amortecimento, e acabei colocado em disponibilidade no mercado esportivo. Minha esposa estava grávida da nossa primeira filha, a Roberta, quando desembarquei de uma excursão à Arábia Saudita com o Santa Cruz, onde meu joelho não mais respondia aos apelos do meu pulmão para correr pelo campo todo. Sem ele, restou-me o currículo para atrair clubes ainda interessados. O primeiro foi o Bahia. Fui para Salvador realizar exames médicos e escolher apartamento. Ainda arrumava as malas quando um diretor do Santa Cruz me abordou com aquele velho chavão:
– Tenho duas notícias, uma boa e a outra ruim. Qual delas prefere?
A ruim era que o departamento médico do Bahia vetara minha contratação. A boa era que um clube baiano, diante da recusa do seu rival no estadual, pagava o mesmo preço. Sem exames médicos. Este clube era o Itabuna FC.
Quando o avião me levou, três anos depois, de volta para aquele aeroporto, desta vez para ficar, com a mala cheia de vergonha e um pensamento no preconceituoso diálogo travado com o Toninho, não consegui esconder minhas lágrimas quando a cidade parou numa quarta feira para assistir nosso primeiro treino. Tratava-se da principal atração do clube do cacau para o estadual da primeira divisão baiana de 1979 e no primeiro toque na bola senti meu joelho. E eles respeitaram minha saída cabisbaixa do treino, ajudaram na minha recuperação pelo SUS, incentivaram meu retorno e a manter, até o final do contrato, um salário digno de um trabalhador já então pai de família.
Naquele ano não foi apenas a Roberta que nasceu, mas uma lição definitiva de humildade explícita foi incorporada a vida da gente. Aquela “babinha” foi o lugar que me acolheu e desnudou o quanto são “bobinhos” os que se deixam seduzir pelo efêmero poder de ser um dia jogador de futebol do Flamengo.
ADEUS, MARACANÃ!
por Zé Roberto Padilha
Zé Roberto Padilha
Estava de férias na casa de minha irmã, em Angra dos Reis, quando recebi um convite para defender o time dos marinheiros. O pessoal do cais soube por ela que jogara bola e havia um clássico local no sábado, no Frade, contra o campeão da liga amadora. Estava com 42 anos e havia encerrado minha carreira no Bonsucesso FC, sete anos antes, mas jamais deixei de exercitar-me, apesar do joelho trioperado requerer extremos cuidados. A chuteirinha, já desgastada, sempre nos acompanhou nas viagens e não seria problema, estava no carro além do kit sobrevivência formado por um tubo de Balsamo Bengué, com salicilato de metila, um envelope de Rehidrat e cápsulas de Cebion.
Quando cheguei ao estádio, modesto e pouco gramado, tomei até um susto. Casa cheia, gente saindo pelo ladrão, deveria ser o programa obrigatório daquele balneário simples que sustenta os hóspedes dos reis que Angra acolhe com seus marinheiros, cozinheiras, porteiros e babás. Ou se tratava de uma revanche que pouco comentaram a respeito. No vestiário, pedi a camisa 11 para ficar a vontade e me posicionei aberto na ponta esquerda aquecendo. O lateral direito que me marcaria, não estava em sua posição, mesmo diante da saída iminente da bola a nosso favor, batia papo com o zagueiro central. Seu comentário passava em letras garrafais no telão imaginário:
– Olha o coroa que vou pegar. Acho que hoje vou deitar e rolar!
Pedi que me passassem a bola, recebi um pouco a frente e parti em velocidade pelos caminhos abertos, e em cinco toques estava na cara do goleiro. O lateral só notou que a partida começara no terceiro toque, pois no quarto já passara por ele e no quinto chutava a bola com raiva para o gol (onde já se viu, não respeitar o meu passado?) .O goleiro defendeu, ela voltou em minha direção e entrei com bola e tudo. O silêncio do estádio só foi interrompido com a bronca que todo o time dera no lateral, que subestimara o velhinho, e o gol mais rápido da história do Frade fora registrado naquela tarde.
Gato preto contra rato calvo, a partir daquele momento começou a caça do lateral sobre mim. E ele pagou cada pré julgamento com deslocações constantes, passes precisos e um preparo físico que ele jamais imaginou enfrentar diante dos amigos que debochavam dele o jogo todo junto ao alambrado. Vencemos a partida e no dia seguinte meu joelho, inchado e dolorido, contrastava com o orgulho de ter feito um grande jogo.
Descobria ali que não é o ostracismo que nos atiram após a profissão que nos machuca. É o oxigênio do prazer de exercer uma vocação que desde menino se aflora e nos destaca. Sem a bola nos pés, somos mais um respirando o ar das multidões. Trata-se da meta atingida pelo caixa da Caixa, a petição triunfal, a nota 10 do doutorado, o reconhecimento do chefe. A promoção que pede um brinde e uma comemoração. Cada um com seu dom, e ele te diferencia, te faz importante e justifica sua presença aqui na terra.
(Foto: Flickr Fabian Ribeiro)
Demorei quinze anos buscando este oxigênio por gramados cada vez mais vazios. E trazendo de lá as articulações, e o conceito duramente alcançados, cada vez mais comprometidos. Até que meu pai, à beira de um dos últimos embates, nos chamou a atenção pelo tempo da bola que se perdia, a passada que se desconectava do lançamento, o domínio e a habilidade que as lesões impediam.
– Você, meu filho, tem um nome a zelar. Está na hora de parar!
Desde então resolvi estudar. Primeiro jornalismo, agora História. Escrever o que vivi e não mais empanar o que joguei. Nunca mais encontrei um lateral daqueles para enfrentar a não ser em sonhos, e das lembranças do Maracanã, nem ouso por perto passar. Dizem que é lindo no padrão FIFA, mas fico a imaginar o que fariam, hoje, Gerson, Rivelino, Paulo Cézar Caju e Zico com um gramado daqueles, um Rodrigo na zaga, uma bola tão leve e uma chuteira que parece uma pluma? Assistam Pelé Eterno, certamente se aproximariam do ET que faz o papel principal.