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MEU PRIMEIRO E ÚNICO AMOR

por Mateus Ribeiro


Eu sou torcedor fanático do Corinthians. Não escondo isso de ninguém.

Faz quase 30 anos que sou torcedor. Fanático. Extremista, praticamente.

Nas vitórias, eu me sinto a pessoa mais realizada do planeta. Nas derrotas, sinto uma tristeza gigante. Quando a derrota é para algum rival então, sinto algo próximo da vontade de morrer.

Por obra do destino, escolhi o Time do Povo. Em uma época em que as conquistas eram quase bissextas, em uma época em que os rivais da capital ganhavam tudo, eu resolvi escolher o time mais subversivo do futebol brasileiro. Dane-se que os outros ganhavam. Dane-se que o outro time vendeu a alma para uma caixa de leite para comprar Deus, o mundo, e até mesmo alguns trios de arbitragens. Eu me identifiquei com o Corinthians. Escolhi o Corinthians e não poderia ter feito uma escolha melhor.


Meus primeiros ídolos foram Tupãzinho, Ronaldo, Fabinho, Wilson Mano e Neto. A tabela entre Tupãzinho e Fabinho na final do Brasileiro de 1990 é uma das coisas mais lindas do futebol. A personalidade de Ronaldo era algo fora do comum. Wilson Mano comia a grama, jogava em todas as posições. E o Neto… o Neto era o Neto!

Pensando bem, praticamente todo o time de 1990 era sensacional. O eterno Giba, o grande Marcelo, o ainda jovem Dinei, todos ali realmente incorporaram nosso espírito. 1990 foi lindo demais.

O ano de 1995 também foi lindo. Ganhar o Paulista e a Copa do Brasil em cima de dois clubes que dominavam o cenário nacional foi maravilhoso. Depois veio 1998. E depois, 1999.

Aprendi a sofrer e a ser vencedor de lá para cá. E não foi só o número de conquistas que aumentou não. O ódio velado, a inveja de alguns rivais e até mesmo de alguns “jornalistas” aumentou. A necessidade que alguns desses abutres têm de difamar e desmerecer o Corinthians é algo gritante. Acho bastante engraçado. E a cada sucesso do clube, tenho vontade de ligar para cada um desses cronistas para perguntar se está tudo bem. Na verdade, não tenho vontade de ligar. Tenho vontade de ver o Corinthians vencer cada vez mais, e ver esse pessoal sangrar infinitamente.

Esse é o Corinthians. A maior relação de amor e ódio que tenho na vida. Não espero me curar disso. Nunca.

De Tupãzinho até Cássio, passando por Marcelinho Carioca, Marcelinho Paulista, Ezequiel, Viola, Rincón, Vampeta, Dida, e tantos outros que vi, e que não vi também, só posso agradecer.


Que venham mais aniversários. Que venham mais glórias. Que venham mais adversários.

Que venham mais ídolos. Que venham mais herois. Que venham mais títulos.

Que nunca falte o Corinthians em meus dias.

Obrigado, Corinthians. Meu primeiro e único amor.

ANOS GLORIOSOS

por Igor Serrano


Romário, Euller, Juninho Paulista, Juninho Pernambucano, Felipe, Ramon, Pedrinho, Edmundo, Evair, Carlos Germano, Helton, Alexandre Torres, Válber, Mauro Galvão, Odvan, Jorginho, Viola, Vagner, Donizete, Luizão, Luisinho… Um Campeonato Carioca, um Rio-SP, uma Libertadores, uma Mercosul e dois Brasileiros. Qualquer vascaíno que vivenciou o final da década de 90 fica com os olhos brilhando só de escutar os nomes destes jogadores e das conquistas.

O período de 1997 a 2000 foi mágico. Em 1997, com show de Edmundo, o clube conquistou seu terceiro título nacional. No ano seguinte, como cereja do bolo das comemorações por seu centenário de vida, vieram um Carioca e o inédito título da Libertadores da América. Em 1999, um torneio Rio-São Paulo. Em 2000, a conquista da Mercosul no maior jogo da história do futebol (Vasco 4 x 3 Palmeiras, após perder o primeiro tempo por 3×0 e jogar boa parte do jogo com um a menos, fora de casa) e mais um (o quarto) Brasileiro.


