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O AMIGO DOS AMIGOS

texto: André Mendonça | fotos: Daniel Planel | vídeo e edição: Daniel Planel

É com muito prazer que a equipe do Museu da Pelada, diariamente, lê e tenta responder todos os comentários em nossas redes sociais, sejam eles críticas, elogios ou mesmo uma pura resenha. E, hoje, Dia dos Pais, destacamos uma história que nos encheu de orgulho e emoção, a de Andreia Bittencourt, filha do saudoso Mauro Bittencourt, o rei da resenha de Niterói, cria do Canto do Rio. Em uma mensagem ela revelou que o nosso trabalho a encorajara a revisitar o acervo do pai. Três anos e meio após a sua morte, álbuns, fotos, recortes de jornais e a gloriosa bandeira do Canto do Rio descansavam, empoeiradas, no armário. Sabemos, não é fácil aceitar certas situações e a dor da perda nos paralisa. Mas Andreia e o Museu trocaram ideias, experiências e gargalhadas, uma divertida sessão de análise. Deu liga! Andreia, no entanto, precisava de um tempo para convidar os amigos do paizão, os mesmos que durante anos divertiram-se no aconchegante terraço da casa, em Santa Rosa, Niterói. Mas um mês depois, o celular toca.

– Tudo certo, podem vir depois de amanhã? – perguntou, ao celular. E respirou fundo.

Não há dúvida, era uma espécie de libertação e precisávamos agir rápido antes que ela desistisse. Do nosso lado, um prazeroso silêncio antes de comemorarmos com um grito de felicidade. E dois dias depois fomos celebrar a vida com Andreia e os ex-boleiros do Canto do Rio.

Da rua, avistamos o terraço da casa 30. Andreia nos recebeu na chuva e rimos, eu, Daniel Planel e Pugliese, como se nos conhecêssemos há tempos. Que felicidade, a chuva lava a alma!!!! Subimos as escadas e chegamos no reduto do vascaíno Maurão, um dos maiores zagueiros do Canto do Rio, que além de jogador, foi treinador, árbitro, professor de educação física e, sobretudo, um amigo dos amigos.


Andreia registrou tudo no celular

– Eu cresci dessa forma. Meu pai organizava os almoços aqui e a casa estava sempre cheia. Meu pai não está aqui fisicamente, mas consigo sentir a presença dele! – disse Andreia abraçando a estátua do pai em tamanho real, ao lado do irmão Maurinho e da mãe Célia.

Quem não escondeu a tristeza por não poder comparecer foi Verônica, a outra filha de Mauro, que mora na França. Ela, no entanto, fez questão de gravar um vídeo demonstrando todo o seu sentimento.

Apesar do dia frio e chuvoso, os amigos do saudoso zagueiro não paravam de chegar e, ao subirem as escadas para o terraço, se deparavam com uma mesa coberta de fotografias e recortes de jornais, um prato cheio para grandes lembranças. Se já não fosse o bastante, a geladeira entupida de cervejas e um almoço delicioso feito carinhosamente por Cecília tornavam aquela tarde ainda mais agradável.

Um dos primeiros a chegar, o enjoado ponta-direita Nélio conversava com o zagueirão Jaudeir e se recordava de momentos inesquecíveis ao lado do “rei da resenha”.

– Jogamos muita pelada juntos aqui em Santa Rosa, a gente tinha um timaço chamado Acadêmico. O Mauro me dava muitos conselhos e continua sendo um grande amigo meu! – disse Nelinho.

Jaudeir, por sua vez, lembrou dos anos gloriosos vestindo a bela camisa azul do Canto do Rio:

– Era uma época muito boa! A gente jogava por prazer, hoje só jogam por dinheiro.

Quem também prestigiou o evento foi o artilheiro Caio Cambalhota, que revelou ter curtido alguns sambas ao lado do amigo.

– O Mauro fazia parte de uma escola de samba aqui de Niterói e, vez ou outra, ele me convidava para os ensaios. Perdemos um grande amigo, mas estará sempre na memória.


Logo nos primeiros minutos do evento deu para perceber o quanto Mauro era querido, não só pelos adjetivos carinhosos que lhe atribuíam, mas também pelo esforço que muitos fizeram para participar do encontro. Hipólito, por exemplo, percorreu mais de 130 km para sair de Cabo Frio e chegar ao palco das memoráveis resenhas.

