CHURRASCO TRICOLOR
vídeo: Guillermo Planel | edição de vídeo: Daniel Planel
Com muita felicidade, fomos convidados para participar do churrasco de aniversário do Fluminense, nas Laranjeiras, e não pensamentos nem duas vezes antes de aceitar o convite e relembrar grandes momentos com ídolos que vestiram a camisa tricolor.
Como a alegria merece ser compartilhada, levamos também Walter Duarte, colorador ativo do Museu, para participar da festa e trocar uma resenha com craques como Delei, Carlos Alberto Pintinho, Mário Português, Arturzinho e Búfalo Gil. A felicidade estava estampada no rosto do tricolor, de Campos dos Goytacazes.
Quando deixávamos a Laranjeiras, ainda tivemos o privilégio de encontrar os sambista Noca e Celsinho, da Portela, que se declararam pelo clube pelo Fluminense cantando uma música:
– Ôôô ôôô o Fluminense é o meu grande amor! Ôôô ôôô eu sou guerreiro, eu sou tricolor!!
ABEL, UM ZAGUEIRO MITOLÓGICO
por André Felipe de Lima
Para os gregos da Antiguidade, desenhava-se o herói com ideais altruístas, moldados por ética, sacrifício, fraternidade, justiça, coragem, paz e moral. Superar desafios épicos. Eis a missão dos bravos. No futebol brasileiro, muitos chegaram a este patamar definido lá longe, na Antiga Grécia. Poucos foram, contudo, unanimemente observados sob esse arquétipo.
Superação. Essa é a palavra ideal para resumir a trajetória do herói. Ele chora, pode até vacilar defronte a desafios, mas seu ímpeto é sua alma e sua alma é sua glória. Poderia direcionar este perfil para alguns gênios da bola, como Garrincha, Pelé, Didi, Tostão…, mas o ex-zagueiro Abel merece ser proclamado herói dos gramados tanto quanto estes gênios pela superação que moldou sua trajetória, transformando-o em um ídolo do futebol no final dos anos de 1970.
Abel começou a carreira no Fluminense, em 1968, onde permaneceu até 1975, transferindo-se para o Vasco no ano seguinte. Nos dois clubes, transitou entre o céu e o inferno, apesar de sempre reverenciado por treinadores e cartolas, que reconheciam sua bravura em campo, mas não lhe davam a chance da regularidade nos times titulares. Aos poucos, desanimou-se com a reserva e chegou a pensar em abandonar os gramados. Para o bem do futebol, isso não aconteceu. Abel se consagraria como um dos melhores zagueiros de sua época e, tempos depois, um dos melhores treinadores de sua geração.
Conquistou glórias nas Laranjeiras, mas foi com o Vasco que houve maior identificação.
O começo em São Januário não foi fácil porque o preferido do técnico Orlando Fantoni era o zagueiro Renê. Mas em quatro meses, com Renê indo para o Botafogo, Abel assumiu a vaga de titular na zaga do Vasco. Esmerava-se, correndo nos dias de folga nas Paineiras “até cansar”, como o próprio contou ao jornalista Maurício Azêdo. Acabado o treino, Abel, com a ajuda de Roberto Pinto, então auxiliar de Fantoni, e dos preparadores físicos Antônio Lopes e Djalma Cavalcanti, permanecia cerca de uma hora no campo exercitando os fundamentos que fizeram dele um dos principais zagueiros de sua época. Chegou a usar um colete de chumbo nos treinos. Saltava incansavelmente. Tudo para melhorar a impulsão. Fantoni ficou maravilhado com ele, afinal foi o treinador quem lhe dera uma “carinhosa” dura para que corrigisse seus defeitos Dali em diante, Abel — sempre muito grato a Fantoni — passara a ser sempre cogitado para a seleção brasileira.
E pensar que aquele rapaz parrudo começara no Fluminense como ponta-de-lança, mesma posição em que atuava nas peladas de rua, no bairro da Penha, zona norte do Rio. Treinava descompromissadamente na Portuguesa, da Ilha do Governador, quando um amigo da família o levou para um teste nas Laranjeiras. Pinheiro, que fora um dos melhores zagueiros da história do Fluminense, gostou de Abel e pediu a ele que regressasse ao clube. Na semana seguinte, já estava escalado na lateral-direita durante um amistoso em Volta Redonda.
