GERALDO, UM RENASCENTISTA DO FUTEBOL
por André Felipe de Lima
Oswaldo Brandão, então treinador da Seleção Brasileira em 1976, dizia com todas as letras: “É o jogador mais técnico do Brasil”. Ele se referia a Geraldo Cleofas Dias Alves ou simplesmente Geraldo “Assoviador”, que nasceu no dia 16 de abril de 1954, na mineira Barão de Cocais.
Nesta Páscoa recordamos de Geraldo, um grande jogador do Flamengo que, lamentavelmente, partiu muito novo. Há quem garanta ter sido ele, que foi da mesma geração de Zico, tecnicamente superior ao Galinho de Quintino. Embora vestisse a camisa 8, a 10 do Flamengo poderia ter sido dele caso não morresse com apenas 22 anos, no dia 26 de agosto de 1976, após sofrer um choque anafilático durante uma simples e totalmente desnecessária cirurgia para retirada das amídalas na clínica Rio-Cor, na rua Farme de Amoedo, em Ipanema. Muitos do Flamengo recomendavam a cirurgia porque ela supostamente aceleraria a recuperação em contusões.
Se não operasse, reforçaria a injusta fama de indisciplinado. Esse era o temor de Geraldo, que foi à clínica acompanhado do inseparável amigo Serginho, enfermeiro do Flamengo. Antes de entrarem no hospital, pararam na Igreja de Nossa Senhora da Paz, também em Ipanema. Rezaram e chegaram à clínica. No quarto, preparando-se para a cirurgia, rezaram novamente, juntos. “Ele me falou que só iria operar porque, se não, seria chamado de indisciplinado mais uma vez. Mas estava com muito medo e não escondia. Ele queria que eu ficasse a seu lado sempre. Chegou a brincar, pedindo que eu amarrasse seus pés, porque ‘poderia dar uma louca e sair correndo’. Eu vi quando chegou à Gávea, magrinho, cheio de ziquizira, alto e feio. Fui o último amigo a vê-lo vivo.”
No dia em que Assoviador morreu, Zico comentou que Geraldo tinha pavor de operações, mas que jamais o considerou indisciplinado e, sim, um cara com a opinião formada e um pouco “genioso”. “Como quase todos os craques”, descreveu-o Zico.
Ver Geraldo jogar era um prazer inenarrável. Fazia ele de uma partida de futebol uma galeria de arte, com jogadas cerebrais e de uma plasticidade incomum. Geraldo foi um renascentista do futebol, mas o destino cometeu um assalto contra os fãs do bom futebol ao sequestrar, sem chance de resgate, o nosso Geraldo “Assoviador”.
“Eu mesmo quero passar a camisa do meu filho. A camisa preta. Aquela que ele mais gostava. Aparecida, veja lá no guarda-roupa uma gravata escura. Pode ser a azul-marinho. O conjunto, aquele que veio do tintureiro. Calça preta e paletó quadriculado. Como é que pode? Sabe, eu não acredito que isto tudo é verdade. Que coisa impressionante que é a morte. Parece que eu ainda estou vendo ele saindo do Grupo Escolar Cel. Câncio de Albuquerque e pedindo para eu comprar uma bola. Isto foi lá em Barão de Cocais, nossa cidade. Que coisa impressionante é a morte. O que fizeram com meu filho não tem explicação. Aparecida, a camisa. O ferro já está quente”. Foi assim, num misto de incredulidade e resignação, que o pai de Geraldo, seu Oswaldo, preparava o corpo do filho para a derradeira e dolorosa despedida.
Brandão estava certo. Geraldo estava prestes a se tornar o melhor jogador do Brasil. Ao cronista Sérgio Noronha ressaltou: “Ele é um menino que tem muito o que aprender em matéria de disciplina tática, mas carrega um potencial de craque, e por isso vou insistir com ele na Seleção Brasileira”. Infelizmente, não deu tempo.
Mas Geraldo, além do grande futebol, foi um camarada alegre. Irradiava felicidade e bom humor por onde passava. Essa imagem foi a que ficou. Geraldo foi um ídolo fugaz, porém eterno.