– Só tenho coisas boas para falar do Mauro. Foi um dos melhores amigos que eu tive. Me mudei para Cabo Frio, mas fazia questão de vir as festinhas que ele organizava aqui! – relembrou emocionado.

Atenciosa, Andreia mostrava preocupação em relação ao bem-estar coletivo. Sempre abastecendo os copos e oferecendo variados aperitivos antes do almoço, parecia se sentir na obrigação de fazer um encontro prazeroso à altura dos que o pai fazia, e conseguiu. Sua única reclamação era a ausência de Arnaldo, um dos amigos mais próximos de Mauro.


Embora não tivesse nenhum compromisso que impedisse sua chegada na hora marcada, Arnaldo explicou a sua demora:

– Para falar a verdade, eu não queria nem estar aqui. Senti muito a morte do Mauro, era um irmão pra mim.

Um irmão para Arnaldo e para todos que tiveram o privilégio de conhecer o “amigo dos amigos”, o “gente boa”, o “cara sem defeitos”, a fera Mauro Bittencourt!

O MARKETING E OS PROFETAS

por Idel Halfen


A transferência do jogador Neymar para o Paris Saint Germain chamou a atenção até dos que não acompanham o esporte, tamanho o valor das cifras envolvidas. E como não podia deixar de ser, apareceram os especialistas fazendo previsões acerca do retorno financeiro para o clube.

Um dos argumentos mais utilizados se voltou às vendas de camisas. Não faltaram declarações categóricas afirmando que essa comercialização já seria suficiente para amortizar grande parte dos custos envolvidos.

Será que os autores dessas declarações têm acesso ao contrato da Nike com o PSG? Por acaso têm noção de qual percentual cabe ao clube na venda de cada peça? Sinceramente creio que não, mas nem essa simples falta de informações foi suficiente para inibir a verborragia a respeito.

Outra sustentação versou sobre os prováveis incrementos nos valores relativos aos patrocínios, o que faz sentido. Não custa, no entanto, questionar o valor que estimam para esse incremento, lembrando que mesmo sem Neymar o clube francês já faturava mais com patrocínio do que o próprio Barcelona, na época com o jogador brasileiro mais Messi e outros craques, segundo dados do relatório da Deloitte – Football Money League – referente à temporada 2015/2016.


Baseado nesse mesmo relatório é possível supor que haja espaço para um aumento das receitas referentes à bilheteria – onde o time parisiense detém o sétimo maior faturamento global – e aos direitos de transmissão, no qual é o décimo quarto. Entretanto, é importante esclarecer que a ida ao estádio não depende unicamente da presença de um ídolo, até porque se dependesse apenas desse fator o clube ficaria extremamente vulnerável, visto haver o risco de suspensões e contusões. Claro que a existência do ídolo é importantíssima para atrair torcedores, e mais, para criar a cultura de se ir ao estádio, o que pode passar para as gerações vindouras criando assim uma maior sustentabilidade para esse tipo de receita.

Quanto às receitas de broadcasting, convém esclarecer que grande parte das mesmas advém dos direitos do campeonato nacional, que precisaria ser mais atrativo do que os demais concorrentes – espanhol, alemão, inglês e italiano, por exemplo – para dessa forma ter uma valorização expressiva.

Não pretendo aqui estabelecer que as previsões realizadas, sejam essas positivas ou negativas, estão corretas ou não. Se assim fizesse estaria incorrendo no mesmo erro de opinar de forma supostamente técnica sem se ter os elementos necessários para isso.

O intuito desse artigo é chamar a atenção para o erro que se comete ao não encarar o marketing como algo científico, cujas previsões são necessárias, desde que embasadas por números, pesquisas, planos e modelos, ao invés de meros “achismos”.


Afinal de contas, como dizer se algo dá retorno sem saber o que se espera e em que tempo? Ressaltando que parte desse retorno é intangível.

Contudo, o que mais impressiona é ver o espaço que a mídia concede para palpites dessa natureza, o que nos remete às iniciativas similares de previsões sobre os acontecimentos do próximo ano ou mesmo às sessões de horóscopo.

 

Leia mais em: http://halfen-mktsport.blogspot.com.br/

MÃE À VENDA

por Lucio Branco


Sede de General Severiano com faixa anunciando um Baile Black com o Monsieur Lima.

Botafogo de Futebol e Regatas, meados dos anos 1970.

A rigor, o que sucedia ali, dia após dia, quando já se acumulava mais de meia década sem títulos de uma contagem que viria a somar 21, no total?