E o jovem Abel foi conquistando tudo com o Fluminense e a seleção brasileira de novos até, em 1972, o Fluminense emprestá-lo ao Figueirense, que utilizou-o no campeonato brasileiro. Estava à vontade em Florianópolis. Primeiro porque o treinador era Antoninho [ex-ídolo do Santos], com quem Abel trabalhara na seleção de novos, segundo o contrato era excepcional. Ganhava cinco mil cruzeiros mensais — três a mais que o salário que recebia no Tricolor —, luvas de 20 mil, casa e comida de graça e uma popularidade incomum que surpreendeu o técnico Duque, que treinava o Fluminense quando o time carioca visitava Florianópolis.
Duque sabia das coisas e repatriou Abel nas Laranjeiras. Ora no lugar de Assis, ora no de Silveira, Abel foi, aos poucos retomando a vaga na zaga tricolor. Com a chegada de Carlos Alberto Parreira, foi sacado do time no dia da final do campeonato carioca de 1975. Didi assumiu o time e prometeu-lhe dez jogos seguidos como titular, mas logo após o papo entre Abel e o novo treinador, o Fluminense contratou Carlos Alberto Torres e, vindo da Portuguesa da Ilha do Governador, o zagueiro Fernando. Didi não cumpriu a promessa e frustração de Abel transformou-se em depressão. Pensara até em deixar o futebol, pois estava prestes a concluir o curso de Administração, na Universidade Gama Filho. “Todo mundo me dava força, me apontava como exemplo de atleta dedicado ao clube. O próprio presidente Horta [Francisco Horta] fazia questão de me citar como modelo; chegava a dizer que eu era um símbolo do Fluminense. ‘Diante de Abel ninguém cospe na camisa do Fluminense’ — ele repetia com freqüência. Eu acreditava nisso, tinha o Fluminense como a minha casa. Achava bacana aquela história de ser confundido com o clube. De que adiantou isso?”
Realmente Abel não teria espaço nas Laranjeiras. Sobrava zagueiro [alguns bons, outros nem tanto] para o time. Além de Torres e Fernando, havia Buñuel, Assis, Silveira e o jovem e brioso Edinho. Fosse pouca a leva, Horta, trouxa Pescuma, que fora ídolo no Coritiba e estava no Corinthians. Segundo Azêdo, o cartola tricolor teria ficado encantado com Pescuma por este ter lhe mostrado o caminhos das pedras para eu o Fluminense convencesse o velho Nicola, pai de Rivelino, a deixar o filho trocar o Corinthians pelo Fluminense. E Abel, como ficou nisso tudo? O Flamengo bem que tentou levá-lo, mas Horta não o liberava. O América ofereceu uma troca por Alex, ídolo Alvirrubro. Abel iria para Campos Sales junto com Herivelto, mas Horta bateu o pé e dizia que nunca venderia seu craque. Mas o rapaz amargava o banco de reservas. Chateava-o muito a situação. Uma ex-namorada, Roberto Mauro, Rivero e Arlindo, amigos da faculdade, confortavam-no.
Seguia triste, acabrunhado, porém não imaginara a peça que lhe reservara o destino.
Abel, como narrou Azêdo, seguia de carro para a Universidade Gama Filho quando, aproveitando-se do sinal fechado, decidiu espiar rapidamente o jornal. Veio o susto: dizia a notícia que ele, Marco Antônio e Zé Mário foram cedidos ao Vasco. Ficara feliz. Era o queria, naquele momento: trocar de ares. O Fluminense avaliou para abaixo o valor do passe de Abel. Mas nem isso o incomodou. Queria mesmo é jogar bola, mas como titular… e No Vasco, para realizar o sonho de seu velho pai, um vascaíno “doente”.
Após os conselhos de “Titio” Fantoni, Abel acertou o prumo. Estava jogando uma barbaridade na zaga. Àquela altura já era ídolo da torcida. Foi o jogador vascaíno que mais vezes entrou em campo em 1976. Foram 90 partidas. Em abril, o Vitória o queria em Salvador. O Vasco disse não. Como vender o passe de um jogador que chora pelo clube, nas derrotas ou nas vitórias? “Ele é alma do time”, destacava Fantoni. “Ele é a garra que sempre caracterizou o Vasco”, reconhecia Dulce Rosalina, torcedora símbolo do Vasco nos anos de 1970 e 80.
