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HOW MUCH IS THIS?

por Zé Roberto Padilha


Era uma jogada boba disputada em um treinamento de dois toques, terça-feira, no Estádio do Arruda, às vésperas do embarque do Santa Cruz FC para o Maracanã, onde enfrentaríamos no dia seguinte o Fluminense pelo Campeonato Brasileiro de 78. Aos 26 anos, na melhor fase da carreira, pretendido pelo Internacional, fui disputar a jogada com o freio de mão puxado, mas Pedrinho, um lateral esquerdo gladiador, que veio do Bangu, entrou dividindo de verdade. E dividiu, naquele lance, os rumos da minha carreira ao acertar meu joelho esquerdo. Nunca mais fui o mesmo. Passei por várias cirurgias depois que a primeira foi uma barbárie cometida por um plantonista do SUS, já que o DM do Santa Cruz esgotara seus recursos e ainda colocara em cheque minha contusão. 

Em meio a tratamentos, dificuldades para a renovação do contrato, cobrança da imprensa que questionava minha ausência na ponta esquerda, eis que surge para o clube coral uma proposta de excursão a Europa e Arábia Saudita. E vinte e uma passagens foram disputadas como jamais vi em minha vida. Sem condições clínicas, soube que precisariam de um intérprete. E não fiz por menos: na semana que antecedia o embarque, ao chegar ao clube para tratamento, passava pela sala do supervisor Edgard Campos e soltava: “How are you, my friend? Good Morning” O supervisor do clube, assustado com tamanha intimidade com a língua que abriria os caminhos lá fora, exclamava: “Caramba, Zé, você fala inglês?” Sempre estudei muito inglês e nunca falara. Acho que ele circulava dentro do meu corpo e só não se aproximara ainda da língua. Mas naqueles dias eu precisava gastar o pouco que sabia. Convenci uma banca pouco exigente e embarquei para a melhor excursão da minha vida.


Excursão do Santa Cruz

Não foi difícil minha tarefa. Carregar aquele bando de homens pelas ruas de Ryad, Doha e Dubai entre barracas de ouro, pedras semi preciosas, e diante de uma balança dizer apenas a palavrinha mágica: “Abra-te sésamo!” Isto é “How much is this?” Mas minha pior atuação foi acumular como guia turístico. Três anos antes havia estado em Paris com o Fluminense. E entre assistir Emannuele, com Silvia Kristel, e comprar um LP do Black Sabbath mais um pôster da reta oposta de Monza com Cevért, Hill, Regazzoni e Bruce MacLaren disputando a ponta, fiquei com o LP e o pôster, desprezando a pioneira da sacanagem explícita nas telinhas.

Na volta ao Brasil, poucos me perdoaram por não assistir o primeiro dos filmes eróticos de todo o mundo, proibido no país pela censura militar e alvo de cobiça em qualquer conversa na cidade do Rio de Janeiro. Foi imperdoável perdê-lo e não tirar onda nas rodas do La Mole, na New York City Discotheque, mas na outra oportunidade que se apresentava, disse aos meus colegas pernambucanos: “Nada de dormir na escala em Paris, todos ao cinema!”. Consegui levar oito deles comigo enquanto outros se recolheram para seus quartos. Nas telinhas de 1978, na Montparnase, em estreia mundial, a novidade era Superman. Mesmo com as legendas em inglês, o áudio em francês e o personagem principal passando na velocidade da luz, poucos entenderam o filme, mas o intérprete insistia: “Vão tirar onda em Boa Viagem. Nós vamos ver o Super-Homem antes de todo mundo!”. Eles acreditaram em mim, entraram calados, saíram mudos e nunca mais acertaram o fuso horário.

