ISTO É PELÉ
por Armando Nogueira
Armando Nogueira
“Sua vocação de jogador de futebol é incomparável e se exprime no campo com a mesma espontaneidade da bola que rola; é tão perfeito no criar como no fazer o gol, no drible, no passe, no chute, na cabeçada.
Seja em que circunstância for, Pelé mantém com a bola uma relação de coexistência absolutamente íntima, terna, cordial; por isso é bom goleiro e ótimo goleador; por isso, é capaz de estar, ao mesmo tempo, na concepção e na realização de uma jogada.
Seu talento é do tipo esférico como a bola, o seu brinquedo mágico.
A técnica individual de Pelé não merece um só reparo do mais exigente crítico de futebol: ele domina a bola com naturalidade e perfeição, usando qualquer parte do corpo, notadamente os pés e o peite; tem chute potente e certeiro com as duas pernas; dribla com facilidade e grande arte, valendo-se de incrível poder de articulação nos tornozelos, joelhos, cintura e, sobretudo, graças a uma força instintiva, medular, que lhe permite sair criando movimentos novos, irresistíveis, à base de contrapés, falsas hesitações, meneios e desequilíbrios aparentes.
Usa as faces exteriores e interiores dos pés tanto para o drible e o chute como para fazer passes de efeito; tem espantasoa velocidade de partida e de corrida e se eleva para as cabeçadas com uma elasticidade impressionante e com uma noção de tempo que só se vê nos grandes especialistas dessa jogada (o húngaro Kocsis, por exemplo); tem agilidade felina para recobrar o equilíbrio perdido.
E aqui vale a pena recordar lance recente no jogo Brasil 5 X Argentina 1, no Maracanã. Pelé recebe a bola na corrida, entra na defesa driblando uma fila de adversários; o último, pressentindo o perigo, aplica uma rasteira que alcança Pelé em pleno ar.
Pelé se desequilibra, vai cair de costas, a bola foge ao seu domínio, o juiz apita a falta. Mas eis que no instante do apito, Pelé consegue recobrar o equilíbrio, alcança novamente a bola e restabelece a excelente condição de gol que conseguira.
A essa altura, porém, já o árbitro havia interrompido o jogo e todo o maravilhoso esforço de recuperação de Pelé resultava inútil. Restou-lhe o consolo de ver o árbitro Juan Armental correr na sua direção e pedir-lhe desculpa humildemente, por ter apitado.
Mais tarde, o juiz explicava à imprensa que aquele fora o maior exemplo de agilidade pessoal jamais visto em um campo de futebol nos seus vinte anos de arbitragem. Por fim, Pelé tem uma capacidade quase irreal de infiltrar-se com a bola defesa adentro.
Vai como um raio, dando a impressão ao espectador de que está atravessando os corpos dos adversários. Temos ouvido tanta gente querendo descrever as infiltrações de Pelé mais ou menos assim: ele ia passando por dentro dos outros.
Realmente, o lance é muito rápido e sugere a imagem.
O que ocorre, simplesmente, é que ele realiza a ação em alta velocidade e com notável noção do próprio corpo, que se assegura o mínimo de tropeços, o máximo de equilíbrio e grande fluência na corrida.
Em apenas três anos de prática ininterrupta, Pelé melhorou sensivelmente o seu futebol.
Não tanto do ponto de vista da técnica individual, que nisso ele é perfeito de nascença, mas no plano da ação coletiva. Antes, Pelé era um atacante, um especialista dos chutes e cabeçadas à porta do gol; hoje ele multiplica sua presença conseguindo ser, com, igual eficiência, construtor e finalizador; num momento, Pelé é o arco que aciona e em seguida vai ser a flecha que alveja.
Do ponto de vista moral, ele já se destaca como grande animador de equipes, impondo aos colegas e aos adversários a autoridade indiscutível que vem da alta categoria técnica. Uma única face de sua forte personalidade não tem evoluído no sentido da perfeição: a serenidade.
Ele perdeu muito daquela ingenuidade com que jogava nos começos da carreira; ficou irritadiço, impaciente. Mas, coitado, tanto sofreu nos pés dos medíocres, tanto lhe deram pontapés que ele hoje deixou de ser aquela força da natureza exprimindo-se puramente, sem amargor.
Antes, davam-lhe um trompaço brutal, ele se levantava, limpava os calções e ia tomar posição de jogo; agora, se o derrubam com deslealdade, ele raclama furiosamente”.
Texto publicado originalmente na revista Senhor, nº 21, em novembro de 1960, quarto ano de Pelé como profissional….