Com Abel comandando a nau vascaína, o time conquistou o tão almejado título estadual de 1977. Fantoni estava certo: “Esse rapaz fez um progresso maravilhoso”
Abel não fugia da luta. Ocultava dores homéricas para estar em campo. Em outubro de 1978, o Vasco vivia um momento de transição. Chegara Leão, mas perdera Dirceu e Marco Antônio. Zé Mário e Geraldo estavam há meses no estaleiro. Abel, Orlando, Guina, Wilsinho e Roberto Dinamite tentavam manter o mesmo ímpeto do time de 77.
Em campo, o Vasco, que fazia uma campanha sofrível no campeonato estadual, deparou-se com um Flamengo embrionário do timaço que conquistaria tudo nos anos seguintes. Abel entrara em campo sentindo muitas dores no joelho. Escondera dos médicos, contudo, a enfermidade. O médico do Vasco, Otávio Martins, perguntara insistentemente se sentia algo. Abel negara sempre. No campo, o Flamengo estava sempre impetuoso no ataque, mas Abel parou Zico, Claudio Adão e Adílio… até não agüentar mais e desabar, heróico, no gramado.
Justificava a bravura com a mesma emoção com que chorava ao ver uma faixa de carinho da torcida em reverência ao ídolo. Aquele empate reanimou o Vasco, reanimou Abel. “Sei que entrar num jogo como esse, todo machucado, pode ser um desastre. Aí, me lembrei: há dois anos, o Fla não ganha nem marca gol no Vasco. Ainda: desde que fui para a Seleção, em fevereiro, o Vasco não perde quando jogo. Resolvi entrar.”
Até novembro daquele ano de 1978, com Abel em campo o Vasco não sabia o que era derrota. No mesmo ano, Abel esteve com a seleção brasileira, na Argentina, para a Copa do Mundo, mas não entrou em campo. O treinador Claudio Coutinho [também do Flamengo] preferia o miolo de zaga com Oscar e Amaral. No ano seguinte, Abel seguiu para o futebol francês. De lá, mantinha a esperança de nova oportunidade, na Copa de 1982. O treinador Telê Santana preparava o time que encantaria o mundo e Abel, em 1980, mandava recados que acabaram proféticos: “Os nossos inimigos em 82, queiram ou não, serão os times europeus. Lá, a dinâmica é outra, o jogo não pára, não fica truncado, o tempo passa rápido”. Exatamente como a Itália derrotaria o Brasil, no estádio de Sarriá, na Espanha.
Abel Carlos da Silva Braga, como consta em sua certidão, nasceu no Rio de Janeiro no dia 1º de setembro de 1952. Fluminense e Vasco não foram suas únicas casas. Também foi do Paris Saint-Germain, da França [de 1979 a 1981], onde chegou a jogar de líbero e até de centroavante e ganhava cerca de 500 mil cruzeiros mensais.
Em 1981, Abel retornou ao Brasil, para defender o Cruzeiro. A chegada não foi amena. Uma cirurgia no joelho o afastou dos gramados em pelo menos dois meses, recuperou-se e deu nova cara à zaga, com reflexos em todo o time, a ponto de o lateral-direito Nelinho, seu ex-parceiro nas peladas nas ruas de Olaria, defini-lo como “doping” da equipe, que não vinha bem e sofria com o poderio do Atlético, de Reinaldo, Cerezo e Lusinho. “E o que esse cara grita e xinga em campo não é normal, xará”. Abel tornara-se o homem de confiança de [quem diria…] Didi, o mesmo técnico dos tempos de Laranjeiras. “Quando penso em dar uma orientação a um garoto, o Abel já foi e conversou com ele”. Na Toca da Raposa, Abel era a voz dos companheiros. Reivindicava aumento para jovens talentos e discutia com cartolas e comissão técnica um regime mais justo nas concentrações. Desabrochava o futuro treinador de sucesso.
Do Cruzeiro, Abel teria de voltar ao Paris Saint-Germain, mas acabou transferindo-se para o Botafogo, em 1982, numa transação confusa porque o clube carioca ficou devendo 40 mil dólares ao clube francês.
