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TITE NÃO É INTOCÁVEL E SEU TIME NÃO É IMBATÍVEL

por Mateus Ribeiro


Após a saída de Dunga, todo mundo queria Tite na seleção. Após ótima passagem pelo Corinthians, o gaúcho era o sonho de consumo da torcida brasileira. Atendendo ao clamor popular, os mandatários do futebol nacional decidiram fazer um convite para o treinador, que aceitou.

Pronto, a partir daquele momento, todos os problemas da seleção brasileira estavam resolvidos. Com Tite no comando, a equipe que não conseguia ganhar nem Copa América se tornou a maior seleção do futebol mundial. Em conversas de torcedores, a impressão que se tem é de que o time da CBF não tem um treinador, mas sim um mago.

Além disso, vitórias seguidas contra os adversários da América do Sul ajudaram a elevar o patamar de Tite. Está certo que recordes foram batidos, e tudo o mais. Porém, que me perdoem os mais exaltados, o Brasil tem a OBRIGAÇÃO de atropelar TODOS os times de seu continente, exceto Uruguai e Argentina, que ao lado do Brasil são os únicos países com tradição e história no futebol. O resto é história para boi dormir.

E não adianta falar que o Chile evoluiu, que existe a altitude, e que a seleção goleou o envelhecido e fraco Uruguai fora de casa. Afinal de contas, se temos os melhores jogadores do planeta (como muitos dizem), nada mais justo e óbvio do que triturar todos os adversários.

Para fechar o pacote, falou-se muito que Tite teria autonomia nas convocações. Faz me rir. Desde que acompanho futebol, o time da CBF sempre foi o maior balcão de maracutaias existente. E para quem realmente acreditou nessa conversa furada, o pessoal da China (os “homens de confiança” que recebem zilhões para atuarem em um campeonato semiamador), Diego (que mal está conseguindo ser titular no seu clube), Fred e Firmino (que tristeza) mandaram um abraço.

Pois bem, pouco mais de um ano depois de assumir a seleção, Tite se tornou quase uma unanimidade nacional. E isso parece que atingiu o treinador. Suas entrevistas, que já eram uma tortura, se tornaram insuportáveis. Só não são mais insuportáveis do que esse time, que mais se parece com uma boyband, onde cada um encarna um papel: temos o galã, o rebelde, o valentão (que chora na hora de bater pênalti), o alegre e o descolado. Todos encarando cada jogo (antes, durante e depois) como um clipe, se preocupando mais em caras, bocas, pose e estilo do que com o próprio futebol.


Já conhecemos o filme. Empolgação, uma dose cavalar de arrogância, pseudo superioridade, e confiança em excesso. Aí chega na Copa do Mundo, que realmente é o único torneio que vale alguma coisa DE VERDADE, encontra uma seleção bem armada, toma uma pedrada, e volta para casa. Depois das derrotas, tome reportagens falando sobre “os motivos que tiraram o Hexa das mãos do Brasil”. Está tudo aí. Bem debaixo do nosso nariz. Só não vê quem não quer. E o brasileiro é um dos povos do mundo que mais gosta de ser o sujeito do ditado “o pior cego é aquele que não quer ver”.

É claro que a torcida brasileira (aquela que vai para o estádio achando que jogo é balada) não está ligando para nada disso. Afinal, na cabeça deles, Tite é intocável, e a seleção é imbatível.

Sinto em informar, mas apesar da imprensa enfiar isso na cabeça de alguns, nenhuma afirmação procede. Os filmes das Copas de 2006, 2010 e 2014 mostram que todo esse oba oba não é garantia de nada.


Resta esperar, e ver se dessa vez, o time da CBF, da Nike e de alguns empresários vai escrever uma história diferente.

Eu duvido. Muito. E assumo que vou dar bastante risada se o tal do hexa não vier.

Um abraço, e até a próxima.

ANOS DOURADOS

por Victor Kingma

Na segunda metade da década de 50, o Brasil vivia uma fase de euforia. O projeto desenvolvimentista do presidente Juscelino Kubitschek prometia crescimento de cinqüenta anos em cinco. A era JK foi uma fase áurea de desenvolvimento do país. Naquele período, entre tantas outras realizações, podemos destacar a expansão da malha rodoviária, a construção de hidrelétricas e a implantação da indústria automobilística e naval no país. Além da construção de Brasília, a nova capital.


No rastro do otimismo que o Brasil vivia naquele tempo, movimentos artísticos e culturais apareciam nos quatro cantos do país. 

Vivíamos os famosos “Anos Dourados.”