Ficou com saudade, amigo vascaíno? Não fique. Thiago Correia fará você voltar no tempo. No próximo dia 06/09 às 19h, o jornalista lançará “Monumental – O Vasco de 1997 a 2000” no Bistrô Multifoco (Av. Mem de Sá 126 – Lapa – Rio de Janeiro-RJ), que conta com mais de 50 entrevistas e depoimentos de craques como Edmundo, Juninho Pernambucano, Ramon, Donizete, Antônio Lopes, Luizão, Mauro Galvão e Felipe:

– A ideia de contar essa história surgiu ao perceber a chegada dos 20 anos do terceiro título Brasileiro do Vasco, em 1997. Conquista que iniciou uma fase muito vitoriosa do clube, que foi até 2000, e que o clube não conseguiu chegar nem perto desde então. Atualmente, jovens torcedores já perguntam como era ver o Edmundo jogar, se o Felipe era tão habilidoso assim, se jogadores como os Juninhos, Pedrinho, Ramon, Romário, Mauro Galvão e companhia eram ‘isso tudo mesmo’. Estes e outros craques formaram a geração mais vitoriosa do Gigante da Colina” – declarou o autor, justificando a motivação para elaborar a obra.


Antes do lançamento, no sábado dia 02/09 às 14h, Thiago participará de debate sobre o Vasco do período abordado pelo livro juntamente com o também jornalista Camilo Sepúlveda (autor do livro “A virada do século”, sobre a inesquecível final da Copa Mercosul de 2000). O evento é uma iniciativa do Selo Drible de Letra e acontecerá no estande da Editora Multifoco (Pavilhão Azul I 01) na Bienal do Livro do RJ.

Confira alguns depoimentos do livro:

Antônio Lopes: “Em 1996, quando assumi, o Vasco estava mal para caramba, um plantel muito ruim. No fim do ano, quando terminou a temporada, preparamos um relatório para a direção mostrando a necessidade de boas contratações. Mas o Vasco estava quebrado, não tinha uma situação financeira que pudesse contratar bons jogadores. Começou 1997 dessa maneira. Nós disputamos o Estadual, depois trouxemos o Mauro Galvão sem gastar muito, conseguimos também o Evair, e começamos a aproveitar a garotada da base, tivemos que voltar as atenções para a base. E pegamos alguns de times pequenos. O time foi encaixando, foi bem, o time foi se armando, no plantel tínhamos Juninho, ainda não tinha deslanchado, o próprio Ramon, conseguimos que eles evoluíssem bastante a ponto de serem importantes, Pedrinho começou a se destacar, Felipe também. Conseguimos ganhar o Brasileiro de 1997. Aí o Edmundo foi vendido, perdemos o Evair, esses dois jogadores que foram importantes em 97, e perdemos para 98. Evair não quis ficar, preferiu ir para a Portuguesa, mas contratamos uma dupla de ataque excepcional, conseguimos o Luizão e o Donizete, e acertamos, e aí trouxemos o Vagner, e aí ficou um time excepcional, bem armado, e ganhamos em todos os anos várias competições, até em ano de centenário, o Flamengo, arquirrival, não tinha conseguido nada, e ganhamos a Libertadores. Até 2000 o Vasco ganhou praticamente tudo”.

Euller: “A primeira lembrança é aquele 4 a 3, a virada no Palestra Itália. O momento mais forte, sem dúvida, foi o momento antes de subirmos ao campo depois do intervalo. Voltamos com o intuito de mudar a situação, de reverter a história que tínhamos vivenciado no primeiro tempo. E no segundo veio a possibilidade de fazer a história. Veio aos poucos, mas veio. Mesmo com a expulsão do Júnior Baiano, sabíamos da possibilidade de virar o jogo”.

Juninho Pernambucano: “Primeira imagem que vem à minha cabeça é quando a gente ganhou em 2000, e a torcida gritava que “não é mole não, eu estou cansado de gritar é campeão”. Claro que era uma brincadeira, mas me chamou a atenção. Isso marcou aquela fase para mim. A gente vinha em uma hegemonia, a gente ganhou muita coisa, pelo menos um título por ano, também perdemos outros, estaduais, e foi um jeito de brincar com a outra torcida”.

Luizão: “A gente chegando em São Januário, jogar na Libertadores, estádio sempre lotado, foi um momento mágico na história do Vasco”.

COM ATORES DIFERENTES, UM FILME REPETIDO

por Mateus Ribeiro


O São Paulo passa por um momento difícil no Campeonato Brasileiro. Após a derrota para o Palmeiras, o Tricolor se afundou ainda mais na zona de rebaixamento. Pior que isso, viu o Avaí e o Vitória o ultrapassarem na tabela e passou a ser o vice lanterna do Campeonato Brasileiro. Mais do que nunca, o fantasma do rebaixamento parece ter chegado no Morumbi.