Entende-se o pouco esforço do Paris Saint-Germain para não querê-lo de volta. Em 1988, ou seja, quatro ano após Abel ter encerrado a carreira de jogador, o jornal L’Equipe publicou um levantamento sobre 23 estrangeiros que atuaram no Paris e no Matra Racing ao longo da história dos dois clubes parisienses. Abel não ficou bem na fita. O jornal o colocou na lista dos onze piores. “Falência total de um zagueiro-central, que treinou apenas uma temporada no Parc des Princes”, escreveu o diário. No período em que lá jogou vestiu a camisa do Paris Saint-Germain 45 vezes.
Em 1984, Abel trocou o Botafogo pelo Goytacaz, de Campos, no interior do estado do Rio de Janeiro, clube com o qual encerraria a carreira, conforme dados da Confederação Brasileira de Futebol [CBF].
Pela seleção brasileira, esteve na Copa de 78, como reserva do zagueiro Oscar [da Ponte-Preta]. Vestiu a camisa canarinho em 15 ocasiões [10 delas com a seleção olímpica]. Também participou, em 1971, da seleção pré-olímpica. Além do eloqüente título de 1977, com o Vasco, Abel foi campeão carioca em 71 e 73 e bi-campeão, em 75 e 76, todos com o Fluminense.
A fama de mau, garantia ele, sempre fora injusta. “Olha, só machuquei um cara por querer. Foi um tal de Lula, do Vila Nova de Goiás, quando eu jogava no Vasco. Ele me deu duas entradas na barriga. Na seguinte, acertei o seu joelho.”
Após deixar os gramados, transformou-se em um bem sucedido técnico. O começo foi no Botafogo, em 1985.
O saudoso jornalista Sandro Moreira recorda uma deliciosa história dos primeiros momentos de Abelão, como gostavam de chamá-lo na imprensa ou na arquibancada, como técnico do Alvinegro carioca, que acabara de ganhar os dois primeiros jogos sob a batuta do ex-zagueiro.
Entusiasmado com a boa estréia de Abel como treinador, o repórter de uma rádio telefonou para a casa do ex-craque, tentando entrevistá-lo. Do outro lado da linha atende uma mulher, que pergunta ao trepidante com qual dos dois ele queria conversar, se com o “Abelão” ou com o “Abelinho”. Seguro de si e sem pestanejar, o repórter emendou: “Com Abelão, naturalmente”. Abelão vai ao telefone e trava-se o nosense diálogo:
— Alô, quem quer falar comigo?”
— É o Gomes, da rádio. Explica para os ouvintes como você viu a vitória de hoje do Botafogo?
— Não vi.
— Como não viu? Está me gozando?
— Não. Eu sou o Abelão, o pai. Você deve estar querendo falar com Abelinho, meu filho.
Amante da boa música. Abel [ou Abelinho”, para o velho pai] arrisca-se no piano desde os 12 anos de idade. Quando treinava o Vitória, em Salvador, em 1986, decidiu intensificar os estudos musicais.
Abel comandou, entre outros clubes, o próprio Vasco, Internacional de Porto Alegre, Sport Recife, os Atléticos mineiro e paranaense, Coritiba, Flamengo, Ponte Preta e o francês Olympique de Marselha. Em 2004 e 2005, teve grandes passagens por Flamengo e Fluminense, com os quais, respectivamente conquistou o campeonato carioca nos dois anos. Mas foi no Internacional a consagração: campeão da Copa Libertadores e do Mundial Interclubes em 2006. E, no Inter, seu filho Fábio ingressaria no futebol. A relação com o Colorado é, inegavelmente, singular. Em 2011, com a inquestionável bagagem de sucesso, o Fluminense recebeu-o novamente como técnico. Voltaria, porém, ao Inter em 2014. O Rio o acolheria novamente. E mais uma vez as Laranjeiras, onde está até hoje.
Foi, porém, nos gramados que Abelão encantou as torcidas, especialmente a tricolor e a vascaína. Como zagueiro, era conhecido mais pela força do que pela técnica, mas o resultado dessa inversão não é queixa para ninguém, sobretudo para os vascaínos, que no campeonato carioca de 1977 viram o time sofrer apenas quatro gols. Todos apenas no primeiro turno. Dá para imaginar de quem é a pecha de herói?
