LEMBRA?
por Sergio Pugliese
Sergio, Guará e Wilsinho. | Foto: André Teixeira
Numa conversa com amigos psicólogos comentei sobre a criação do Museu da Pelada, esse site que, humildemente, se propõe a eternizar histórias bacanas de boleiros. Nunca imaginei que a notícia desencadearia uma sessão de análise em plena mesa de bar.
– Interessante essa iniciativa! Até me animo em escrever um artigo propondo uma discussão epistemológica para o estudo do futebol como objeto científico – dissertou Paulinho Assef ou Dr. Assef para os “analisados”.
Achei o comentário denso e, não tendo cultura suficiente para debater o tema, pedi um pastel de angu. Mas Julinho Bandeira, colega de profissão de Assef, não fugiu ao debate.
– O Museu desperta os sentimentos de afetividade e paixão, como enredo para o entendimento do futebol para além do racional e pragmático.
Isso deve ter sido lindo, pensei, mas sem universitários por perto recorri ao garçom.
– Mais uma gelada!!!!
O papo se aprofundava, intenso, recheado de psicologês. Mas meu radar captou um termo que sempre adorei ouvir: memória afetiva. Não saberia explicá-lo tecnicamente. Certamente os meus amigos cabeçudos clareariam meus pensamentos, mas, mergulhei, solitário, numa sessão de regressão etílica e me lembrei do Capri, meu primeiro campinho de futebol e onde vivi, sem qualquer sombra de dúvida, alguns dos melhores dias de minha vida. Exagero? Não, certeza!!!!
– Posso elaborar esse artigo, Pugliese? – perguntou Assef, como se eu estivesse a seu lado, deitado num divã.
O Capri merecia bem mais do que um artigo. Deveria ter sido tombado pelo Patrimônio Histórico. Era a memória afetiva de um bairro! Memória afetiva, adoro falar isso!!!! Quando entrei no Capri pela primeira vez senti uma emoção muito, mas muito, mas muito maior do que em minha estreia no Maracanã para assistir Vasco x Portuguesa. O campinho ficava, na Murtinho Nobre, em Santa Teresa, nos fundos do colégio Machado de Assis, onde estudava. Não fazia ideia de sua existência até, um dia, vários garotos entrarem correndo no pátio da escola para resgatar uma bola que caíra na área da cantina. A partir daí, eu, Luís Antônio, Paulo Roberto, Carlos Gordo, Mauro, Zezinho & Cia elegemos o Capri como nossa segunda casa. Cresci ali! Na mesa, o debate prosseguia:
– Fatores chamados não-cognitivos influenciam no desempenho da memória de maneira significativa – ensinava Julinho.
Talvez minha memória seja seletiva porque só me lembro de momentos especiais, pelo menos os vividos no Capri. Na rua do campo, moravam dois cracaços, Orlando Bomba e Edu Tostão. Ficar sentado, sob as árvores vendo jogá-los era uma dádiva. Ali, vi os caras que conquistaram o primeiro título do Aterro, em 66, Hugo Aloy e Rony, deitarem e rolarem. Quantos tênis o explosivo Rony arremessou no telhado do Machado de Assis!!!! E Porquinho, o artilheiro Duílio, o trio Roberson, Flávio e Ruy? Seu Djalma marcando o tempo e vendo o filho Márcio encher Cesar de gols. Meu irmão Bruno, o Diabo Louro, espanando, na zaga, e meus amigos da vida toda Guará, Wilsinho e os saudosos Vitinho, Adãozinho e a pontinha Mônica Villaça. Será que isso é memória afetiva? Na verdade, o Capri foi parte da memória afetiva de um bairro inteiro.
– Você lembra de seu primeiro campo, Pugli? – perguntou Assef.
Ah, como lembro, pensei!!!! Quando anunciaram que na semana seguinte o Capri seria interditado para a construção de uma praça, anexa ao Parque das Ruínas, a resenha virou uma terapia coletiva. Aquele campo tinha um valor social além da conta!!! Vi amigos chorando e, claro, desabei também. Percebi, talvez, pela primeira vez, que a relação entre o homem e a bola ia muito além da imaginação. Talvez naquela situação se encaixasse a frase atualíssima do Assef: “entendimento do futebol para além do racional e pragmático”. Deve ser isso. Só sei que ontem fui ao Parque das Ruínas para ver a exposição do parceiro Cosme Martins. Tantos anos sem ir lá, uns 35 talvez. Encontro Guará e Wilsinho!!!! Caraca, memória afetiva perde!!!! Mas é isso, memória afetiva é um armazenamento de sensações sedimentadas, que explodem, brotam, ganham vida própria quando, por exemplo, encontramos o Guará e o Wilsinho!!! E do alto do Parque das Ruínas, coração disparado, os três olhando para o que um dia foi o Capri, Guará, conservando a pureza juvenil, abre a porteira das emoções com uma pergunta objetiva, curta, no fígado da memória: “Lembra?”.