Depois da 28 dias em Paris, Grécia e Emirados Árabes, retornamos ao Brasil. A delegação seguiu para Recife carregados de ouro, histórias, recordações e eu desci em Salvador carregado de incertezas para negociar um contrato com o Bahia. Despedi da delegação no Galeão, mas quando desembarquei na capital baiana notei que entre os outdoors espalhados ao longo da pista, um deles convidava para uma pré-estréia mundial: Superman. Fiquei imaginando meus convidados querendo aqueles poderes para voar lá dos Guararapes e vir me enforcar na Bahia. Está certo que jogador de futebol não pensa, reza a lenda, mas poderia ter feito um esforço naquela ocasião: “Porque a censura iria implicar com o homem de aço se nem a Mirian Lane ele levou para a cama?”


Zé Roberto Padilha

Como era de carne e osso e meus meniscos danificados de cartilagem, fui vetado pelo DM do Bahia e desembarquei desempregado nos Guararapes. Carregava um pôster da F1, um LP de Rock Progressivo, uma pulseira de ouro para minha esposa, uma cordão para minha primeira filha e uma certeza: para sobreviver no planeta em que seus heróis da bola são esquecidos quando saem de cena, precisaria mais do que noções em inglês. Quem sabe superpoderes para entender o idioma da ingratidão e da falta de oportunidades que encontraria dali pra frente. Aí foi a minha vez de perguntar pra vida: How much is this?

GOL COM GOSTO DE PEIXE

por Serginho 5Bocas

Aquele campeonato de futebol de campo que o várzea organizou em 1992 foi histórico para o time das 5bocas.

Fomos campeões invictos com uma campanha de seis vitórias e um empate, tendo ainda o melhor ataque com 28 gols, a melhor defesa, sofrendo apenas cinco, além da artilharia do atacante Ivan. Mas o melhor daquele campeonato foi a partida final, no dia 21 de julho de 1992.

Estávamos embalados e todo mundo queria jogar naquele time. Se não me engano e não me falha a memória, a escalação do esquadrão era essa aí embaixo:

Fernando (o português), Manel (caolha), Paulão (Aldair), Jorjão e Pezão; Marcelo (cabeção), Serginho (5bocas) e Jaime (Vanusa) Alexandre, Anibal do Engenhão ou Ivan e Jurandir.


Na final, vencemos o Urupema por 7×2, com um esquema 4-3-3 para lá de ofensivo, com uma zaga firme que arrepiava quando precisava, com dois pontas bem abertos e um meio de campo leve e de muito toque de bola.

O melhor da história foi que no intervalo, quando o jogo já estava uns 3 ou 4 a zero para nós, Arnaldo (o pepeta), mistura de técnico, mecenas e reserva de luxo, lançou o desafio: vou entrar no meio do segundo tempo e se alguém me der o passe para marcar um gol, vou bancar todo o peixe e a cerveja que o time for capaz de consumir.

Arnaldo entrou com uns dez minutos da segunda etapa e acho que ele nunca recebeu tanta bola para fazer gol, só que um misterioso azar o perseguiu durante toda a partida. O cara chutava, cabeceava e nada, a bola não queria ajudar a rapaziada a comer um pescado de jeito nenhum.

Um desespero já tomava conta de todos quando lá pelas tantas, pênalti para o nosso time e quando eu já me preparava para cobrá-lo, como em todos os jogos, a “fera” chegou perto de mim e ordenou: deixa que eu faço!

Quem sou eu para minar tanta convicção? Tudo pela causa.

Não vi mais nada, só sei que o “pepeta” fez o gol de pênalti meio chorado e nunca na história deste país se viu tanta comemoração por um gol, mesmo que tenha sido o sétimo de uma sonora goleada.

De noite, a peixada comeu solta, regada a muita cerveja gelada e refrigerantes tudo na conta do Arnaldo.

Nunca um gol teve tanto sabor….de peixe!

ÁRBITRO DE VÍDEO: O FUTEBOL ENTRA FINALMENTE NA ERA DA TECNOLOGIA. OU A CONFUSÃO VAI AUMENTAR?

por Cesar Oliveira


Livro de regras do futebol

O futebol talvez seja o esporte que mais resiste à mudança de regras. As primeiras, de 1863, eram de um tempo em que o association e o rugby se confundiam.