Claudio Carsughi
A HISTÓRIA CONTADA POR QUEM A ESCREVEU
texto e entrevista: Mateus Ribeiro | vídeo: Vini Lima | edição de vídeo: Daniel Planel
Claudio Carsughi é uma lenda viva. Uma das minhas primeiras e maiores influências. Uma enciclopédia. Uma montanha de conhecimentos. E o melhor dessa entrevista foi perceber que além de tudo, Carsughi é um ser humano dotado de muita simplicidade, humildade e bom humor.
Mateus Ribeiro, Claudio Carsughi e Vini Lima
Aproveitem essa aula que o grandioso ícone da crônica esportiva nos concedeu. Agradeço imensamente sua filha Claudia, que possibilitou o encontro, e ao irmão Vini Lima pelo suporte.
RECEITA DA FELICIDADE
por Sergio Pugliese
Pôster. O grupo da Pelada da SimFarma, no Clube Grama Sintética – Terceiro / Agência O Globo
Há alguns anos, a revista médica “European Heart Journal” divulgou pesquisa reforçando o que nós e a torcida do Flamengo já sabíamos, mas nunca é demais lembrar: os estressados têm mais chances de sofrerem ataques cardíacos, de empacotarem antes do previsto, de subirem para o andar de cima precocemente, de irem para o vestiário mais cedo. Assim sendo, cumprimos aqui nosso papel de colaborar com esses potenciais homens-bomba e avisá-los sobre algo de extrema importância: passem longe da Pelada da SimFarma, no Clube Grama Sintética, no Gragoatá, Niterói.
— Aqui só sobrevivem os com nervos de aço — adiantou Júnior, o Juneco ou Tufão, um dos fundadores.
(Foto: Reprodução)
A única segurança dos que se aventuram ali é o fato de a SimFarma, antiga Tamoio, ser uma rede de farmácias de São Gonçalo, e remédio não faltar numa emergência. Precavidos, alguns atletas apelam ao Rivotril sublingual só para aturar as encarnações de Charlão Brocador, Cleber, Jaílson, o Jajá, e do goleiro Boca. Ali, as apostas ajudam a elevar a temperatura. Uma delas é para cada caneta ou lençol levado, duas cervejas. E o pior em campo, “a baranga”, é obrigado a jogar vestido de mulher na semana seguinte. Buylling é fichinha. No dia de nossa visita, Vinícius canetou Márcio e a encarnação foi tanta que o pobrezinho se mandou sem deixar vestígio, e, o mais grave, sem pagar a dívida.
— Sua atitude antidesportiva será avaliada pelo conselho — avisou Adelino, um dos líderes do grupo, com Roni Artilheiro, Charles e Marcinho Marinheiro.
As partidas são de excelente nível, afinal o grupo é formado por vários ex-profissionais, como o cracaço Alberoni, do Vasco, Inter de Milão e campeão mundial sub 17; Jajá, do Blue Star, da Suíça; Baratinha, do D. Pedro, do Espírito Santo; Boca, do Itaperuna; Cleber, do Bahia; Adelino, do União São João; e Pablito, cobra criada do futsal. Mas naquela noite de quarta-feira, Jajá destacou-se e, inspiradíssimo, driblou, lançou, pedalou e balançou as redes inúmeras vezes. Cada pintura, uma pose para o clique de Daniel Oliveira, nosso correspondente internacional de Niterói. Nas disputas de 10 minutos ou dois gols, só perdeu uma para Alberoni e no par ou ímpar.
— Ele quis aparecer para vocês, nas últimas semanas tem perdido todas — entregou Mansur, que, após ter cometido pênalti cortando um cruzamento com a mão, virou Mãosur.
Do lado de fora, poupado por problema “de junta”, Charlão Brocador infernizou a vida dos companheiros, em sua maioria representantes farmacêuticos e funcionários da SimFarma. Talvez por isso, o craque aposentado tenha sugerido tantos remédios em suas cornetadas. Para Vinícius, “perdido em campo”, receitou comprimidos contra labirintite. Para Erto, “morto com farofa”, sugeriu Targifor, tradicional fortificante. Na ausência do goleiro Azul, nada a ver com Viagra, apenas a cor de seus olhos, sobrou para Tardelli, balconista do bar do clube. Após o segundo frango, Brocador deu a solução, “colírios Moura Brasil”. A gritaria era tanta que Lorenzo Carlos, de 1 ano; e Yan, de 9, filhos do gigante Cleber, choravam sem parar, na beira do campo… de batalha.