Em Copacabana, no Rio de Janeiro, a então capital do Brasil, um grupo de músicos e compositores, entre os quais Ronaldo Bôscoli, Roberto Menescal, Antonio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes, costumavam se reunir na casa dos pais da cantora Nara Leão, preocupados em criar um novo ritmo, que melhor combinasse com seus estilos de vida e formação musical. Sonhavam unir a alegria da música e do samba brasileiro com a harmonia do Jazz americano.


Certo dia, em 1957, Menescal recebeu a visita de um rapaz que não conhecia e que se apresentou como João Gilberto. Esse pediu um violão e disse que precisava mostrar uma nova batida que havia criado. Um jeito totalmente novo de tocar violão.

Impressionado, Roberto Menescal foi imediatamente mostrar a novidade aos amigos. E a batida diferente do violão de João Gilberto era exatamente o que faltava para ser criado o estilo musical que tornaria a música brasileira conhecida internacionalmente. Assim surgiu a Bossa Nova.

Em diversos esportes tivemos um período de glórias com o surgimento de estrelas como Maria Ester Bueno, no tênis, e Éder Jofre, “o Galo de Ouro”, no boxe – que acabaria conquistando o cinturão da categoria em 1960, numa épica luta contra o mexicano Eloy Sanches.


 No basquete o Brasil conquistaria o inédito título de campeão mundial, em 1959, no Chile, com uma histórica seleção, onde se destacavam os astros Wlamir e Amaury.

E no futebol?

No futebol, o Brasil vinha de duas grandes frustrações nas Copas anteriores: a tragédia da derrota de 2 a 1 para o Uruguai em 1950, em pleno Maracanã, diante de 199.854 torcedores, o maior público das história do futebol, e a queda por 4 a 2 nas quartas de final em 1954, na Suíça, diante da histórica seleção húngara, de Puskas.

Mas, no rastro das energias dos “Anos Dourados”, o Brasil, finalmente, se tornaria campeão mundial pela primeira vez, em 1958, na Suécia.


Além da inédita conquista, com uma das maiores seleções da história, o futebol brasileiro assombrou o mundo ao apresentar  um menino de 17 anos, que se tornaria o maior jogador de todos os tempos, o rei do futebol,  que seria eleito futuramente o atleta do século XX.

Ao lado do menino Pelé, entre tantos craques consagrados como Didi, Nilton Santos, Zito, Bellini e Gilmar, o mundo do futebol conheceu também Garrincha, “o anjo da pernas tortas”, o maior ponta direita e o maior driblador que já passou pelos gramados.

E a magia daquele time tinha uma incontestável explicação: jamais uma seleção conseguiria escalar no mesmo time dois craques tão espetaculares como Garrincha e Pelé. A prova disso é que sempre que atuaram  juntos, em 40 partidas e sempre pela seleção brasileira, eles nunca foram derrotados.

Os deuses do futebol foram generosos com os gênios da bola.

Naquele tempo era assim…

FUT DELAS

texto: André Mendonça | vídeo e edição: Daniel Planel

“Futebol é pra homem”. O autor dessa frase é desconhecido, mas com certeza não engraxaria nem a chuteira das meninas do Fut Delas. O organizado grupo de 23 craques já dura quase sete anos e dá um banho em muita pelada de marmanjo, seja pelo nível técnico ou pela resenha regada a muita cerveja e carne.

Retribuindo o convite da boleira Fernanda Brasil, integrante do “conselho administrativo” da pelada, a equipe do Museu presenteou a craque com uma camisa e foi conferir de perto o futebol das meninas. Demos a sorte de ser na última quinta-feira do mês, quando elas organizam o churrasco e a resenha não tem hora para acabar.

– Nosso futebol começou em 2011 no Clube Federal, no Alto Leblon. Ficamos um tempo sem jogar, perdemos o horário lá e voltamos com tudo aqui no Clube Guanabara – disse Fernanda, nossa repórter por um dia.


Caderninho ajuda a organizar a pelada

Aos poucos, as meninas foram chegando e agregando na divertida resenha. Enquanto calçavam as chuteiras coloridas e prendiam a cabeleira, nossa repórter tratou de apresentar uma por uma. A atacante Joana Aguilar, por exemplo, dificilmente desfalca a pelada, mas revelou que precisou ficar um bom tempo afastada. O motivo foi mais do que nobre: o nascimento das suas duas filhas, que já demonstram uma paixão fora do comum pela bola.

Outra que mostrou ser uma fominha daquelas foi Julia Abreu. Craque na areia, no salão ou no society, a flamenguista carrega uma cicatriz no joelho direito, fruto de duas cirurgia para reconstruir os ligamentos cruzados. Nada que impedisse, no entanto, seu retorno em alto nível aos gramados.