Em 1865, a revista Bells Life publicou 14 regras, formuladas em reunião da Federação Inglesa de Futebol, em 26 de outubro de 1863, e que serviriam de base para a formulação das 17 regras atuais.

Meu ídolo-mór no futebol, João Alves Jobim Saldanha, que estaria completando centenário de nascimento no próximo dia 3 de julho, era um ferrenho adversário dos “velhinhos” da International Board.

A International Football Association Board – IFAB é o órgão que regulamenta as regras do futebol. A associação foi fundada no dia 6 de dezembro de 1883, após um encontro em Manchester da The Football Association (Inglaterra), da Scottish Football Association (Escócia), Football Association of Wales (País de Gales) e da Irish Football Association (à época, representando toda a Irlanda; hoje, somente a Irlanda do Norte).

Segundo ele, os “velhinhos” não estariam dispostos a permitir qualquer modificação nas regras, de modo a fazer o futebol acompanhar os tempos, e se tornar moderno, sem perder as regras jamais.

Essa questão que está sendo levantada agora sobre o árbitro de vídeo no futebol me levanta muitas e graves dúvidas sobre as regulamentações que a corrupta FIFA propõe implantar até a Copa de 2018.

Sentem-se à mesa de um botequim os boleiros, entendidos, jornalistas, enfim, as centenas de milhões de brasileiros que entendem mais de futebol do que o mundo inteiro, e não se chegará, jamais, a um consenso.

O QUE DIZEM AS REGRAS


A Regra 5 das leis do jogo – a respeito do “árbitro central”, deixa claro que “cada partida será controlada por um árbitro, que terá a autoridade total para se fazer cumprir as regras de jogo na partida para a qual tenha sido designado” e que “as decisões do árbitro sobre fatos em relação com o jogo são definitivas”.

Mas ele não pode voltar atrás?

Pode e está na Regra 5: “O árbitro poderá mudar sua decisão unicamente se perceber que sua decisão é incorreta ou, se o julgar necessário conforme indicação de outro membro do quarteto de arbitragem, sempre que ainda não tenha reiniciado a partida”.

Os velhinhos do Board vão ficam doidinhos, agora que decidiram aceitar a modernidade, para descobrir como fazer isso acontecer sem lhes encherem os pacovás de mimimis e chororôs.

É isso que pretendemos discutir aqui. Para isso, levantei opiniões de amigos boleiros, principalmente a turma do Memofut – Grupo de Literatura e Memória do Futebol (que se reúne uma vez por mês, no auditório do Museu do Futebol, no Pacaembu, para apresentar trabalhos e discutir ideias), e os companheiros do grupo “Apreciadores do Futebol”, que se comunicam pelo WhatsApp. Meus agradecimentos a eles, pelo debate sadio, em benefício do futebol, nossa paixão.

AS PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS

A primeira tecnologia deste tipo parece ter usada no atletismo, nos Jogos Olímpicos de Verão de 1932. Mas tempos registrados automaticamente só passaram a ser aceitos oficialmente nos Jogos Olímpicos do México-68. E a experiência deu certo em outros esportes.


No turfe, o “photochart” mostra quem chega à frente. Antes, tinha aquele suspense enquanto a imagem (filme) era revelada, até que Theóphilo de Vasconcelos, o locutor oficial do Jóquei Clube Brasileiro, informasse que os bookmakers poderiam pagar as apostas. Hoje, é pá-pum, imediato.

O sistema virou “photofinish” e é um sucesso. Atletismo, automobilismo, vários esportes se beneficiam da tecnologia.


No tênis, já tem tempo, se a bola bateu na linha, saiu ou não saiu, é mole pro “olho de águia” resolver. Deu certo também no vôlei, onde os técnicos têm um determinado número de “desafios” por “set”.