O clube, que nunca foi rebaixado, passa pelo momento mais tenebroso de sua história. Além de não conseguir resultados, a equipe também não consegue desempenhar um bom futebol. Não tão bom a ponto de deixar o torcedor pelo menos um pouco mais esperançoso ou tranquilo.

É claro que a camisa e a história do time contam muito, mas não dá para contar apenas com isso. É importante também ressaltar que a torcida faz sua parte, comparecendo aos jogos. Porém, acredite se quiser, para se ganhar jogos é necessário fazer algo mágico: jogar bola. Digo mágico, porque fazer um time com jogadores do porte de Bruno, Rodrigo Caio (mais uma bela invenção da mídia que conseguiu chegar até na seleção), Buffarini, Wesley, Wellington Nem, Edimar e mais alguns outros é tarefa dura. E não adianta misturar esse comboio de pereba com Hernanes (que nos últimos anos não desempenhou nada de produtivo na Europa, e chegou com pompas e supervalorizado). Pouco ajuda também os contestáveis, porém blindados, Cueva e Pratto. Dorival não faz milagres. O ex goleiro do time, que achou que meia dúzia de palestras e passeios na Europa fosse o suficiente pra se tornar treinador, menos ainda.

Assim caminha o São Paulo, que vive o mesmo filme que Corinthians, Palmeiras, Botafogo, Internacional, Grêmio, Atlético Mineiro, Vasco, Fluminense, e tantos outros times estrelaram: o caminho para o abismo.

O roteiro é sempre o mesmo: do lado do otimismo, comentaristas dizendo que ainda existe tempo, torcedores estufando o peito pra falar que time grande não cai (quem diz isso não conhece a história do futebol, e se esquece que Manchester United, Liverpool, Arsenal, Borussia Dortmund, Bayern e Milan já caíram, por exemplo), jornalista torcedor tentando amenizar o cenário e desviar o foco para outros clubes. Já do outro lado, rivais começam a vencer jogos, a bola começa a bater na trave e ir para fora, erros bizarros começam a brotar, erros de arbitragem aparecem a todo instante para prejudicar. Junte tudo isso no liquidificador. Pronto, está feita a receita da desgraça.

Sim, ainda existe tempo para o São Paulo se recuperar. Porém, analisando a tabela, nota-se que o São Paulo acumula quase o dobro de derrotas, se compararmos com o número de vitórias. Além disso, perdeu pontos cruciais contra adversários diretos, alguns desses pontos dentro de casa.

Mudanças drásticas são necessárias, e a diretoria sabe disso muito melhor do que eu ou você. O que não pode acontecer é jogador continuar se arrastando em campo, ganhando salário alto, enquanto torcedor cruza a cidade pra apoiar o time. Talvez seja tarde quando jogadores, comissão técnica, jornalistas e torcedores abrirem os olhos.

O tempo existe. Porém, precisa ser aproveitado, como em qualquer situação da vida. Coisa que o São Paulo não está fazendo. Enquanto isso, os rivais se divertem com esse filme repetido, que todo ano muda de ator. Este ano pela primeira vez, o ator vermelho preto e branco está lutando pelo papel principal. Se continuar como está, vai conseguir.

Aguardemos para ver se, no final do campeonato, esse filme de drama e suspense terminará como terror ou comédia.

ROBIN HOOD DO BRASILEIRÃO

por Mateus Ribeiro


Tira dos grandes para ajudar os pequenos. Tal qual o heroi fora da lei, o Alvinegro de Parque São Jorge vem fazendo a alegria dos menos favorecidos, enquanto os mais poderosos sofrem quando encaram o Corinthians.

É bem verdade que o time está desfalcado de peças importantes, e que a oscilação faz parte do futebol. Porém, perder para o Vitória e para o Atlético Goianiense (que tem uma das piores campanhas da historia do Campeonato Brasileiro) foi o suficiente para ligar a luz de alerta em Itaquera. E com todo o respeito aos profissionais que vestem a camisa dos adversários, o Corinthians tem a obrigação moral de pelo menos jogar bem contra tais equipes. Não jogou, e pasme, não marcou um gol nessas duas partidas. Sinceramente, beira o inexplicável.

Se levar em consideração que o Corinthians ainda empatou com Avaí e Chapecoense no primeiro turno, podemos contabilizar dez pontos perdidos para times inferiores técnica e financeiramente.

Quem é torcedor do Corinthians sabe que o clube sempre costuma derrapar quando encontra adversários mais fracos. Algo parecido com uma maldição eterna, que causa calafrios nos torcedores.

Porém, os dois últimos sábados foram tenebrosos para quem foi até o estádio esperando ver duas goleadas, pois os tropeços pareciam impossíveis. Pelo contrário, assistiram duas catástrofes. Para o Corintiano, trágico. Para os demais torcedores, cômico.