UMA PARTIDA “IMPROVÁVEL”
por Walter Duarte
O dia era 6 de agosto de 1974, em uma manhã ensolarada, Campo dos Goytacazes parou para assistir ao desembarque do craque Afonsinho e do zagueiro Brito, campeão do mundo em 70. A dupla reforçaria o tradicional e modesto Roxinho, o Campos Atlético Associação, em uma partida amistosa contra o Palmeiras.
Após vários embates com os dirigentes dos clubes que defendeu, Afonsinho, o homem que não vendeu sua alma, havia conseguido o tão sonhado “passe livre”, fato que resultou em uma frase inesquecível do Rei Pelé: “Homem livre no Brasil somente o Afonsinho”.
Naquela época, eu tinha apenas sete anos de idade e morava no bairro Parque Leopoldina, onde fica o pequeno estádio Ângelo de Carvalho, do Roxinho, palco de muitos jogos do extinto Campeonato Campista. Levei alguns anos para saber da ocorrência do amistoso, e ainda jovem fiz um questionamento a mim mesmo: como e quem teria trazido o craque para este jogo, além de Brito e a Academia do Palmeiras completa com Leão, Luis Pereira, César, Leivinha, Ademir da Guia e cia?
Devido ao apelo de público, essa “partida improvável” para os padrões da época foi disputada no estádio do Goytacaz, “lotado até o bigode” como diria um amigo meu. O Campos Atlético na sua melhor fase disputava o campeonato local e o campeonato do interior Fluminense (sem os grandes da Capital), com os rivais Goytacaz e Americano, que no ano de 1975 participaria pela primeira vez do Campeonato Brasileiro. O Palmeiras, por sua vez, era quase imbatível na época com vários jogadores na seleção, sendo uma atração imperdível para os amantes do futebol.
Como de fato o amistoso foi viabilizado, faz parte do folclore e desperta curiosidades para muitos até hoje. O certo é que o Palmeiras venceu o jogo por 4 a 1 com um gol do Afonsinho para o CAA. Curiosidades à parte, após 41 anos, em 2015, Afonsinho retornou à Campos como convidado especial para as comemorações dos 102 anos do Roxinho. Por acaso, naquele domingo de outubro eu estava visitando minha mãe no bairro onde cresci e fui convidado pelo Mauro, amigo e frequentador das peladas no clube a participar desta partida comemorativa. Confesso que não estava acreditando, mas abendo da veracidade do convite, não perdi tempo! Fui correndo pegar as surradas chuteiras e me apresentei para o MATCH.
Joguei a pelada ao lado de veteranos como o grande lateral Totonho do Goyta (meu time na cidade) e procurei não inventar. Tirei fotos com o craque Afonsinho e como todos ali fiquei impressionado com a simpatia, simplicidade e seu inconfundível estilo de jogo. Ao final, realizei um sonho de criança e o Campos Atlético, sem dúvidas, reviveu as lembranças de seu maior evento no futebol.
Quanto ao resultado da pelada, 1 a 0 para o time do Afonsinho, mas foi o que menos importou. Ganhei o dia me sentindo o peladeiro mais feliz do mundo ao som daquela música do Gil “Meu Amigo Afonsinho”.
(Foto ilustrativa: Marcelo Tabach)
FICHA TÉCNICA:
06/Agosto/1974
Amistoso: Campos-RJ 1 x 4 Palmeiras
Local: Ary de Oliveira e Souza (Campos-RJ)Árbitro: Silvestre Campos Filho (RJ)
Renda: Cr$ 135.000,00
Gols: Afonsinho 12 do 1º Tempo; Leivinha, Nei, Ronaldo e Brito (contra) no 2º Tempo.
Campos-RJ: Gato Félix, Edalmo, Brito, Rebite e Gilberto; Afonsinho (Ramon) e Emílson; Lauro, Neto, Balula (Xavier) e Jorge.