ABREM-SE AS CORTINAS, COMEÇA A DISCUSSÃO

E é por aí que a gente pode começar a discutir como isso seria implantado no futebol. Porque os sistemas hoje adotados, em todos os esportes, resolvem as questões sem deixar margem a dúvidas. Matam a cobra e mostram o pau. Funcionam às mil maravilhas, e todos aceitam as suas decisões, porque elas são sempre corretas.

O “chip” na bola deu certíssimo. Nunca mais um árbitro vai ter dúvida de que a bola entrou, porque o relógio-sensor no seu pulso vai vibrar e a TV vai confirmar depois. Poderia ter também no telão dos estádios, em tempo real.


CHORORÔS E MIMIMIS

Confesso que, quase aos 65 anos, e sabendo como o submundo do futebol pode ser um negócio sujo, eivado de subornos, manipulação de resultados, arbitragens compradas e, agora, sites espúrios de apostas, fico com um pulgueiro inteiro atrás da orelha. Se a coisa não for acachapantemente boa, vai dar zebra. Porque, no futebol, é assim.


Jogadores marrentos, técnicos chatos e, por que não dizer, árbitros corruptos, sabendo das mumunhas que podem criar, vão adorar ter a tecnologia à disposição pra puxar a brasa pra sardinha dos seus clubes. E, aí, vão conseguir fazer a tecnologia fracassar.

Não vou reclamar, aqui, de qualquer prejuízo ao meu clube do coração. A história está aí para mostrar que uns clubes e outros são prejudicados aqui e ali, deixando dúvidas se por ruindade mesmo, ou má-fé.

Confesso que ainda hoje me irrito com a jogada da gravata do zagueiro Vica, do Fluminense, no atacante Claudio Adão, do Bangu, na final do Campeonato Carioca de 1985.

E a imprensa esportiva sabe quais os casos escabrosos. Chegam a colecionar os primeiros momentos. Só falta o miau: https://goo.gl/64mA5A

Por isso, é fundamental que o “modus operandi” seja determinado depois de um consenso mundial e sério – se é isso que eles querem.

COMO VAI SER

No dia 5 de março de 2016, o projeto do “árbitro de vídeo”, elaborado pela CBF e ampliado com a opinião de outros países, foi aprovado pelo International Football Association Board (IFAB). Assim, o Brasil poderá testar o uso da tecnologia para acabar com dúvidas em lances decisivos.

 

 

RESUMO DO PROJETO

1.     As decisões do árbitro principal continuam soberanas

2.     O árbitro de vídeo tem que ser um árbitro do quadro da CBF, com nome na escala

3.     O árbitro principal deve ter comunicação direta com o árbitro de vídeo (N. do A.: não deveria para não haver o que a ética chama de “interferência externa”)

4.     As decisões dirão respeito exclusivamente a quatro itens já determinados

a.     Gol duvidoso (N. do A.: não deveria porque, para isso, existe o chip na bola)

b.     Pênalti duvidoso

c.      Cartão vermelho resultante de decisão duvidosa

d.     Identificação incorreta de infrator

5.     O árbitro de vídeo deve ter dez ou quinze segundos para avisar o árbitro de um lance duvidoso (N. do A.: não deveria para não haver o que a ética chama de “interferência externa”)

6.     O árbitro principal, ao receber uma chamada do árbitro de vídeo, deve fazer um sinal com as mãos para alertar o público de que a decisão está sub-júdice (N. do A.: não deveria para não haver o que a ética chama de “interferência externa”)

7.     O árbitro de vídeo tem que estar em sala isolada e não pode ter contato com transmissão de TV, tampouco utilizar celulares e/ou outros aparelhos que lhe permitam ver/ouvir o jogo

8.     A transmissão das imagens poderá ser da TV responsável

COMO DEVERIA SER, PELO BEM DO FUTEBOL


De cara, considero fundamental, que os “árbitros de vídeo” jamais se manifestem ou mantenham contato com o árbitro durante a partida. Principalmente, porque isso fere as Regras do Jogo. Esse headset que os árbitros principais carregam hoje em dia é, a meu ver, ilegal e antiético.