– Segunda e quarta eu jogo pelo clube, toda quinta estou aqui com elas, sábado treino pela faculdade. Amo futebol e vou a todos os jogos do Flamengo!

Antes de pisar no gramado, com a marra no estilo Romário, emendou:

– É melhor atacar pra qual lado pra vocês filmarem meu gol? – cumprindo a promessa minutos depois.

Enquanto a pelada rolava, assistíamos aos lances e a sequência de dribles de Flávia nos chamou a atenção. No fim da partida, fomos descobrir que ela carrega o sobrenome Aloy e é neta de Hugo. Ele mesmo! Nosso parceiro, herói do Capri e, sem dúvidas, um dos maiores craques que já passaram pelo Aterro do Flamengo. Depois disso, nem precisamos perguntar de onde veio tanto talento.

– Comecei a jogar por incentivo do meu avô. Joguei cinco anos de futsal no Fluminense, depois mais cinco anos no Geração, na Praia de Copacabana, e agora estou jogando aqui. Vou trabalhar na quinta já pensando no futebol depois – revelou Flávia.

Quando deu a hora para o início da outra pelada, dos homens, as meninas imploraram por mais cinco minutinhos e ganharam. Depois disso, partiram em disparada para a mesa, encheram o copo e colocaram a resenha em dia saboreando o churrasco feito por Rodrigo Grande e Carla Oliveira.

Lá pelas tantas, tocou o telefone de Joana, a mãe artilheira. Era o marido querendo notícias.

– As crianças estão bem? Que bom! Vou ficar mais um pouco aqui no churrasco, tá? Te amo! – disse antes de desligar e continuar o papo.

A equipe do Museu da Pelada precisou ir embora, mas a festa estava longe do fim!

AMOR QUE NÃO SE MEDE

por Walter Duarte


(Foto: Reprodução)

Sabemos que torcer para os chamados times “pequenos” requer antes de tudo muita paciência e paixão. O dia 16/09/2017 ficará marcado na bonita, porém sofrida, história do Goytacaz FC como o dia de sua oportunidade de redenção ou renascimento.

Após 25 anos o “AZUL DO POVO” retorna à primeira divisão do Campeonato Carioca, com contornos de dramaticidade e de suspense, onde a ” dimensão da catástrofe” estaria ali, muito perto de acontecer. Quis o destino que essa “via crucis” fosse encerrada na Serra Fluminense, na cidade de Friburgo, tal como no seu último combate de redenção no ano de 1992, desta vez numa vitória épica de 1 a 0 aos 44 minutos do segundo tempo contra o seu maior rival, o Americano FC.


O Goytacaz é um dos mais tradicionais clubes do interior do Brasil, com 105 anos de fundação, e experimentou grandes confrontos nas década de 70 e 80, inclusive em participações no Campeonato Brasileiro, mantendo na época uma rivalidade importante com o Americano , uma espécie de Guarani e Ponte Preta, guardadas as devidas proporções.

Lembro-me bem no ano de 1977 de um grande jogo contra o Santos no Arizão, pelo Brasileiro, que ficou no 0 a 0, além de outros tantos pelo Carioca, sempre com “casa cheia”. Porém, no início da década de 80, o GOYTA sofreu seu primeiro e doloroso rebaixamento, devido a uma série de fatores que somados levaram o clube a quase fechar as portas, literalmente. Diante do quadro de estrutura profissional fragilizada, inclusive financeira, o que faria então a sua fiel torcida manter tal firmeza de propósito e paixão durante todo esse tempo? Como explicar o interesse de jovens torcedores mantendo a tradição dos mais antigos, personificada pelo apaixonado Tonico Pereira, lotando o seu estádio em vários jogos da segundona? Acho que isso pode acontecer em outros clubes de menor estrutura Brasil afora, entretanto o Goytacaz tem algo diferente, uma “magia” que faz com que as pessoas que passam por Campos se apaixonem pelo clube.


(Foto: Gustavo Garcia)

O que se viu no estádio Eduardo Guinle confirma esta tese pela comoção explícita e apoio incondicional. Foi algo muito forte que o “torcedor raiz” do Goyta transpareceu sem nenhum pudor, sem nenhuma vergonha de chorar e dizer em alto e bom tom – é possível ser feliz e ter um amor que não se mede pelo clube do coração, mesmo que a razão muitas vezes nos queira impedir.

Se algo de orgulho nasce e renasce com a espera e a angústia da fila, é sinal que o futebol do interior ainda teima em existirmesmo que a imposição atual de estrutura e a gestão do negócio FUTEBOL sejam implacáveis. Palavras de ordem como: BENCHMARKING, ENGENHARIA ECONÔMICA, MARKETING… permeiam a frieza dos números do mundo Corporativo. E o futebol se tornou basicamente isso, ou seja, um “Negócio”.