A resposta: os corredores e gabinetes da sede de General Severiano tramavam a sua venda para a Companhia Vale do Rio Doce. À época, a Vale era uma estatal sob gestão de uma ditadura militar que se mantinha entre abusos e desvios num cenário totalitário e corrupto que demanda urgentemente ser tratado como tal pela História escrita e falada. Pesquisadores honestos podem calcular quão árdua é a tarefa. Afinal, a pós-verdade vigente fabrica revisionismos até mais canalhas que os da época.


Luiz Fernando, Garrincha e Charles Borer

Nas sombras da manobra comercial, a infâmia tinha nome e sobrenome: Charles Borer. Naqueles dias, milicos e congêneres desfilavam à solta pelos clubes. Portanto, nada mais dentro da norma que um cartola acavalar o cargo de presidente de uma agremiação desse porte com o de empresário do ramo de segurança privada. Era exatamente o caso. Mal assumido o comando, não bastou a Borer comercializar no interior do templo – o vendilhão tratou de vender o próprio templo.

Foi um acordo que apresentava o seu fim desde o início: a crise que punha o clube à deriva há alguns anos, agora o faria naufragar. Logo a torcida ficaria nostálgica da razão que a fizera calar o “É campeão” tão ecoado nos anos anteriores:o desgaste do plantel por conta das sucessivas convocações para o escrete nacional. Isso era bem mais que uma mera desculpa para a fuga de taças tidas como certas. Craques em bloco eram assiduamente sacados do Botafogo em plena temporada para compor as maiores escalações que o mundo da bola já testemunhou. Um fornecimento tão generoso que viria a combalir a contabilidade de títulos e dos cofres do clube.

(Um parêntese: definitivamente, não cabe o argumento de que o Santos sofria o mesmo desfalque no período. O Botafogo cedia mais e melhores jogadores. E, em contrapeso, o time paulista contava, então, com um Pelé em permanente estado de auge. O Rei sempre fazia a diferença, inclusive, contra o próprio Botafogo, em decisões com Garrincha, Didi, Nilton Santos etc que superpovoavam o Maracanã da primeira metade dos 1960. Foi somente com a geração subsequente de Gerson, Jairzinho e Paulo Cézar Caju etc, que a vantagem no confronto direto mudou de lado.

Por essas e outras, o constante questionamento do título de Atleta do Século é um exercício onde pontua mais a má-fé que a ignorância.)

O mais comprometedor é que os Borer, um clã policialesco que aproveitava períodos políticos de exceção para mostrar serviço, já carregavam na sua ficha corrida uma outra demonstração de repulsa à instituição que os projetou.

Três décadas antes, em pleno Estado Novo,o irmão mais velho de Charles, Cecil – que depois, sob os militares, foi diretor do DOPS –, disparou à queima-roupa contra João Saldanha numa reunião do PCB, realizada na UNE. A alegação de legítima defesa – Saldanha tentou acertá-lo antes com uma cadeira – é calhorda. O que ficou disso foi o efeito prático que teve na vida do futuro treinador do clube – e já, então, seu sócio dirigente atuante –, que a teve abreviada em função das complicações do ferimento, progressivamente agravadas com o seu envelhecimento natural.

Efeito prático e, faltou dizer, simbólico. Afinal, quem são os Borer em comparação com o treinador campeão carioca de 1957 na galeria alvinegra?

Dado o hábito deste em se prevenir com armas de fogo, seria legítimo especular sobre um possível acerto de contas posterior, em igualdade de condições. Mas é pouco provável. A autodefesa tática adotada por Saldanha alertava que o pior adversário possível é a polícia: – “Eles nunca estão sozinhos”.

(Uma cadeira contra uma pistola…Por aí se vê o porquê do “Sem Medo” que Nelson Rodrigues colou ao seu nome.)

Agora, uma enquete: alguém aí já foi apresentado à carranca de Charles Borer? Uma pesquisa no Google revela apenas três fotos do elemento. Todas de uma matéria da Revista Placar em que ele jura nada ter a ver com um escândalo de compra de árbitros. Com uma ou outra variação, ei-lo às voltas com um tema de semelhante teor.