Palmeiras: Leão, Eurico, Luís Pereira, Alfredo Mostarda e Zeca; Dudu e Édson Cegonha (Fedato); Edu Bala (Ronaldo), Ademir da Guia, Leivinha e Nei. Técnico: Oswaldo Brandão.
UM CIRCO SEM A MÍNIMA GRAÇA
por Mateus Ribeiro
Quando era adolescente, era fanático por tudo que envolvia futebol. Colecionava revistas, álbuns de figurinhas, assistia a todos os programas esportivos e partidas possíveis. Era realmente um vício, a ponto de me sentir chateado quando passava um dia sem ver a bola rolando.
Hoje, tudo é mais fácil. TV por assinatura, Internet, tudo possibilita que informações apareçam aos milhões, a qualquer hora, em qualquer lugar. Antigamente, essas facilidades eram apenas um sonho distante na minha cabeça. A distância desse sonho me aproximou de uma das maiores paixões que tive na vida: o rádio! Todo domingo acordava cedo para ficar grudado em um velho aparelho ouvindo Milton Neves segurando o rojão durante um plantão que durava horas. Milton e sua equipe conseguiam unir uma competência ímpar com uma dose de humor que deixava todos os públicos satisfeitos. Inclusive eu, um jovem que apesar de apaixonado, pouco entendia de bola. Comecei a gostar muito do mundo da comunicação, e a acompanhar com um olhar mais crítico tudo que envolvia o jornalismo esportivo. Bom, pelo menos tudo o que estava ao meu alcance.
Continuei ouvindo rádio, assistindo Cartão Verde, Super Técnico, o saudoso Show do Esporte, e tantos outros programas. Esperava pelo dia que a tecnologia chegasse logo, e com ela, eu pudesse ter opções mais variadas no meu já grande cardápio esportivo. A tecnologia chegou, e com ela, um oceano de decepções.
Comecei o texto dessa maneira para mostrar que antigamente, com muito menos recursos, a qualidade era alta. Óbvio que tinha muita, mas muita coisa ruim. Porém, acredite se quiser, até o Globo Esporte era legal. Me referi ao Globo Esporte pelo fato do jornal da hora do almoço ser uma das principais vítimas daquele que é um dos principais inimigos da inteligência humana: o jornalismo engraçadinho.
O modelo adotado pelo programa era terrível: um apresentador descolado, brincadeiras sem o mínimo de graça, e reportagens irrelevantes. Um negócio constrangedor mesmo, mas que poderia ser superado. Infelizmente conseguiram, com aquela desgraça intitulada Jogo Aberto.
Renata Fan e Denílson
Comandado por uma dupla tão carismática quanto uma folha de papel vegetal, o programa é um absurdo em todos os aspectos. Mas o absurdo reside no fato de que exista quem consiga achar graça na dupla, e pior ainda, quem enxerga humor nas brincadeiras (muitas vezes maldosas) praticadas por Renata Fan e seu escudeiro Denílson. Como se não bastasse tudo isso, colaboram com a tragédia o fato de tudo no programa ser absolutamente previsível. A cereja em cima do bolo é o fato do ex-jogador cantar a apresentadora ao vivo, em rede nacional, em toda oportunidade. O que mais machuca a alma é saber que essa aberração (um verdadeiro desserviço) possui um grande número de fãs, que acha engraçado essa mistura de humor raso, informações vazias e clubismo velado travestido de piada. O programa falha em tudo, porém, como sempre existe um sapato velho para um pé cansado, existe quem perde tempo com esse aborto da natureza.
Já bastante cansado de tudo, imaginei que a referida atração fosse o fundo do poço. Descobri que era apenas a ponta do iceberg. Com a chegada da internet e o boom das redes sociais, tudo piorou. De uns tempos pra cá a coisa ultrapassou todos os limites da inteligência e da paciência humana.
Você está duvidando que a situação está insuportável? Siga estes dois passos:
1 — Ligue sua TV;
2 — Assista ao programa “É Gol”, transmitido pela Sportv.
O terceiro passo é a decepção por ter perdido 60 minutos de sua vida. Tudo de pior do jornalismo infantiloide está ali contido. Linguagem jovem da Internet, aquelas piadinhas dignas de show de stand up, e o tal do Zé Carniça.
