A BOLA VAI ROLAR
por Gabriel Sarmento
Cansados da maneira como o futsal do Rio de Janeiro está sendo tratado, amantes do esporte se reuniram para criar uma nova filosofia de trabalho dentro do jogo da “bola pesada” e assim surgiu a Liga Carioca de Futsal. O torneio terá sua primeira edição neste ano e já atrai a atenção de muitos times da capital e também da região Centro-Sul Fluminense e de Niterói.
Além do comprometimento com a inovação e a credibilidade, os organizadores têm, como objetivo principal, criar torneios mais atrativos e sérios para os amantes do esporte.
Um dos organizadores, Thomaz Spinelli falou sobre o que motivou ele e os sócios a tomarem a atitude de colocar o projeto para funcionar.
– Eu e meus sócios fomos organizadores de um time durante sete anos e sempre tivemos dificuldades com relação a torneios de futsal. Alguns exemplos de falta de organização, falta de premiação em dinheiro e outros problemas que fomos absorvendo durante esses anos. Nosso objetivo agora é criar o melhor ambiente possível para que os atletas e comissões possam ter prazer em sair de casa para jogar.
A Liga Carioca de Futsal vai ser disputada no CSSE, no bairro Riachuelo, zona norte do Rio, na quadra onde Phillipe Coutinho, da seleção brasileira e do Liverpool, deu seus primeiros chutes. O torneio conta com uma boa premiação em dinheiro para campeão, vice e terceiro lugar, além de um valor pago para artilheiro, destaque do campeonato e melhor goleiro. Vale lembrar que o campeão e o vice ainda levam para casa um jogo de uniformes.
O torneio está apadrinhado pelo atual melhor goleiro de futsal do mundo, Léo Higuita, que defende o Kairat do Cazaquistão e foi naturalizado pela seleção local e também pelo goleiro nascido e criado no Riachuelo, André Deko, que já defendeu as cores da seleção e defende as cores da Assoeva na Liga Nacional de Futsal.
Para mais informações sobre a Liga Carioca de Futsal acessem: www.facebook.com/ligacariocafutsal
SÉRIE ‘TIME DOS SONHOS’: ‘UMA VEZ FLAMENGO, FLAMENGO ATÉ MORRER…’
por André Felipe de Lima
Escalar o time dos sonhos do clube do coração é algo mais comum do que imaginamos. Quem gosta de futebol e de um bom papo, sobretudo regado a uma cervejinha em um bar entupido de boleiros afoitos por recordar os craques de outrora, sabe do que falamos aqui. Para incrementar a onda saudosista, o projeto “Ídolos-Dicionário dos craques do Futebol brasileiro” inicia a série “Time dos sonhos”, com escalações preliminares desenvolvidas pelo autor da obra, com base nas investigações jornalísticas que empreendeu ao longo dos últimos quinze anos para escrever os 18 volumes da enciclopédia dos maiores craques da nossa história, dos quais, alguns, tornaram-se míticos de norte a sul do país.
García
O primeiro time do nosso saudável debate é o Flamengo. No gol, escalamos o paraguaio Garcia, que brilhou no “tri” estadual do Flamengo, de 1953 a 55. Foi, segundo muitos relatos, arrojado e extremamente técnico embaixo das traves. Chegou ao Flamengo após um desempenho espetacular no Maracanã defendendo a seleção do Paraguai. Poderíamos escalar outras feras como o amazonense Amado, que tinha como fã número um o cronista Mario Filho. Foi ídolo rubro-negro na década de 1920. Até o começo dos anos de 1970, muitos o achavam o maior arqueiro do Flamengo em todos os tempos. Mas há também Raul, o guardião da meta do timaço campeão de tudo e de todos no começo da década de 1981, ou mesmo o Júlio César, que tão bem se manteve na Gávea na virada do milênio.
Vamos para a lateral-direita. Nela o rei é Leandro, um dos maiores craques já produzidos pelas divisões de base do Flamengo. Integrou o time do Flamengo campeão do mundo em 1981. Até o seu surgimento, o maior era Biguá, o primeiro “Deus da raça” da história do clube, que fez da lateral posto intocável entre o começo dos anos de 1940 e meados da década seguinte. Outro bom lateral-direito do Flamengo foi Toninho, que deixaria o posto para o próprio Leandro, em 1981.
