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AS FINAIS DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE 1997

por Luis Filipe Chateaubriand

Em 1997, Palmeiras e Vasco da Gama chegaram às finais do Campeonato Brasileiro.

O Palmeiras chegou às finais depois de sair vitorioso de um quadrangular, onde também disputavam Santos, Internacional e Atlético Mineiro.

O Vasco da Gama chegou às finais depois de sair vitorioso de outro quadrangular, onde também disputavam o arquirrival Flamengo, o Juventude e a Portuguesa.

O primeiro jogo das finais foi disputado no Estádio do Marumbi, em São Paulo, com mando de campo para o Palmeiras.

Jogo tenso, nervoso, encruado, terminou empatado em 0 x 0.

O segundo das finais foi disputado no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, com mando de campo para o Vasco da Gama.

Jogo aberto, cheio de alternativas e emocionante, também terminou empatado em 0 x 0.

Com os dois empates, o Vasco da Gama se sagrou, pela quarta vez, campeão brasileiro.

OS 50 ANOS DA COPA QUE TEVE TUDO

por Claudio Lovato Filho

Teve Johan Cruyff.

Teve Rinus Michels.

Teve a Holanda encantando o mundo.

Teve aquele gol do Rivelino contra a Alemanha Oriental, com o Jairzinho se abaixando na barreira e a bola passando bem onde ele estava.

Teve aquele nossa vitória contra o Zaire por 3 x 0, exatamente a diferença de gols que precisávamos para avançar, como segundo colocados do nosso grupo. (E exatamente o limite de gols estipulado pelo ditador Mobutu Seko para que os jogadores do Zaire, hoje República Democrática do Congo, não fossem mortos assim que voltassem para casa.)

Teve aquele jogo entre as duas Alemanhas, a Ocidental e a Oriental, 1 x 0 para a República Democrática sobre a República Federal, gol de Jürgen Sparwasser. (Sim, a Guerra Fria em campo.)

Teve o 9 x 0 da Iugoslávia em cima do Zaire e o 7 x 0 da Polônia sobre o Haiti.

Teve gol do Haiti contra a Itália e a Argentina. (O que não impediu que o tirano “Baby Doc” Duvalier punisse brutalmente o zagueiro Ernst Jean-Joseph, expulso do torneio, sob acusação de doping – sempre negada pelo jogador, que sofria de asma –, e depois preso e torturado em seu país.)

Teve o artilheiro Grzegorz Lato.

Teve Franz Beckenbauer.

Teve Gerd Müller.

Teve o primeiro jogador expulso de campo com o uso do cartão vermelho em Copas do Mundo: o centroavante Carlos Caszely, do Chile, que por causa da expulsão foi proibido de jogar em seu país, então governado por Pinochet. (Por causa do cartão e, principalmente, é claro, em razão da aberta oposição que fazia ao regime sanguinário do ditador.)

Teve uma tremenda, imensa decepção: o Brasil eliminado pela Holanda, gols de Cruyff e do outro Johan, o Neeskens.

Teve a briga de Leão e Marinho Chagas no intervalo do jogo contra a Polônia, na decisão do terceiro lugar, 1x 0 para a Polônia, gol de Lato.

Teve o gol de Neeskens, de pênalti, cometido no primeiro lance da final, no qual nenhum jogador da Alemanha Ocidental conseguiu tocar na bola.

Teve uma outra tremenda, imensa decepção: a derrota da Holanda na final para a grande Alemanha Ocidental de Maier, Vogts, Schwarzenbeck, Beckenbauer, Breitner, Bonhof, Hoeness, Overath, Grabowski, Müller e Hölzenbein. (O futebol, assim como a vida, é coisa muito linda e muito impiedosa.)

Teve meio século se passando. (Caramba, meio século!)

Foi a primeira Copa do Mundo que acompanhei de verdade. Eu tinha 9 anos de idade. Foi incrível.

E teve Johan Cruyff.