— Dá chá de camomila para essas crianças — gritou Brocador.
Mas quem precisava mesmo de tranquilizante era o pai. Zagueiro experiente, Cleber quase enlouqueceu com os atacantes Baratinha, Pablito e Alberoni, e abriu a caixa de ferramentas. Pau puro ao lado de Bubu! A pelada não tem árbitro. Todas as tentativas de contratar um foram frustradas e vários tiveram cartões e apitos arrancados da mão. Ninguém se arrisca, só Jiraya, outro vetado pelo departamento médico, garotão com apelido de ninja. Quem vai encarar? De repente, o choro das crianças cessa. Na de fora, Jajá, sósia do ator Aílton Graça, usou seu carisma e, claro, uma bola para distrair os filhos do camarada.
— Sou dupla função, em campo garçom; fora dele, babá — brincou.
Na resenha, churrasquinho sagrado de Cosme e Dan, as encarnações continuam. Boca lembrou do amistoso no Espírito Santo, farra bancada pela direção da farmácia. Muitos entrariam num avião pela primeira vez, como era o caso de Jajá. No aeroporto, durinho da Silva, Jajá ouviu que precisaria fazer o check-in. “Chequinho?”, perguntou para Boca. E emendou: “Não tenho um puto no bolso”. Explosão de risadas! Vinicius, Bubu, Gustavo, Felipe Toca Nada, Leandro, o galã grisalho, e os gêmeos Dudu e Lala não trocam aquele momento por nada! Alberoni mandou descer mais duas! Aplausos, afinal Engov não é problema para os patrões.
E a rapaziada varou a madrugada bebendo, rindo, extravasando e comprovando que não existe no mercado Lexotan mais eficaz do que estar entre grandes amigos.
Texto publicado originalmente no site do Jornal O Globo em 30 de março de 2014.
PELÉ ETERNO X MESSI
por Serginho 5Bocas
(Foto: Reprodução)
Pelé é o maior jogador de futebol de todos os tempos e maior atleta do século XX e continua com sua fama inabalável mundo afora. Mas olha que no seu próprio terreiro, tem muita gente boa que vive duvidando dele, se era mesmo essa “Coca-Cola” toda, se sobrava na turma… vê se pode?
Não pude vê-lo em ação em sua plenitude, mas ouvi muito a seu respeito de muita gente boa e que sempre pude confiar,. Depois o filme “Pelé eterno” veio para confirmar minhas expectativas, o cara era sobrenatural mesmo, um espanto.
Mas vamos ao que interessa, ao duelo da vez, pois de tempos em tempos a imprensa catapulta algum candidato a superar o rei Pelé, e pobre de nós que temos que ficar ouvindo esta ladainha, esta história surrada amiúde.
O cara da hora é o Messi, então vamos pra porrada!
(Foto: Reprodução)
Pra inicio de conversa, vou fazer uma breve observação: um craque só pode ser “medido” ao final da carreira, que é quando podemos analisar seu legado. Comparar um jogador que já deixou sua herança com outro que ainda está na sua plenitude pode ser injusto, mas vamos lá, o desafio está na mesa:
Clubes:
(Foto: Reprodução)
Pelé jogou no Santos e fez dele o maior clube do mundo de sua época, o Santos não era muita coisa antes de Pelé, nem foi depois, o negão era transformador…
Messi joga no milionário Barcelona, clube que sempre foi rico e continuará sendo. É inegável que o Barça com Messi é muito melhor do que sem ele, e as suas atuações são imperdíveis a cada rodada, mas Messi não fez o Barcelona, é só recordar quem esteve por lá nos últimos anos: Cruyff, Maradona, Romário, Rivaldo, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, entre outros… Queria ver o Messi jogar num clube de menor expressão e torna-lo forte como Pelé fez com o Santos, com muita propriedade.