Na zaga central não houve beque mais extraordinário que Domingos da Guia. Para muitos o maior zagueiro da história do futebol brasileiro. Um jogador que conseguiu um feito memorável nos anos de 1930 ao ser campeão de três campeonatos, em sequência, e em três países diferentes, defendendo o Nacional de Montevidéu, o Boca Juniors e o Vasco. Ícone do seu tempo, Domingos destacou-se na Copa do Mundo de 1938, na França. Outros excelentes centrais na história do Flamengo foram Pavão, do “tri” de 1953 a 55, e Marinho, do esquadrão de 1981.
Para compor a zaga do Mengão dos sonhos escalamos Mozer, companheiro de Marinho em 1981. Clássico, Mozer foi, após Domingos, o zagueiro mais sensacional que brotou na Gávea. Mas lá também fizeram história Hélcio, na década de 1920, Tomires, que jogou ao lado de Pavão, o paraguaio Reyes, no começo dos anos de 1970, e o segundo “Deus da raça” do clube, o aguerrido Rondinelli, autor do gol do título estadual de 1978, uma espécie de “pedra fundamental” do time que conquistaria todos os troféus que veria pela frente até meados da década de 1980.
Na lateral-esquerda é Júnior e ponto final. O “Capacete”, como o chamavam na concentração, era tão sensacional que, para muitos, inclusive torcedores de outros times, foi um lateral-esquerdo superior ao Nilton Santos, o maior da posição em todos os tempos. Heresia ou não, o torcedor do Flamengo não está nem aí. Para ele, Júnior é o melhor lateral canhoto que já viram jogar. Mas o Flamengo teve outros craques na posição. Jayme de Almeida (década de 1940), Jordan (anos de 1950) e Paulo Henrique (anos de 1960) também brilharam.
Vamos para a meia cancha, recorrendo ao velho estilo 4-3-3. Como centromédio ou volante, como queiram, Dequinha senão o melhor foi inegavelmente o maior da posição. Dequinha disputou todos (disse ‘todos’!) os jogos das campanhas de 1953, 54 e 55 que garantiram o segundo “tri” estadual ao Flamengo. Baixinho, era magistral no desarme e, fundamentalmente, nos lançamentos, onde, invariavelmente, encontrava o pessoal da frente pronto para marcar mais um tento para o Flamengo. Além dele, Carpegiani e Andrade foram os outros grandes volantes que envergaram o manto rubro-negro. Os dois jogaram entre os anos de 1970 e 80, sempre disputando a posição ferrenhamente. Quando Carpegiani pendurou as chuteiras em 1981 para assumir o comando técnico do time, Andrade tomou conta da posição.
Zizinho
Entre os meias-armadores nenhum outro superou Zizinho. Ídolo do Pelé, “Mestre” Ziza foi um dos melhores jogadores que o futebol mundial já teve. Cerebral, com dribles magistrais, ágil e goleador, Zizinho marcou época na década de 1940, mas deixou o clube de forma turbulenta pouco antes da Copa do Mundo de 1950 para defender o Bangu, onde também é ídolo intocável. Na posição, também cultuado foi o grande Adílio, escudeiro de Zico na meia cancha do campeoníssimo Flamengo dos anos de 1980.
E quem vestiria a camisa 10 neste time dos sonhos? Ora, alguma dúvida? O nome só pode ser um: Zico. Embora o Flamengo ostente em sua história grandes jogadores como pontas-de-lança, jamais haverá um como o Galinho de Quintino, o maior artilheiro da história do clube, com mais de 500 gols, e um ícone do futebol mundial na década de 1980. Mas o torcedor do Flamengo pode se gabar de ter vislumbrado grandes craques na posição. Pirillo, até hoje o maior artilheiro de uma edição do Campeonato Carioca, destacou-se no time entre 1941 e 47 e marcou cerca de 200 gols pelo time. Na década seguinte, havia Rubens, ou “Dr.Rúbis”, como o radialista Ary Barroso gostava de chamá-lo. Nos anos de 1960, pintou ao lado de Almir Pernambuquinho o corpulento Silva “Batuta” com “dez” nas costas. Após a Era Zico, surgiu o magrelo, porém genial Bebeto, craque na conquista da Copa União, de 1987, título nacional que a Justiça, digamos, sequestrou da história do clube. Outro camisa 10 icônico despontaria somente na virada do milênio. Um gringo sérvio capaz de colocar a bola em qualquer parte do gramado. Como se esquecer daquela cobrança de falta do Petkovic na final do Campeonato Carioca de 2001?