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O texto acima integra a “Letra A” (primeiro volume) da enciclopédia “Ídolos – Dicionário dos Craques do futebol brasileiro, de 1900 aos nossos dias”, cujo lançamento será ainda neste semestre pela Livros de Futebol.com, do bravo editor Cesar Oliveira, autor do imperdível “João Saldanha, cem anos sem medo” (https://www.facebook.com/joaosaldanha100/), com Alexandre Mesquita e Marcelo Guimarães.
MEU PRIMEIRO E ÚNICO AMOR
por Mateus Ribeiro
Eu sou torcedor fanático do Corinthians. Não escondo isso de ninguém.
Faz quase 30 anos que sou torcedor. Fanático. Extremista, praticamente.
Nas vitórias, eu me sinto a pessoa mais realizada do planeta. Nas derrotas, sinto uma tristeza gigante. Quando a derrota é para algum rival então, sinto algo próximo da vontade de morrer.
Por obra do destino, escolhi o Time do Povo. Em uma época em que as conquistas eram quase bissextas, em uma época em que os rivais da capital ganhavam tudo, eu resolvi escolher o time mais subversivo do futebol brasileiro. Dane-se que os outros ganhavam. Dane-se que o outro time vendeu a alma para uma caixa de leite para comprar Deus, o mundo, e até mesmo alguns trios de arbitragens. Eu me identifiquei com o Corinthians. Escolhi o Corinthians e não poderia ter feito uma escolha melhor.
Meus primeiros ídolos foram Tupãzinho, Ronaldo, Fabinho, Wilson Mano e Neto. A tabela entre Tupãzinho e Fabinho na final do Brasileiro de 1990 é uma das coisas mais lindas do futebol. A personalidade de Ronaldo era algo fora do comum. Wilson Mano comia a grama, jogava em todas as posições. E o Neto… o Neto era o Neto!
Pensando bem, praticamente todo o time de 1990 era sensacional. O eterno Giba, o grande Marcelo, o ainda jovem Dinei, todos ali realmente incorporaram nosso espírito. 1990 foi lindo demais.
O ano de 1995 também foi lindo. Ganhar o Paulista e a Copa do Brasil em cima de dois clubes que dominavam o cenário nacional foi maravilhoso. Depois veio 1998. E depois, 1999.
Aprendi a sofrer e a ser vencedor de lá para cá. E não foi só o número de conquistas que aumentou não. O ódio velado, a inveja de alguns rivais e até mesmo de alguns “jornalistas” aumentou. A necessidade que alguns desses abutres têm de difamar e desmerecer o Corinthians é algo gritante. Acho bastante engraçado. E a cada sucesso do clube, tenho vontade de ligar para cada um desses cronistas para perguntar se está tudo bem. Na verdade, não tenho vontade de ligar. Tenho vontade de ver o Corinthians vencer cada vez mais, e ver esse pessoal sangrar infinitamente.
Esse é o Corinthians. A maior relação de amor e ódio que tenho na vida. Não espero me curar disso. Nunca.
De Tupãzinho até Cássio, passando por Marcelinho Carioca, Marcelinho Paulista, Ezequiel, Viola, Rincón, Vampeta, Dida, e tantos outros que vi, e que não vi também, só posso agradecer.
Que venham mais aniversários. Que venham mais glórias. Que venham mais adversários.
Que venham mais ídolos. Que venham mais herois. Que venham mais títulos.
Que nunca falte o Corinthians em meus dias.
Obrigado, Corinthians. Meu primeiro e único amor.
ANOS GLORIOSOS
por Igor Serrano
Romário, Euller, Juninho Paulista, Juninho Pernambucano, Felipe, Ramon, Pedrinho, Edmundo, Evair, Carlos Germano, Helton, Alexandre Torres, Válber, Mauro Galvão, Odvan, Jorginho, Viola, Vagner, Donizete, Luizão, Luisinho… Um Campeonato Carioca, um Rio-SP, uma Libertadores, uma Mercosul e dois Brasileiros. Qualquer vascaíno que vivenciou o final da década de 90 fica com os olhos brilhando só de escutar os nomes destes jogadores e das conquistas.