Com essas derrotas, o campeonato provou que é um dos mais imprevisíveis dos últimos tempos. Inúmeros times vencendo fora de casa, grandes favoritos sofrendo contra times pequenos, times tradicionais lutando contra o rebaixamento. A cada rodada um time é surpreendido. Nesta, o infeliz foi o Corinthians. E na passada também.

Sendo assim, a disputa fica mais aberta, afinal, tudo pode acontecer. Vamos aguardar e ver se o time de Fábio Carille se recupera ou mantém a fama de Robin Hood!

DE PARIS TEXAS ATÉ O JARDIM DETROIT E ALGUNS ENCANTOS DE VÁRZEA…

por Marcelo Mendez


Amanda Perobeli

E tal e qual Harry Dean Stanton procurando por Nastassja Kinski pelo desertão do Texas, lá fui eu, cronista improvável, caboclo poético, entidade lúdica contumaz e renitente em busca de lirismo pelos campos da Várzea do ACDB. Dá para dizer que a paixão é a mesma. Claro…

Stanton no seminal filme “Paris Texas”, do ótimo Wim Wenders, lutava para encontrar sua loira venusiana com aqueles lábios imortais pelo calor dos Estados Unidos, em botecos de strip-tease dantescos. Pode parecer muito mais louvável do que eu em busca de um bom jogo de bola, mas garanto a vocês que não é de jeito algum algo menor.

Há em um campo de terra batida da várzea a grandiosidade de batalhas épicas. E assim fui:

Estrela D x Corinthians de São Bernardo no campo do Jardim Detroit.

Fui acompanhado da boa paz de Seu Renato, o motorista que por lá nos levou, e por aquela que nem me fez ter inveja do Stanton. Afinal de contas, se ele procurava pela Nastassja Kinski sem encontrá-la de forma pelo Texas, eu de cara já encontrei minha amiga Amanda Perobelli para dar um pouco de charme para essa onda toda.

Amandinha é muito mais que fotógrafa, ela é Bob Gruen assoviando Mutantes, é Richard Kern de tênis Puma colorido ao som de Suffragette City pela Marechal Deodoro. Amandinha de coturno, parada com a mão no bolso de trás da calça jeans, olhando para o quadro de aviso da redação, é a versão mais Rock And Roll do que pode vir a ser a tal da “paz do seu sorriso”. Chegamos juntos no Campo de terra batida e ela que me diz:

– Marcelo, olha essa poeira. Não parece o Saara?

Nessa hora vi ali, sob calor absurdamente escaldante, rostos suados, ares contritos, olhos em suspensão esperando pela catarse que vem a cada bola dividida na várzea. Assistindo àqueles garotos disputando ali seus sonhos mais simples e mais rotundos debaixo daquela pesada cortina de poeira, de terra seca castigada pelo sol do verão impiedoso, ficou simplesmente impossível não me emocionar.

Descobri naquele instante que amava aqueles homens inadvertidamente.

Se eu fosse um Allen Ginsberg faria dessa crônica um verso de “Uivo”, seu livro antológico. Como sou muito menos genial que ele, apenas me emociono. Me deixo levar por uma paixão intrínseca que me faz querer mais e mais e muito mais dessa sensação boa que o futebol de verdade, esporte autêntico, é capaz de despertar no mais incauto dos homens.

Meninos eu vi…

Vi as boas arrancadas do esperto meia Roni, do Corinthians de São Bernardo, bailando lindamente por entre zagueiros pérfidos, perdidos, pálidos e resolutos de seu destino de apenas serem coadjuvantes da obra de arte que foi o gol da vitória marcado pelo camisa 6. Eu vi…

Vi o técnico Reinaldo, do Estrela D, vociferando labaredas de fogo, flamejantes, ácidas como a guitarra de Alvin Lee, com a fúria santa de um Caravaggio… Contra todas as caneladas e bicos que seu time dava para o nada absoluto:

– Maciellllllll… Se você não colocar essa bola no chão e sair jogando eu te mato!!!

Eu vi a terra batida se formar em uma espessa nuvem marrom de poesia e encanto e de dentro dela emergir jogadores de futebol de uma decência, de uma retidão de caráter comovente. Diante disso tudo, pouco importa o placar da coisa toda. Quem vai querer saber daqui a 50 anos do resultado de um jogo de futebol, seja ele qual for? Não é isso que faz do futebol algo imortal. O que o torna diferente são as emoções.

Estas são de uma eternidade mais veemente que os decotes de Mae West.

Vão por mim…