Nessa não tenho dúvida em cravar o Rei:
PELÉ 1X0 MESSI
Seleção:
Pelé foi campeão do mundo com 17 anos, fez seis gols em quatro jogos e marcou na final, decidindo a Copa de 1958 nos jogos de maior dificuldade. Jogou quatro Copas e venceu três delas, fazendo 12 gols em 15 jogos e balançando a rede em duas finais de Copa do Mundo. Não é pouco, né?.
(Foto: Reprodução)
Messi já foi a três Copas e não conseguiu fazer a diferença pela seleção argentina. Atualmente, Messi tem tido atuações espetaculares e sua média de gols pela Argentina vem crescendo, mas vamos esperar a Copa de 2018 para dar um veredito mais consistente.
Por hora, ponto fácil para a fera:
PELÉ 2X0 MESSI
Títulos:
Pelé pelo Santos venceu: dez paulistas, quatro torneios Rio-São Paulo, seis brasileiros, duas Libertadores e dois mundiais, sem contar os títulos de menor expressão. Venceu muito por aqui, quando atuar no Brasil, era jogar num campeonato de alto nível. Pela seleção, como já foi dito, venceu três Copas do Mundo em quatro disputadas e conquistou outros títulos de menor expressão. Entre os inúmeros prêmios individuais que não cabe na crônica, destaco o de atleta do século dado por várias entidades.
(Foto: Reprodução)
Messi já venceu pelo Barcelona oito campeonatos espanhóis, quatro Liga dos Campeões e três mundiais de clubes, sem contar também com torneios de menor valor. Pela Argentina, venceu um mundial sub-20 e uma Olimpíadas. Individualmente, já tem uma lista extensa de premiação, com destaque para a Bola de Ouro da FIFA, que já venceu 5 vezes, mas ainda não conquistou a Copa do Mundo, aí…
Essa foi a disputa mais dura e Messi tem tudo para ultrapassar o Rei neste quesito num futuro próximo, mas ainda não dá pra ele, fico com o Rei de novo, e olha que não havia Bola de Ouro da FIFA naquele tempo, valeu? Se tivesse quem derrubaria o Rei?
Ponto para o ET
PELÉ 3X0 MESSI
Gols:
Não acredito que Messi possa fazer tantos gols quanto o Rei até o final de sua carreira, mas é um dos poucos que poderiam chegar perto ou incomodar.
(Foto: Reprodução)
O problema é que Messi arrancou tarde, ele está bem próximo do seu apogeu, que em média vai dos 25 aos 30 anos, após isto a tendência é reduzir a marcha. Messi faz 30 este ano e a favor do argentino pesa o fato de que ele se contunde muito pouco, talvez pela sua juventude e genética. Além disso, seu time toca muito a bola, evitando mais contato, mas a musculatura hoje é mais exigida pela velocidade atual do jogo, em contrapartida, a medicina evoluiu muito, recuperando os jogadores cada vez mais rápido.
Tai uma grande interrogação. Só o tempo dirá se Messi manterá essa média de gols incríveis, mas só para apimentar a discussão, com 21 anos Pelé já tinha 500 gols e com 29 fez 1000. Acho bom o Messi se apressar, senão não chega nem perto do Negão.
Nessa ele deu capote!
(Foto: Reprodução)
PELÉ 4X0 MESSI
Acho que já está bom parar por aqui, ou alguém vai tirar algum coelho da cartola?
Quer saber de uma coisa pessoal, Rei só tem um e é brasileiro. Que orgulho do rei ser nosso!
Vamos parar de palhaçada!!!!
A DEFESA INESQUECÍVEL
por Victor Kingma
O dia, me lembro bem: 15 de dezembro de 1963. Era o segundo jogo que eu assistia pela televisão. O primeiro, exatamente um ano antes, havia sido um desastre: o meu Flamengo, dos ídolos Henrique e Dida, levou uma surra histórica do Botafogo, perdendo por 3 x 0! Sem choro e nem vela, expressão muito usada na época. Também não tinha como: na ponta direita do alvinegro estava o maior ponta direita de todos os tempos, que naquele dia estava endiabrado como nunca, fazendo jus ao apelido “O Demônio das Pernas Tortas”. Numa das maiores exibições de sua carreira, Garrincha fez dois gols e iniciou a jogada em que o zagueiro Vanderlei marcou contra. Engraçado é que mesmo frustrados pela derrota, até nós, rubro-negros, tivemos que nos render à magia dos dribles de Mané. Assistindo ao vivo, pudemos constatar que era mesmo verdade o que os vibrantes radialistas, como Waldir Amaral, Jorge Curi e Fiori Gigliotti, alardeavam nas transmissões esportivas.