Por isso meus amigos, tratemos dos nossos corações, das nossas aflições, das nossas mazelas com a perseverança e a fé que Deus nos deu, mas sem nunca perder a paixão, combustível do torcedor de verdade.


(Foto: Reprodução FutRio)

****Dedico esse texto a todos os torcedores e aqueles que dentro ou fora do Campo ajudaram e fizeram a diferença para o Goytacaz manter-se de pé ao longo de sua história, retornando à elite.

ARNALDINHO, O ETERNO 8 DO RAMALHÃO

por Marcelo Mendez

Não era fácil a vida em Santo André no ano da graça de 1981.


Meu pai, que a vida toda lutou contra exploradores e ditadores, estava desempregado.

As coisas em casa complicadas, minha mãe tendo que voltar a trabalhar, minha irmã pequena, eu com 11 anos, bem… Eu com 11 anos já dava meu jeito pra me divertir, desde molequinho aprendia na raça que o prazer era fundamental para suportar as durezas e encontrava minha forma em tê-lo. O futebol ajudava:

Era o ano de ver os jogos do Santo André na luta pelo acesso no Campeonato Paulista da segundona daquele ano.

O time era forte e dessa vez tinha até o ex-corintiano Lance, a coisa tava bem perto de acontecer. Mas não era ele que me fazia pedir dinheiro para os meus tios e encher a paciência de um deles para me levar até o Brunão. Era outro meu heroi…

Arnaldinho, eterno camisa 8 do Ramalhão, foi meu primeiro ídolo na vida.


Arnaldinho

Em meio a toda aquela dureza que já me fazia acordar para vida, era Arnaldinho que me devolvia o direito de sonhar. Era com sua velocidade, sua inteligência, sua habilidade e genialidade que aprendi as primeiras noções do que era de fato uma poesia.

Arnaldinho em campo era como um verso que escorre pelo coração, como a poesia que desabrocha no árido do mundo que, diante dele, não consegue mais ser duro. Porque era impossível vê-lo em campo e não sair do mesmo completamente apaixonado pelo 8. Foi um espetáculo.

Na reta de chegada daquele ano, a segundona foi disputada no Parque Antártica. Meu pai, que havia feito uns trabalhos, tinha uma grana para a gente comer por uns dois ou três meses, mas mesmo assim não se fez de rogado em desinteirar parte desse intuito para então levar-nos, eu e minha irmã, para o nosso Palestra Itália para ver aqueles jogos decisivos.

Me lembro como se fosse hoje, da noite em que Arnaldinho meteu a bola para a rede contra o XV de Piracicaba. Não subimos naquela vez, a festa viria uns dias depois contra o mesmo XV. Mas a mim, meu titulo havia sido ganho, o herói meu, o primeiro herói, já havia vencido, foi lindo!

Então, o tempo, essa coisa também linda que é o tempo, passou.


Em 2017, já não sou mais menino, o Santo André não lota mais o Palestra com 25 mil pessoas, aliás, nem existe mais o Palestra, no lugar agora tem a tal da Arena… Mesmo assim, da minha forma ainda insisto. Agora sou jornalista, cubro futebol de várzea e como tal, fui ao campo do Nacional do Parque Novo Oratório para cobrir a Copa Tulica, outro gênio da bola e do Santo André, onde reencontrei Arnaldinho jogando com sua camisa 8, do meu Nacional, pelos veteranos da classe.

A mesma inteligência, a mesma classe, a mesma elegância para tocar na bola… Arnaldinho estava la diante dos meus olhos.

Vendo ele em campo lembrei de tudo aquilo, voltei para 1981, fui menino de novo, revivi um tempo em que eu com a camisa 10 do Nacional, também quis ser Arnaldinho. Lembrei do Pai que não está mais aqui, da mãe que partiu, do quanto eu era feliz com 11 anos e já sabia. Do quanto era bom ver o Arnaldinho jogar.

Pensando nisso tudo, senti que uma lágrima escorria por detrás de meus óculos escuros. O jogo havia acabado e eu chamei Arnaldinho para entrevistá-lo. A teimosa lágrima insistia em escorrer pela minha barba e eu então procurei não deixar Arnaldo perceber isso.

Falamos, gravei a entrevista e quando me despedi dele, deixei que o choro viesse, mas aí não era mais por tristeza nem nada disso. No entanto, faltou eu dizer uma coisa que faço agora, pra encerrar a crônica:

Obrigado, Arnaldinho! Você é Grande!