Enfim cheguei no ponto que queria: tal qual em TODOS os jogos do campeonato transmitidos na TV, um dos assuntos mais abordados no tal “É Gol” é o nosso querido e estimado jogo Cartola FC. Eu escalo meu time e brinco em algumas ligas. O jogo é legal. Porém, a paciência vai para o espaço cada vez que algum apresentador, repórter ou comentarista faz alguma intervenção falando do jogo. E não são poucas as vezes. E você acha que esse é o pior que o jogo pode proporcionar? Ledo engano. O Cartola apresentou ao mundo a pior coisa que o futebol me proporcionou: o tal do Cartolouco.
Cartolouco
Vou poupar o estômago de quem está lendo e não vou me prolongar muito nesse assunto. Tudo o que posso dizer é que essa onda engraçadinha já deu. Sério. Ninguém com o mínimo de cérebro e sentimentos tem paciência para aturar essa palhaçada. E o tal do Cartolouco (que não faço ideia de onde brotou) consegue juntar tudo de pior dessa onda que de engraçada não tem absolutamente nada.
Enquanto isso, milhares de pessoas competentes e sérias passam horas criando conteúdo de qualidade em sites independentes, páginas no Facebook e afins. Duvida? Acesse as páginas do Sem Firulas, do Museu da Pelada, ou o site do Trivela, que apesar de tratar o futebol como coisa de nerd, tem seus bons momentos. O que é inadmissível é saber que o que é sério e bom não tem espaço, ao mesmo tempo que essa enchente de incompetência e mediocridade aparece na TV, na Internet, no rádio, e onde mais for preciso.
Chego a sentir saudades do Debate Bola, que tinha profissionais que tinham o dom para saber brincar. Coisa que essa turma que sentei a mamona no texto não tem. Nem o dom de saber brincar, tampouco o de informar.
Resta ver o que pode vir pela frente. Pelos rumos atuais, é provável que tudo piore nesse circo que virou a imprensa esportiva. Infelizmente, um circo sem a mínima graça.
A IMPORTÂNCIA DE NOVE MINUTOS NA VÁRZEA
texto: Marcelo Mendez | foto: Eduardo Lima
(Foto: Eduardo Lima)
Faltavam nove minutos para o fim…
Em dia em que o sol novamente ousou aparecer em meio ao inverno do ABCD, 22 homens suavam gotas de poesia pelas têmporas. No bico de suas chuteiras coloridas carregavam toda a dignidade de seus sonhos, de suas ambições mínimas, do réquiem para um instante de grandeza.
Era mais uma final de várzea…
No Estádio do Baetão, Corinthinhas de Alves Dias e Jurubeba definiam quem era o melhor time da cidade.
De um lado, uma máquina de jogar futebol, o Corinthinhas, com seus dois anos de invencibilidade, sua defesa intransponível, seu ataque avassalador e seu escrete de jogadores fortes e atléticos.
Do outro lado, havia então o Jurubeba. Time do Jardim Jussara e sua trajetória de lutas e conquistas múltiplas. Em cinco anos de atividades na liga da cidade, o rubro-negro tem quatro títulos de acesso, em quatro anos seguidos. No primeiro ano da divisão de elite, chegou à final do campeonato com todas as honras possíveis, imaginem que ousadia:
Não perdeu para o Corinthinhas! E mais, ousou a fazer gol em um empate de 1 a 1 contra os invencíveis!
Uau!
Tudo isso e muito mais me credenciavam a ter uma história rica para contar, como sempre acontece nas coisas do futebol de várzea. Nada no mundo da bola marrom, adornada por todo o terrão que se possa pensar, é, tão somente, comum.
Mas então, faltavam nove minutos para o fim…
Até aquela altura do campeonato as coisas eram lúdicas. O Jurubeba contara com duas falhas clamorosas de uma zaga inexpugnável para virar uma partida que havia saído perdendo. Com os gols de Binho e Da Lua, o caçula abusado vinha conseguindo uma proeza, uma façanha. Vencia por 2 a 1 toda a pompa de um time que sem dúvida é o melhor do ABCD
Mas ainda faltavam nove minutos…
Nesse minuto em que olhei para o relógio, uma bola se ofereceu limpinha para o lateral esquerdo Roque, do Corinthinhas e então, com a frieza quase que cruel que têm os grandes, os vencedores, mandou a pelota para o fundo das redes do goleiro do Jurubeba. Nesse momento tudo mudou.