O período de 1997 a 2000 foi mágico. Em 1997, com show de Edmundo, o clube conquistou seu terceiro título nacional. No ano seguinte, como cereja do bolo das comemorações por seu centenário de vida, vieram um Carioca e o inédito título da Libertadores da América. Em 1999, um torneio Rio-São Paulo. Em 2000, a conquista da Mercosul no maior jogo da história do futebol (Vasco 4 x 3 Palmeiras, após perder o primeiro tempo por 3×0 e jogar boa parte do jogo com um a menos, fora de casa) e mais um (o quarto) Brasileiro.
Ficou com saudade, amigo vascaíno? Não fique. Thiago Correia fará você voltar no tempo. No próximo dia 06/09 às 19h, o jornalista lançará “Monumental – O Vasco de 1997 a 2000” no Bistrô Multifoco (Av. Mem de Sá 126 – Lapa – Rio de Janeiro-RJ), que conta com mais de 50 entrevistas e depoimentos de craques como Edmundo, Juninho Pernambucano, Ramon, Donizete, Antônio Lopes, Luizão, Mauro Galvão e Felipe:
– A ideia de contar essa história surgiu ao perceber a chegada dos 20 anos do terceiro título Brasileiro do Vasco, em 1997. Conquista que iniciou uma fase muito vitoriosa do clube, que foi até 2000, e que o clube não conseguiu chegar nem perto desde então. Atualmente, jovens torcedores já perguntam como era ver o Edmundo jogar, se o Felipe era tão habilidoso assim, se jogadores como os Juninhos, Pedrinho, Ramon, Romário, Mauro Galvão e companhia eram ‘isso tudo mesmo’. Estes e outros craques formaram a geração mais vitoriosa do Gigante da Colina” – declarou o autor, justificando a motivação para elaborar a obra.
Antes do lançamento, no sábado dia 02/09 às 14h, Thiago participará de debate sobre o Vasco do período abordado pelo livro juntamente com o também jornalista Camilo Sepúlveda (autor do livro “A virada do século”, sobre a inesquecível final da Copa Mercosul de 2000). O evento é uma iniciativa do Selo Drible de Letra e acontecerá no estande da Editora Multifoco (Pavilhão Azul I 01) na Bienal do Livro do RJ.
Confira alguns depoimentos do livro:
Antônio Lopes: “Em 1996, quando assumi, o Vasco estava mal para caramba, um plantel muito ruim. No fim do ano, quando terminou a temporada, preparamos um relatório para a direção mostrando a necessidade de boas contratações. Mas o Vasco estava quebrado, não tinha uma situação financeira que pudesse contratar bons jogadores. Começou 1997 dessa maneira. Nós disputamos o Estadual, depois trouxemos o Mauro Galvão sem gastar muito, conseguimos também o Evair, e começamos a aproveitar a garotada da base, tivemos que voltar as atenções para a base. E pegamos alguns de times pequenos. O time foi encaixando, foi bem, o time foi se armando, no plantel tínhamos Juninho, ainda não tinha deslanchado, o próprio Ramon, conseguimos que eles evoluíssem bastante a ponto de serem importantes, Pedrinho começou a se destacar, Felipe também. Conseguimos ganhar o Brasileiro de 1997. Aí o Edmundo foi vendido, perdemos o Evair, esses dois jogadores que foram importantes em 97, e perdemos para 98. Evair não quis ficar, preferiu ir para a Portuguesa, mas contratamos uma dupla de ataque excepcional, conseguimos o Luizão e o Donizete, e acertamos, e aí trouxemos o Vagner, e aí ficou um time excepcional, bem armado, e ganhamos em todos os anos várias competições, até em ano de centenário, o Flamengo, arquirrival, não tinha conseguido nada, e ganhamos a Libertadores. Até 2000 o Vasco ganhou praticamente tudo”.
Euller: “A primeira lembrança é aquele 4 a 3, a virada no Palestra Itália. O momento mais forte, sem dúvida, foi o momento antes de subirmos ao campo depois do intervalo. Voltamos com o intuito de mudar a situação, de reverter a história que tínhamos vivenciado no primeiro tempo. E no segundo veio a possibilidade de fazer a história. Veio aos poucos, mas veio. Mesmo com a expulsão do Júnior Baiano, sabíamos da possibilidade de virar o jogo”.