Fico desconfiado e acho lamentável que isso seja feito hoje em dia, sem que imprensa e torcedores tenham acesso ao áudio dessas conversas.

Já sei que, para manipular isso, podem incluir o “árbitro de vídeo” no grupo de arbitragem. OK, mas esse “árbitro de vídeo” não pode tomar a iniciativa de se comunicar com o árbitro principal, porque isso configuraria “interferência externa” e afronta às leis do jogo.

Lembre-se que a Fórmula 1 monitora e disponibiliza, para todos, o áudio das conversas de boxes e pilotos. No basquete, o sistema de vídeo fica à beira da quadra. No vôlei, todos vêem, no telão, o que está em julgamento. No tênis, também.

A GATUNAGEM QUE INCOMODA


Não se esqueçam que os sites de apostas entram cada vez mais firmes no futebol, com “patrocínios máster” em camisas importantes, propaganda nos estádios, e em transmissões e programas esportivos na TV.

Bom estar atento para o fato de que a corrupção na FIFA é endêmica, muitos presidentes e dirigentes estão em cana, o presidente da CBF não pode viajar pra fora do País, enfim a roubalheira come solta. E a coisa só estourou porque o Governo norte-americano identificou o uso do seu sistema financeiro para os golpes, e botou o FBI na rua para proteger os seus direitos


Por que não desconfiar de que jogos e resultados estejam sendo manipulados?

Lembrem-se que, outro dia, um árbitro foi “alertado” de que havia cometido um erro, dois ou três minutos antes, parou o jogo, ouviu o que diziam no ouvido dele, e voltou atrás, em flagrante interferência externa e infração às leis do jogo. Passou em branco, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

A CULPA É NOSSA

O multipremiado jornalista investigativo escocês Andrew Jennings, 74 anos, já havia cantado a pedra, com o apoio do jornalista Juca Kfouri, que o trouxe ao Brasil, com apoio da ESPN, para entrevistas e até uma sabatina no Congresso Nacional (outro antro…).

Quero lembrar a vocês uma declaração de Jennings à porta do Congresso, mais ou menos assim, e que a imprensa preferiu não repercutir, na época: “Não adianta mais mandar me matar, porque o dossiê sobre a corrupção no futebol foi entregue às autoridades brasileiras”.

Jennings apareceu várias vezes no programa de documentários Panorama, da BBC britânica. O mais importante foi FIFA’s Dirty Secrets, exibido pela primeira vez em 29 de novembro de 2010, uma exposição de 30 minutos, que investigou denúncias de corrupção contra alguns dos membros da FIFA e do comitê executivo que votou na escolha da sede da Copa do Mundo de 2018 (Rússia).

Jennings alegou que Ricardo Teixeira, presidente da CBF e do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2014, Nicolás Leóz presidente da Conmebol e Hayatou Issa, presidente da CAF, receberam os subornos da empresa de marketing ISL que vendia os direitos de transmissão de TV da Copa do Mundo FIFA. E como demorou que as autoridades fizessem alguma coisa!

O JOGO SUJO DA FIFA


Entre outros livros importantes, Jennings é autor de Jogo Sujo: o mundo secreto da FIFA (Panda Books, 2011), onde ele já alertava sobre essa imundície que ameaça corromper o esporte mais popular do mundo. É dele também Um jogo cada vez mais sujo – o padrão FIFA de fazer negócios e manter tudo em silêncio.

Não é só ele. Muitos outros escritores e livros existem sobre o rumoroso assunto. Basta querer pesquisar no Google, comprar, ler e tomar conhecimento. O Governo norte-americano, o FBI e a Interpol quiseram.

UM PULGUEIRO ATRÁS DA ORELHA

Tenho medo que a maneira de burlar as regras para fazer o tal “árbitro de vídeo” ser o manda-chuva da parada, seja mudar as regras do jogo. Ou criar atalhos e regulamentações.