PARA FICAR NA HISTÓRIA

por Péris Ribeiro

Toda a vez que falarmos em Copas do Mundo, será sempre de bom tom que nos lembremos das façanhas de um certo gênio cambaio. Um jogador desconcertante. Um admirável encantador de plateias. Mas, bem mais do que isso, um jogador imarcável !

E as lembranças ganham mais força ainda, se nos reportarmos à Copa de 1962, realizada aqui do lado, no Chile. Justamente a famosa Copa em que, jogando por ele – o que já não era pouco – e também por Pelé – o gênio machucado -, Garrincha foi mais Garrincha do que nunca.

Aliás, só por isso o Brasil sairia dali Bicampeão. E ele, Garrincha, acabaria consagrado como o Maior Jogador daquela Copa disputada aos pés dos Andes.

Sem dúvida, uma épica façanha. Sem dúvida, um Bi para ficar na história.

BOTAFOGO, 1989, EM NOME DA BOLA

por Paulo-Roberto Andel

Um dos dias mais bonitos de futebol que já vivi tem mais de 30 anos e não foi com o meu time, nem no estádio.

A decisão do Campeonato Carioca de 1989 poderia ter duas ou três partidas, conforme os resultados. No primeiro match, num domingo, Botafogo e Flamengo empataram em 0 a 0. O segundo jogo, previsto para quarta-feira, 21 de junho, poderia não ser o último da competição – e por isso o Maracanã não ficou abarrotado naquela noite histórica, pois muita gente preferiu esperar que desse empate para uma grande final no domingo. Naquele tempo, cerca de 56 mil pessoas eram um Maracanã à meia boca – hoje é lotação absoluta. Eu mesmo, jovem estudante de 20 anos, preferi economizar um dinheirinho pra ver no que dava, perdi a chance de um jogo fantástico in loco mas depois lucrei muito. Agora, se o Maraca não encheu, a cidade do Rio de Janeiro parou para ver a decisão na TV.

Num jogo com os corações a mil, os dois times eram seus próprios escudos se digladiando na grama imortal do Mário Filho. Tome lá, tome cá, tensão e nervosismo. No segundo tempo, o Flamengo teve uma falta a seu favor e Zico cobrou com enorme perigo para Ricardo Cruz, fazendo a arquibancada dar aquele suspiro de UUUHHHHHH. A seguir o camisa 10 da Gávea deixou o campo, como se fosse uma senha para o que viria.

Logo depois, o saudoso Mazolinha desceu pela esquerda e o cruzamento encontrou Maurício, ponta com vocação de centroavante. Gol! Gol que seria definitivo. O gol que tiraria o Botafogo para sempre do jejum de 21 anos sem conquistas.

Perto do final, mesmo na TV, o jogo deixava a gente com os nervos à flor da pele. Era visível a enorme comoção dos jogadores em campo, da torcida alvinegra no estádio e a multidão por toda a cidade. Naquele 21 de junho, tirando os rubro-negros, todo mundo foi botafoguense por uma noite. Valter Senra encerrou o jogo e muitos olhavam incrédulos uns para os outros: o jejum acabou! Acabou! Eu também fiquei contente.

A festa se espalhou pelo Rio. A zona sul virou a noite com bares abertos e batalhões de botafoguenses indo e vindo sem parar. Merecido.

E aí, meus amigos, é que veio a linda cena para mim. Fui dormir, tinha aula cedo no dia seguinte. Acordei, peguei meu ônibus 434 e fui para a UERJ. Tudo ia tranquilo, sete da manhã, quando chegamos ao viaduto Pedro Álvares Cabral, na antiga sede do Botafogo, o Mourisco.

O ônibus parou.

Quando vimos, estávamos perto da parte mais alta do viaduto, mas sem poder passar: centenas de botafoguenses estavam deitados ou ajoelhados no caminho, afora outras centenas rolando e chorando por toda a Enseada de Botafogo, num imenso Woodstock do futebol. Finalmente, a torcida do Botafogo encontrava a paz, deitada em berço esplêndido no lugar que encantou portugueses e outros europeus desde o século XVI.