Juninho Pernambucano: “Primeira imagem que vem à minha cabeça é quando a gente ganhou em 2000, e a torcida gritava que “não é mole não, eu estou cansado de gritar é campeão”. Claro que era uma brincadeira, mas me chamou a atenção. Isso marcou aquela fase para mim. A gente vinha em uma hegemonia, a gente ganhou muita coisa, pelo menos um título por ano, também perdemos outros, estaduais, e foi um jeito de brincar com a outra torcida”.
Luizão: “A gente chegando em São Januário, jogar na Libertadores, estádio sempre lotado, foi um momento mágico na história do Vasco”.
COM ATORES DIFERENTES, UM FILME REPETIDO
por Mateus Ribeiro
O São Paulo passa por um momento difícil no Campeonato Brasileiro. Após a derrota para o Palmeiras, o Tricolor se afundou ainda mais na zona de rebaixamento. Pior que isso, viu o Avaí e o Vitória o ultrapassarem na tabela e passou a ser o vice lanterna do Campeonato Brasileiro. Mais do que nunca, o fantasma do rebaixamento parece ter chegado no Morumbi.
O clube, que nunca foi rebaixado, passa pelo momento mais tenebroso de sua história. Além de não conseguir resultados, a equipe também não consegue desempenhar um bom futebol. Não tão bom a ponto de deixar o torcedor pelo menos um pouco mais esperançoso ou tranquilo.
É claro que a camisa e a história do time contam muito, mas não dá para contar apenas com isso. É importante também ressaltar que a torcida faz sua parte, comparecendo aos jogos. Porém, acredite se quiser, para se ganhar jogos é necessário fazer algo mágico: jogar bola. Digo mágico, porque fazer um time com jogadores do porte de Bruno, Rodrigo Caio (mais uma bela invenção da mídia que conseguiu chegar até na seleção), Buffarini, Wesley, Wellington Nem, Edimar e mais alguns outros é tarefa dura. E não adianta misturar esse comboio de pereba com Hernanes (que nos últimos anos não desempenhou nada de produtivo na Europa, e chegou com pompas e supervalorizado). Pouco ajuda também os contestáveis, porém blindados, Cueva e Pratto. Dorival não faz milagres. O ex goleiro do time, que achou que meia dúzia de palestras e passeios na Europa fosse o suficiente pra se tornar treinador, menos ainda.
Assim caminha o São Paulo, que vive o mesmo filme que Corinthians, Palmeiras, Botafogo, Internacional, Grêmio, Atlético Mineiro, Vasco, Fluminense, e tantos outros times estrelaram: o caminho para o abismo.
O roteiro é sempre o mesmo: do lado do otimismo, comentaristas dizendo que ainda existe tempo, torcedores estufando o peito pra falar que time grande não cai (quem diz isso não conhece a história do futebol, e se esquece que Manchester United, Liverpool, Arsenal, Borussia Dortmund, Bayern e Milan já caíram, por exemplo), jornalista torcedor tentando amenizar o cenário e desviar o foco para outros clubes. Já do outro lado, rivais começam a vencer jogos, a bola começa a bater na trave e ir para fora, erros bizarros começam a brotar, erros de arbitragem aparecem a todo instante para prejudicar. Junte tudo isso no liquidificador. Pronto, está feita a receita da desgraça.
Sim, ainda existe tempo para o São Paulo se recuperar. Porém, analisando a tabela, nota-se que o São Paulo acumula quase o dobro de derrotas, se compararmos com o número de vitórias. Além disso, perdeu pontos cruciais contra adversários diretos, alguns desses pontos dentro de casa.
Mudanças drásticas são necessárias, e a diretoria sabe disso muito melhor do que eu ou você. O que não pode acontecer é jogador continuar se arrastando em campo, ganhando salário alto, enquanto torcedor cruza a cidade pra apoiar o time. Talvez seja tarde quando jogadores, comissão técnica, jornalistas e torcedores abrirem os olhos.
O tempo existe. Porém, precisa ser aproveitado, como em qualquer situação da vida. Coisa que o São Paulo não está fazendo. Enquanto isso, os rivais se divertem com esse filme repetido, que todo ano muda de ator. Este ano pela primeira vez, o ator vermelho preto e branco está lutando pelo papel principal. Se continuar como está, vai conseguir.
Aguardemos para ver se, no final do campeonato, esse filme de drama e suspense terminará como terror ou comédia.