Moderato
Nesta nossa escalação, que segue o modelo 4-3-3, há espaço para ponteiros. Na direita, ousamos escalar um ponta-esquerda de raiz. Para isso, fomos buscar na década de 1920 o grande ídolo Moderato, craque canhoto dos times do Flamengo nas conquistas do Campeonato Carioca de 1925 e de 27, neste último, Moderato — que formou um ataque poderoso com o ponta-direita de origem Vadinho, os meias Candiota e Junqueira e o centroavante Nonô — fez o gol do título (2 a 1) sobre o América. Um gol épico, talvez mais memorável que o do Rondinelli, em 1978, ou o do Petkovic, em 2001, pelo simples fato de Moderato ter jogado a partida com uma cinta protetora. Sim, uma cinta que impediria o rompimento dos pontos de uma recente cirurgia de apêndice a qual foi submetido. Na ponta-direita também brilharam Joel, na década de 1950, também campeão do mundo na Copa de 1958, e Tita, que às vezes, ocupava a “10” do Zico, quando este se contundia.
Leônidas
Centroavante o Flamengo teve aos montes, mas nenhum igual ao Leônidas da Silva, o “Diamante Negro”. A famosa marca de chocolate foi criada em homenagem ao craque do Flamengo, o artilheiro da Copa do Mundo de 1938. Antes de Leônidas, quem fez muito gol pelo Mengão foi o “vara-pau” Nonô, um camarada alto pra burro, que se notabilizou por muitos gols de cabeça e o indefectível gorrinho que vestia. Outra fera, que jogava no comando do ataque ou na ponta-de-lança, foi Evaristo de Macedo. Após deixar o Flamengo, em 1957, tornou-se um dos maiores ídolos em todos os tempos dos rivais Barcelona e Real Madrid. Façanha rara de se ver. Lá, na Espanha, Evaristo é reverenciado até hoje. Mas no Mengão, é também inesquecível. Nos anos de 1960 vieram o briguento Almir Pernambuquinho, que quebrou o pau na final do Campeonato Carioca de 1966, contra o Bangu, o argentino Doval, que vestiu Flamengo entre 1969 e 75, o clássico e estiloso Cláudio Adão, Nunes, o artilheiro das decisões dos “Brasileiros” de 1980 e 1982 e do Mundial de Clubes de 1981, e, por fim, o baixinho Romário, que ficou por pouco tempo, porém o suficiente para marcar o seu nome no Olimpo de craques da Gávea.
Dida
Na ponta-esquerda abrimos uma exceção escalamos um jogador que, talvez, jamais atuasse naquela faixa do campo. Escalamos Dida, o ídolo dos sonhos do menino Arthurzico, que mais tarde entraria para a história como apenas Zico. Dida foi o primeiro craque do futebol brasileiro a tornar a camisa 10 singular e popular, antes mesmo do aparecimento de Pelé, no Santos. Dida foi o nome principal do Flamengo na década de 1950, um genuíno herdeiro de Zizinho, que passou o a coroa de maior artilheiro da história do Flamengo para o seu fã eterno, o menino Zico. Mas o Flamengo teve grandes pontas canhotos de ofício. Vevé (anos de 1940) foi o primeiro deles. Também aprontaram ali Esquerdinha (anos de 1950), Zagallo (idem, em 50), o entortador de laterais Júlio César “Uri Geller” (anos de 1970) e, por fim, o eficiente Lico, que foi muito importante taticamente para o Flamengo campeão mundial de 1981.
Pois é, amigos. Está aí o Flamengo dos sonhos, que a televisão jamais poderá mostrar, mas que a literatura e, sobretudo, os memoráveis cronistas do passado, incumbiram-se de trazer para nós. Somente as narrativas de outrora permitem um vigoroso resgate de memória cultural. Somente a literatura nos oferece a oportunidade de — sem determinismos, claro — sonharmos com o time que desejaríamos ver no quadro do nosso quarto, devidamente desenhado e escalado. Pensando nisso, o cartunista Anli, que, por coincidência, é também o autor da enciclopédia “Ídolos-Dicionário dos craques”, colocou no pincel o maior Flamengo de todos os tempos, como poderão conferir na charge abaixo.
Agora, a bola está com você, torcedor do Flamengo ou com quem, acima de tudo, curte de montão a história do futebol brasileiro. Querem arriscar uma escalação do escrete do Mengão dos sonhos?