Demorou um tempo para que passássemos, mas eu nem liguei: ficaria ali tranquilamente. Saboreei cada instante. Vi famílias abraçadas, casais apaixonados, amigos abraçados, muita gente chorando de alegria e foi algo tão bonito que, 35 anos depois, também me faz chorar. Não era só um dia de título, mas também de superação e glória. Dia em que o futebol não era só vitória, mas vida. Dia em que o Rio de Janeiro acordou super carioca.

Na UERJ, procurei meu amigo Alexandre Gomes para lhe dar um abraço de parabéns, mas não o encontrei pela manhã. Nem havia como ter aulas, o campus só respirava Botafogo, Maurício, Mazolinha, Josimar, Mauro Galvão, Valdir Espinosa.

Hoje em dia não é um trajeto que faço comumente, mas toda vez que eu subo o viaduto e vejo a Enseada, me vem à mente aquela multidão que me marcou para sempre, porque ali, botafoguenses ou não, todos vivemos um amanhecer de beleza e poesia em nome da bola.

O MAIOR INJUSTIÇADO DO FUTEBOL BRASILEIRO

por Elso Venâncio

Garrincha, a ‘Alegria do Povo’, é o maior injustiçado do futebol brasileiro. Nos debates sobre os melhores da História, o nome do Mané é pouco citado. Perguntaram ao Gerson, seu companheiro no tricampeonato conquistado pela seleção na Copa de 1970, se Pelé foi o melhor jogador de todos os tempos:

“Não sei… Garrincha não jogou menos do que Pelé” – disse o ‘Canhotinha de Ouro’.

Na Copa do Chile, em 1962, Garrincha se tornou o maior jogador do mundo. Foi a mais brilhante atuação individual de um atleta na história dos Mundiais – à frente, inclusive, de Maradona na Copa do México de 1986.

A opinião de Paulo César Vasconcellos, comentarista do Grupo Globo, merece reflexões:

“É como se Garrincha não tivesse jogado as Copas de 1958 e 1962. Como se não tivesse feito o que fez”.

Paulinho completa:

“É um subestimado no mundo do futebol”.

No Mundial da Suécia, em 1958, após marcar três gols contra a França, na semifinal, Pelé recebeu dos franceses o apelido de ‘Rei do Futebol’. Juntos, Garrincha e Pelé jogaram 40 partidas pela seleção brasileira, entre 1958 e 1966, e nunca perderam. O ‘Anjo das Pernas Tortas’ foi o maior driblador da História. O ‘Charles Chaplin’ do futebol!

Em 1957, Botafogo e River Plate jogavam no México. Das arquibancadas surgiram gritos de ‘olé’, após os sucessivos dribles que Garrincha aplicou no lateral Vairo.

Com a namorada de infância Nair, com quem se casou, Mané teve nove filhas. Separou-se para viver um romance nacional com a famosa cantora Elza Soares, affair que durou 15 anos. Nilton Santos, seu amigo e compadre, volta e meia o buscava em Pau Grande, distrito de Magé, quando Garrincha desaparecia do Botafogo. Por lá encontrava o ídolo jogando pelada descalço, em campo de terra batida, ao lado dos amigos. Não estava nem aí para a fama ou para dinheiro. Queria apenas ser feliz.

Em 20 de janeiro de 1983, Garrincha faleceu, após vir enfrentando nas últimas décadas uma árdua e inglória luta contra o alcoolismo. No fundo, gostava mesmo era de caçar passarinhos. Não à toa, seu apelido veio do pássaro Garrincha, comum na cidade em que nasceu e viveu boa parte da vida.

Os mais jovens que se encantam com os craques midiáticos que surgiram graças às redes sociais e à globalização devem saber o que ele representa para o futebol. Muitos o consideram o maior jogador que surgiu no planeta. Superior até mesmo ao Rei Pelé.