E mais: numa entrevista para a mesma publicação, em 1981, conseguiu pôr a culpa da sua desastrosa administração na torcida. E,claro, principalmente nos indefectíveis comunistas infiltrados nela…

Mas voltemos à venda de General Severiano…

Por bem menos dentro do quesito entreguismo, retiraram, acertadamente, a foto do Mauricio Assumpção do quadro de presidentes do clube no salão nobre da sede. Na mística relativa de que “tem coisas que só acontecem ao Botafogo”, a História se repetiu, no caso, como tragédia e como farsa: por malversações criminais outras, a justiça foi feita. Mas é preciso dizer que, como resposta a um ex-mandatário de folha corrida, foi um gesto consideravelmente isolado, reflexo direto do seu próprio isolamento político dentro do clube.

Por isso, vai aqui a sugestão – já condenada ao fracasso – senão de também retirar a foto de Charles Borer do mesmo quadro, pelo menos fazer constar, em legenda, sob a sua tenebrosa figura, a informação de que afundou a agremiação em dívidas para se beneficiar diretamente do desfalque do seu patrimônio material maior. Mesmo sabendo que apagar a História não a melhora – lição involuntária que Rui Barbosa deu ao país –, a iniciativa poderia ser considerada.


André Barros

Sei que, nessa trincheira, estaria o bravo advogado André Barros. Desde a época da negociação escusa – contra a qual bateu de frente –, é um engajado nas causas do Glorioso que casam política, direito e justiça (combinação infelizmente inviável na atual conjuntura nacional).

Inclusive, no dia em que o Dr. Barros quiser lançar sua candidatura à presidência do clube, serei seu mais fiel cabo eleitoral. Melhor: se ninguém se apresentar para preencher a vaga, pleitearei compor a sua chapa, caso ele julgue louvável a ideia. Seria este o único modo de dar o meu apoio ostensivo a um candidato na política interna do clube. E reforçaríamos, assim,a sua tese de que o Botafogo é, por tradição, a morada de quem não prima exatamente pela Razão, este atributo menor quando se trata da adesão ao Preto & Branco.

No mínimo, por causa da tentativa homicida de Cecil Borer contra Saldanha, no início dos 1940, seu clã deveria ser impedido de circular pelas dependências do clube. Intolerância zero na afirmação. Só assim para haver o reparador senso de justiça verdadeiramente democrático diante do malfeito. O Estado Novo terminou pouco tempo depois, mas por aí se vê o quanto o pouco apreço nacional pela democracia seguiu incólume.

A entrega da sede de General Severiano prova o perigo da concentração de poder nas mãos de um só cartola. E, para piorar, não bastando influir nos bastidores da sua administração, outro membro da mesma famiglia vir a se tornar, anos depois, presidente da instituição, só poderia ser obra de um período permissivo com arbítrios dessa natureza. Mas, de certa forma, não deixa de guardar coerência com a escolha de outros nomes que ocuparam a mesma cadeira naqueles anos de exceção, e também posteriormente – porque afinal, por aqui, em política, exceção é regra.

No loteamento que a ditadura operou no futebol brasileiro, o Botafogo foi um dos seus maiores reféns.


Mas o que importa é que segue vivo…

A luz que ora cai sobre o Alvinegro redime, com rara justiça, tantos naufrágios imerecidos, parentes daquele que não foi o primeiro, mas que foi, certamente, o maior: a entrega da sede. Sua restituição, anos após, não apagou o trauma. A rigor, o trauma que resultou dali não foi exatamente trauma. Foi maldição mesmo .Em suma: Borer é o nome a se exorcizar.

Ponho fé que vencer pelo menos uma das duas competições que o Botafogo tem chances concretas de vencer este ano dará fôlego à iniciativa (simbólica ou não) de retirar o seu retrato do quadro oficial de ex-presidentes. Ou, então, como sugerido, grafar a devida acusação histórica sob a cara medonha daquele que se igualou ao filho que, como consagrou o dito popular, vendeu até a mãe.

Pensando bem, por mim, a sugestão já virou promessa. E, claro, promessa é promessa. Portanto, Dr. Barros, a nossa chapa deve assumi-la desde já. Quando lançamos a candidatura?

SE VIRA Aí, ZÉ!

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


(Foto: Nana Moraes)

Antes que o vendedor do quiosque fizesse alguma pergunta – sempre faz! – me adiantei: “Qual a enquete do dia?”. “Zé Ricardo”, respondeu. Não vou nem entrar no mérito da qualidade do Zé Ricardo como técnico porque para mim é apenas mais um professor de Educação Física tentando a sorte. Mas se o meu amigo Carlos Alberto Parreira chegou aonde chegou, porque ele também não poderia?