Bem, mas aquela tragédia já era passado. Agora, exatamente um ano depois, as atenções se voltavam para mais uma decisão do Campeonato Carioca. A imagem da transmissão pela TV Rio, Canal 13, nunca esteve tão boa. Afinal, a antena tinha sido colocada bem no alto do morro e ainda levantada por um imenso bambu para melhorar o sinal. A sala da fazenda do meu saudoso avô, o velho holândes Jan Kingma, o único a ter essa novidade por aquelas bandas da Mantiqueira, estava mais uma vez superlotada.
Naquele dia, nos áureos tempos das decisões regionais, 194.603 torcedores, o terceiro maior público da história do futebol, e o maior entre jogos de clubes, estavam no Maracanã.
Dessa vez as nossas esperanças eram depositadas nas arrancadas pela direita do veloz ponteiro Espanhol e nos gols do centroavante Airton, da renovada equipe rubro-negra. Aliás, do time do ano anterior, apenas o ponteiro e os meio campistas Carlinhos e Nelsinho estavam de novo em campo. Gerson, a grande revelação, havia sido vendido ao Botafogo após desentendimentos com o treinador Flavio Costa que, contra a sua vontade, o tinha escalado na ponta esquerda na decisão de 1962, para ajudar o lateral Jordan na inglória missão de marcar Garrincha. Já demonstrando sua personalidade forte o “Canhotinha de Ouro”, embora em início de carreira, não se conformou de ter sido colocado fora de posição e naquela fria. E acabou saindo precocemente do clube.
O Flamengo jogava pelo empate, mas, depois de um primeiro tempo equilibrado, na volta do intervalo parecia que a história ia se repetir: o Fluminense, comandado pelo lendário técnico paraguaio Fleitas Solich, conhecido como “El Brujo”, partiu todo para o ataque. O gol que daria o título aos tricolores, tudo indicava, era questão de tempo. Mas aí um personagem passou a brilhar diante daquelas quase 200.000 pessoas: o goleiro Marcial. Com apenas 22 anos e recém chegado do Atletico Mineiro, o jovem arqueiro passou a realizar uma sequência de defesas espetaculares, demonstrando uma calma impressionate, como se tivesse encarnado naquela decisão toda a experiência de Castilho, o consagrado goleiro rival.
Numa dessas defesas, quase no final da partida, o ponteiro esquerdo Escurinho, que já havia chutado uma bola no travessão, chegou frente a frente com o arqueiro… Todos os torcedores que se amontoavam na sala da fazenda naquele dia se levantaram: os tricolores e a turma do contra pra gritar gol e os rubro-negros na esperança de mais uma defesa milagrosa do nosso goleiro. Eu, com 10 anos, e em meio a todo aquele tumulto, abaixei a cabeça para não presenciar a nova tragédia.
De repente a explosão dos rubro-negros: – defendeu Maciel!!! Gritou um dos mais eufóricos, até errando o nome do nosso goleiro. O jovem Marcial, que por sinal futuramente ia se tornar médico, havia “literalmente“ operado mais um milagre.
Pouco tempo depois o jogo acabou. E por justiça do destino com a bola nas mãos do herói daquela decisão, após ter interceptado um cruzamento do ataque do Fluminense. Talvez o árbitro do jogo, Claudio Magalhães, que presenciou de perto aquela exibição de gala, quisesse lhe prestar essa homenagem. Assim todos os flashs dos fotógrafos estariam voltados em sua direção.
Apesar de toda a euforia por ter assistido pela primeira vez o meu time de coração ser campeão, ficou uma pequena decepção por não ter visto a espetacular defesa, tão alardeada pelos meus amigos flamenguistas.
Somente muitos anos depois, já morando na cidade e assistindo a um documentário sobre o Canal 100, eu pude, finalmente, assistir àquela defesa impressionante, daquela memorável decisão de 1963.