Nas próximas semanas teremos o Corinthians de todos os tempos. Mas aguardem torcidas dos outros clubes cariocas. Seus times dos sonhos também estarão por aqui, bem como os de outros grandes clubes paulistas, gaúchos, mineiros, baianos, paranaenses e pernambucanos. Até lá.
ANIVERSÁRIO DO CAMISA 9 PALMEIRENSE
por Marcelo Mendez
Eram cabelos compridos, de um semblante revolto, que usava camisa 9, que usava chutes precisos como versos e com uma fúria que contradizia a academia que era o time do Palmeiras…
Nos saudosos anos 70, ataque alviverde tinha um puma, rápido, mordaz, incisivo, infalível, para finalizar suas jogadas. O futebol o levou à seleção, lhe conduziu até a Copa do Mundo de 1974. O jeito livre e a personalidade forte de ser lhe renderam a alcunha que lhe perdurou por toda vida:
Acontece que César Lemos foi muito mais que tão somente um maluco…
Chegou no Palmeiras em 1967 e por aqui, em 325 jogos, marcou 182 gols, os tantos necessários para fazer dele o segundo maior artilheiro da história do Verde de Parque Antártica e isso é muita coisa.
Ganhou tudo, jogou tudo, amou muito, detestou outros tantos. Intenso como a poesia, verdadeiro como um Blues, César sempre foi muito César pelo tempo que ficou conosco no Palmeiras. Fez de tudo…
Meteu gol de tudo que foi jeito, correu atrás de cartola do São Paulo na final de um Campeonato Paulista, peitou zagueiro, diretor ruim, tudo!
No dia do seu aniversário, tive que aparecer aqui para lhe dar um feliz aniversário e, muito mais do que parabenizar, lhe agradecer:
Obrigado, César!
CALMA, GENTE!
por Zé Roberto Padilha
A final do estadual carioca de 1973 também foi entre Flamengo x Fluminense. No dia 22 de agosto, quarta-feira à noite, com 74 mil pagantes e arbitragem de José Faville Neto, chovia muito. Havia disputado a Taça Guanabara ao lado do Rubens Galaxe, Abel, Marinho, Nielsen Elias e Marco Aurélio porque naquele tempo o Fluminense cedia jogadores à seleção brasileira, como Lula e Marco Antonio. O jogo foi 4×2 para o Fluminense e o Manfrini marcou dois gols e foi o destaque daquela decisão.
Zico
Estava no banco de reservas quando o treinador rubro-negro, Zagallo, lançou o Zico no meio campo ao lado do Paulo César e do Liminha. Aos 42 do segundo tempo, descobri que poderia ser tudo na vida, menos profeta. Porque o galinho foi tentar buscar no desespero uma bola que saíra pela lateral, escorregou na poça, caiu perto do nosso banco e a massa rubro-negra, impaciente e já derrotada, não perdoou sua queda. E lhe deu uma tremenda vaia. Quando levantou, ainda magro e sem o trabalho de reforço da massa muscular que José Roberto Francalazzi lhe faria mais tarde, virei para o lado e comentei com o Rubens:
– Coitado deste menino. Não deve ir muito longe!
Zico tinha apenas 20 anos. Não era fácil, nem mesmo para quem despontava Zico, ser titular com esta idade em qualquer grande time do Brasil. Tanto que ele só foi convocado para a seleção brasileira três anos depois e se tornou campeão mundial de clubes aos 29 anos. Havia ciclos, do Zizinho, do Dida, Silva, o Batuta, e eles duravam alguns anos, nada deste troca troca intermitente que mal dá tempo para a Panini organizar seu álbum de figurinhas. Quando ela tira a foto e o jogador vai para o pacotinho, há um grande risco do garoto comprar a figurinha nas bancas e o atleta já estar em outro clube.
Agora, no afã de vender sua maior promessa das divisões de base, porque Vinícius Júnior é apenas uma promessa (quantos não ficaram presos no elevador da subida com síndrome de pânico diante das responsabilidades e contusões?), Zé Ricardo abre mão de tentar ganhar do Atlético Mineiro, no ultimo sábado, e deixa de colocar em campo um jogador com mais bagagem, entrosado com o elenco e que fez parte do grupo que vencera o estadual, para antecipar seu ciclo. A ordem que veio de cima pouco combina com a maturidade administrativa da gestão Bandeira de Melo:
– Precisamos logo colocar este menino na vitrine!