Mas, aí, ao invés dos benefícios e honestidade que a tecnologia trouxe para todos os outros esportes, teremos a desconfiança e o caos, eis que estamos falando de um esporte cuja entidade máxima foi devastada por corrupção e prisões.

Sem esquecer que altos mandatários do futebol brasileiro estão em cana, morreram com a pecha de corruptos, ou não podem sair do País, porque a Interpol está de olho neles.

E O QUE FAZER?

1.     Determinar quando e que tipo de jogada pode ser suscetível de reclamação;

2.     Delimitar quantidade de “desafios” por tempo de jogo;

3.     Proibir qualquer comunicação online/tempo real entre o “árbitro central” e o “árbitro de vídeo” – que só seria consultado (e só poderia se manifestar) se e quando o “árbitro central” o solicitasse;

4.     O sistema de avaliação de vídeo estaria disponível à beira do gramado, para consulta do “árbitro central”, sendo que a mídia tenha acesso online à conversação do “árbitro central” com o “árbitro de vídeo”.

5.     À moda do futebol americano, o “árbitro central” comunicaria por microfone ao estádio a decisão tomada, e as imagens seriam apresentadas no telão do estádio, quando houvesse.

Não gosto nada dessa nomenclatura “árbitro de vídeo”, porque ela pressupõe que esse “árbitro” teria interferência na decisão da arbitragem, o que seria péssimo para o futebol, eliminando as vantagens da tecnologia com desconfianças.

QUANDO USAR A TECNOLOGIA

Sabendo que o “chip” na bola resolveu a questão da validação de um gol, será preciso determinar quando uma equipe, considerando-se prejudicava, lançasse um “desafio”, única e exclusivamente através do seu capitão.

Quais seriam essas hipóteses? Acredito que em apenas três únicas ocasiões, quando envolvendo questões capitais (lances de marcação de gol).

1.     Marcação de impedimentos

2.     Marcação de penalidades máximas

3.     Marcação de mão na bola

E COMO SERIA?

·        Uma equipe tem direito a apenas dois pedidos de “desafio” por jogo. Se “errar”, perde o desafio; se “acertar”, mantém os dois pedidos.

·        Só o capitão da equipe “prejudicada” pode pedir revisão, desde que a partida não tenha sido reiniciada depois de marcação de gol.

·        A decisão de cada “desafio” é final e irrecorrível; o time adversário não tem direito a réplica

É preciso tomar muito cuidado com a implantação da tecnologia no futebol. Estamos num momento em que a regulamentação precisa e correta, de como ela será usada (como foi com o “chip” na bola), vai determinar o sucesso ou fracasso da decisão.

Estamos nas mãos dos velhinhos do João Saldanha. E dos deuses do futebol.

 

ZEMBA, O IMPERADOR DO MORRO DO SABÃO

por Marcelo Mendez


Marcelo Mendez (Foto: Fabiano Ibidi)

Em um domingo de sol em Mauá, a cidade se fez presente em riso e festa por conta do Futebol de Várzea.

Haveria, então, na cidade duas finais de campeonato da bola marrom no mesmo dia. As pessoas, todas felizes, lotaram o estádio da Vila Mercedes para a primeira delas, entre Dínamo Mauá x Combatentes.

E no primeiro toque que deu na bola, um menino vestindo uma camisa 10 como seu Alforje fez daquela manhã de dezembro em Mauá, algo épico.

Era a vez de Zemba, o 10 do time do Combatentes, encher os olhos deste cronista que vos escreve…

Entre todo o sol, vento, prefeito presente, vereadores e instrumentos de samba, olhei para o tempo e naquele campo de plástico meus olhos queriam ver apenas ele.


(Foto: Sergio Moraes)

Jogador refinado, alto, esguio, de passos de Nijinski, de uma fleuma ao andar pelo campo que me remeteu a poesias e odes, um menino que troca seu dia a dia comum por um protagonismo justo, que a vida decerto insiste sistematicamente em lhe negar.