OS MEXICANOS
por Sergio Pugliese
Brasileiros infiltrados na seleção mexicana desafiam Romário, Edmundo e Djalminha
O verbo inteirar é um velho conhecido dos peladeiros. E para a bola rolar, vale tudo! Quem nunca inteirou uma pelada com o cara do bar, com o churrasqueiro e até mesmo com o árbitro? Tudo bem, está valendo, mas o preparador físico Luiz Otávio abusou na ousadia. Em 2010, a seleção mexicana de Showbol foi convidada para um amistoso, no Maracanãzinho, contra o esquadrão brasileiro, com Romário, Edmundo, Djalminha & Cia. Casa cheia, transmissão de tevês, patrocinadores, imprensa em peso. Imperdível! Mas em cima da hora, dois jogadores mexicanos, Morales e Sol, tiveram problemas com o visto e apenas seis atletas viajaram. Como no Showbol são cinco na linha e alguns craques já tinham a idade avançada convinha ter pelo menos dois reservas.
— Foi aí que o Luiz Otávio teve a sacada de mestre e convocou dois brasileiros, eu e o Bacana — brincou Sergio Amato, o Morales.
O preparador físico Luiz Otávio há anos trabalha no México, mas tem uma legião de amigos no Brasil. Dois dias antes da partida precisava de dois “quebra-galhos”, desconhecidos e bons de bola, então ligou para Sergio Amato e Ricardo Baptista, o Bacana, dois cracaços. De cara, perguntou se a dupla admirava o futebol de Romário, Edmundo e Djalminha. Claro, a resposta foi sim. Depois, quis saber se já haviam jogado no Maracanãzinho. Não, de resposta. E por fim, largou a isca.
— Ele escalou o time comigo, Romário e outras estrelas. Não pensei duas vezes — lembrou o modelo Bacana.
À noite, na véspera, tudo acertado, Luiz Otávio abriu o jogo e determinou as regras. A primeira, os dois estavam proibidos de abrir a boca, pois a imprensa e os adversários não podiam saber da existência dos infiltrados. Segunda, eles só entrariam em casos extremos, pois a Fox mexicana transmitiria o amistoso e os torcedores não entenderiam nada, sem falar nos verdadeiros Morales e Sol. Tudo acertado, Bacana e Sergio “Fenômeno”, como é conhecido no futsal do Fluminense, acordaram cedo e foram para o hotel em Copacabana, onde a delegação estava concentrada.
— No vestiário, recebi a 10, de Sol. Que responsabilidade! — divertiu-se bacana.
O zagueiro Ricardo Rocha, um dos organizadores do Showbol, cumprimentou um por um e os dois apenas balançaram a cabeça. Num cantinho, Sergio “Fenômeno” ligou para a mulher Regina e os filhos Serginho e Hugo avisando sobre a transmissão. Também não esqueceu dos amigos da pelada, entre eles um repórter do Sportv, que na mesma hora ligou para o cinegrafista escalado pedindo “uma moral” nas imagens da dupla.
— Aparecemos mais do que os mexicanos — gabou-se Sergio “Fenômeno”.
No momento da apresentação dos jogadores, um mico. Quando o locutor chamou Morales, Sergio “Fenômeno” continuou imóvel e precisou Bacana falar “vaiiii, é você!!!”. Tudo discretamente. Depois, do banco de reservas, os dois babavam com o show do baixinho Romário, que distribuía ovinhos e dribles variados. No finzinho do primeiro tempo, Cabreras e Terrazas estavam exaustos e “Sol” e “Morales” foram acionados. O coração disparou e Luiz Otávio reforçou: “calados!!!”. Mas não deu. “Morales” discordou da marcação de um pênalti e partiu para cima do árbitro Oscar Roberto Godói falando cobras e lagartos em português.
— Ele não entendeu nada e me distanciei quando percebi a bobagem que havia feito — contou ele, que trabalha com tecnologia da informação, na UERJ.
Para piorar, na hora de bater o pênalti, “Sol” aproximou-se de Romário, rogou uma praga em português e entregou a nacionalidade, mas pediu: “não espalha…” . O baixinho riu, marcou mais um gol e a partida terminou em 9 x 6 para o Brasil. Na saída, crianças cercaram os craques e pediram as camisas autografadas. “La camisa no se puede, mas fotita, si”, dizia “Morales”. “Sol” distribuía autógrafos e Luiz Otávio empurrava os dois deslumbrados para longe do tumulto, principalmente dos jornalistas mexicanos.
— O mundo nos viu! — exagerou Bacana.
No fim de semana seguinte, Morales, que dizer Sergio “Fenômeno”, foi a Praia do Leme com a mulher. Na Barraca da Axé, alugou barraca, cadeiras e recebeu o número 171. Regina riu, imaginou a fama do maridão rompendo fronteiras. O infiltrado argumentou, blá, blá, blá, sugeriu a troca do número, mas a amada o arrastou pelo braço e disparou: “vem logo, Morales!”.
PARABÉNS, NETTO!
vídeo e edição: Daniel Planel
A equipe do Museu esteve presente no Tijuca Country Club para acompanhar a tradicionalíssima Pelada dos Amigos, que dessa vez era em homenagem ao aniversariante Netto, nosso colaborador e torcedor fanático do América-RJ.