Só que a roupa que vai vestir o modelo a ser exposto no Santiago Bernabeu para o mundo da bola deve ser moda de hoje. A que está sendo exposta é a do futuro, e para alcançá-lo este menino precisará de uma carteira de motorista para dirigir o seu destino – e sua idade só permite que conduza uma moto de 125cc de casa até o Ninho do Urubu. Jogar após às 22 no horário global? Melhor esquecer, menores de 18 anos são proibidos de trabalhar no horário noturno e a legislação brasileira os proíbe de serem expostos em condições perigosas e insalubres como, por exemplo, enfrentar o Rodrigo, do Vasco.
Para fechar, tem coisa pior e mais constrangedora: se quiser viajar para Madrid com sua Marquezine vai precisar de autorização do papai e da mamãe. Que tal esperar madurar este menino? E chamar o Professor Francalazzi para encorpar?
O VÍCIO DA ENCICLOPÉDIA
por Sergio Pugliese
No meio do mato, o homem nu apoiou-se numa árvore para vestir o short. Os galhos e arbustos quase feriram seus olhos, mas com os braços livrou-se do perigo e ressurgiu em campo. O repórter Geraldo Romualdo, do Jornal dos Sports, espantou-se com a cena: “Você é louco? É um campeão do mundo, como pode jogar num campo desse nível e trocar de roupa no mato?”. Considerado pela FIFA o melhor lateral-esquerdo de todos os tempos, Nilton Santos apenas riu. Simples, assim. Como se três anos antes não tivesse usado o vestiário do Estádio Nacional de Chile para cobrir-se com o manto sagrado da seleção e conquistar o bicampeonato mundial em cima da Tchecoslováquia por 3 x 1.
– O Nilton é um exemplo de humildade, sempre foi um dos primeiros a chegar em nossas peladas para não ser escalado por força da fama. Fazia questão de disputar a vaga como todos os “normais” – contou Mário Duarte, o Flecha de Prata, autor do livro “Veteranos do Zumbi”, timaço da Ilha do Governador criado pelo professor Jorge Ferreira, em 1948, e adotado pelo craque após pendurar as chuteiras, em 1965.
Nessa época, o jornalista Geraldo Romualdo fazia uma matéria especial com Nilton, apelidado de Enciclopédia pelo vasto conhecimento sobre futebol. Ele o acompanhou por alguns dias para entender sua rotina. Encantou-se com tanta pureza. De carona com o ilustre botafoguense, tetra campeão carioca pelo alvinegro, sentiu-se num ônibus escolar e o viu parar de porta em porta recolhendo os jogadores do time, como se fosse aquele típico perna de pau em busca de um lugar ao sol. Carro lotado, levou Franz, Gato e Udinho para saborear peixe frito e caju amigo, na Freguesia, bairro da Ilha.
– A pelada o fazia plenamente feliz. Jogava do meio para frente e costumava dizer que na lateral só para ganhar dinheiro – revelou Fernando, o grande ausente do encontro promovido por ele, no Governador Iate Clube (Salve, Oilson Roberti!), para homenagear o parceiro.
A turma do A Pelada Como Ela É jamais perderia essa festa. Foi demais! Mais de 50 amigos reunidos, jogando bola, rindo e saboreando o peixe frito do mestre-cuca Altamiro. Para completar nossa felicidade, quem apareceu foi Marinho Chagas, outro monumental lateral botafoguense. Fã de carteirinha do “Bruxa”, o centroavante Reyes de Sá Viana do Castelo, de nossa equipe, emocionou-se e ligou para o pai, o músico Robinson de Sá, que não perdeu tempo: “Pergunta para ele sobre o lençol no Pelé”. Marinho confirmou! Em sua estréia contra o Santos! PC e Carlinhos, considerados os craques do grupo, convocaram a galera para fotos. Dona Coeli, há 42 anos casada com Nilton Santos, não conseguiu ir mas disse que prestigiou os jogos e as resenhas por muito tempo. E lembrou-se de uma passagem envolvendo Fernando, ainda adolescente. Ela e o marido estavam de carro quando uma bola surgiu no meio do caminho e Nilton freou bruscamente. Fernando, botafoguense roxo, de olhos arregalados, resgatou a pelota.
– Quando ele chegou na janela e viu que o motorista era o seu ídolo, tremeu de emoção e falou que a bola foi sortuda porque Nilton jamais a maltrataria. Depois, jogariam juntos! – recordou.
Texto publicado originalmente na coluna A Pelada Como Ela É em 18 de fevereiro de 2012.