No futebol de várzea, Zemba e seu futebol Imperial são mais do que apenas comuns. Zemba é a o Cavaleiro da Guarda do sonho, o homem que mantém viva a poesia em seu estado puro.

Desfilava…

Era altivo, de seus pés não saíam apenas passes; Pela cancha, Zemba distribuía sonetos.

Deu vários aos atacantes de seu time, correu pela cancha como se a vida fosse realmente algo belo, tranqüilo, como se todo sofrimento dessa dura e deliciosa aventura de viver pudesse ser resolvido apenas com um par de chuteiras e uma bola marrom, adornada de terra.

Com Zemba tudo era fácil e muito bonito.

Antevia tudo, as jogadas, a marcação adversária, os sonhos, os amores. Armava sua equipe com a destreza com que Franz Liszt manuseava seu piano para criar sua obra “Poemas Sinfônicos”. Porque tudo que Zemba fazia por aquele campo era poesia pura.

Lançamentos, chutes, chapéu, passes, trivelas…


(Foto: Custodio Coimbra)

Me emocionava a cada vez que a bola chegava a seus pés. Da beira do campo de onde eu assistia a tudo isso, consegui ver um sorriso pleno de amante realizada nela, a bola.

A pelota procurava pelo camisa 10 do Combatentes pelo campo, tal e qual um apaixonado procura por uma rosa improvável pela noite boêmia para presentear a sua amada. A síntese de tudo que acontecia era esta:

Todos ali estavam totalmente apaixonados por Zemba.

Um craque da renascença. Um Leonardo Da Vinci sem pincel, um Michelangelo sem capela Sistina, nada disso; Zemba era um grande apenas com a camisa 10. E vos digo caros leitores:

Não há no mundo dos homens, obra de arte maior do que a camisa 10 de um time de futebol envergada por um craque.

Zemba é desses na várzea…

A PRIMEIRA VEZ NO ESTÁDIO

por Rafytuz Santos


Joãozinho era um garoto apaixonado por futebol. Colecionava figurinhas e cards da Copa do Mundo, Champions League, Campeonato Brasileiro, Copa América e tantos outros campeonatos. Sabia tudo sobre diversos jogadores, mas o seu grande ídolo era Marta (sim, isso mesmo… MARTA).

E quis o destino que a sua primeira ida a um jogo de futebol fosse em um jogo da genial camisa 10 Marta. Foi em uma quarta-feira, e o pequeno Joãozinho acordou naquele dia eufórico. Separou a sua melhor camisa do seu time de coração, ficou chutando a bola na sala, e no seu imaginário estava reproduzindo as históricas jogadas da Marta, com toda mestria e velocidade. O dia passou rápido, e tudo parecia um lindo roteiro de cinema: Joãozinho pulando no banco de trás do fusca de seu pai, saindo do interior de São Paulo em direção a Santos, no templo sagrado do futebol, a Vila Belmiro, para acompanhar o empolgante time feminino do Santos Futebol Clube, em um jogo de Libertadores.


Joãozinho entrava no estádio, e ao chegar na arquibancada, uma lágrima corria suavemente em seu rosto, sutil, leve, carregada de emoção e ingenuidade, contida da pureza de uma criança e da beleza do futebol. O sonho do menino do interior estava se realizando, e ele estava misturado a outros tantos apaixonados pelo esporte que sempre une povos e nações.


A cada jogada de Marta, o pequeno garoto se contorcia tamanha a empolgação gerada pelo jogo. A voz de Joãozinho até sumiu, e quando o gol de Marta saiu, o garoto retirou sua camisa com a maior força, e se atirou nos braços de sue pai, caindo no choro com o momento que nunca sairá  de sua mente. A cena de Marta indo em direção ao setor onde Joãozinho e seu pai estavam na arquibancada foi eternizada na retina do menino, e fincada no coração futebolístico do garoto caipira que se aventurou no Litoral Paulista.