A realidade, quando chega a um campo de terra, vem com a força de um milhão de centuriões em fúria. Dilacera paixões, frustra sonhos e vilipendia amores, apenas por charme do destino. Não, o Jurubeba não seria mais o campeão.
Como que por capricho também não perderia o jogo; seria vice-campeão com um empate em 2 a 2 pra reafirmar ainda mais a excelência do outro, que conquista assim o caneco por uma campanha que as Gentes do Jurubeba sabem, foi a melhor do certame.
Não fica o choro. O honrado time do Jardim Jussara sabe que seu vice campeonato é grande, dado a dureza em que foi conquistado. É merecedor de todas as odes do mundo da bola, por um bom tempo ousou vencer um time que é uma máquina e se não conseguiu perpetuar isso agora, decerto em breve o conseguirá. De lição ficam outras coisas, mas a principal, ressonará por muito tempo para o Jurubeba:
Cuidado!
Afinal, faltavam nove minutos…
UM CANHOTO DECIDINDO DE DIREITA
por Matheus Rocha
Elivelton comemorando gol na final
13 de agosto de 1997: Avenida Catalão já estava cheia desde o Anel Rodoviário. Faltavam poucos quilômetros, mas muito tempo para chegar no Mineirão. Tudo parado, ou como um bom mineiro: “tudo agarrado”. Eu com meus 15 anos esperando ver aquilo que ouvia meu pai contar sobre Piazza, Nelinho, Joãozinho e Raul.
Nem sabíamos como havíamos chegado lá: perdemos as três primeiras partidas da fase de grupo, trocamos o técnico e ganhamos as outras três, inclusive contra o Grêmio no Olímpico.
Ainda estava clara na memória o gol do Fabinho nas quartas de finais, contra o mesmo Grêmio, no Olímpico: aos 15 minutos do segundo tempo, machucado, recebeu a bola na área, matou no peito e jogou para o fundo das redes de Danrlei, sendo substituído na sequência. O Grêmio reagiu e ainda virou o placar para 2 a 1, mas aquele gol na vontade de vencer me marcou. Classificamos por termos ganhado de 2 a 0 no primeiro jogo.
Camisa oficial de 1997
Chegamos ao Mineirão. Fomos para o mesmo lugar de sempre: bar 15, de frente para o centro do gramado, do outro lado das cabines de rádio, na arquibancada de baixo. O adversário era o Sporting Cristal do Peru, o qual já tínhamos ganhado por 2 a 1 no Mineirão na fase de grupos. Mas ao invés dos 8 mil torcedores da primeira fase, o velho Mineirão tinha 95 mil torcedores para empurrar o Cruzeiro.
Passou o primeiro tempo. A final já durava 135 minutos e ninguém tinha marcado um gol sequer. O primeiro jogo truncado em Lima se repetia em Belo Horizonte. A tensão tomava conta da torcida.
Dida operara milagres desde a fase de grupos, mas após uma falta cobrada por Solano perto da área do Cruzeiro, aos 20 minutos do segundo tempo, o goleiro espalmou a bola nos pés do atacante peruano na pequena área. Um silêncio ensurdecedor tomou conta do Mineirão. Todo cruzeirense tem essa imagem na cabeça: em uma recuperação espetacular, Dida cresceu e defendeu o segundo chute feito da linha da pequena área. Aquela defesa incendiou a torcida mais uma vez.
Após este lance, a tensão já não se controlava nos quase 100 mil presentes. Eu olhava fixo para o gramado, sem reação e já esperando uma disputa de pênaltis.
Ilustração da Libertadores no Barro Preto (bairro da sede do Cruzeiro)
Passaram 10 minutos do milagre do Dida para que após uma cobrança de escanteio, a zaga peruana rebatesse e o canhoto Elivélton pegasse de primeira, de direita, fazendo a bola passar lentamente debaixo do goleiro. A bola morreu mansinha no cantinho da rede do gol de Julio Cesar Balerios. O Mineirão estremeceu novamente, acordou o gigante da Pampulha.
Agora éramos nós e o relógio. Cada segundo precioso, cada minuto uma eternidade. Até que soa aquele apito do argentino Javier Castrilli.
Acabou!!! Somos bi campeões da América!!!
Depois de 21 anos, a espera havia acabado. Hoje, fazemos 20 anos do segundo título. Podem esperar que ano que vem tem mais!!!