É só uma questão de estar no lugar certo, na hora certa. O Flamengo não tem padrão de jogo. Ou tem? Mas acho que o menor culpado era ele. O que existe hoje no futebol é uma queda de braços entre treinadores e gerentes de futebol. Viram o que o Cuca fez no Palmeiras? Mandou o gladiador embora! Ah, o Gladiador está no Coritiba?  Verdade, mas o Felipe Melo também poderia ter esse apelido. Foi uma contratação do gerente, de um executivo, que o Cuca não quis aproveitar. Aí, o Cuca colocou o presidente na parede: “Ou ele ou eu”. E assim o Felipe Melo dançou.

Estaria o Zé Ricardo de acordo com esse caminhão de contratações? Não sei, mas sei que o Zé Ricardo não tem quilometragem para fazer essa pergunta – e teria dançado antes se ameaçasse um… “ou eu ou o Berrío”. Quando o Zé começou a lançar o Vizeu chegou o Damião. Será que o Zé Ricardo estava de acordo ou foi apenas comunicado?


Ao lado de Rodrigo Caetano, Zé Ricardo recebe Berrío

Vai fazer isso com um Luxemburgo ou um Abelão para verem a encrenca que irão arrumar. Quem é o mais errado da história, Zé Ricardo ou Rodrigo Caetano, o gerente de futebol? E esse goleiro pegador de pênaltis, valeu todo esse investimento? Cadê o Conca e outros tantos argentinos que não se firmam?

O amigo do quiosque até me perguntou quem era o olheiro do Flamengo na terra do tango porque até agora ele só indicou argentinos sem raça, kkkkkk!!!! Sinceramente, imagino o Zé Ricardo comandando um treinamento no campo e vendo as novas contratações entrarem pelo portão, aos montes, aos quilos, e os executivos do outro lado do alambrado dando aquela força: “se vira aí, Zé”.

DINHEIRO E OBA-OBA NÃO ESCREVEM A HISTÓRIA

por Mateus Ribeiro


Em mais uma noite terrível para clubes brasileiros, Palmeiras e Atlético Mineiro foram eliminados da Copa Libertadores da América. O alviverde caiu para o modesto Barcelona de Guayaquil nas penalidades máximas, enquanto o Galo de Minas apenas empatou com o mais modesto ainda Jorge Wilstermann.

Os dois clubes se juntaram ao Flamengo como os brasileiros eliminados (dentro do campo, já que a Chapecoense foi excluída do torneio por outros motivos). Curiosamente, no início do ano, os três figuravam como os melhores elencos do Brasil, pelo menos na boca da imprensa esportiva “especializada” e de alguns torcedores mais exaltados.

Quem acompanha futebol sabe que essa história de melhor time, melhor elenco, geralmente é o Selo da zica, que faz com que os times assim nomeados não alcancem nem metade do que foi projetado. Exemplos temos de monte, e em todas as proporções: os galácticos do Real Madrid, o time da MSI, a seleção de 2006, o “melhor ataque do mundo” e o próprio Internacional de Porto Alegre nos últimos anos.

A receita é basicamente a mesma: trazer jogadores que estão sem mercado na Europa a preço de ouro, inflacionar o mercado, encher as redes sociais de propaganda e vídeos mostrando todo o suposto poderio do elenco, lançar dezenas de campanhas, e dar entrevistas falando sobre as finanças do clube. Do lado da imprensa, o papel é projetar sucesso, fazer um carnaval em cima de qualquer pereba que o clube contrata por um valor exorbitante, palpitar sobre as possíveis escalações do time e repetir a frase “time x tem um dos melhores elencos do Brasil” quantas vezes puder. Sem medo de repetir, para entupir a grade de programação, sem pudor algum mesmo. Resultado: um número gigantesco de torcedores mais desinformados que compram essa ideia, e invariavelmente se decepcionam.

Com Palmeiras e Atlético Mineiro as coisas não foram diferentes. E, analisando friamente, a chance de acontecer algo longe das expectativas era real.