O racha já dura 20 anos e é repleto de ex-jogadores como Moreno, Nelsinho e o próprio Netto, que jogou na base do América, do Flamengo e nas equipes profissionais do Náutico, Cabofriense, Marítimo-POR, e Rio Negro, de Manaus.
Antes de começar a resenha pós pelada, com direito a churrasco, cerveja e bolo personalizado do Mecão, o aniversariante tomou um banho e vestiu a camisa do Museu para apresentar um por um, sempre com adjetivos carinhosos, justificando o nome “Pelada dos Amigos”. Netto só mudou de uniforme quando Moreno, um dos seus maiores ídolos, apareceu. Nessa hora, vestiu a camisa do clube do coração e deu um grande abraço no craque.
– Se o Moreno jogasse hoje em dia, o passe dele estaria valendo dois titanics! – comentou o aniversariante, para a risada de todos.
Outro craque que marcou presença na pelada e rasgou elogios ao aniversariante foi Pedro Paulo. Vice-campeão da Taça Cidade Maravilhosa pelo Madureira e campeão mineiro pelo Atlético, ao lado de Caçapa, Marques, Valdir e Mancini, o ex-jogador fez questão de participar da pelada mesmo com dores na panturrilha.
Uma festa à altura do aniversariante! Valeu, Netto!
NÃO JOGA NAS ONZE
por Victor Kingma
Essa é para lembrar de um grande artista da bola, o Garrincha da ponta esquerda.
No final dos anos 50 um combinado paulista foi se apresentar no interior do estado. Aqueles amistosos em época de férias.
Embora o clima na cidade fosse de festa, o técnico do time do lugar há tempos vinha passando por uma situação constrangedora nos jogos da liga regional: estava sendo pressionado pelo prefeito a escalar o seu filho, Baguinho, recém chegado da capital. Só que otime estava certinho e o filho do político não jogava lá essas coisas.
E não tinha argumento que pudesse aliviar a pressão. Sempre que o técnico questionava sobre qual posição escalá-lo, o prefeito dizia:
– Escala em qualquer posição. O menino é fera, joga nas onze!
Na semana do jogo histórico e de grande festividade na cidade, a pressão aumentou mais ainda.
Como o filho do manda chuva da política local ia ficar de fora de uma partida tão importante? Ainda mais com o palanque cheio de autoridades.
No dia do jogo, em meio a grande foguetório e com o pequeno estádio totalmente lotado, o time local aparece no gramado com o empolgado Baguinho na lateral direita, camisa 2.
Finalmente o veterano treinador tinha fraquejado às pressões.
Pouco depois entra em campo o combinado paulista. Na ponta esquerda, Canhoteiro, do São Paulo, um dos maiores dribladores que o futebol brasileiro já teve.
O final trágico todos podem imaginar.
Com trinta minutos de jogo, Baguinho, o esforçado rebento do prefeito, extenuado, pede pra sair após levar um baile memorável.
Charge: Eklisleno Ximenes
No final do jogo, dando de ombros para a fúria do prefeito por ter colocado o seu “craque” polivalente naquela roubada, o veterano treinador, raposa astuta do futebol do interior, com sorriso irônico se defendia de qualquer indagação:
– Ué, mas não joga nas onze?
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POUCOS E BONS
:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
(Foto: Nana Moraes)
Islândia, Panamá e Egito estão na Copa do Mundo. Holanda e Chile, não. Itália está na repescagem e Argentina se safou na última rodada. E, por favor, não me venham com esse papo de globalização, espaço para todos e união entre os povos porque sou a favor disso tudo, mas nesse caso, esqueçam, é politicagem pura, regulamentos de quinta categoria e a massificação do futebol da pior forma possível.
Me perdoem, mas Copa do Mundo é para poucos e bons. Se os dirigentes quiserem dar uma de bons samaritanos, algo que nunca foram, que realizem um outro torneio, nos moldes da Copa do Brasil, e reúnam milhares de países, mesmo os com zero tradição em futebol.
Como a Holanda, terceira colocada na Copa passada, pode ficar de fora? E o Chile, campeão da Copa América? Está errado! Como Cristiano Ronaldo, Messi e Neymar podem não participar de uma Copa?
Durante o ano todo eles atraem milhares e mais milhares de torcedores aos estádios e na competição mais importante saem por conta de regulamentos esdrúxulos. Quem criem um ranking, mudem o formato, mas Copa do Mundo é Copa do Mundo, é show, é evento, é quando os maiores astros podem se enfrentar.
Tenho todo carinho do mundo pela Islândia, mas ela não vai contribuir em nada para o futebol. Serão onze soldados, disciplinados e determinados a não perderem. A torcida é linda, dá show, emociona, mas eu quero assistir é futebol de verdade.
Alô, dirigentes que ainda estão soltos, não acabem com a Copa do Mundo porque ela é sagrada e merece respeito, o máximo respeito.