Falando sobre o Palmeiras, o campeão brasileiro de 2016 resolveu continuar tentando gastar o dinheiro da Crefisa de qualquer forma. Despejou um caminhão de dinheiro em Borja, o símbolo do fracasso. Alguns podem dizer que ele foi bem nas fases finais da Libertadores passada, e que cansou de fazer gols no futebol C O L O M B I A N O. Está certo que realmente ele foi bem no torneio continental. Mas, sejamos honestos, é inadmissível pagar uma quantia pornográfica por um jogador que tem um ano bom no futebol, e que em seis anos de carreira já rodou o planeta. Estava escrito que provavelmente não iria atingir o nível que se esperava dele. Pior, até o momento, é um mico gigantesco.

Mas não para por aí. O tal Felipe Melo chegou como se fosse o Falcão do Século XXI. Falou muito, jogou pouco, teve imprensa e torcida passando pano para suas atitudes estúpidas, fez mal para o grupo (óbvio) e foi dispensado. De resto, um elenco inchado e com nomes do calibre de Keno, Tchê Tchê, Egídio, Bruno Henrique, Edu Dracena, e tantos outros não pode ser considerado imbatível. Ainda mais se tal elenco for comandado por um treinador que acredita que uma calça pode dar sorte ao time. Para o Palmeiras, resta uma reflexão profunda sobre o ano de 2017 (e sobre o papel dos tais diretores de futebol).


O Atlético Mineiro não tinha tanto holofote, mas também era bem cotado. O que não consegui entender desde o início foi porque um elenco envelhecido, recheado de jogadores que saíram da fase boa há tempos era tão louvado. Para completar o pacote, contrataram aquele que seja talvez o jogador mais acomodado e supervalorizado do Brasil, Elias.

Não bastasse todos esses fatores, o tão falado planejamento foi por água abaixo quando demitiram o, até meses atrás, aclamado e intocável Roger Machado. A solução encontrada foi trazer um treinador cuja glória máxima foi vencer as Olimpíadas. Está certo que era um título inédito. Porém, não é justificável a expectativa exacerbada em cima de alguém que comandou um time vencedor de um torneio de nível técnico baixíssimo, aos trancos e barrancos, onde a única seleção que realmente se importou e levou jogadores de renome foi a brasileira. Desde o começo, estava na cara que Micalle não seria o salvado da Pátria. Não foi, e o Atlético continua sua trilha de ser favorito em todos os campeonatos que disputa, e terminar apenas com o estadual (isso quando termina com algo).


Sobre o Flamengo, ainda disputam a Copa Sul-Americana, com chances de ir mais longe. Porém, isso é muito pouco. Está longe das expectativas criadas. Tão longe quanto o time está de passar o carro nos adversários do Campeonato Brasileiro, como muitos entendidos cravaram no início do ano.

Pode se dizer que o Flamengo tem um time até bacana do meio pra frente. Mas nada de outro planeta, analisando friamente. Aí entro em outro mérito: um dos principais itens de uma equipe de sucesso é o equilíbrio. E aí não adianta você ter um meio campo e um ataque razoáveis quando seu sistema defensivo é catastrófico. Somado a tudo isso, uma torcida que se iludiu e caiu no conto de jornalistas que pouco se importam com as bobagens que falam no início da temporada, e só querem ver o circo pegar fogo. Resultado: time escalado pela vontade de terceiros e o pobre Zé Ricardo pagando o pato.

Tenho quase certeza que pouco disso será falado. Talvez até comentem sobre essa importância demasiada que dão para o dinheiro sendo gasto apenas e simplesmente por gastar. Mas nunca falarão o suficiente. Nunca se falará o suficiente do oba oba também.

Continuaremos a ver programas esportivos desenhando um sucesso imenso para clubes que torram milhões em jogadores e em propaganda. Continuaremos a ver torcedor que não se importa com o valor absoluto (muito menos com o relativo) de certas contratações. Continuaremos a ver diretor de futebol sendo chamado de herói. Continuaremos a ver presidente sendo tratado como rei porque, TEORICAMENTE, cumpre a obrigação de cuidar bem das finanças do clube.

Eu entendo o fato de torcedor se iludir. eu mesmo já até acreditei que Pato e Ganso fossem jogadores de futebol de nível profissional. Digo mais, acreditei que pudessem ter um futuro. O que não dá pra engolir é esse número gigantesco de profissionais (muitos deles de competência duvidosa) da imprensa, que ganham muito dinheiro para palpitar e iludir torcedores. Pior ainda, sabendo que estão falando borracha desde o início do ano e que correm o risco enorme de passar vergonha.

Que eles deixem de passar vergonha. E que o torcedor deixe de se iludir.